O céu estava caindo. Não que o vocalista se arrependesse de ter saído de casa às pressas sem ao menos se preocupar em pegar um guarda-chuva.

Não teria tempo. Àquela hora, o outro já deveria estar longe. Rezava que, por culpa da tempestade, o voo tivesse atrasado.

Caso chegasse a tempo, como explicaria o que realmente tinha ido fazer?

Na paisagem que vai se esbranquiçando

Essa tristeza que não muda

Desejo que se misture ao mar e vá embora

Os pés doíam dentro dos tênis encharcados, mas não perdiam o ritmo sobre o asfalto escorregadio. Junto ao peito, os braços apertavam o velho caderno, tentando a todo custo protegê-lo da tempestade.

Cada gota sobre sua pele parecia doer. Um frio que estranhamente queimava e, de quebra, ainda dificultava sua visão, tamanha era a força do vento que empurrava mais e mais pingos na direção de seu rosto atingindo-o como se fossem tapas.

O céu de inverno que se espalha...

Havia alguém parado no meio da rua. A corrida de Kaya perdeu sua intensidade e, em segundos, cessou. Com o caderno firme junto ao peito, passou algum tempo estático até recuperar a vida. O corpo trêmulo, o coração pulsando desordenado dentro do peito, o nariz e a boca doloridos pela inalação desesperada daquele ar congelante e os olhos grandes fixos na figura que reconheceria em qualquer lugar.

As pegadas estão se marcando no carpete,

Parece que estão formando um caminho...

Os cabelos negros e tão lustrosos estavam totalmente ensopados. A esmerada maquiagem desfeita pelos grossos pingos de chuva misturados às lágrimas. A seu lado, a mala preparada para a viagem que jamais faria.

Kaya apertou os olhos, balançando a cabeça em negativa. Recusava-se veementemente a acreditar no que via. Inspirando fortemente, acometido pela dor do gesto, lançou a dúvida.

— Mana?

O homem assentiu.

...E nesse momento eu encontrei você.