Uma Estranha No Meu Quarto escrita por Damn Girl


Capítulo 18
Capítulo 18 - Envolvente


Notas iniciais do capítulo

Eu quero pedir desculpas, mas sou péssima nisso. Eu sei que tem um ano que não posto, eu havia até preparado um especial de natal (sim natal :s) com a história meia sombria do nosso vilão misterioso, nem sei se devo postar mais, estou pensando... Enfim resumindo, eu fiquei de luto, entrei em depressão e é uma bosta, e durou mais tempo do que eu esperava, e ainda não acabou, mas agora to mais ou menos, voltei a escrever. Enfim, eu sentia que eu devia uma explicação, mas não quero tomar muito o tempo de vocês com tristeza. O capítulo de hoje já estava terminado há meses confesso, mas como eu não tinha uma continuação para ele e me sentia muito perdida, resolvi guardar ele para mim até as coisas normalizarem, Christian aparece no próximo prometo. Aliás o próximo capítulo já está escrito, e ficou imenso estou pensando se divido em dois ou não



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Capítulo 18

— Roosevelt..

         A imagem dele no outro dia me veio instantaneamente: O seu olhar sombrio, a voz gélida, as roupas elegantes, o jeito como ele caminhou na minha direção. O sangue do homem assassinado pela parede. Comecei a ficar toda arrepiada com a lembrança.

         E embora um lado de mim quisesse virar e correr, meu lado ex-líder de torcida safada só conseguia olhá-lo de cima a baixo. E era uma delícia de visão, algo como um modelo super lindo de uma revista de época, com roupas atuais. O que seria estranho, mas nele parecia tão... certo, tão perfeito. Dei uma conferida maior nos braços por trás do suéter de manga. Com certeza ele era o tipo de cara que eu namoraria nos meus tempos de escola, o tipo de cara que eu escolheria para me acompanhar a um baile exatamente como este.

         Droga Jaynet, foco!!! Ele é um psicopata/assassino/maluco que quer reviver com alguma mandinga doida de bruxo... ou sei lá... mas seus olhos, seus brilhantes olhos caramelos, e esse sorriso brilhante... (tão brancos que me levam a pensar como eles cuidavam da higiene na época deles)

         É, acho que fiquei sozinha tempo demais.

         Quanto mais tempo eu observava sem reação, mais o sorriso dele aumentava, mais eu o achava atraente e totalmente pegável. Então limpei a garganta e tentei falar algo de forma digna e inteligente, desviando o olhar pro seu rosto com algum esforço.

— Então.... Roosevelt....

         Droga já falei isso.

— Oi... — Ele respondeu meio sem graça

— Oi... — Respondi de volta.

         Esperei ele fazer alguma loucura, pensando no que ele estava planejando. Então eu comecei a viajar um pouco e uma cena de um filme que eu assisti com o Christian me veio à cabeça. A menina com poderes sobrenaturais trancando todo mundo no baile e matando a todos que sempre zombavam dela. Ah sim, o nome é Carrie, a estranha.

          Imaginei uma versão Roosevelt, do que ele seria capaz de fazer com as quinhentas pessoas vivas nesta festa, lembrei de todas as coisas que Ana me contou que ele era capaz de fazer e comecei a ficar muito nervosa. Eu não teria a menor chance contra ele.

         Como que adivinhando meus pensamentos ele, que antes me fitava atentamente de cima abaixo, mudou seu olhar pro fim do corredor, onde dava pra ver algumas pessoas dançando. Eu esperei ele avançar, me preparando pra usar meus “poderes”, mas ele tornou a olhar pra mim, levemente corado.

— Engraçado... — Ele deu de ombros. — Passei um certo tempo pesquisando algumas roupas que vocês usam, queria vir vestido de acordo com as tradições de sua época. — Ele apontou as pessoas atrás de mim com a cabeça — E quando eu chego aqui todos estão vestidos quase como em minha época.

         Ele sorriu meio sem graça e deu de ombros de novo. Eu não deveria, mas comecei a conversar com ele. I’m sorry.

— Eu sou dessa época mas também errei um pouco — retribui o sorriso — Parece que não se usam mais vestidos longos rodados.

         Acho que eu meio sem querer dei confiança a ele, pois ele se aproximou e removeu uma mecha de cabelo do meu rosto. Pegou minha mão direita e a beijou, curvado numa reverência.

— Está uma perfeita dama, este vestido lhe caiu deveras muito bem.... Se vós sois de me minha época cortejar-te-ia com prazer, tamanha beleza me faria cruzar todos oceanos até que seus pais me permitissem despojá-la.

