Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 4
The Diagon Alley




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O escritório da Sra. Cole era muito arrumado e, como o resto do orfanato, impecavelmente limpo. Mas, ainda assim, Hermione não pôde deixar de notar algumas garrafas de gim vazias dentro de um dos armários assim que ela entrou no cômodo.

“Ah, aqui está ela,” disse a diretora enquanto ela se aproximava na mesa, lançando um olhar curioso ao homem que estava sentado em frente à mulher mais velha. A bruxa sentiu o seu coração pular em seu peito ao ver que a pessoa desconhecida usava uma combinação esquisita de roupas trouxas coloridas e tinha cabelos acaju que chegavam aos seus ombros. “Srta. Elston, este é o professor Dumbledore, ele está aqui para...”

A voz da Sra. Cole pareceu desaparecer dos ouvidos de Hermione assim que o homem virou-se para olhá-la. A garota não pôde deixar de sorrir ao observar o rosto de Dumbledore... Sua pele não era tão enrugada quanto ela lembrava e sua barba não estava tão longa e ainda tinha a mesma cor de cobre de seus cabelos, mas o sorriso gentil e o brilho em seus olhos que apareciam por detrás dos óculos de meia lua ainda eram os mesmos. Hermione achou engraçado como a mera presença do professor fez com que ela se sentisse mais calma, como se ele fosse um sinônimo de segurança para ela.

“É um prazer conhecê-la, Srta. Elston.” Ele se levantou e estendeu-lhe a mão, a qual ela aceitou sem hesitar, agarrando-se nela como se em um pedido silencioso por ajuda. “Minha cara Sra. Cole, eu poderia ter uma conversa em particular com esta moça?”

“Claro, professor,” disse a mais velha, levantando-se de sua cadeira e, logo saindo do escritório.

“Estou feliz de ver que você está bem,” disse Dumbledore, olhando para ela. O rosto dele continuava gentil, mas havia uma pitada de preocupação em sua expressão. “Merlin sabe como as coisas estão difíceis fora do Reino Unido hoje em dia e eu estou muito feliz que a senhorita tenha escapado com vida...” A menina sorriu, triste, e deu de ombros. “Apesar de que, claro, sinto muito pela sua perda, Srta. Elston.”

“Pelo menos estou a salvo agora,” ela falou.

“Sim, você está.” Albus soltou a sua mão e enfiou os dedos dentro do bolso de seu casaco, tirando dali um envelope amarelado e entregando-o à ela. “E você ficará ainda mais segura a partir do dia primeiro de Setembro.”

O sorriso de Hermione alargou-se enquanto ela pegava a carta, lendo as palavras escritas em tinta esmeralda. Srta. H. Elston. Terceiro quarto a direita do terceiro andar. Orfanato Wool’s. 13, Vauxhall Road, Londres. Era diferente de todas as suas cartas anteriores. Aquelas cartas foram escritas para Hermione Granger, a menina cujos pais eram dentistas e cujas férias eram passadas com os amigos... Está era a carta de Hermione Elston, a menina órfão cujos pais trouxas morreram em um ataque anti-trouxas na Franca, onde eles viviam perto de uma família bruxa que eles conheciam a muito tempo. Aquela carta fora escrita para uma personagem de uma história boba que a garota havia criado para encobrir a sua própria realidade.

Ela correu os dedos por sobre o selo vermelho de cera antes de puxá-lo para abrir o envelope. O conteúdo da carta era o mesmo de sempre, pelo que ela pôde ver, haviam apenas algumas mudanças que se referiam à algumas aulas novas que ela poderia fazer caso quisesse.

“Muito obrigada, professor,” ela falou, sorrindo. “Digo, por me aceitar em sua escola...”

“Ah, Srta. Elston.” Dumbledore riu baixinho e colocou uma mão no ombro da outra. “O colégio é um lugar para pessoas como você... E, também, Hogwarts sempre ajudará aqueles que precisam.” Hermione sentiu os olhos se encherem de lágrimas ao ouvir tais palavras. Aquele era o tipo de coisa que ela esperava ouvir de Dumbledore durante o começo do ano letivo. “Não há razão para ficar triste,” disse o homem ao notar que ela estava se contendo para não chorar. “Como eu disse: você estará segura lá e nós faremos tudo para ajudá-la a superar tudo o que aconteceu com a senhorita no passado.”

“Obrigado, senhor.” A menina riu, secando os olhos com as pontas dos dedos. “Mas... Isso vai soar muito...” Hermione deixou a sua voz fraquejar.

“O que, Srta. Elston?” O professor arqueou uma sobrancelha enquanto a olhava.

Ela pretendia contar à Dumbledore sobre a sua viagem no tempo assim que chegasse em Hogwarts ou assim que o conhecesse. Mas agora Albus Dumbledore estava ali, no orfanato, falando com ela... E Hermione não conseguia dizer-lhe a verdade. Havia algo a segurando; um sentimento ruim, um aviso, algo esquisito que a impedia de falar a verdade à única pessoa que poderia ajudá-la e que fez com que outra mentira escapasse por entre os seus lábios.

“Vai soar muito bobo.” A garota sacudiu a cabeça. “É que eu já ouvi falar tanto sobre Hogwarts daqueles que me ensinaram sobre magia...”

“A família bruxa que era amigo de seus pais?”

“Sim. Como eu disse na minha carta, havia essa família que, desde que eu comecei a demonstrar sinais de magia, se voluntariou para me ensinar junto com os seus filhos.” A bruxa se amaldiçoou por criar tal mentira ao mesmo tempo que imaginava os Weasley a encarando. ‘Me desculpem,’ ela pensou. ‘Me desculpem por colocar vocês no meio disso.’

