Abri porta do meu apartamento ainda lutando para controlar o nervosismo. Me joguei no sofá pequeno e coloquei uma almofada no rosto. Sem esforço algum gritei até meus pulmões arderem. Faço isto quando não suporto segurar sentimentos ruins. E hoje é o dia perfeito para isso.

O sangue estava por todas as partes, paredes e chão. Nos móveis e objetos.

Tudo era ilusão, mas real demais.

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Minha boca estava doendo e senti um dente mole. O sangue estancou mas tinha que tomar cuidado ao comer.

Fiz um miojo, mas o tempero ardia como fogo.

– Merda.

Joguei a panela e o prato na pia com mais força do que pretendia.

Olhei minhas mãos e estavam machucadas porque acertei a droga do armário ao invés da cara daquele filhinho de papai.

Me sentei no sofá e cobri meu rosto com as mãos. O grito de raiva veio até a ponta da língua mas eu não o fiz e então o engoli com certo esforço.

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Tirei a almofada do rosto para que eu pudesse respirar.

Respirei fundo.

Eu ainda sentia o cheiro de sangue. Fechei os olhos novamente e encostei minha cabeça no sofá. Era melhor ver o sangue do que senti-lo.

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Peguei meu violão e me sentei no chão.

Posicionei o violão no meu colo.

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Havia apenas o barulho de um aspirador ligado. Um barulho agudo que feria meus ouvidos.

Conectei meus fones no meu radio e coloquei em qualquer radio, tentando fugir do barulho irritante.

A música parou. Abri os olhos, surpresa. As luzes estavam apagadas.

– Droga, acabou a energia.

Uma tempestade se aproximava.

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Quando minha mão tocou nas cordas, as luzes apagaram.

– Que merda!

Me levantei e peguei duas velas.

Tirei meu isqueiro favorito do bolso e as acendi.

As posicionei cada uma de um lado um pouco a minha frente.

Encostei minhas costas na parede vermelha.

Observei o violão em meu colo e fechei os olhos.

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O vento forte balançava a cortina da minha sala e atreves delas era possível ver os trovões e relâmpagos, mas seu som não era audível. A tempestade ainda estava muito longe, mas o cheiro da chuva e a tensão pertencente a minutos antecedentes a uma tempestade era palpável e tornava delicado e perigoso.

Como o escuro. Como o amor.

Uma lágrima escorregou dos meus olhos.

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Senti as cordas em baixo dos meus dedos.

Os primeiros acordes de Behind Blue Eyes surgiram deste contado.

Alguns flashes vindo dos trovões constratavam-se com a luz amarela das velas e enchia a sala com um peso que apenas a musica tornava possível suportar.

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Não me mexi. Talvez por medo. Talvez pela sensação de pequeneza, de fragilidade e de que Castiel estaria bem ali ao meu lado, com seus olhos ameaçadores em mim. Com sua boca aparentemente doce mas perigosa, como um veneno.

Os primeiros pingos de uma fina e leve chuva chegaram até minha janela ao mesmo tempo que uma voz calma e triste invadiu meus ouvidos.

Era Behind Blue Eyes – LIMP Bizkit.

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Behind Blue Eyes Atrás dos Olhos Tristes

No one knows what it's like Ninguém sabe como é

To be the bad man Ser o homem mau

To be the sad man Ser o homem triste

Behind blue eyes Atrás dos olhos tristes

And no one knows E ninguém sabe

What it's like to be hated Como é ser odiado

To be faded to telling only lies Ter que fingir que só conta mentiras

Os sentimentos a floravam pouco a pouco enquanto a chuva ganhava certa intensidade.

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Tentei reconhecer a voz, mas a chuva tornava a voz oscilante e cada vez mais distante.

Deixei de me importar e apenas senti a musica e o que ela dizia.

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(Chorus) (Refrão)

But my dreams they aren't as empty Mas meus sonhos não são tão vazios,

As my conscience seems to be Como minha consciência os faz parecer

I have hours, only lonely Eu passo horas só de solidão

My love is vengeance Meu amor é uma vingança

That's never free Que nunca será livre.

A ventania fazia com que a luz das velas oscilassem e retornassem como numa dança.

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A ventania trouxe pingos gelados da chuva que aos poucos se tornava uma tempestade até meu corpo.

Pensei em levantar e fechar a janela, mas não pude.

A música me paralisou.

Eu estava hipnotizada.

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No one knows what its like Ninguém sabe como é

To feel this feelings Sentir esses sentimentos

Like I do, and I blame you! Como eu sinto, e eu te culpo!

No one bites back as hard Ninguém morde mais forte

On their anger Na sua raiva

None of my pain and woe Ninguém, para minha grande aflição

Can show through Pode me mostrar seus pensamentos

Uma vela tremeluziu e após resistir por um segundo, se apagou.

A tempestade estava perto.

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Cantei baixinho, bem baixinho para poder escuta-lo cantando.

A voz se tornava mais intensa assim como a chuva.

A tempestade estava perto.

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No one knows what its like Ninguém sabe como é

To be mistreated, to be defeated Ser maltratado, ser derrotado,

Behind blue eyes Atrás dos olhos tristes

No one know how to say Ninguém sabe dizer

That they're sorry and don't worry Que eles estão arrependidos e para não se preocupar

I'm not telling lies Eu não estou mentindo

Eu mesmo mau me escutava, mas aumentei o tom de voz mesmo que ninguém me escutasse.

A tempestade chegou.

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A voz sumia pouco a pouco... o vento e chuva tomavam seu lugar.

Relâmpagos e trovões estavam sob nossas cabeças e tudo o que eu desejava era que a voz voltasse e cantasse somente para mim.

Com o aviso de um trovão estridente eu soube que ...

A tempestade chegou.