         Ooooooooiiiiiiii?!?!? Cortejar-o-que?!?!  Me senti meia tonta e constrangida pelo elogio, parte por não ter entendido.

— ahmmm.... — Roosevelt pereceu perceber minha confusão — Eu meio que disse que você está... ahmmmm..... uma gata — Ele fez aspas no ar — Gata gostosa ..— Contorceu o rosto numa careta de desgosto — Acho que é isso que os homens falam, ouvi seus amigos falarem assim com as companheiras..

         Eu gargalhei. Sério, quase senti um carisma por ele, levar o que Nick ou Michael falam em consideração como elogio... Quantos anos ele não sai na rua? Digo, pra socializar, não pra matar pessoas..

         Esse pensamento me fez voltar a realidade e voltei a ficar com medo. Então ele fez menção de ir na direção dos estudantes e eu sem saber o que fazer ergui minha mão e dei uma tapa com toda força que tinha. Ele permaneceu um bom tempo com o rosto virado sem reação, depois lentamente foi voltando. Esperei ele revidar furioso, talvez isso o distraísse da ideia de matar pessoas. Entretanto seu rosto mantinha a expressão tranquila, ele somente se mostrava surpreso e isso fez minha testa enrugar.

— Eu lhe ofendi? — Ele esfregou o rosto vermelho — Peço perdão, como eu disse não entendo muito os costumes dessa época.

         Ok, eu esperava por tudo, menos que ele reagisse dessa forma. E menos ainda que me pedisse desculpas. Agora eu me sentia péssima e ele ainda me olhava com uma cara de cachorro abandonado.

         Ai tadinho o que acabei de fazer?? Bati na cara de um homem mais antigo que minha bisavó.

         Não não não, ele é um assassino psicopata, ele não reagiu pra me confundir. Psicopatas gostam que as pessoas pensem que são bons

         Mas ele ta tão fofo e tão gentil hoje...

         Comecei a hiperventilar.

— Desculpa, eu não posso deixar você ir matar essas pessoas. — Falei rápido antes que eu tivesse um troço. — Por favor, por favor... Eu sei que você mata pra fazer alguma macumba ou coisa do tipo, mas hoje é o baile... É o evento mais importante pros adolescentes da minha época. Por favor, eu te imploro..

         Roosevelt sorriu e pegou minha mão me arrastando em direção ao salão.

— Eu não vim matar ninguém Jaynet.. Acho que você tem uma idéia muito errada a meu respeito... — Ele deu uma longa gargalhada enquanto me guiava em direção as escadas que vão pro segundo andar. — Aproposito o que é Macumba?

— É uma religião eu acho... — sacudi a cabeça tentando me focar — Opa opa, eu sei o que eu vi aquele dia com aquele cara que você atacou. — Torci o rosto com desprezo —Você o queria pra algum ritual demoníaco.

         Uma outra gargalhada. Roosevelt estalou os dedos e estava de smoking como os outros garotos da festa. Ele pousou minha mão esquerda no seu ombro e segurou a direita, me rodando com graciosidade em seu próprio ritmo. E eu tenho que admitir que depois que ele fez isso eu sequer lembrava mais do que a gente estava falando, só queria dançar com ele como um casal de adolescentes normais que vão ao baile.

— Essa roupa combina mais com seu lindo vestido — explicou. — Quanto ao homem que eu..... enfim.... o homem daquele dia.. Digamos que eu estava fazendo uma reciclagem.

— Uma reciclagem!! — Falei incrédula.

— Ele não era uma boa pessoa Jaynet, assim como o Marcus — Acrescentou com o um olhar significativo — Então eu os reaproveito para os meus propósitos — Ele deu de ombros — E em troca o mundo fica com menos um assaltante, um psicopata.. Um estuprador.. — Ele passou a se mover mais lentamente — Eu andei pesquisando sobre você Jaynet, eu sei como você morreu.

         Eu estremeci, lembrar daquele dia terrível era a última coisa que eu queria hoje e pelo resto de toda minha pós morte. Roosevelt pareceu sentir meu desconforto... E meu ódio. Sim, esse assunto me trazia um ódio quase incalculável. Ele acariciou minha bochecha.

— Eu sei que não é honrado mas não é de todo ruim o que eu faço, não concorda?

         Matar pessoas é uma coisa boa?? Pessoas más, eu digo... Não?? Sim?? Não sei?? Puta que pariu!