O bruxo apertou o seu ombro, antes de voltar a falar. Dumbledore explicou à ela sobre como a escola funcionava, o sistema de notas, as aulas e as casas. Ele lhe falou sobre as características de cada casa, mas nunca mencionou como ela seria selecionada para uma delas. A garota perguntou sobre a seleção, como qualquer pessoa que não conhecesse Hogwarts faria, e apenas ganhou um sorriso zombeteiro e um rápido “É uma surpresa, Srta. Elston” como resposta. A última coisa sobre a qual ele falou fora sobre como ela poderia comprar o seu material.

“O Beco Diagonal é aqui em Londres e é o melhor lugar para um bruxo ou bruxa ir,” ele explicou. “Você terá que entrar em um pub chamado O Caldeirão Furado para poder chegar até lá... Apenas diga ao velho Wilfred que quer ir ao beco e ele irá ajudá-la sem pensar duas vezes.”

Hermione sorriu e concordou com a cabeça enquanto o acompanhava até a porta do escritório e saía do cômodo. Como a menina não vira nenhum dos funcionários por perto, ela se ofereceu para acompanhá-lo até a saída. Durante a caminhada, Dumbledore continuou a falar sobre Hogwarts, sendo muito cuidadoso para não usar nenhuma palavra que pudesse ser interpretada da maneira errada por qualquer uma das crianças trouxas que passava por eles. Eles já estavam no hall de entrada quando o bruxo parou de andar abruptamente e virou-se.

“Ah, Sr. Riddle! Eu quase não o vi ai.”

A bruxa olhou em volta e viu Tom Riddle parado na porta da sala de visitas com um livro em suas mãos e os encarando. Seus olhos estavam preenchidos com algo que ela não conseguia classificar... Poderia ser muito bem ódio ou apenas um pouco de irritação. Mas foram necessários apenas alguns segundos até que o seu olhar caísse sobre ela, dessa vez parecendo levemente curioso.

“Acredito que já deve ter conhecido a Srta. Elston,” disse Dumbledore, dando um tapinha amigável nas costas de Hermione.

“Sim.” A voz do rapaz era baixa e cautelosa, como se ele estivesse escolhendo cuidadosamente o que dizer.

“Bom, tenho o prazer de lhe dizer que ela, assim como você, irá para Hogwarts.” O bruxo mais velho sorriu e não recebeu nada a não ser um olhar vazio do garoto como resposta. “Aliás, Sr. Riddle, agora que o vi... Será que o senhor não poderia ajudá-la com os materiais? Não seria um incomodo para você levá-la até o Beco Diagonal, não?”

O adolescente não respondeu de imediato. Ele levou um tempo para olhar para a garota, analisando-a com aqueles olhos azuis. Hermione sentiu-se quase que exposta durante tal análise, já que era como se Riddle conseguisse saber tudo sobre ela com apenas um olhar rápido, mesmo que aquilo fosse completamente impossível. O jovem não era nenhum tipo de Sherlock Holmes e não estava usando Legilimência, e, mesmo se estivesse, não iria funcionar. A garota havia praticado proteger a própria mente desde que Harry começara a ter problemas com Voldemort invadindo os seus pensamentos e, agora, ela acreditava que a sua Oclumência estava boa o suficiente para que evitar que Riddle entrasse em sua cabeça ou para que, caso ele tentasse, ela ao menos sentisse tal invasão.

“É claro que não, senhor,” ele falou, olhando-a mais uma vez antes de erguer o queixo como se tentasse demonstrar algum tipo de superioridade. Hermione teve que suprimir o riso. Era engraçado ver Riddle tentando se fazer superior em um lugar onde todos eram iguais... Por exempl, não havia absolutamente nenhuma diferença entre os dois. Ambos estavam na situação de crianças órfãs; adolescentes sem famílias ou histórias importantes, e ela até notou que eles se pareciam um com o outro quando estavam usando aquele uniforme feio e cinzento do orfanato que, para ambos, ficava grande demais. “Será um prazer.”

“Bom.” Dumbledore sorriu e olhou para Hermione. “Agora você sabe que tem um colega aqui... Tenho certeza de que o Sr. Riddle ficará feliz em ajudá-la com qualquer dúvida que a senhorita tenha sobre a escola. Agora, temo que devo ir.”

“Tudo bem, professor.” Ela concordou com a cabeça enquanto observava o bruxo andar até a porta. “Até!”

“Até, Srta. Elston, Sr. Riddle.” Ele acenou para os dois. “Ah, Sr. Riddle, você poderia dar um olá àquela moça simpática – Martha, o nome dela, acredito – que trabalha aqui? Não tive a chance de vê-la hoje.”

“Claro, professor Dumbledore.”

Assim que a porta se fechou atrás do bruxo, a garota se virou, apenas para encontrar Tom Riddle agora parado muito perto de si. Mais uma vez, seus olhos estavam grudados nela e ela podia senti-los queimando em sua pele.

“Você é uma bruxa.” O sussurro que escapou de seus lábios não era uma pergunta, mas ela concordou de qualquer maneira. “E o que uma bruxa faz em um lugar como este?”

“A mesma coisa que um bruxo, acredito eu.” Hermione deu de ombros e deu um passo para atrás, antes de se virar e começar a se afastar. “Eu não tenho para onde ir, assim como você.”

“Sobre hoje mais cedo...”

“Oh, não se preocupe em explicar.” Ela o olhou, um pequeno e falso sorriso brincando em seus lábios. “Você foi tão querido comigo pois achava que eu era uma trouxa. Acho que eu devia dizer que não há razão para mudar o seu comportamento, Sr. Riddle; afinal, sou uma nascida trouxa.”

A bruxa não teve a chance de ver como o rosto sem expressão do rapaz rapidamente se transformou em uma careta de nojo, mesmo que apenas por alguns segundos.

***

“Você vai ir para a mesma escola do Tom?” O rosto de Anna permanecera uma mistura de surpresa e decepção após receber a notícia. A bruxa sentiu-se mal ao ver o rosto normalmente feliz da outra ficar sem aquela sua alegria costumeira. “Eu tenho tanta sorte com colegas de quarto...”

