Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 43
Caledonia




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Tom sabia que havia algo estranho assim que abriu os olhos. Havia algo faltando, apesar de, pelo que ele enxergava de onde estava na cama, tudo estar no lugar. A luz cinzenta do dia londrino entrava pelas frestas na cortina e iluminava o pequeno apartamento, seu casaco e sapatos estavam jogados no chão e ele não se lembrava de tê-los tirado, a cama estava desarrumada...

O rapaz se levantou, sentindo sua cabeça meio aérea. O local ainda parecia distante e um tanto estranho, como se Tom estivesse enxergando tudo por detrás de um vidro... Ele se perguntou se era assim que os fantasmas enxergavam o mundo dos vivos, como uma outra dimensão, longe e perto ao mesmo tempo. Os sons da rua se embrenhavam pela janela, anunciando que o dia já havia começado na capital, e Riddle afastou a cortina para olhar as pessoas andando, apressadas, lá fora.

Um arrepio subiu pelo seu braço e o bruxo encolheu os ombros, olhando em volta. Ele sabia que não veria nada, mas já havia aprendido a reconhecer a sensação. Aquela era a reação do seu corpo ao ter um fantasma o atravessando e, por não ver nada, sabia que se tratava de seu pai. Era o jeito que o trouxa havia aprendido de chamar-lhe a atenção, apesar de Riddle ainda não saber como ele conseguira isso... Helena havia falado que fantasmas trouxas não eram vistos, ouvidos ou sentidos.

“Por que não falou quando eu estava dormindo?” o rapaz resmungou, apesar de agradecer por isso não ter acontecido. A noite anterior já havia sido um turbilhão inesperado de emoções por conta do médico legista, ele não precisava de mais um trouxa lhe deixando confuso e angustiado.

O restante da manhã fora normal. Café, banho de água fria, roupas, caminhada até o Beco Diagonal, trabalho... Hermione não aparecera em nenhum momento, mas Riddle sabia que Ollivander gostava de iniciar o turno de trabalho cedo e, de certo, a garota já devia ter saído antes de ele acordar. Outra coisa pela qual ele agradecia, pois, se sua memória não estivesse lhe enganando, Tom Riddle não sabia como iria encarar Hermione Elston naquele dia.

O Sr. Burke o repreendeu três vezes naquele dia, pela sua falta de atenção, e até mesmo o Sr. Borgin, mais compreensivo e com maior afeição por ele, perguntou se estava tudo bem depois que ele se esqueceu do nome de uma cliente de longa data. A questão era que Tom podia conversar com cada bruxo ou bruxa que entrava na Borgin & Burke’s o quanto quisesse, mas, naquele dia, cada palavra entrava em seus ouvidos e passavam despercebidas pelo seu cérebro: nada se fixava em sua memória de curto prazo, que estava ocupada demais se lembrando do medo e angustia que sentira quando chegara em casa na noite anterior e de como as palavras escaparam de sua boca na frente de Hermione. O estômago do rapaz parecia ter se contorcido ao ponto de dar um nó em si mesmo e nem mesmo um biscoito ele conseguira comer durante o dia inteiro.

Riddle agradeceu à Deus, Merlin, Morgana, Morgause e todo e qualquer divindade possível quando o seu expediente acabou. O Beco já tinha as suas luminárias acesas e a loja de Ollivander estava fechada. Hermione já devia ter ido para casa.

Mas Hermione não estava no apartamento quando o estalo da aparatação fez o rapaz notar que havia chegado. O lugar continuava escuro e vazio e, só então, ele entendeu o que faltava ali: magia.

Tom já havia ouvido falar de bruxos e bruxas que eram mais sensíveis, pessoas capazes de identificar as particularidades da magia de cada um... Ele, em particular, não tinha uma percepção tão apurada, mas sabia dizer quando havia magia em um lugar e, de uma forma mais grosseira, identificava aquelas que lhes eram mais familiares. Ele sabia o peso do ar quando Hermione estava por perto e como ele se tornava mais fresco quando Abraxas se juntava a eles. Naquele momento, não havia frescor e nem um peso adicional. Havia a sua magia, algo vindo de dentro e que começava a se agitar, e nada mais. O apartamento parecera, de repente, o muquifo que Abraxas sempre descrevia: feio, escuro, frio e vazio.

“Hermione?” o garoto chamou, sentindo-se bobo e infantil ao fazer isso, como uma criança que acorda no meio da noite e pede por ajuda após um pesadelo.

