Uma Estranha No Meu Quarto escrita por Damn Girl


Capítulo 16
Capítulo 16 - Despertar


Notas iniciais do capítulo

Acho que depois do título eu nem preciso dizer nada né rsrsrs boa leitura a todos :)



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Tudo era silêncio, vazio e uma claridade intensa. Quando voltei a enxergar eu nem sabia mais quem era ou onde estava, continuei deitado esperando tudo voltar ao normal, e um teto cinza com uma luz forte apareceu. Lentamente virei a cabeça pra direita e fitei um grande aparelho cheio de fios que fazia um som insistente e irritante. Segui os fios com os olhos e notei que a maioria deles terminavam conectados em mim. Eu os sentia, nos meus braços, nos meus pulsos, uma sensação terrível. E o tubo de respiração preso em quase todo meu rosto. Puxei os fios do pulso com cuidado sentindo a agulha raspando em minha pele e tentei sentar, acabando no meio do caminho, então me apoiei nos cotovelos.

Na minha frente minha mãe conversava distraída ao telefone andando elegantemente de um lado para o outro, brincando com os vasos de flores que estavam espalhados pelo pequeno quarto, composto por uma mesinha de canto com uma jarra de suco e alguns biscoitos, um sofá reclinável. Me virei pra janela e fitei o sol alto brilhando no céu, meus olhos arderam, como se eu não os usasse há muito tempo. Me foquei na voz familiar e cansada dela, parecia que não dormia direito, embora estivesse impecável como sempre, com seu sapato o qual Jaynet havia surtado uma vez chamando de Loubotin sem parar e um terno vermelho, com a bolsa preta que Jaynet me disse que é um Chanel original, irritada com minha ignorância como se fosse algo muito importante e eu tivesse obrigação de entender a moda feminina. Balancei a cabeça afastando meus pensamentos e esperei ela terminar de falar para chama-la.

— Mãe...

Minha voz soou um sussurro inaudível. Só então eu reparei no espelho próximo da janela, que mostrava meu corpo repleto de faixas e ataduras, mesmo no rosto, parecendo uma múmia. Senti uma onda de pânico me invadir, seja o que fosse parecia grave, talvez eu estivesse desfigurado como o Deadpool.

O que diabos aconteceu comigo?

— Maaaãee!!!

Minha voz soou esganiçada, rouca, porém um pouco mais alto. O suficiente para fazer, minha mãe que havia voltado a falar, me fitar com o semblante assustado e derrubar seu Iphone no chão. Ela ficou imóvel me fitando com incredulidade, depois correu e me abraçou com força fazendo as agulhas do meu braço se moverem mais pra dentro o fez eu me contorcer de dor..

— Christian, meu Christian — Ela tinha lágrimas em seus olhos — Pensei que nunca mais ia acordar, já estava ficando louca!!

— Mãe — Pigarreei e deitei a cabeça no seu ombro, ignorando a dor. Fiquei sentindo seu perfume enquanto ela fazia carinho em meu cabelo — O que aconteceu mãe?? Eu não me lembro de nada...

— Você chegou em casa todo ensanguentado e repleto de cacos de vidro. Ninguém sabe o que aconteceu realmente mas já sabemos que você estava na escola de madrugada sabe-se lá fazendo o que e com quem, já que seus amigos de verdade estavam em casa.. os vidros foram da janela de lá — Sua voz mudou pra um tom repreensivo, eu afundei mais o rosto em seu ombro — Bem não importa mais o que você estava fazendo. Os meninos te acharam na garagem dentro do carro, você deve ter dirigido até em casa antes de desmaiar. Então eles te levaram pro hospital, os médicos removeram todos os cacos de vidro. Esses vidros poderiam ter cortado alguma artéria importante.. Você teve muita sorte..

— Eu não me lembro de ter estado na escola...

— Ah meu deus, eu tenho que chamar os médicos — Ela me cortou e levantou bruscamente, fazendo as agulhas doerem de novo — Já volto meu amor..

Assim que ela cruzou a porta, tudo me veio à tona. A escola, Jaynet, minha briga com Marcus, meu tempo como espectro, a mansão abandonada e o Mestre de Kristen, Roosevelt.

Claro, eu estava na mansão então uma mulher e kristen me resgataram de lá.. Depois eu acordei. Teria eu sonhado?...

Não. Não foi um sonho, eu fiquei 3 meses de coma olhando meu corpo regenerar. O Roosevelt é muito perigoso e quer mesmo voltar a vida.