“Isso não significa que eu vou me esquecer de você!” disse Hermione, sentando-se ao lado da outra menina na cama e segurando a mão desta. “Eu vou escrever, prometo. E eu vou voltar assim que o ano acabar...” Ela não sabia se isso era verdade – na realidade, ela nem sabia se queria que isso acontecesse – já que, se tudo ocorresse bem, ela estaria de volta ao seu tempo antes do ano terminar. “E você vai ter o quarto inteiro para você!”

“Ah.” Anna riu, sacudindo a cabeça, “Qual é a graça de ter um quarto todo para mim? A única pessoa que prefere assim é o Riddle.” Logo, a risada sumiu de sua boca e ela olhou para Hermione de novo. “Você vai embora em menos de um mês!”

“Sim...”

Anna abriu a boca para falar algo, mas logo fechou-a e permaneceu em silêncio, brincando com a ponta de sua trança. A menina de cabelos castanhos observou a amiga – pois, mesmo conhecendo-a por apenas três dias, aproximadamente, Hermione já gostava da idéia de chamá-la de ‘amiga’ – enquanto esta olhava, sem reação, para a sua cama e desejou muito poder dar um jeito de levá-la, as escondidas, para Hogwarts.

“Lembra do que eu falei sobre Tom Riddle? Acho que podemos falar o mesmo sobre você.” A ruiva sorriu.

“O que?” perguntou Hermione, fingindo estar ofendida. “Eu sou tão esquisita quanto Tom Riddle?”

“Não!” A bruxa riu ao ver a expressão preocupada que apareceu n rosto da outra. “Digo que, se você foi chamada para essa escola, então você deve realmente merecer estar lá, e deve ser tão inteligente quanto Riddle. Você teve a chance, assim como ele, e você escolheu agarrar-se à ela.” Anna deu de ombros e sorriu. “Agora você deve ficar firme e fazer essa sua amiga aqui ficar muito orgulhosa de você!”

***

Quando voltou ao Beco Diagonal, Hermione desejou ter aproveitado melhor a sua primeira visita ao lugar durante dos anos quarenta melhor, pois era impossível aproveitar alguma coisa agora que tinha Tom Riddle praticamente fungando em seu pescoço a cada minuto. Aparentemente o rapaz entendeu as palavras “mostre onde ela pode comprar as suas coisas” como “grude nela e não deixe-a sair do seu campo de visão”... Ou Tom estava seguindo as ordens de Dumbledore da melhor maneira possível para mostrar ao homem o quão responsável ele conseguia ser – Hermione se lembrava de ouvir Harry falando que o diretor era uma das poucas pessoas que não confiava em Riddle, talvez fosse essa a razão de o garoto estar fazendo aquilo no momento, ele devia estar tentando fazer o velho bruxo confiar nele um pouquinho mais – ou ele só estava grudando nela para descobrir mais sobre o seu passado ou encontrar algo que pudesse usar como crítica contra ela.

No momento eles estavam na Floreios & Borrões e Hermione se ocupava em vasculhar uma seleção de literatura bruxa em uma tentativa de entediar o rapaz para fazê-lo ir embora... Aparentemente sua técnica funcionou, pois Riddle, apos alguns minutos parado ao seu lado sem dizer uma palavra sequer (não que ele falasse muito desde que saíra do orfanato, o que, de fato, fora uma surpresa; pelo que ela sabia de Voldemort, ela esperava que Tom Riddle adorasse um longo e bonito discurso sobre o quão superior ele era, assim como o seu eu mais velho, mas o bruxo não falara absolutamente nada sobre si mesmo e, quando abria a boca, era para explicar algo sobre Hogwarts ou sobre o Beco Diagonal), silenciosamente afastou-se dela, aproximando-se de uma pequena pilha de livros meio isolada no canto da loja. A bruxa sorriu, deixando de lado o romance açucarado que estava olhando, e encarou o garoto. Tom estava analisando um grande livro de capa de couro, deixando seus dedos acariciarem a capa deste.

“Sr. Riddle?” ela chamou, e logo ele ergueu os olhos.

“Acho que é possível você ir atrás das suas coisas por si só a partir de agora, Srta. Elston,” disse ele, friamente. “Acho que não vai precisar da minha supervisão.”

A menina engoliu a resposta relativamente rude que já estava na ponta de sua língua e apenas sacudiu a cabeça, antes de dirigir-se para a saída da loja. A ousadia daquele garoto! Ele agia como se fosse ela quem não largara de sua capa desde que chegaram ao Beco Diagonal... Para a sua surpresa, assim que saiu de perto de Tom Riddle, Hermione sentiu-se muito mais relaxada, como se um enorme peso tivesse sido tirado de suas costas. Ela conseguia conter o seu desgosto pelo bruxo – ou pelo que ele iria se tornar no futuro -, mas, de vez em quando, estar na presença dele a fazia se sentir mal, fazendo com que seu humor ficasse delicado e sua língua, afiada. Mas, graças a Merlin, o tempo que ela passava perto dele no orfanato não era muito grande. Tom parecia ser capaz de desaparecer dentro daquele lugar e, como ela passava a maior parte dos dias com os órfãos mais velhos, ele raramente se aproximava deles quando finalmente saía de seja lá onde o rapaz se escondia. Isso significava que, até agora, ele não demonstrara muitos traços de preconceito para com ela devido ao fato de ela ser nascida trouxa, mas ela sabia que era apenas uma questão de tempo até isso acontecer.