A única resposta que recebeu foi um arrepio atravessando os seus ombros.

***

Uma das vantagens de Septimus Malfoy ainda trabalhar era que seu filho não precisava comparecer ao Ministério da Magia todos os dias. É claro que o Sr. Malfoy preferia que Abraxas o acompanhasse sempre, em todas as reuniões e julgamentos, mas, naquela manhã, o elfo doméstico lhe avisou que o jovem estava se queixando de mal-estar e dores de cabeça. Sabendo que isso significava que filho não se levantaria por nenhuma razão no mundo, o homem foi para o Ministério sozinho.

Se fosse ser sincero, Abraxas diria que não estava sentindo nenhuma dor no corpo ou na cabeça. O mal estar era algo em seu peito, algo que parecia deixá-lo incapacitado de sair debaixo das cobertas, mas era mais fácil inventar um mal físico para convencer o pai de deixa-lo em casa naquele dia. Além disso, Tobby sempre lhe preparava as melhores sopas e biscoitos quando dizia que estava com alguma dor ou inflamação da garganta.

Não fosse pelo sentimento ruim que o assolava e a vontade de chorar toda vez que se lembrava da visita de Hermione na noite anterior, Malfoy teria pensado que aquele fora um dia perfeito. Havia biscoitos e doces, uma cama quentinha e livros. Mas, toda vez que lia algum poema ou sentia o gosto doce do chá em sua boca, lembrava-se dos dias em Hornsea, das últimas semanas, do encontro na Floresta Proibida e tudo o que queria fazer era chorar. A partida de Hermione, ele sabia, era um ponto importante para todos eles e Abraxas não tinha ideia de como Tom lidaria com isso... O medo de perder tudo o que haviam conquistado, no entanto, era aterrador.

O loiro estava contando os minutos para Riddle aparecer. Ele sabia que o amigo logo perceberia que a ausência de Hermione era mais do que apenas a garota o ignorando e não tinha ideia de como encararia o outro quando ele chegasse.

A saída foi não encarar.

“Onde ela está?”

Tom, como sempre, não fez cerimônia para entrar. Tobby apareceu correndo atrás do rapaz quando este abriu a porta com força, balbuciando desculpas enquanto os olhos grandes ficavam marejados de lágrimas, mas logo saiu quando Abraxas acenou para que ele fosse embora.

“Abraxas.”

O loiro apenas abaixou a cabeça, encarando o poema que estava lendo antes de ser interrompido. Walt Whitman. O mesmo poema que ele havia recitado para a garota antes da sua partida. O olhar de Riddle pesava em si e seus dedos apenas apertavam o livro a cada segundo que se passava.

“Ela veio aqui, não veio?”

Malfoy assentiu e encolheu-se ao ouvir uma das lamparinas explodir, mandando cacos de vidros para todos os lados. A magia de Tom inundou o lugar e o loiro conseguia sentir a sua própria magia tentar, em vão, respirar ali.

“Para onde ela foi?”

“Não sei,” ele respondeu em um sussurro, finalmente tomando coragem de erguer o rosto.

Tom estava pálido e com os olhos vermelhos. Abraxas queria apenas se levantar e o abraçar, mas sabia que iria se machucar caso ele recusasse tal conforto.

“O que ela disse?” perguntou Riddle, aproximando-se a passos largos e parando logo ao seu lado. Depois de tantos dias se sentindo íntimo, era estranho se ver no lugar de servo outra vez, com a cabeça erguida para poder encarar os olhos de seu mestre.

“Que... Que precisava ir,” o bruxo murmurou, vendo a mandíbula do outro travar. “Tom...”

“Eu devia saber,” ele resmungou, dando-lhe as costas e se afastando. “Eu devia saber que ela não entenderia. Muito grifinória-“

“Você matou um homem, Tom.”

“Isso não foi um problema para você!” o rapaz esbravejou e outra lamparina explodiu. “Você não fugiu quando falei do meu pai! Ela... Ela fingiu nos entender, Abraxas, e depois fugiu!”

“Você machucou ela,” Malfoy sussurrou, abaixando a cabeça outra vez. Ainda não sabia como explicar tudo o que a garota havia lhe contado, mas sabia que precisava achar um jeito de fazer isso. Uma parte de sua mente não parava de repetir que Hermione não tinha o direito de lhe entregar toda aquela responsabilidade.

“Como é?” Tom franziu o cenho e se aproximou outra vez.

