– Oi - Diz a desconhecida desconcertada.

– Oi - Respondo com um sorriso para tentar deixá-la a vontade.

– Katy, essa é Jessie. Jessie, essa é Katheryn.- Nos apresenta Michael.

– Bonito nome.- Tento ser simpática diante da timidez dela.

– Obrigada.

Ao que parecia ela não queria conversa comigo. Sentei-me e começei a comer. Suspeitei de alguém estar observando-me, levantei os olhos e dei os de alguém que me fitava, olhos azuis, quase violetas, Zac. Ele sorriu-me e depois desviou o olhar.

Depois de comer, saí para olhar as vitrines. Os outros ainda estavam conversando na mesa, mas eu não queria conversa com ninguém. Estava me perguntando o que aconteceu com Marie, tentada a perguntar a Lucca, mas morrendo de vergonha. "Ora esse assunto não me diz respeito." Pensei e tentei deixar de lado, mas era quase impossível parar de pensar nisso.

– Você está bem? - Era Zac.

– Sim.- Tentei ser natural e sorrir, mas era difícil esconder algo daqueles olhos azuis.

Ele sorriu com um tom irônico e me abraçou. Abracei-o forte e algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto. Que outro garoto iria perceber que algo em mim estava errado e me consolar senão Zac?

– Venha.

Confirmei com um aceno de cabeça e nós dois fomos até a moto dele, estacionada no térreo do shopping.

– Quer dar um passeio?- Ele me perguntou num tom divertido.

– Claro.- Tentei rir, mas o que desbotou nos meus lábios foi apenas um sorriso triste.

Mais uma lágrima escorreu dos meus olhos e ele a enchugou com os dedos, acariciando meu rosto. A moto começou a movimentar-se e eu segurei forte na cintura de Zac. Paramos em frente ao apartamento dele. Ele pegou a chave, abriu a porta e eu entrei. Zac pegou na minha mão e me levou até o sofá da sala.

– Quer assistir que filme?

– Qualquer um.

– Que tal esse? Sherlock Holmes?

– Ótimo.

– Vou preparar a pipoca, já volto.

E eu fiquei lá, sentada, em completo devaneio, pensando em tudo e ao mesmo tempo em nada. Ele voltou algum tempo depois com uma tigela de pipoca e colocou o filme no DVD. Me abraçou e eu me senti protegida por ele. Nós nem assistimos o filme, nem comemos a pipoca. Ficamos nos olhando, por muito tempo, um abraçado ao outro. Naquele momento, eu não pensava em nada. Ele se aproximou devagar e me beijou. E eu, não sei porque, retribui o beijo, mas não senti nada dentro de mim. Era como se tudo estivesse congelado, frio. Eu só pensava em Lucca, mas estava beijando Zac. "Que tipo de mulher eu sou?" Pensei. Era como se tudo fosse um sonho, ou pesadelo. Eu não estava lá. Era outra garota beijando Zac. Eu só estava assistindo. E eu via Zac tirando a blusa dessa garota e beijando-a cada vez mais, via ela puxando-o mais para perto de si. E então caí em mim. Era eu lá! Parei de beijá-lo e chorei. Ele me abraçou e ficamos assim. Ele enchugando minhas lágrimas sem fazer pergunta alguma. Estavámos quase nus, eu só de shorts e sutiã e ele sem camisa, mas eu não me importei. Continuei a chorar por muito tempo e depois caí no sono. Ele sorriu, acariciou meu rosto e me levou para o quarto, me deitou na cama e deixou minha blusa ao meu lado.

Não sei por quanto tempo durmi, mas acordei com um estrondo, pulei da cama a tempo de ver Lucca dando um soco em Zac. Dei um grito e corri para socorre-lo, depois de tudo o que ele fez por mim, enchugando todas as minhas lágrimas, me senti na obrigação de ajudá-lo, ele sangrava bastante e Lucca olhava-me com tristeza e observava tudo parado, imóvel onde estava. Voltei ao quarto peguei minha blusa e passei pelo rosto de Zac limpando o sangue que escorria, ele sorriu-me tristemente e depois olhou bravo para Lucca.

– Vocês...?- Lucca não conseguiu terminar a frase.

– Não.- Respondi com firmeza.

Lucca olhou-me indeciso sobre o que deveria fazer e depois de algum tempo parado no mesmo lugar, ele ajudou Zac a levantar-se e sentou-o no sofá. Eu corri ao banheiro, peguei um rolo de papel higiênico e terminei de limpar o rosto de Zac. Minha blusa, antes branca, agora estava manchada de vermelho.

– Vai ficar bom logo logo.- Tentei sorrir para animá-lo.

Ele olhou-me como se quisesse pedir desculpas, mas não precisava, eu já o havia desculpado há muito tempo. Lucca segurou minha mão e eu me virei olhando brava para ele.

– Por quê?- Perguntei a ele.

– Não sei, fiquei com raiva de Zac porque achei que vocês dois haviam...

– Mas não houve nada. Muito pelo contrário, Zac passou a noite toda consolando-me.- Quando disse isso e vi o sorriso que havia desbotado nos lábios dele, me arrependi.

Ele me abraçou e eu me desvencilhei do abraço, dei um beijo no rosto de Zac, vesti a blusa vermelha e manchada de sangue e saí quase correndo porta afora. Já lá fora, olhei para a janela do apartamento de Zac e dei com os dois olhando-me pela janela, virei a cabeça na mesma hora e chamei um táxi.