Minha mãe retornou com a equipe médica inteira, e todos me olhavam abismados. Os enfermeiros me ajudaram a sentar, enquanto o médico observava os aparelhos e fazia anotações. Ele me examinou de cima a baixo, e removeu o tubo da minha boca, e eu agradeci muito mentalmente por isso. Uma enfermeira tirou as agulhas e desligou o aparelho. O médico me olhou animado

— Muito bem senhor Christian, vida nova!! — Ele bateu palmas — Sinceramente seu quadro foi tão grave que não tínhamos mais esperanças de que acordasse. Estava pensando em propor que desligassem os aparelhos. — Ele enrubesceu — Olá eu me chamo David, sou o médico responsável por você desde que chegou aqui.

— Eu sou Christian — Apertei a mão dele — Eu já posso ir embora?

— Direto ao ponto você, hein — Ele riu — Não pode. Precisamos fazer alguns exames, por hora me diga se você se sente confuso ou com dor? Me diga seu nome completo, idade, escola

Suspirei entediado. Ele examinou minha língua e meus olhos.

— Não sinto nada, só estou cansado. Eu me chamo Christian Steiger Randall, todo mundo me chama de Chris, tenho 17 anos e estudo na Washington High School.

— Ok, nenhum sinal de confusão. Então vamos fazer o seguinte: Você deveria ficar mais uns dias aqui mas já está aqui muito tempo. Eu vou tirar as ataduras e te dar alta, se você sentir qualquer coisa anormal venha imediatamente.

Nesse momento Kevin entrou pela porta. Ele congelou me encarou. Acenei com a cabeça esperando que ele soubesse que eu não tinha me esquecido de nada, ele piscou e se escorou na porta visivelmente aliviado.

O doutor pediu que minha mãe e ele saísse e com o auxilio dos enfermeiros foi tirando lentamente as ataduras, enquanto eu me mantinha de costas pro espelho incapaz de me ver. Quando ele terminou meu coração já estava a mil. Ele me forçou a olhar e tudo estava bem, haviam alguns riscos pelo corpo, a maioria no abdômen, mas não era tão ruim quanto eu imaginava e meu rosto estava como antes. Eu vesti minhas roupas normais e agradeci a todos, me despedindo da minha mãe. E entrando no elevador com Kevin que já estava ficando apreensivo.

— Chris, por favor, me diz que eu não estou ficando maluco. Era você mesmo?? Digo, enquanto você estava desacordado?... ah você sabe

— Como assim Kevin? Do que você está falando.

— Ah meu deus! — Pôs a mão na boca — Eu fiquei maluco, eu achei que tinha falado com você enquanto você estava de coma.

Ele foi perdendo a cor. Nós entramos no carro e ele deu a ré com as mãos trêmulas, e eu não consegui mais segurar o riso

— Claro que falou seu idiota, eu me lembro de tudo. Você não é doido, bom só um pouquinho.

— Seu filho da puta!! Nunca mais me engane assim! — Ele balançou a cabeça — Caralho que tenso, eu ouço mesmo fantasmas.

— Você xingando, logo você? Acho que eu nunca tinha ouvido você xingar antes, o todo certinho do grupo. Pelo menos você só ouve imagina eu que vejo e teoricamente já fui um.

— Ah foda-se você também é meio careta e xinga. Foi muita pressão. Você saiu do quarto atrás da Kristen tem dois dias e não voltou mais, quase tive um troço.

— Tem dois dias? — Ele confirmou com a cabeça — Pra mim foi uma hora atrás..

— Aff, você está pior que os meninos quando estão de porre.

Eu ri.

— Michael e Nick como estão?

— Traçando o rodo geral, eu não fico mais em casa pra vigiar eles. Precisamos muito contratar uma empregada extra, a que vem uma vez por semana não está dando conta. Já perdi as contas de quantas vi sair de fininho pela manhã.

— Nossa se a Jaynet estiver por lá ela deve estar pirada.

— Estou curioso para conhecer essa sua namorada misteriosa — Ele me lançou uma piscadela — Conte-me mais como ela divide o mesmo quarto que você.... Vocês dormem juntos? Ela fica com você direto? Por isso eu nunca vi você levando ninguém pra lá nunca. Você consegue tocá-la...? — Ele deu um risinho — Digo, no braço sei lá, não pense besteira...

Ah claro Kevin, por isso, levar uma mulher com ela lá seria muito constrangedor. Mas também por que eu sou virgem e vocês não sabem.

— Ela não é minha namorada! Ela é um fantasma, ela não dorme, não come, não toma banho, ou essas coisas que a gente precisa fazer. Ela está sempre arrumada, troca de roupa com o pensamento, tem poderes estranhos... Eu já expliquei parte disso pra você no hospital. — Eu enrubesci um pouco — A gente pode se tocar... bom, mais ou menos... é muito estranho.

— Estranho como?

— Não sei, não é desagradável... Mas é ... Incomodo... Ah foda-se, não sei explicar. A gente evita ao máximo.

— Hum... será que é possível dar uns beijinhos?

— Não sei, acredito que sim.

— Aha!! Você pensou nisso.