“Eu não entendi tudo o que ela quis dizer, Tom,” o loiro tentou explicar. “Mas ela... Ela conhecia... Ela sabia sobre Voldemort.” Ele viu o olhar do outro brilhar e os punhos dele cerrarem. “Ela falou sobre o estrago que ele vai causar e sobre... como ele vai machucá-la.”

“Como eu vou fazer isso.”

“Não, ela... Hermione diferenciava as duas coisas.”

Abraxas sentiu a magia do outro quase o sufocar e, em segundos, seu quarto estava quase destruído. Os livros saíram voando, as luminárias se quebraram e as vidraças trincaram. O poder de Tom era incrível e perigoso, ele sabia disso, mas era uma coisa completamente diferente ver isso ao vivo. Ele conseguia entender o tamanho do estrago que Riddle (ou Voldemort) poderia causar.

“Ela não tem o direito de tentar julgar o que estou fazendo!” o rapaz falou, sua voz soando ameaçadora e mais alta que o vidro trincando. “Ela não sabe... Ela não sabe tudo o que eu fiz e tudo o que eu passei. Ela não tem o direito de querer que eu pare com-“

“Com o que, Tom?” Malfoy perguntou e logo se arrependeu, quando viu o olhar surpreso e irritado que recebeu. “Com o seu plano de dominar o mundo bruxo? O seu plano de se tornar imortal?” Os olhos claros de Riddle se arregalaram e o loiro apenas riu. “Como disse para Hermione: eu não sou tão burro quanto as pessoas pensam. Acha que o seu medo de morte e pesquisas incessantes sobre magia das trevas não fazem sentido?”

“Você não tem ideia do que está falando, Malfoy.”

“Horcruxes, não é? Parece ser o que mais lhe chamou a atenção e é o mais prático: você já matou gente, a fragmentação da alma já está feita. Você ama antiguidades, vivia atrás da Dama Cinzenta para saber o diadema de Rowena Ravenclaw... Você o quer para uma horcrux? Qual vai ser a outra? Esse anel?” o rapaz apontou para a mão do outro. “O símbolo dos Peverell, uma família pura antig-“

Antes que continuasse, Abraxas sentiu-se ser empurrado contra a cabeceira da cama. Sua cabeça latejou ao bater contra a madeira e qualquer esforço para tentar se mexer não adiantava de nada. Os olhos de Riddle estavam tomados por raiva e, por um segundo, o rapaz acreditou que, caso estivesse certo, ele logo se tornaria uma das vítimas usadas para fragmentar a alma de Tom.

Mas então, ele notou que havia algo a mais nos olhos do amigo. Dor, talvez, ou era angústia? E um brilho que não era produto da raiva, mas sim de lágrimas. O lábio inferior de Tom estava preso entre os dentes dele e as sobrancelhas estavam franzidas. Tom Riddle, mais uma vez, era uma criança assustada sem saber o que fazer.

“Por que você precisa disso, Tom?” Malfoy perguntou, tentando manter a voz calma. “Qual a necessidade de vida eterna e dominação?”

“Você me incentivou...”

“Nós éramos adolescentes de quinze e dezesseis anos quando isso começou. Adolescentes acham uma boa ideia jogar bomba de bosta no corredor, Tom!” O loiro riu, sem humor. “Eu não entendo... você querer isso agora...”

“Qual a diferença de antes e agora, Abraxas?” o bruxo perguntou, sacudindo a cabeça.

Abraxas sentiu um nó se formar em sua garganta. Ele sabia que parte da culpa era sua, que fora ele, junto com seus colegas, que incentivaram Riddle a continuar com as suas loucuras... E agora, ele queria voltar atrás. Mas Tom precisava dele. Tom sempre precisaria de alguém e aquele alguém era Abraxas, ele não podia desistir do outro. No entanto, precisava saber a razão de tudo aquilo. Malfoy sabia que a solidão levou Riddle ao ódio e a frustração, mas, agora... Qual era a razão?

“Você não está sozinho,” Malfoy murmurou, forçando-se a continuar o olhando. “Eu achei que... Que talvez isso fosse o suficiente. Hermione também deve ter achado o mesmo.” O garoto soltou o ar, sentindo um soluço escapar junto. “Eu... Merda, Tom, eu amo você. E Hermione também. Isso não é o suficiente? Você sabe que eu vou sempre te ajudar no que precisar, mas... É realmente preciso tudo isso? Poder inimaginável e vida eterna?” Abraxas queria brigar consigo mesmo. Ele queria confrontar o outro, mas acabara chorando. Era óbivo que Tom nunca o levaria a sério agora. “Uma vida não estando sozinho não é o suficiente? Nós... Nós não fomos o suficiente?”

