Uma Estranha No Meu Quarto escrita por Damn Girl


Capítulo 22
Capítulo 22 - Depois da Morte


Notas iniciais do capítulo

Próximo capítulo será sobre o dia em que Jaynet morreu, preparem os corações.
Boa leitura *----*



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— Vai mesmo ficar me seguindo por aí como um retardado? É sério isso?

         Eu rolei meus olhos. Desde que Jason apareceu na sala do diretor EXIGINDO que a gente fizesse um exorcismo, não desgrudou de mim um só segundo. Eu quase não tenho mais vida social, e a pouca que eu tenho ele vem fazendo questão de arruinar. Se eu vou a escola tentar resolver a situação dos meninos (Da qual sou totalmente culpada, alias) ele me acompanha; se eu visito a Maria, ele já está lá... Meu purgatório particular em Terra. E se eu já achei essa situação insuportável imagina o Christian, que agora tem que dividir o quarto não só com uma fantasma linda e teimosa, mas também com um moreno sarado que mais se parece o Jacob de Crepúsculo. Um Jacob mais velho, porém muito conservado. E sexy.

         Diminui o passo observando algumas vitrines. Fazia algumas horas que eu estava rondando o centro de Londres sem rumo, entrando em cada loja que eu via, na vã tentativa de me desvencilhar do traste. Essa tática sempre dava certo quando eu era viva e queria me livrar de alguém, principalmente do sexo masculino. E agora mesmo eu, com todo meu espírito consumista, estava enjoada de tanto olhar coisas que eu nunca mais poderia comprar. Mas ele, essa peste ambulante, se mantinha firme e forte.

— Se vocês exorcizassem “você-sabe-quem” não haveria necessidade de segui-la. Mas a semana passou e até agora nada. — Ele rolou os olhos de volta. — Estou decepcionado. Me parece que vocês não são profissionais sérios.

— Peraí, para tudo!!! Que agora eu não entendi, você quer que a gente exorcize Lord Voldemort?!?!?! — Botei a mão na boca fingindo estar chocada. — A Bella quer te trocar por ele também ou só pelo vampiro???

— Já falei que meu nome é Jason, não Jacob... — Arqueou as sobrancelhas, e assumiu uma expressão macabra. — Como o Jason da moto-serra sabe, melhor você dormir de olhos abertos. Ah é.... que falha minha, você não pode dormir não é coelhinha da playboy. Já seu namorado, melhor ele nem fechar os olhos.

— Que ridículo!!! Pela milésima vez ele não é meu namorado, é só meu amigo. Você é muito irritante!

— Eu sou irritante? Você está olhando roupas que nunca mais vai poder comprar há quatro horas e eu sou irritante?!— Bufou. — Será que você não percebeu que eu já saquei o seu truque de olhar essas merdas de vitrines até eu ir embora, Barbie? Pois eu tenho uma novidade pra você: Eu não vou embora, nem dessa rua, nem da sua vida, ou da vida do seu “não namoradinho” imbecil. Enquanto vocês não mandarem Roosevelt pro inferno que é o lugar dele, eu estarei exatamente aqui. Então se vocês querem que eu vá embora ou que eu não faça nada com a tão amada escola de vocês sugiro se apressarem.

— Eu já te falei seu mongoloide super bronzeado: Eu vou encontrar com ele hoje, é só você me deixar em paz! E outra coisa, Christian e eu não somos seus funcionários pra sair exorcizando fantasmas só por que você quer! Pode esperar sentado aspirante a modelo de cuecas. Explode a escola toda eu não estou nem aí! — Menti.

— Então vai se acostumando comigo na sua vida Taylor Swift, pelo jeito será uma longa estádia... Pois agora eu vou com você nessa mansão, quer você queira ou não. Quero olhar pra cara daquele canalha miserável e...

— E o quê? Vai mata-lo? — Gritei. — Não vai fazer porra nenhuma, por que ele já está morto seu cretino filho da puta!

— Wow! Vou lavar sua boca com sabão sua anorexia acéfala!

         Jacob gargalhou histericamente, sabendo que havia me tirado do sério pela milésima vez na semana com nossa usual troca de insultos. Eu desisti da minha tática voltei a andar na calçada, decidindo tomar o caminho que vai pra mansão do Roosevelt com ele de uma vez por todas. Ele realmente não iria descansar enquanto eu não o levasse. E se eu desistisse de ir perderia a oportunidade de saber se havia mesmo ou não uma forma de reviver sem matar as pessoas como custo. Respirei fundo tentando me acalmar. Nem mesmo o Jacob genérico ia me fazer desistir de pelo menos ouvir o que o Roosevelt tinha a dizer. Mesmo que ele tenha matado a família de Jason inteira.

         Por mais que eu estivesse triste por ele, toda essa história era muito estranha. Segundo Jason, Roosevelt havia entrado em sua casa e simplesmente tacado fogo em tudo, lacrando as portas e janelas para que ninguém pudesse fugir. Jason havia implorado pela vida da filha de seis anos, mas o assassino havia dito que “era necessário”, nem mesmo ela escapou da tragédia. E claro, Roosevelt apesar de parecer ser uma boa pessoa é um assassino em série, e eu não sou a favor dele, como todos vivem tentando me acusar. Mas essa atitude todos sabem, foge do seu padrão de assassinato; escolher uma vítima isolada numa data especifica, que seja um mal para a sociedade. Esse assassinato em particular simplesmente não parece coisa dele.

         Jason pegou minha mão.

— Eu também preciso ir pra te proteger loirinha, esse cara é perigoso. — Ele sorriu de canto. — E eu de certa forma me apeguei a você essa semana. Você é chata, mas é legal.

