As primeiras aulas do dia passaram com excessiva lentidão. E em nenhuma delas tinha alguma das meninas, o que me fazia sentir bem deslocada.

Eu mantinha meu queixo apoiado na minha mão na mais habitual posição de tédio, olhando para a frente e não prestado atenção a nada.

– Oi? – uma voz fina penetrou na grande barreira de tédio em minha mente e ecoou um pouco até que eu finalmente pensasse em tentar reconhecê-la.

A dona da voz era uma garota com cabelos longos e muito lisos junto de grandes olhos castanhos. Uns 10 centímetros mais alta que eu.

Totalmente desconhecida.

– Oi? – respondi, confusa.

– É que você sempre se senta sozinha aqui, pensei em sentar com você hoje. – ela sorriu e tentei entender toda essa simpatia repentina e muito incomum.

– Hum, - um segundo se passou – claro.

Ela não se incomodou com minha desconfiança.

– Me chamo Isabella, mas todo mundo me chama de Bella .

– Eu sou a Melissa, mas me chame...

– A aula esta acabando Pessoal. – o professor me interrompeu. – Não esqueçam de fazer a lista de exercícios da página 112 e nada de ficar copiando um do outro! – o sinal tocou antes que meia dúzia da sala tentasse negar que copiavam, o que chegava a ser cômico de tão absurdo.

Olhei para ela e fomos guardando as coisas para sair da sala.

– Você sabe aonde é a aula de História? Ainda me perco por aqui. – eu disse levantando com ela da carteira.

–Sei sim, é perto da minha próxima aula também, eu te mostro.

Ela pegou na minha mão e saímos da sala.

O corredor estava lotado e se não fosse pela não dela segurando a minha forte, com certeza seriamos arrastadas pela multidão para direções opostas.

Ao virarmos um corredor um pouco menos movimentado trombei com as costas dela. Olhei para ela confusa, e segui o olhar surpreso dela até encontrar ruivo a encarando.

Mantive-me atrás dela, me protegendo do olhar autoritário dele.

– Oi Isabella. – Castiel finalmente falou, com seu tom de tédio habitual.

– Olá Castiel! Quanto tempo !- ela sorriu, simpática como sempre.

Ele encarou ela um pouco, talvez tentando entender como alguém podia ser tão animada, algo que certamente o irritava. “Ele é um grande mal humorado”, pensei revirando os olhos.

– Pois é. – e foi tudo que ele disse. Nada de: “ Verdade, como você esta? O que andou fazendo? Saudades de você”. Mas ela não pareceu se importar, talvez o conhecesse o suficiente para saber que ele é assim. – Você ainda faz aquelas faxinas?

“Faxinas?!”, pensei

– Faço sim.

Ele pareceu aliviado.

– Então aqui esta a chave do meu apartamento. Pode passar lá depois da aula? Chego tarde em casa, então não te atrapalho.

Ela olhou a chave por um segundo, provavelmente avaliando o que faria ou deixaria de fazer a tarde.

– Bem... hoje esta bem corrido, mas preciso desta grana. Humm..

– Vamos, decida-se. – ele balançou a chave, impaciente.

Mais um segundo se passou até ela segurar a chave com firmeza.

– Boa garota. – um sorriso vitorioso brotou em seu rosto, sutilmente. E sem esperar resposta virou-se e sumiu no corredor.

Fiquei observando ele ser camuflado pelos alunos.

– Estou ferrada. – Bella me olhava com visível nervosismo.

– Porque?

– Tenho prova de Historia amanhã, precisava MUITO estudar hoje a tarde. E ainda tenho trabalho de Química para fazer. Não posso ficar com vermelha, mas estou sem nenhum tostão, preciso ir no supermercado estou sem nada lá em casa pra comer.

– Não da pra você fazer a noite?

– Não. São 3 capítulos de Historia e 15 folhas de trabalho à mão de Química.

– 15?!! – me assustei.

– Sim. Não queira ter aula com o Professor Roberto.

Assenti, ainda assustada.

– Enfim, estou ferrada. – ela segurou minha mão mais uma vez. – Vem, a aula já começou, só me falta pegar uma suspensão né.

Começamos a andar e uma idéia genial perambulou em minha mente.

– Espera Bella, - puxei o pulso dela para trás e antes que ela protestasse comecei a falar: - E se eu limpar o apartamento dele para você?

De primeira ela arregalou os olhos, depois os estreitou confusa e desconfiada.

– Como assim?

– Bem, eu não vou fazer nada hoje a tarde mesmo... Posso muito bem te ajudar.

– Mas não vai te atrapalhar?

– Claro que não! – (Você não tem noção de como vai me ajudar) não consegui evitar um sorrisinho. – Não se preocupe com o dinheiro, não estou precisando.

Isto pareceu iluminar o olhar dela.

– Puxa... obrigada! – ela sorriu novamente animada – Só tem uma coisa...

– O que?! – pigarriei, tentando manter o timbre calmo, indiferente. – O que?

– Não te conheço bem, não que você seja alguém ruim,mas ele esta confiando em mim.

“Verdade...”

– Eu sei, mas olha – peguei meu RG na bolsa. – fique com meu RG. Se eu pegar algo da casa dele, você já sabe quem sou e me acha fácil. E ele mora no meu prédio, acho que já vi ele por lá.

Achei melhor não dizer a ela que o conheço muito bem, ela poderia desconfiar da minha segunda intenção.

– É... – Bella segurou meu RG e me olhou nos olhos. – Tudo bem. Aqui na chave tem o andar e o numero do Apartamento dele e neste papel meu numero. Obrigada mesmo Melissa.

– De nada. – sorri.

– Bem, aqui é a sua sala. – ela apontou para a porta a nossa frente.

– Minha vez de agradecer, certo?

Ela sorriu e assentiu.

– De nada.

E com um breve aceno nos separamos.

Não é uma surpresa dizer que passei todas as aulas pensando no que bisbilhotaria primeiro no Apartamento.Imaginando cada cômodo, quantos cômodos, o que teria neles....

Talvez eu esteja errada em entrar lá desta forma....

Talvez eu devesse simplesmente o esquecer e tudo relacionado a ele...

Mas talvez assim eu o entendesse melhor...

Talvez haja algo lá que justifique toda esta personalidade forte.

Talvez haja algo dentro dele que valha a pena....

Talvez eu esteja me enganando...

Talvez esteja procurando uma razão para continuar a gostar tanto dele...

Bem, TALVEZ

...