— Babaca — Eu corei ainda mais. — Vamos mudar de assunto como andam as coisas a escola, sei lá.

— Bom... Você perdeu bastante coisa. A festa de encerramento é essa semana, e eu chamei a Maye — Ele sorriu pensativo — Temos conversado muito ultimamente, acho que gosto dela.

— Maye é? Acho que vocês combinam.

— A Heather anda muito preocupada com você, acho que ela ficou com medo de ficar sem par pra festa.

— Heather?

— Sua namorada viva lembra? Que ia te visitar de vez em quando, ruiva, bonita.

— Ah sim! — Fiquei surpreso pela minha falta de emoção. — Eu não sei se eu quero ir nessa festa, eu nem vou passar nas matérias, vou comemorar o que?

Ele passou a rua que deveria entrar para ir pra casa e eu lancei um olhar suspeito. Queria muito tomar banho e ir dormir.

— Eu sei que você está cansado e quer ver se a Jaynet está em casa logo, mas eu contei as pessoas que você tinha acordado e quando eu vi eles já tinham programado tudo. — Ele me lançou um olhar culpado. — Vai ser rápido é só alguns cupcakes e chocolate quente com os meninos e a Heather. Não conta pra ela que você não quer ir, ela já tem até o vestido, está contando muito com você.

Nós descemos do carro e eles estavam esperando na porta do estabelecimento, Heather praticamente voou no pescoço e nós quase caímos, mal tinha forças pra me manter em pé. Ela me beijou com entusiasmo e de forma demorada, até que Nick pigarreou chamando a atenção. Ele e Michael me abraçaram e nós sentamos em umas das mesas, já preparada com os cupcakes e o chocolate, no ambiente estava tocando “safe and sound” do Capital Cities. Toda a minha vontade de não estar ali sumiu com a música animada e com o primeiro gole do chocolate.

— Esse chocolate é a coisa mais gostosa que já tomei em toda minha vida.

— Você deve estar com a fome de mil mendigos — Disse Nick — Se eu saísse de um coma eu ia comer tudo que eu visse pela frente.

— Realmente — Eu mordi o cupcake e prossegui com a boca cheia — agora que você falou estou com fome mesmo. Meu Deus!! O melhor cupcake da minha vida.

— Caralho eu ia querer um bifão acebolado — Michael mostrou os músculos para Heather — Comida de hospital não rola tem que ter sustância.

— Ele nem comia seu animal, tava tipo morto.

— Cala a boca Nick ou eu vou enfiar esse cupcake....

— EPA!!! — Kevin gritou. — Olha o respeito gente, tem menina conosco.

— Falou o certinho que xingou pra caralho hoje. — Ele me fuzilou com os olhos. — Queimo mesmo, xingou mesmo, mais de uma vez — Nick e Michael me olharam incrédulos — Se eu tivesse com meu smartfone tinha gravado áudio e tinha mandado pros seus pais.

Nós ficamos lá por um muito tempo, rindo, pondo os assuntos em dia e comendo muito. Principalmente eu. Depois disso Nick e kevin foram levar a Heather — A qual eu acabei prometendo levar a festa — para casa e o Kevin finalmente me levou para descansar. No caminho conversamos sobre a mansão e o Roosevelt e o quanto ele era perigoso, então ele me fez prometer que não me meter mais nessa história. Eu abri a porta e a casa estava exatamente como há três meses, exceto pela sujeira.

— Não vai morrer de novo não!

— Pode deixar estou novo em folha — Gritei enquanto subia as escadas — Liga pra uma diarista pelo amor de Deus.

Eu girei a maçaneta do meu quarto, me sentindo repentinamente apreensivo. Passei rapidamente pela sala de jogos e subi as escadas olhando por todos os lados. Dei uma conferida na mini biblioteca e na varanda, nada. Tomei um banho rápido e botei um roupão que estava pendurado próximo ao box. Então fui cheio de expectativas em direção ao closet, que era o lugar preferido dela e mais parecia um outro quarto de tão imenso.

— Jaynet? Você está ai? — Eu bati na porta. — Sou eu, Christian, eu voltei a viver — Eu ri e esperei ela soltar alguma piadinha sobre minha quase morte. — Vou entrar, estou só de roupão, não surta por favor...

Dentro do closet só haviam as minhas roupas, as que ela me obrigava a comprar pra ela sempre que via na vitrine, embora de fato não pudesse usar, um amontoado de revistas de moda, sapatos e o silêncio. Vesti uma roupa confortável e me joguei na cama, desejando não ser tão idiota. Fiquei esperando o sono vir, pensando no que eu teria feito a ela para ela me abandonar assim no momento em que eu mais precisei. Mesmo assim eu não sentia raiva, somente tristeza.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo será na escola, pretendo postar em breve... Obrigada por lerem e acompanharem até aqui... Muitos beijos