Kolybelnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 2
1944


Notas iniciais do capítulo

8 reviews no primeiro capítulo! Os gatinhos estão cantando e dançando, meus amores *u*



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A sala de visitas ainda estava lá. A mesma mobília; o mesmo chão de madeira bem polida; as mesmas paredes claras; as mesmas sombras formadas pela maneira como o luar se infiltrava pelas grandes janelas atrás dela. Mas, ainda assim, alguma coisa estava diferente... Não havia pedaços de vidro quebrado, o lustre continuava pendurado no teto, lançando inúmeros reflexos brilhantes nas paredes, não havia gritos e nem sons de explosões. Além disso, a única pessoa no cômodo era a garota caída no chão, quase incapaz de se mover por conta da dor que ainda percorria o seu corpo.

Hermione deixou uma respiração entrecortada escapar de seus lábios enquanto olhava em volta, sentindo o pânico crescer dentro de seu peito. Ela estava na Mansão Malfoy, mas... Quando? Era óbvio que ela havia viajado no tempo por acidente, o vira-tempo quebrado ao seu lado era a prova disso, junto com o fato do lugar estar em ordem, mas para quando ela foi? Algumas horas no passado? Alguns dias? Ou, pior, alguns anos? A mera idéia de ter viajado no tempo por mais de alguns dias fazia a grifinória sentir-se mal e prestes a desmaiar, mas, lutando contra tal impulso, a garota deu um jeito de levantar-se do chão, ficando em pé enquanto se agarrava nas cortinas escuras de veludo para manter o equilíbrio.

Não havia sinal de quanto tempo ela voltara... Ou pelo menos não havia nenhum que ela conseguisse perceber. Respirando fundo, Hermione soltou-se da cortina e deu um passo, apenas para cair devido à fraqueza de suas pernas. Agarrando-se à uma mesinha de canto para não voltar a se estatelar no chão, a bruxa acabou por derrubar alguns pequenos porta-retratos que haviam em cima desta. Oh, aquilo era novo. Aquela mesa não estivera ali antes. O objeto estava, agora, no ponto exato onde Draco havia parado um pouco antes. Xingando baixinho, ela pegou os porta-retratos, organizando-os em cima da mesa outra vez, antes de se levantar.

Erguendo a mão esquerda, ela ergueu a corrente prateada do vira-tempo e encarou o objeto quebrado, tentando segurar a onda de desespero que estava tomando conta de si. Sua atenção foi então desviada do objeto ao ouvir sons vindos do corredor... Passos; mais especificamente o som de saltos de botas batendo contra o chão. Hermione entrou em pânico, imaginando Bellatrix entrando pela porta da sala a qualquer segundo com a sua varinha apontada para ela, atirando-lhe maldições Cruciatus.

“Abraxas, querido, é você?” uma voz feminina chamou do outro lado da porta. Os passos pararam por alguns segundos e a grifinória ouviu o som de tecido sendo arrastado por sobre alguma coisa, antes de eles voltarem a serem ouvidos. “Abraxas?”

Hermione olhou em volta; sua respiração se acelerava a cada passo que a mulher do outro lado dava. Não havia lugar para onde correr e, mesmo se houvesse, ela não conseguiria o fazer... Não, não no estado em que se encontrava.

“Pense, Hermione, pense!” a menina sussurrou, ouvindo os passos se aproximarem cada vez mais.

Só havia uma coisa que ela poderia tentar e a possibilidade de aquilo dar errado era enorme... Não apenas porque a casa poderia estar protegida por um Feitiço Anti-Aparatação, mas também pelo fato de que ela estava exausta e aparatar naquelas condições era quase a mesma coisa que pedir por um lindo estrunchamento. Mas era a única coisa que ela poderia fazer.

“Querido?”

Destino.

“Você poderia me responder...?”

Determinação.

“Abraxas?”

Deliberação.

“Abraxas, pare com essa brincadeira!”

Uma mulher loira abriu a porta e correu os olhos pela sala de visitas vazia enquanto apertava a echárpe de pêlos que carregava, perguntando a si mesma se havia alguma chance de ela estar começando a escutar sons inexistentes dentro da sua própria casa.