O silêncio dominou o cômodo. Os estalos vindos das vidraças cessaram e nenhuma lamparina (se é que havia sobrado alguma intacta) explodiu. Riddle o olhava com aqueles olhos azuis, que sempre eram tão enigmáticos e eficazes na hora de seduzir alguém, cheios do que parecia ser confusão. Depois de alguns segundos, o loiro sentiu a magia que o segurava no lugar sumir e seus ombros relaxarem. A respiração do outro garoto começara a ficar mais rápida e ruidosa, como se ele estivesse com dificuldade de puxar o ar para dentro dos pulmões.

“Tom...” ele chamou, baixinho, tomando coragem de se levantar e ir até o outro. Sua mão alcançou a dele, sentindo os dedos do rapaz tremendo contra a sua palma. “Hermione não teria partido se não fosse preciso. Mas eu... Eu não preciso ir. Vou ficar aqui, prometo. Vou dar um jeito, mesmo que seja complicado. Você não vai ficar sozinho, Tom.”

E, então, a expressão de Tom Riddle se desfez por completo.

***

A luz parecia criar um caminho pelo enquanto brilhava por entre as árvores, deixando os arbustos do chão com uma coloração quase amarelada. Aquele lugar era o que a Floresta Proibida seria caso não fosse proibida: silencioso, mágico, calmo... Ao fundo, era possível ouvir o barulho de um riacho e, de cima, ecoavam os cantos de alguns pássaros. O som de folhas sendo amassadas e gravetos sendo quebrados também enchiam a floresta enquanto Garrick andava para lá e para cá na floresta.

“É um lugar mágico,” o bruxo lhe explicara. “Eu venho até aqui para pegar madeira, mas pensei que talvez fosse um ótimo lugar para conduzir o ritual.”

“Por conta da distância ou da magia?”

“Os dois.” O homem sorriu e Hermione notou como os cabelos loiros e despenteados dele agora pareciam quase como um halo de luz ao redor de sua cabeça, iluminados pelos raios de sol daquela manhã. “Há lendas que dizem que a própria Rowena Ravenclaw andou por essas florestas no seu tempo e que a magia dela ainda vive em alguns lugares.”

“A floresta da Caledônia era gigante na época dos fundadores, é meio óbvio que Ravenclaw teria andado por ela,” a garota murmurou, erguendo a cabeça para olhar o topo das árvores.

“Sim, e a Floresta Proibida de Hogwarts é um dos pedaços dela que sobreviveu ao tempo... Mas gosto de imaginar que Rowena passou por mais pontos da Floresta Caledônia que apenas aquela que circunda Hogwarts até hoje.”

A bruxa sorriu, encostando-se em uma das árvores enquanto observava o homem arrumar as coisas. Ollivander havia encontrado uma pequena clareira e decidira que ali era o lugar ideal para realizar o ritual do tempo. Agora, ele se ocupava em empilhar pedrinhas e rabiscar símbolos na terra, formando um círculo. Hermione conseguia sentir a magia da floresta parecer se infiltrar no lugar, como algo curioso que quer saber o que está acontecendo dentro de si...  Sentindo isso, ela soube que, sim, a magia do local era uma das razões daquela escolha.

“O que mais precisamos?” ela perguntou, quando viu o bruxo parar o seu trabalho e encarar o círculo de pedras e símbolos. O sol havia perdido o brilho da manhã, mas ainda iluminava-os por entre os galhos.

“De algo do seu tempo,” disse Garrick, indo até ela e puxando de dentro das vestes um frasquinho de vidro. “Um objeto pode servir, mas... Uma das fontes dizia que memórias são a forma mais segura de alcançar o tempo certo.”

Hermione encarou o frasco, antes de assentir. Fazia sentido, quanto mais pessoal, mais certeiro seria o ritual. Ela respirou fundo, puxando a varinha de bétula e encostando a ponta desta em sua têmpora. As memórias vieram com facilidade: a mansão Malfoy na noite em que os sequestradores os alcançaram, o peso de Bellatrix sobre ela, a expressão assustada de Draco, Dobby derrubando o lustre de cristais... O fio prateado de lembranças se esticou quando ela afastou a varinha, pendurando-se à madeira enquanto ela a colocou sobre o frasco. As memórias escorreram pelo vidro e se alojaram no fundo do recipiente, brilhando.