Checando a sua lista de materiais, Hermione percebeu que já havia comprado tudo o que precisava. Bom, aquilo lhe dava um bom tempo para passear pelo beco... A garota levou um tempo visitando a Livros Whizz Hard (não havia nada de interessante ali, de qualquer maneira), e uma lojinha de antiguidades cheia dos objetos mais esquisitinhos que ela já havia visto e que ficava no mesmo prédio onde, anos mais tarde, Fred e Georde Weasley abririam a sua loja de logros. Após passar algumas horas nesses lugares, a bruxa sentou-se em uma das mesinhas da Sorveteria Florean Fortescue, que a surpreendeu por já existir em 1944.

“Ah, a menina da varinha de teixo.” Ela ouviu uma voz calorosa a chamando e, antes que pudesse se virar, a figura de um jovem Ollivander apareceu ao lado de sua mesa. “Boa tarde.”

“Boa tarde, Sr. Ollivander.” A garota sorriu. “Ah, sente-se, caso queira...”

O jovem bruxo fez como ela disse, apoiando os cotovelos na mesa e olhando para ela com aqueles olhos pálidos. Era incrível como os olhos do fabricante de varinhas não mudariam quase nada com os anos que se passariam até ela o conhecerem pela primeira vez, ainda com onze anos de idade.

“Hogwarts a espera, pelo que posso ver...” ele falou, esticando o pescoço para olhar as sacolas que ela carregava consigo. “Alguma idéia de qual casa será a sua?”

“Acho que ninguém sabe a sua casa até o momento da seleção.” Ela deu de ombros, sorrindo. ‘Grifinória, com certeza.’

“Tem razão. Você pode tentar adivinhar, mas só poderá ter certeza ao passar pela seleção,” disse Ollivander. “Eu era da Corvinal. Uma boa casa, se me perguntar.”

“Onde aqueles com sabedoria e inteligência sempre encontrarão seus companheiros,” Hermione citou a canção do Chapéu Seletor.

“Exato.” O homem apoiou o queixo nas costas de sua mão e estreitou os olhos. “Existe algo a incomodando, Srta...?”

“Elston. Hermione Elston,” ela respondeu e suspirou, olhando para a tigelinha meio cheia de sorvete em cima da mesa. “Eu não sei... Se tem alguma coisa me incomodando.”

“Eu acho que tem,” o fabricante de varinhas murmurou, virando o rosto para olhar as pessoas que andavam pela ruazinha estreita do beco. “Uma mocinha como você não deveria ter essa ruga no meio da testa caso não estivesse preocupada.” Automaticamente, Hermione levou uma mão até a própria testa, fazendo o outro rir. “O que houve, Srta. Elston? Digo, se é que pode me contar...”

A bruxa observou Ollivander por um tempo, antes de respirar fundo e suspirar ruidosamente. Seu plano original era falar com Dumbledore, mas, após encontrá-lo, algo a segurou, não deixando que ela falasse a verdade ao professor... Mas ela precisava da ajuda de alguém! Alguém que entendesse sobre magia e suas propriedades, fazendo-se útil na hora de ajudá-la com a magia complicada do vira-tempo. E Ollivander estava ali... Sim, ela não era tão íntima dele quanto era com Dumbledore... ‘Íntima de Dumbledore? Ora, o único que tinha mais intimidade com ele era o Harry,’ uma vozinha sussurrou em sua cabeça. Pensando bem, Hermione notou que ela nunca tinha, realmente, falado diretamente com o professor, mesmo o admirando e sabendo de muitas coisas sobre ele graças a Harry ou aos livros que lia.

“O que você faria se deixasse escapar a única pessoa que pode te ajudar?” ela sussurrou.

“Eu procuraria outra pessoa para me ajudar.” A resposta dele saiu rapidamente.

Olhando rapidamente para o outro, Hermione puxou a sua varinha de seu bolso e, com um leve aceno e um feitiço mudo, colocou um Muffliato ao redor da mesa.

“Acho que os outros não devem ouvir a nossa conversa...”

“Você me perguntou se eu poderia falar sobre isso,” a bruxa começou a falar, deixando a sua varinha sobre a mesa. “A resposta é ‘não’, mas eu vou, porque preciso.”

Um leve sorriso apareceu nos lábios de Ollivander. “Então vá em frente.”

“Eu me envolvi em um... acidente,” a menina explicou, vendo como as sobrancelhas do outro se ergueram, demonstrando a sua curiosidade. “Eu estava lutando em uma guerra contra um bruxo das trevas...”

“Grindelwald?”

“Não, outro bruxo... Você não o conhece ainda.”

“Ainda?”

“Sim. Veja bem, no futuro, todo mundo vai ouvir falar sobre esse bruxo, ele estará em todos os lugares, ameaçando todo bruxo, bruxa e trouxa,” a garota sussurrou, sentindo um arrepio subir por suas costas ao lembrar-se do estado de pavor no qual o mundo bruxo se encontrava no futuro. Nos anos quarenta, mesmo com a guerra contra Grindelwald, não era a mesma coisa... Grindelwald não atacava o Reino Unido tão freqüentemente e o território solo de Voldemort era o Reino Unido.

“Você não pode ter certeza disso a não ser que você seja uma vidente.” Ele a olhou, franzindo o cenho. “Mas você não me parece ser uma.”

“Ah, não! Eu não... Na verdade eu não tenho nenhum talento para Adivinhação,” ela riu.” Mas eu sei disso. Eu sei que o que eu falo vai acontecer porque... Eu vi isso tudo.”

Ollivander estreitou os olhos e, após alguns segundos, abriu a boca como se finalmente entendesse o que ela queria dizer. Hermione pressionou os lábios um contra o outro e encolheu os ombros, inclinando a cabeça para um lado.

“Eu disse que não deveria falar sobre isso...”

“Realmente não deveria, Srta. Elston.” O homem tamborilou os dedos sobre o tampo da mesa, parecendo preocupado. “São coisas que ninguém deveria saber... Mas, como?”

“Como eu disse, foi um acidente. Um vira-tempo quebrado.”