***

Hermione gritou ao sentir o seu rosto bater contra a calçada, mas ficou sem se mover por alguns minutos, antes de rolar o corpo, deitando-se de barriga para cima e olhando para o céu escuro e nublado acima de si. A menina gemeu ao sentir a dor correr pelo seu corpo e começou a achar que havia, de fato, sofrido um estrunchamento. Ela moveu os dedos dos pés e as pernas, esticou os braços e flexionou os dedos. Tudo estava em seu devido lugar. Suas mãos encontraram o seu rosto e seus dedos começaram correr por ele, sentindo tudo ali para ter certeza de que estava tudo certo. Sem estrunchamento. Aquilo era bom. Pelo menos uma coisa boa.

A bruxa permaneceu no chão por um tempo, apenas ouvindo o som de pessoas conversando à distância ou o barulho de um carro descendo a rua mais próxima... Havia também uma música tocando ao fundo. Ela tinha um rítmo alegre e quase fez com que um sorriso aparecesse nos lábios ensanguentados da garota, mas foram necessários apenas alguns segundos para que aquele rítmo a fizesse lembrar de que ela estava em um espaço público e que a melhor coisa a fazer no momento era se levantar e se afastar. E foi o que ela fez: Hermione ergueu-se, balanceando o seu peso sobre as suas pernas já bambas e colocando as mãos na parede de tijolos do prédio ao seu lado. Sua cabeça girava agora que ela estava em uma posição ereta e a bruxa teve certeza de que iria vomitar ou desmaiar quando fechou os olhos e respirou fundo.

As vozes ao fundo se tornaram mais altas, agora ecoando em seus ouvidos. Ela não conseguia distinguir se elas pertenciam à um homem ou à uma mulher. A única coisa que a grifinória sabia era que, seja lá quem fosse, eles estavam se aproximando... E eles poderiam ser qualquer pessoa: um turista trouxa, um bruxo bom, um bruxo das trevas, um ladrão... E ela não estava em condições de se defender.

“Eu disse que era loucura,” uma das vozes falou. “Mas ela disse que era impossível tirar a idéia de se alistar da cabeça dele.”

“Você sabe que ela está certa. Tommy já é de maior agora, o que significa que ele pode se alistar no exército caso queira...” Esta voz era mais forte e profunda, talvez pertencesse à um homem.

“Mas ele é uma criança! Ele tem dezoito anos, pelo amor de Deus!”

“Eu sei, mas se ele...”

“Oh, Deus.”

“O que?”

Hermione virou a cabeça, mas tudo o que conseguiu ver foram as siluetas borradas de duas pessoas paradas à alguns metros dela, na entrada do beco onde ela estava. Uma delas era alta, com ombros largos, enquanto a outra era menor com uma silueta delicada. A menor aproximou-se rapidamente e, poucos segundos depois, a garota poderia vê-la melhor, distinguindo o seu rosto, apesar de a imagem ainda estar ligeiramente borrada... Era uma mulher com cabelos loiros e cacheados e olhos azuis gentis. Ela a olhava com uma expressão terrivelmente preocupada em seu rosto bonito. Granger abriu a boca para falar algo, mas não conseguir dizer coisa alguma.

“Você está bem?” a outra pessoa, que agora ela conseguia reconhecer como sendo um homem, perguntou.

“É claro que ela não está bem!” a mulher falou, segurando o rosto de Hermione entre as  suas mãos enluvadas. “O que houve?”

“Eu...” ‘Eu acabei de ser torturada por uma louca.’

“Quantos anos você tem?” o homem perguntou.

“Alexei, agora não...!” A bruxa finalmente percebeu como a voz dele carregava um sotaque que, claramente, não era de nenhum lugar da Inglaterra. “Por favor, responda.”

‘O que mais você pegou? RESPONDA! CRUCIO!’ A voz de Bellatrix ecoou em sua cabeça e ela sacudiu-a com força, como se tentasse se livrar da outra bruxa, mas foi logo parada pela mulher, que ainda a segurava pelo rosto.

“Querida, por favor, não faça isso! Nós não vamos machucá-la!” ela tentou acalmar a garota, deixando os seus dedos acariciarem o rosto de Hermione. “Por favor, diga-nos quantos anos você tem...”

“De-Dezoito...” a garota gaguejou, sentindo as lágrimas que ela estava segurando até agora finalmente escorrerem pelo seu rosto. “Tenho dezoito...”