“Lembre-se: você vai aparecer nesse lugar.” O bruxo gesticulou para as árvores ao redor deles. “Você sabe para onde ir depois?”

“Sim,” ela falou, engolindo em seco ao se lembrar dos sonhos que tivera com Harry. Ela sabia que os encontraria no Chalé das Conchas.

Hermione olhou para o círculo do ritual, sentindo seu estômago gelar e seus olhos arderem. O esforço que teve de fazer para não deixar uma memória sobre Tom ou Abraxas se esgueirar para dentro daquele frasco fora incrível, mas agora elas estavam voltando com toda a força.

“Está pronta?” A voz de Ollivander soou em algum lugar ao seu redor, mas, naquele momento, ela praticamente podia ouvir a risada e a respiração entrecortada de Riddle e Malfoy, na clareira da Floresta Proibida. Uma lágrima teimosa escapou de seus olhos.

“Sim...” ela murmurou, olhando o homem outra vez. “Muito obrigada, eu nem... Nem tenho como agradecer por tudo o que fez, Garrick.”

“Você sabe muito bem que não precisa agradecer.” Ollivander sorriu, apoiando as mãos no ombro dela e apertando de leve.

A bruxa sorriu, sentindo seu peito apertar, e o abraçou com força. Ela sentiu as mãos do fabricante de varinhas acariciarem-lhe as costas e um soluço escapou por entre os seus lábios.

“Eu lhe desejo toda a sorte do mundo, Hermione,” o homem murmurou, afastando-se e sorrindo. “Você é uma bruxa incrível. Vou ficar ansioso enquanto espero você aparecer na minha loja outra vez.”

“Acredite, eu estarei ansiosa também, apesar de ainda não o conhecer.” Ela riu, fraquinho.

Dando as costas para o homem, Hermione entrou no círculo. A magia de Ollivander e da floresta se misturavam, uma alimentando a outra. Quando se virou, viu o bruxo ajoelhado no chão, as mãos traçando alguns símbolos que ele havia desenhado na terra enquanto ele murmurava algo. A magia ao redor de si pareceu se agitar e a garota sentiu o frio em seu estômago aumentar. Ela queria sair correndo dali, queria aparatar para bem longe, mas se forçou a permanecer parada, apenas sentindo a magia e observando Garrick enquanto este erguia o frasquinho de memórias e as derramava sobre os símbolos inscritos no chão.

O fio prateado de lembranças se moldou aos entalhos na terra e o círculo de pedras empilhadas pareceu brilhar. Os galhos e folhas se agitaram com uma rajada de vento mais forte e o sol sumiu entre nuvens. O barulho da ventania tornou-se alto o suficiente para abafar o som do riacho à distância e Hermione sentia-se perdida no meio de todo aquele vento, como se estivesse no centro de um redemoinho. A magia anciã da floresta e a de Ollivander se enroscavam em seus braços e pernas.

Afastando os cabelos do rosto e encolhendo-se no meio do vendaval, Hermione Granger conseguiu ver o fabricante de varinhas erguer o rosto para olhá-la uma última vez. Aquele brilho curioso e fascinado, algo que ela havia associado aos corvinais, adornava os olhos do homem e ele sorriu para ela.

Ela sorriu, logo antes da ventania a carregar para longe.

 

 

 

caledonia - dougie maclean


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Notas finais do capítulo

1) A floresta da Caledônia era uma floresta gigante que se estendia pela Escócia e que foi desmatada ao longo dos anos. Hoje existem florestas que são o remanescentes da antiga floresta, como a floresta Abernethy, Glen Affric, Achnashellach Forest e outras... Pela localização da floresta Abernethy, que é perto de Dufftown, imaginei que a Floresta Proibida seja um remanescente da floresta Caledônia (em Prisioneiro de Azkaban, a Hermione diz que o Sirius foi visto em Dufftown e fala que 'isso é perto daqui'). Caledônia também era o nome dado pelos romanos para o território que hoje é a Escócia... Coincidentemente, tem essa música do Dougie MacLean, que me lembrou o capítulo num geral.

2) O ritual do Ollivander, ou pelo menos o efeito dele, foi inspirado pela descrição que a Thams (brassclaw) dá de uma viagem no tempo na fic "Quando o tempo inverte" (vão ler, é incrível) e que inclui um redemoinho.



Bom... espero que tenham gostado? Como sempre, fico muito feliz que tenham gostado do último capítulo e digam o que acharam desse.