“Ah, um vira-tempo...” o bruxo sussurrou. “Ouvi falar deles, mas nunca vi um. Coisinhas poderosas. Perigosas, também, muito perigosas.”

“Tempo como um todo é poderoso e perigoso.”

“Então você ficou no caminho de um vira-tempo quebrado e acabou aqui em 1944,” ele falou, parecendo estar com os pensamentos longe daquele lugar. “E agora você quer ajuda para voltar à sua década original.”

“Exatamente.”

“E seu nome não é...?”

“Hermione Elston? Nao.” A menina lhe deu um sorriso entristecido. “Por favor, Sr. Ollivander, eu realmente preciso de ajuda... E o senhor é um bom bruxo, tem poder suficiente, e entende muito sobre magia.”

“Você me coloca em um patamar mais elevado do que eu mereço, minha querida.” O homem riu baixinho. “Mas eu farei o melhor para ajudá-la a voltar para casa. Merlin sabe o quão horrível é estar longe daqueles que amamos, e eu não quero que você fique nessa situação por muito tempo.”

“Obrigada.” Hermione sorriu, esticando o braço e alcançando a mão dele. “Muito obrigado.”

“De nada, Hermione Elston,” o bruxo falou. “Agora, você tem esse seu vira-tempo ai?”

“Sim, está aqui.” A bruxa olhou em volta para ter certeza de que ninguém – especialmente Riddle – estava prestando atenção neles, antes de soltar a mão do outro para pegar a sua bolsinha de contas roxa. “Aqui.”

A menina rapidamente colocou o vira-tempo na palma da mão de Ollivander. Ele, como se sentisse a preocupação dela, fechou a mão, escondendo o objeto sob os seus dedos calejados.

“Você irá para Hogwarts no primeiro dia de Setembro, certo?” A menina concordou. “Eu irei pesquisar sobre o assunto o mais rápido possível e escreverei para você.”

“Certo... Ah, Sr. Ollivander, será que eu poderia pedir mais um favor do senhor?”

“Claro, Srta. Elston.”

“Eu tenho uma amiga, trouxa, que vive no mesmo orfanato que eu,” ela explicou, notando como as sobrancelhas do homem se contraíram ao ouvi-la dizer que vivia em um orfanato trouxa. “E eu realmente queria poder escrever para ela durante o ano letivo, mas eu não posso mandar minhas cartas via coruja...”

“E você quer que eu entregue as cartas para ela, estou certo?” Um sorriso brincalhão apareceu no rosto do outro, lembrando-a de como o Ollivander mais velho também lhe sorrira de tal forma quando ela finalmente encontrou a sua primeira varinha. “E que eu mande as mensagens dela para você.”

“Sim, mas se isso atrapalhar no seu trabalho, Sr. Ollivander, não precisa...”

“Não se preocupe com isso,” o bruxo falou, finalmente guardando o vira-tempo no bolso de seu colete. “E acho que você pode me chamar de Garrick a partir de agora. ‘Sr. Ollivander’ faz com que eu me sinta velho.” A garota riu. “E também, acho que você deve ir agora...”

“Ahm...?”

“Acho que aquele jovenzinho a está esperando.” Ollivander apontou para o outro lado da rua, onde um Tom Riddle de cara amarrada estava parado. Seus olhos azuis estavam presos nos dois, seus braços cruzados em frente ao seu peito e seus lábios, pressionados um contra o outro, formavam um leve beicinho irritado. Era quase cômico ver o futuro Lord das Trevas agindo como uma criança. “Ele é seu namorado...?”

“O que? Não!” Hermione riu. “Merlin, não! Definitivamente não, mas eu tenho que ir, caso contrário ele vai vir aqui e me arrastar de volta ao orfanato pelo jeito que ele está me olhando...”

“Oh, eu conheço ele,” sussurrou Ollivander, olhando para Tom. “Trinta e quatro centímetros, teixo com núcleo de pena de fênix. A mesma madeira que a sua, Srta. Elston.” Hermione sentiu um leve mal estar se apoderar de seu corpo. Ela não se lembrava que a varinha de Voldemort era feita de teixo e, agora que Ollivander a lembrara deste detalhe, a informação a deixou levemente desconfortável. “Varinha poderosa, e misteriosa... A maioria das varinhas de teixo são assim. Ela tem uma irmã, mas ainda não foi vendida. Ah, eu me lembro de como foi divertido esculpi-la...”

“Divertido?” a bruxa ergueu a própria varinha, tirando o feitiço que os cercava.

“Sim. Eu tinha ido até ao boticário e o Sr. Dranke havia acabado de receber um novo lote de ossos de cabra, que normalmente são usados em algumas poções meio esquisitas dele. Eu vi os ossos e decidi que seria interessante esculpir uma varinha que se parecesse com um deles. Não usei um osso de cabra como modelo, claro, mas o de um humano... Agora, cá em nós, eu não sou nenhum especialista em anatomia humana, então ela não saiu muito perfeita.”

“É meio mórbido, não?” Hermione riu.

“Sim, eu sei, mas acabou ficando interessante e prática. É uma varinha muito leve, fácil de ser manuseada em duelos...”

‘Aposto que sim, considerando o fato que Voldemort já ganhou tantos duelos.’

“Eu realmente acho que você deve ir, Srta. Elston.” Garrick ergueu uma sobrancelha, fingindo um olhar preocupado. “Conhecendo a varinha dele, sei que aquele jovem não tem a maior paciência do mundo.”

***

A caminhada de volta ao orfanato fora muito parecida com a ida deles ao beco. A parte mais interessante foi passar pelo Caldeirão Furado e conhecer o filho de Wilfred Gauge, Tom. Divertindo-se com a cena, Hermione viu a criança de seis anos brincando com uma miniatura de dragão que soltava nuvens de fumaça e voava ao redor dele e reconheceu, nela, o homem que, no futuro, cuidaria do bar. Riddle não achou nada divertido quando Gauge disse ao filho que ele “tinha o mesmo nome daquele respeitável jovem” e simplesmente revirou os olhos, irritado, ao ouvir o comentário.