“Alguém fez isso com você?”

“Nós precisamos ajudá-la, Alexei. Precisamos levá-la...”

O homem, Alexei, concordou com a cabeça, antes de se aproximar e colocar um braço ao redor da cintura da bruxa, ajudando-a a ficar em pé. A mulher desconhecida afastou-se um pouco, antes ir para o outro lado e enroscar o seu braço com o da mais nova, guiando-a. Dessa maneira, o casal conseguiu ajudá-la a andar sem que ela tropeçasse ou gastasse muita energia.

Hermione não prestou atenção para ver onde eles a estavam levando. A única coisa que ela sabia era que ela estava sendo louca o suficiente para confiar em dois estranhos e que os tais estranhos a estavam ajudando – ou, pelo menos, davam-lhe a impressão de estar ajudando. Sua cabeça estava confusa demais e seu corpo, cansado demais, fazendo com que essas informações fossem as únicas que ela conseguisse registrar antes que tudo ficasse escuro.

Quando abriu os olhos novamente, a garota viu apenas um teto acinzentado. Movendo a cabeça lentamente para olhar em volta, Hermione notou que o resto do quarto no qual ela se encontrava também tinha essa tonalidade cinzenta, fazendo com que o local parecesse antigo. Esse efeito ficava ainda pior devido à luz do cômodo, que ficava piscando de vez em quando. Enquanto examinava o lugar com os olhos, a bruxa percebeu que aquilo parecia ser um tipo de quarto de hospital ou, pelo menos, uma pequena enfermaria, levando em conta o fato de que havia, contra uma das paredes, um armário cheio do que pareciam ser vidros de medicamentos e instrumentos médicos.

Hermione não se moveu mais do que isso, temendo que, caso o fizesse, a dor voltasse. Então, ela apenas esperou alguém aparecer para dizer-lhe o que havia acontecido e onde ela estava... Não demorou muito para isso acontecer, pois, após alguns minutos, a porta do cômodo se abriu e um homem alto e com um jaleco branco entrou.

“Ah, você acordou.” O sotaque em sua voz parecia o mesmo que ela havia ouvido na rua antes de perder a consciência. Então ele era uma das pessoas que a ajudara. “Estávamos preocupados...”

“O que houve?” ela perguntou com uma voz rouca.

“Nós a encontramos na rua,” ele explicou. “Eu e minha esposa. Você estava ferida e nós decidimos trazê-la até um lugar seguro onde pudessemos tomar conta de você, mas você desmaiou antes de chegarmos aqui.”

“A-Aqui...?”

“Você está em um orfanato.” O homem lançou-lhe um sorriso tristonho. “Eu e minha mulher trabalhamos aqui.”

Hermione encarou-o por um tempo, tentando conhecer as suas feições. O homem tinha cabelos ruivos, escuros, e olhos de um tom que parecia ser esverdeado bem claro. Haviam algumas sardas em seu nariz e bochechas e seus lábios finos estavam pressionados um contra o outro, formando uma linha e fazendo uma expressão preocupada aparecer em seu rosto. A análise do rosto do outro foi interrompida quando a porta foi aberta e outra pessoa entrou no quarto. Mesmo que a bruxa tivesse tido pouco tempo para olhá-la antes, ela reconheceu a mulher de cabelos loiros e rosto gentil.

“Oh, ela está acordada!” Um suspiro aliviado escapou dos lábios da outra enquanto ela levava uma mão até o peito. “Graças à Deus... Nós estávamos preocupados.” Ela se aproximou e sentou-se na beirada da cama. “Você está segura agora. Está em um orfanato e nós podemos lhe assegurar de que iremos cuidar bem de você aqui... Aliás, meu nome é Martha e esse é meu marido, Alexei.”

“E você?” o homem perguntou. “Qual o seu nome?”

“Hermione...” A bruxa parou de falar abruptamente, tentando pensar no que dizer. Ela não tinha idéia de onde e quando estava, não podia arriscar ser descoberta. “Hermione Elston.” Ela escolheu o primeiro sobrenome que lhe veio à cabeça.