— Para de me confundir!!! — Elevei a voz e parei de dançar. — Qual o propósito disso tudo? De matar toda essa gente afinal?...

— Reviver, não é obvio?

— Definitivamente não. — Rolei os olhos. — Não tem como voltar à vida.

— Você acreditava em fantasmas antes de morrer? — Ele deu uma piscadela — Claro que não, poucos acreditam em nós, e desses poucos, boa porcentagem sequer viu qualquer fantasma algum dia, só acreditam por acreditar... No entanto... Estamos aqui não estamos?

         Roosevelt me rodopiou e os adolescentes há nossa volta foram virando borrões, então me inclinou e seguiu meu corpo, colando seus lábios a centímetros do meu.

— Você não está cansada Jaynet??.... de ficar parada no tempo... de ser invisível, de ver todos seguirem suas vidas felizes enquanto estamos presos aqui sendo figurantes de um mundo que não nos pertence mais.

         Eu fiquei em silencio. Sinceramente eu estava cansada. Digo, muito cansada. É algo inexplicável, constantemente frustrante estar morta, e muito triste. No inicio todos lembram de você, choram sua morte e isso em parte te conforta... Mas o tempo passa, as pessoas embora ainda se lembrem seguem suas vidas enquanto você “vive” num mundo de tédio onde tudo que pode fazer é perseguir as pessoas como um obcecado por qualquer resquício de você, do que você era. Não é mesmo nada agradável e com o tempo cansativo. E se eu já estava exausta dessa vida imagine ele que estava morto há séculos, como ele deve se sentir?

         Respirei fundo e tentei manter em mente que seja lá o que ele faz é errado, porem parte de mim queria saber... se tinha como mesmo voltar a vida... E uma parte mais imunda de mim queria voltar a vida também, seja qual for o preço. Ele por sua experiência percebeu que eu estava realmente escutando sua loucura e segurou minhas duas mãos, seus olhos brilhando de empolgação.

— Jaynet eu... a vida na minha época... não era como agora. — Ele fechou os olhos como se estivesse se relembrando — Eu nasci no meio da mais alta sociedade, quem olhava de fora achava que era um paraíso mas... — Ele balançou a cabeça — Aquela época não importa para você... Eu não tive uma vida, Jaynet, vivi tudo que me foi imposto pois era a obrigação de um primogênito.

— Eu sinto muito...

Tentei mostrar um pouco de compaixão embora ele não tivesse falado coisa com coisa. Quer dizer, o cara é podre de rico, que vida tão ruim que ele poderia ter tido? Ok, naquela época não existia vaso sanitário, as pessoas andavam em cima de um cavalo fedido ao invés de um carro confortável, entre outras coisas (e essa parte deve ter sido horrível mesmo)... por outro lado havia certa classe, bons modos, riqueza, exuberância, empregados... Quem era pobre com certeza sofreu mais.

— Mas a gente não deveria reviver, não é certo. — Falei por fim — O certo seria a gente ir....

— Ir para onde? — Roosevelt piscou.

— Só ir... Céu, inferno, purgatório , sei lá..

—Ah... — O rosto dele se contorceu e ele riu. — Jaynet francamente... Olhe para mim. — Eu obedeci. — Estou morto há séculos, você acha que eu “estou indo” para algum lugar? Sério mesmo você acha que você vai pra algum lugar desses algum dia?

         Pensei em Ana, tão antiga e tão bondosa com todos os outros fantasma, uma mulher adorável.. Mesmo assim já era uma fantasma há décadas e isso não parecia estar perto de um fim. Pensei nos outros fantasmas que moravam com ela, alguns eram índios, alguns pistoleiros... Ninguém ia “embora”, não sem a ajuda de um mediador, não sem antes resolver suas pendencias, e a maioria, incluindo eu, sequer faz ideia do que os prende aqui. Encolhi os ombros.

— Não... — Sussurrei baixinho derrotada.

— Então Jaynet, eu cansei de esperar algo que nem sabemos se vai acontecer. Se tem uma forma de eu voltar à vida eu vou fazer, e eu achei diversas formas, mas a que me pareceu mais adequada a minha situação foi a que eu teria que matar muita gente, então que assim seja.

— Não pode. — gemi.