— Você é irritante, nem parece ser um homem de trinta anos. — Retribui o sorriso, percebendo pela primeira vez que eu também me apegado a ele, como um irmão mais velho bem chato. — Mas é, até que você é... suportável.

— Não precisa ter medo dele coelhinha, Jason está aqui pra te defender.

— Ele não vai fazer nada comigo. — Respondi automaticamente. — Você não precisa ir.

         Eu precisava me encontrar com Roosevelt e esclarecer as coisas. Sozinha eu sabia que ele me ouviria, mas levar Jason comigo poderia desencadear a terceira guerra mundial e eu precisava ter uma conversa civilizada com meu anfitrião. A verdade é que depois da festa eu não sentia mais medo dele, não conseguia mais enxergar ele da forma assustadora que todos viam. E eu não ia permitir que Christian fizesse nada com ele até estar certa que ele era ou não o assassino.

— Você fala com tanta certeza, parece até que são íntimos...

         Intimos? Nem pra tanto. Não mesmo, nós só dançamos juntos e ele só me convidou para reviver com ele e viver ao seu lado mesmo sem me conhecer direito, mesmo casado. Mas não é nada demais.

         Jason ia me matar se soubesse que eu fui ao baile — em parte dele — acompanhada do inimigo. Fiquei em silêncio.

         Faltava umas quadras de caminhada quando ouvimos o som de uma freada brusca atrás de nós. Um carro prateado capotou e saiu rolando até o cruzamento, onde colidiu com uma mulher que atravessava a rua na faixa de pedestres. A mulher voou alguns metros e caiu no chão. Tudo aconteceu muito rápido, ela não teve nem tempo de gritar. O motorista, por incrível que pareça saiu do veículo capotado e correu em direção a moça bem vestida, e se ajoelhou, a sacudindo. O rosto dele estava repleto de sangue, e ele soluçava muito, enquanto suas lágrimas limpavam a sujeira em seu rosto.

         Aos poucos as pessoas que estavam imóveis, absorveram o que aconteceu e foram se aglomerando no meio da rua, próximo a mulher. Fantasmas, vivos, todos se juntaram em um círculo. Me soltei dos braços de Jason, que eu nem havia me dado conta antes mas me abraçavam com força de forma protetora e tremendo e corri pra multidão. Ele me seguiu.

         A mulher era loira dos olhos azuis assim como eu, pude ver pois os olhos estavam bem abertos. Seu pescoço quebrou pro lado direito e dele a ponta da coluna cervical saltava para fora. Ela vestia um terno preto e sapatos escarpam da sola vermelha, e sua roupa estava repleta do sangue que jorrava do buraco sem parar. O motorista em estado de choque tentou consertar a cabeça dela com as mãos e colocar no lugar. Senti uma ânsia de vômito, e desejei ser viva e poder vomitar de verdade. O que ele estava fazendo era horrível.

— Meu deus!! Meu deus!! Eu perdi o controle.... O carro, ele... Alguém chama uma ambulância pelo amor de deus! Por que ninguém está chamando a ambulância? Meu deus... — Ele soluçou, enquanto segurava a mulher. — Chamem a droga da ambulância!!

         Minutos depois uma ambulância chegou. Os médicos saltaram do veículo, carregando macas e seus aparelhos. Não para a mulher é claro pois ela estava morta, mas para tratar o cara ferido, que se recusava a soltar a mulher que ele evidentemente matou, mesmo que por acidente.

         Não demorou muito tempo o corpo da mulher começou a brilhar de uma forma conhecida e Jason e eu nos entreolhamos. Seu braço saiu primeiro, seguido de sua cabeça, logo ela lentamente foi levantando até ficar totalmente de pé. Seus olhos confusos correram do carro pro seu corpo estirado sob uma poça de sangue... poça do seu sangue. Seus olhos se alargaram enquanto balbuciava coisas sem sentido.

— Ai meu deus, sou eu ali!! O que está acontecendo?!! Isso é alguma brincadeira!! — Ela virou pros paramédicos, que ainda tentavam convencer o homem a deixar o local. — Socorro!! Vocês precisam me ajudar! — Correu pra multidão agora desesperada — Por que ninguém me ajuda? Vocês conseguem me ouvir? Por que ninguém me ouve? Eu preciso ir trabalhar! Isso não pode estar acontecendo.

         Ela tentou tocar uma senhora viva que observava e sua mão a ultrapassou, sacudiu os braços na frente de um homem, sem obter sucesso. Uma outra fantasma que observava tocou seu ombro gentilmente e conversou com ela algo que eu não consegui entender, mas tinha ideia do que era, então depois que a fantasma terminou de explicar a moça começou a chorar. Ou pelo menos pareceu, pois por estar morta nenhuma lágrima saía do seu rosto pálido, só se ouvia os sons do soluço.

— Isso não pode estar acontecendo, eu sou tão nova... tem tanta coisa que eu queria fazer... — Ela caiu sentada próximo ao corpo — Eu tenho... eu tenho que voltar.. — A mulher tentou entrar dentro do próprio corpo — Por favor... eu tenho que voltar, isso não está certo. Eu atravessei no sinal, eu fiz tudo direito.

         Os fantasmas tinham semblantes tristes e olhos desfocados. Mesmo Jason encarava o chão. Alguns deles aparentavam estar com raiva, outros só chocados. Ninguém precisava dizer nada, eu sabia que cada um deles estavam pensando em como morreram e revivendo cada segundo. E eu não pude conter mais as lembranças, elas vieram forte como um soco no estômago. Lembranças terríveis do pior dia da minha vida.

         O dia em que eu morri.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por acompanhar mais um capítulo, até o próximo!