“Então, comprou algo interessante?” a garota perguntou enquanto eles andavam pelas ruas de Londres.

“Por quê?” Riddle a encarou, parecendo suspeitar de algo.

“Porque eu o vi parecendo bem interessado em um livro na Floreios & Borrões. Pensei que pudesse perguntar sobre o que ele era, já que chamou tanto a sua atenção...”

“Olhe.” Tom parou de andar e se virou para encará-la. “Não é só porque você é... Como eu que, a partir de agora, nós seremos melhores amigos, entendeu? Então pare de me importunar...”

“Você parecia estar interessado em ter outro bruxo no orfanato quando Dumbledore disse que eu também iria para Hogwarts.” Hermione arqueou uma sobrancelha. “Ah, sim, eu sou uma sangue-ruim. Você não quer ser importunado por sangues-ruins.”

A mandíbula de Riddle se enrijeceu e ele respirou fundo. A menina pôde ver os dedos de sua mão direita se fecharem levemente, como que em um reflexo para pegar a sua varinha, e deu um passo para trás, mantendo uma distância seguro entre eles.

“Você deveria ter em mente,” o rapaz sussurrou, sua voz soando baixa e perigosa, e aproximou-se dela. Mesmo que seus olhos continuassem com a mesma cor azul clara, a bruxa podia jurar que eles iriam se tornar escarlate a qualquer momento. “Que não é muito inteligente se meter comigo.”

Hermione só percebeu que estava segurando o ar quando o outro se virou e começou a se afastar, indo na direção do orfanato. Ela esperou até que Tom estivesse em uma boa distância, antes de começar a andar novamente. ‘O que você estava pensando! ?’ ela se perguntou. ‘Está louca? Você realmente quer arranjar briga com Lord Voldemort só para irritar ele? Isso é completamente imaturo, Hermione!’

Como esperava, ao entrar no orfanato, Riddle já sumira outra vez. A menina foi até o seu quarto apenas para encontrá-lo vazio – Anna deveria estar na sala de visitas ou no quintal com as outras garotas – e aproveitou o tempo para pensar no que iria fazer a partir daquele momento. As aulas em Hogwarts começariam dali alguns dias e, uma vez de volta ao castelo, Hermione estaria dentro da comunidade bruxa novamente. Por um lado, aquilo era ótimo, afinal, a escola era um dos lugares mais seguros do mundo bruxo e ela estaria a salvo tanto da guerra trouxa quanto de Grindelwald. Mas, também, ela estaria vulnerável em vários aspectos... Ela estaria no meio de uma geração de pessoas que, no futuro, seriam seus professores e avós de seus colegas, sem contar que ela estaria no mesmo ano que Voldemort. Ainda assim, a vantagem de não estar isolada do mundo bruxo se sobressaía aos prejuízos.

Hermione deitou-se em sua cama e respirou fundo. Se Harry e Ron estivessem com ela... A garota se perguntou se eles estariam bem no futuro. Ela sabia muito bem que haviam momentos nos quais os dois rapazes eram completamente dependentes dela, mas sabia que eles conseguiriam sobreviver sem tê-la por perto, como acontecera quando ela fora petrificada em seu segundo ano. ‘Aquela vez que Riddle a petrificou,’ ela pensou, suspirando. A bruxa ainda se lembrava de o quão fascinada ela ficara com o garoto incrivelmente inteligente sobre o qual ela lera nos anuários depois que Harry encontrou o diário de Tom Riddle... Ele era monitor, tinha ótimas notas nos NOMs e nos NIEMs, virou Monitor Chefe e, ainda, recebera um prêmio especial por serviços prestados à escola. Se havia alguém que servia como ídolo para a Hermione de doze anos, esse alguém era Tom M. Riddle... Pelo menos até ela descobrir que o seu modelo era, na verdade, o homem que queria matar o seu amigo e que quase a matara com uma cobra gigante. E agora lá estava ela, conhecendo um Riddle de dezessete anos, morando sob o mesmo teto que ele e, logo, indo estudar no mesmo ano que ele.

“Hermione!”

A bruxa pulou da cama, assustada com a violência com a qual sua colega de quarto abrira a porta. Os olhos de Anna estavam arregalados e seu rosto era uma mistura de surpresa e curiosidade quando ela gesticulou para que a amiga a seguisse. Antes que Hermione perguntasse qualquer coisa, a ruiva a levou até o hall de entrada, onde havia uma enorme aglomeração de crianças na porta da sala de visitas.

“O que houve?” perguntou a bruxa, fazendo uma careta ao ouvir alguém gritando. Ela reconheceu a voz irritada da Sra. Cole.

“Pare, pare com isso!” A voz da mulher ecoou pelo hall. “Sebastian Turner, pode parar!”

“Seb e Riddle,” disse Anna, apontando para a multidão. “Eu estava passando quando vi os dois discutindo, antes de Sebastian pular no Riddle. Toda aquela discussão do exército de novo.”

“Deus...” Hermione sussurrou ao ver Martha atravessando o grupo de órfãos que tumultuavam o local, puxando um Tom Riddle completamente desgrenhado pelo cotovelo. O rapaz estava cobrindo a metade inferior do seu rosto com as mãos, mas ela conseguia ver que havia sangue escorrendo de seu queixo e de suas mãos, escapando por entre seus dedos pálidos e trêmulos.

“Srta. Elston!” A voz de Martha tirou a garota de sua observação. A mulher agora se aproximava dela, trazendo o rapaz junto. “Será que você pode levar Tom até a enfermaria? O Dr. Mazarovsky logo estará lá... Eu... Eu tenho que cuidar...” Ela olhou para o grupo de crianças, antes de largar do braço do garoto. “Todos vocês, fora! Agora, todos para os seus quartos!”