— Posso sim e já está quase concluído. — Seus olhos voltaram a brilhar — Eu quero pegar o ouro que eu tenho escondido debaixo da minha mansão e que eu nunca nem toquei, e sair pelo mundo, conhecendo todas as invenções maravilhosas da modernidade, quero comprar um carro e dirigir até enjoar, quero comer todas comidas em todos restaurantes mais famosos, quero pular de paraquedas, escalar uma montanha, aproveitar cada segundo da oportunidade que me foi dada... que me foi dada não, que eu vou tomar. E depois eu quero ir pra faculdade, me casar e ter muitos filhos, um trabalho e envelhecer, para enfim então morrer dessa vez como tem que ser, não assassinado como eu fui e você também. Nossas vidas foram roubadas de nós eu quero pegar de volta, eu mereço.

         Eu também mereço.

         Minha garganta se fechou, tudo que ele queria eu queria também, eu queria muito... Mas a que preço?

— Por que você está aqui Roosevelt? Por que está me falando tudo isso?

— Por que eu quero que você venha comigo — Ele roçou o nariz no meu e depositou um beijo nele — Eu estive observando você escondido e fiquei encantado, pesquisei o que te aconteceu e acho que você merece uma segunda chance também.

— Você não tem o poder de julgar isso — Me afastei de repente me lembrando de algo que Ana me disse — e você já não é casado por que não leva sua esposa Alana?

— “Até que a morte nos separe” — Respondeu de forma fria — Meu compromisso com ela terminou.

— Mas por que eu? Você mal me conhece.

— Qualquer uma é melhor que viver com Alana. E eu já disse, estive observando você.

— Eu... não quero... matar pessoas. Não quero.

         Roosevelt abriu os braços de frustação.

— Esse é o ponto Jaynet: você simplesmente não precisa.  — Ele riu — Quem dera fosse tão fácil me ressuscitar como é com você, eu realmente não sei como você não tentou ainda.

— Por que você diz isso?

         De repente Roosevelt mudou totalmente, ele voltou a assumir uma expressão fria e pareceu muito tenso e velho. Ele pegou minha mão e a beijou com delicadeza se curvando numa reverencia.

— Eu tenho que ir, obrigada pela dança — Disse apressadamente. — Se ficar interessada venha à minha casa exatemante daqui uma semana e a gente pode conversar melhor sobre tudo. — Ele olhou o saguão do andar inferior — De toda forma não dançaríamos mais, seu namoradinho chegou. Foi um prazer Jaynet.

         Roosevelt desapareceu levando todo seu encanto consigo. Logo quando ele se foi eu senti uma presença conhecida, que preencheu todo o ambiente. Meus pés flutuaram em direção a sacada e de lá eu pude ver quem eu estava esperando a festa inteira. Parado lá embaixo estava Christian, rindo com seus amigos como se nunca tivesse estado de coma. Ele vestia um smoking preto com dourado e seus cabelos estavam jogados pra trás, com uma mecha insistente caindo sobre seus lindos olhos verdes. Mal dava pra ver as cicatrizes persistentes que ainda não haviam sumido.

         Uma emoção forte foi tomando conta de mim, de repente depois de três meses fugindo repleta de culpa e desespero, eu queria descer lá e verificar cada pedaço do seu corpo, beijar cada pedacinho e implorar para que ele me perdoasse. Eu estava tão concentrada nele que a música da festa sumiu e sua voz ecoou na minha cabeça como se ele estivesse parado na minha frente.

— .... eu-eu me perdi.. Acho que foi por causa do coma ainda estou um pouco confuso — Ele mentiu, eu o conhecia suficiente para saber — enfim, vocês viram a Heather?

— Ela estava por aqui cara, tem meia hora que eu não vejo — Um garoto que eu não conhecia respondeu. A acompanhante dele não tirava os olhos do Christian e ele meio que parecia interessado nela também, mas pareceu desistir de roubar a mulher do amigo.

— Muito obrigado, vou procurar por ela, depois a gente se vê por aí.

         Não vai não. Eu me enchi de raiva, subitamente lembrando de que tinha que contar para ele da traição da namorada. E então senti medo de falar com ele. Não pela Heather, queria mais que ela se ferrasse, mas senti medo dele ainda estar furioso comigo.

         Segurei o parapeito pensando se eu iria embora ou iria ficar, mas não tive tempo de me decidir, como se adivinhando Christian ergueu a cabeça, olhando fixamente em meus olhos, a expressão indecifrável. Minha pernas bambearam e eu corri para a saída mais próxima fugindo do julgamento daquele olhar.


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Notas finais do capítulo

Bem espero que tenham gostado, obrigada pela paciência e me desculpe mais uma vez. Até o próximo capitulo ♥