Enquanto a loira se ocupava em dispersar a multidão, Hermione assumiu a sua posição ao lado de Tom e segurou-o pelo braço, levando-o até a enfermaria. Riddle não disse nada – apesar de que a menina suspeitava de que ele não falava porque não conseguia – e, assim que chegaram ao local, o rapaz apressou-se para o lado da velha maca que havia ali, encostando-se nela.

“Você pode ir agora, Elston.” A voz de Tom soou estranha e anasalada e a menina teve que se conter para não rir ao imaginar o Voldemort que ela conhecia falando daquele jeito.

“Deixe-me ver.” Hermione se aproximou e segurou os pulsos do outro, forçando-os para longe de seu rosto. A garota fez uma careta ao ver o rosto do rapaz. O nariz de Riddle estava vermelho e, obviamente, quebrado, já que estava torto e sangrando. Oh, bem, pelo menos não fora a sua boca,como ela imaginara... “Eu podia jurar que ele tinha te deixado sem alguns dentes.” O bruxo resmungou algo que ela não conseguiu entender e a garota ergueu a mão para tocar o seu nariz. Assim que os dedos dela o tocaram, Riddle gritou, agoniado, e se encolheu, escondendo o próprio rosto.

“Por que você fez isso!?” ele perguntou, gemendo e cobrindo o rosto de novo.

“Apenas checando,” ela disse, andando até a porta e a trancando. “Realmente está quebrado.” A menina enfiou a mão em seu bolso e puxou a sua varinha. Aquela seria uma grande chance de ver o potencial da sua nova varinha.

“O que você está fazendo?” O bruxo estreitou os olhos, encarando a varinha que agora estava apontada para o seu rosto. “Elston, nem pense nisso! Eu não vou deixar você lançar um feitiço sequer em mim!”

“Riddle, pare de agir como se eu fosse te azarar!” A bruxa suspirou. “Se eu deixar assim, Alexei vai tomar conta disso e tenho certeza de que ele levará mais tempo e vai doer mais.”

“Ele é um médico e você não,” Tom começou a falar, mas, de repente, parou ao ter a mão de Hermione segurando o seu queixo e virando o seu rosto para ela. Os olhos do rapaz se arregalaram ao ver a varinha apontada para o seu nariz, mas, antes que ele pudesse fazer alguma coisa, a bruxa sussurrou um encantamento e um estalido alto foi ouvido assim que seu nariz foi empurrado de volta ao seu lugar original. Riddle gritou e a empurrou para longe, antes de cobrir o nariz com as mãos outra vez. “Deus...” ele murmurou, fechando os olhos com força e respirando rapidamente. “Oh, Deus...”

“Pronto. Agora não precisa mais se preocupar em ter um nariz torto pelo resto da vida...” ‘Ou pelo menos até você sumir com ele.’

“Nunca,” ele sussurrou, erguendo os olhos para encará-la. Sua voz soou perigosa e a bruxa deu um passo para trás ao perceber isso. “Nunca mais faça isso, Elston. Nunca mais aponte essa maldita varinha para mim, não importa a situação.”

“Eu só estava ajudando.”

“Você vai ajudar se não repetir essa estupidez de novo e se não contar a ninguém sobre o que aconteceu hoje,” ele falou, ainda a olhando com aqueles olhos azuis. Hermione não havia notado até o momento como aqueles olhos eram estranhos. Eles pareciam ter algo neles que os tornavam únicos e isso não era uma coisa necessariamente boa... Eles eram misteriosos, parecendo ter o poder de intimidar os outros e ela sentia como se eles estivessem tentando manipulá-la o tempo todo, arrastando-a com a ajuda de alguma força misteriosa com o objetivo de afogá-la em seu conteúdo. A garota não sabia quais olhos a assustavam mais: os olhos escarlate e cheios de raiva de Voldemort ou os azuis, frios e profundos de Tom Riddle. “Ah, sim, e ninguém vai saber sobre o fato de nós já nos conhecermos, em Hogwarts... Muito menos irão saber que eu moro nesse lugar, entendido?” A bruxa concordou com a cabeça. “Eu não a ouvi, Elston. Entendido?”


Sim.”

“Bom,” ele sussurrou, fechando os olhos e esfregando a ponta do nariz. “Agora seria bom se você destrancasse a porta, caso contrario irão achar suspeito.”

A menina sacudiu a cabeça e acenou a varinha para a porta, ouvindo o som suave da fechadura se abrindo. Como se Riddle tivesse previsto a chegada de alguém, a porta se abriu e o Dr. Mazarovsky entrou, apressado, carregando uma tigela cheia de gelo. O homem sussurrou algo em uma língua desconhecida e se aproximou de Tom, colocando a tigela ao lado deste na maca.

“Você está encrencado, Tom,” disse Alexei, seu sotaque parecendo aumentar devido ao nervosismo. “A Sra. Cole não está feliz, nem um pouco feliz...”

“Não é minha culpa!” O garoto sibilou assim que os dedos do médico se fecharam ao redor do seu nariz inchado. “Foi aquele idiota que...”

“Tom.”

“Foi Sebastian quem decidiu que seria legal começar uma briga.” Ele revirou os olhos. “A Sra. Cole deveria punir ele e não eu.”

“Agora não é a hora de falar disso, Tom, você pode falar com ela depois. Oh, Hermione.” O homem virou o rosto para olhá-la e sorriu. “Muito obrigado por trazê-lo até aqui.”

“Sem problema,” ela sussurrou. “Ele está bem?”

“Ele ficará bem,” disse Alexei, afastando a mão do rosto do outro. “Você tem mais sorte do que juízo, Tom Riddle... É incrível como seu nariz não está quebrado. Digo, está sangrando, está inchado e está sensível, mas o osso está intacto.”

O médico não percebeu a troca de olhares rápida entre os dois adolescentes quando foi pegar um pano em seu armário. Ele enrolou o tecido em volta de alguns cubos de gelo da tigela, antes de colocá-lo contra o nariz do rapaz.

“Segure isso ai por alguns minutos. Vai diminuir o inchaço, apesar de que é bom você esperar ficar com o rosto assim por alguns dias.” Alexei voltou a olhar para a garota, que estava parada a alguns metros deles. “Acho que você já pode ir, Hermione. Obrigado novamente.”

A bruxa concordou e deu as costas para os dois, antes de sair, deixando para trás um Tom Riddle ensangüentado e um Dr. Mazarovsky preocupado.

***

“Vou sentir saudades.”

Hermione virou a cabeça, lançando um olhar rápido para a menina sentada atrás de si na cama. Era a última noite que ela ficaria ali no orfanato antes de ir para Hogwarts na manhã seguinte e, mesmo que estivesse feliz por estar voltando para o mundo mágico, a garota não conseguia conter uma pequena onda de tristeza ao pensar em deixar o lugar que lhe servira de abrigo por algumas semanas. Durante os dias que passou ali, Hermione acabou fazendo, se não amigos, alguns colegas, não apenas com os órfãos, mas com os funcionários. Martha, por exemplo, provou-se ser uma boa companhia, assim como seu marido... Sem, é claro, mencionar Anna, quem ela temia sentir mais falta.

“Eu vou escrever, não se preocupe,” disse a bruxa, sentindo a escova passando por entre os seus cabelos. Desde a primeira vez que a vira, Anna havia implorado para pentear os seus cabelos, dizendo que eles eram lindos – Hermione não pôde deixar de rir. Seus cabelos eram tudo menos lindos -, mas Granger insistiu em não deixá-la chegar perto de si com uma escova. A única pessoa que já havia tocado o seu cabelo fora a sua mãe e ela sempre temia que, caso deixasse alguém penteá-lo, ele se encheria de nós. Mas, já que era o seu último dia ali, a menina decidiu que não iria machucar – muito – deixar que sua colega de quarto realizasse esse pequeno desejo.

“É bom mesmo!” a ruiva riu. “E me deixe saber como Riddle está se comportando no colégio...”

“Ah, Anna, eu quero manter distância dele.”

“Entendo, acho que faria o mesmo se fosse você.”

Hermione ouviu a garota deixar a escova de lado e sentiu as mãos desta segurando os seus cabelos como se fosse prendê-los em um rabo, mas ela apenas se ocupou em deixar seus dedos escorregarem por entre os fios. Era engraçado como essa pequena ação fazia com que ela se lembrasse tanto de quando era mais nova e sua mãe costumava fazer isso todas as noites. Uma pontada de tristeza a acertou ao se lembrar que, na véspera de sua primeira viagem para Hogwarts, a Sra. Granger havia feito a mesma coisa que Anna agora fazia.

“Você tem um cabelo adorável,” sussurrou a amiga. “Não deixe ninguém colocar laquê para fazer aqueles cachos esquisitos, por favor.”

“Ah, não se preocupe, eu acho que nem laquê consegue arrumar isso ai.” Hermione riu. “Ele nunca ficará arrumado como aqueles cachos da Mary.”

“Você deveria cortá-lo,” disse a ruiva.

“Com licença? Achei que você tinha dito que ele era adorável!”

“Ele é, mas aposto que ficaria lindo curto... Você iria parecer a Clara Bow!”

“Quem?” perguntou Hermione, vendo a outra se levantar da sua cama e correr até a outra, ajoelhando-se para procurar por algo embaixo desta.

“Clara Bow,” disse Anna, pegando uma velha caixa de sapato debaixo da cama e a abrindo. Após alguns segundos, ela já estava ao lado da bruxa novamente, mostrando-lhe a fotografia de uma jovem mulher de cabelos curtos e cacheados, lindos olhos escuros e uma boca bem esculpida.

“Você é louca. Não há comparação entre nós duas... Ela é muito mais bonita,” disse Hermione, segurando a foto.

“Mas você ficaria linda como ela com o cabelo curto.” A ruiva deu de ombros. “Eu queria poder cortar o meu cabelo assim, como as meninas da década de vinte, mas acho que a Sra. Cole iria me matar caso eu cortasse...”

“Logo você vai fazer dezoito.” A bruxa sorriu. “Ai vai poder fazer o que quiser com o seu cabelo.”

“Hermione?”

“Sim?”

“Me prometa que você vai escrever.”

Hermione a encarou por um tempo, antes de sorrir e colocar uma mão sobre o seu braço.

“Eu prometo. Vou escrever, contar sobre as minhas aulas e sobre como Tom Riddle está se comportando.”

“Agora sim!” Anna riu. “E, lembre: faça de sua amiga uma pessoa muito orgulhosa de você.”

“É claro que sim, Anna.”


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi um martírio para traduzir (oh, exagero) haha, sério, agora eu entendo a razão da minha beta pedir para que eu escrevesse capítulos menores. Ainda mais do inglês para português, onde eu não consigo colocar sotaques e coloquialismos do inglês britânico ):
De qualquer maneira, aí está o capítulo novo e espero que gostem :B Eu vou tentar traduzir mais, mas, bah, minhas férias são tipo.. férias-não-tão-férias, já que estão me arrastando para cursos e hospitais toda a semana.
Sobre esse capítulo... Tem uma coisa ai no meio que eu coloquei de presente para algumas meninas que sabem da minha fixação para com um certo escritor brasileiro e uma personagem linda dele, vocês sabem, aquela com os olhos interessantes e que seria melhor amiga do Tom no quesito manipulação apenas com o olhar, porque né, ambos trazem tal qual fluído misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia...
Espero que tenham gostado e, como sempre, reviews são lindos :3