“Hermione Elston?” a mulher repetiu, olhando para o marido por um tempo. “Certo, preciso dizer isso à Sra. Cole. Oh, sim, a Sra. Margareth Cole é a diretora do orfanato. Nós falamos com ela e ela aceitou deixá-la ficar aqui, mesmo que você já seja de maior...”

“M-Martha...? Posso chamá-la de Martha?”

“Claro.”

“Que dia... Você poderia me dizer que dia é hoje?” perguntou Hermione, mordendo o seu lábio inferior enquanto se preparava para a resposta.

“Você não se lembra da data de hoje?” Alexei ergueu uma sobrancelha.

“Vamos, querido, não é de se surpreender. Não após vermos o estado em que ela estava... É dia três de Agosto de 1944.”

A garota ficou parada, tentando esconder o pânico que estava sentindo. Ela realmente havia viajado para o passado, mas não algumas horas ou dias... Ela havia viajado cinquenta e quatro anos e agora Hermione Granger estava vivendo em uma época na qual  nemseus pais ainda não haviam nascido. Ela escapara de uma guerra apenas para cair no meio de outra... Ou, pior, no meio de duas: a Segunda Guerra mundial e a Primeira Grande Guerra Bruxa. Ela estava perdida em um tempo diferente, longe de casa, longe de seus pais e de seus amigos. Ela estava completamente sozinha.

“Hermione, você está bem?”

A bruxa sacudiu a cabeça e olhou para Martha, que a estava observando, preocupada.

“S-Sim, me desculpe, eu devo ter divagado um pouco...” a menina murmurou, erguendo-se até estar sentada na cama, e olhou para o casal. “Você disse que a diretora me deixou ficar aqui mesmo eu sendo de maior...”

“Sim. Veja bem, nós não temos muito dinheiro, principalmente agora com a guerra, mas nós concordamos que não poderíamos deixá-la nas ruas,” explicou Martha. “E como uma de nossas crianças mais velhas foi embora semana passada, nós temos um lugar para você...”

“Não, você disse ‘mesmo que você seja de maior’.” Hermione inclinou a cabeça e franziu a testa. “Eu... Eu não tenho dezoito.”

“Mas você disse, quando nós a achamos...” murmurou Martha, olhando-a, confusa, e fazendo a garota querer retirar a mentira que fizera, mesmo que esta fosse necessária para que ela conseguisse a ajuda que queria ter.

“Me desculpe,” ela murmurou. “Eu devo... Eu devo ter falado errado...”

“Não se preocupe com isso, querida.” A mulher colocou uma mão em seu braço, tentando confortá-la, e sorriu gentilmente. “Então, você tem dezessete anos, certo?”

“Exato.”

“Bom. Preciso dizer isso à Sra. Cole.” Martha mordeu o próprio lábio, antes de se levantar. “Você deveria dormir mais um pouco, minha querida. Pode ter certeza de que, enquanto estiver aqui, nós cuidaremos bem de você.”

“Obrigada.” A garota concordou com a cabeça enquanto via a mulher sorrir de volta para ela, antes de deixar o quarto, trocando um longo olhar com o homem de cabelos avermelhados.

“Ela está certa, sabe?” ele sussurrou. “Você deveria dormir um pouco mais. No seu estado, o sono vai ajudá-la a se recuperar mais rapidamente.”

Hermione observou enquanto o homem sorria para ela e, como Martha, deixava o quarto. Agora ela estava sozinha novamente... Apenas ela e seus pensamentos confusos. A bruxa voltou a se deitar na cama e fechou os olhos, sentindo o quão pesadas as suas palpebras estavam devido ao seu cansaço. Ela realmente devia dormir, mas havia tanta coisa sobre a qual ela devia pensar... O que ela faria agora? Deveria ela contatar o Ministério? 'Não. O Ministério vai ficar longe disso,' ela pensou, lembrando-se de como, no futuro, o Ministério da Magia não havia hesitado em julgar o seu amigo e taxá-lo como meniroso quando este defendeu a própria imagem... Sem mencionar o quão fraca a instituição era, afinal, ela viu como foi fácil para ela cair nas mãos de Lord Voldemort. Talvez ela pudesse ir até o Beco Diagonal assim que se recuperasse e, lá, mandar uma carta para alguém em Hogwarts, Dumbledore, muito provavelmente, já que ela sabia que ele já lecionava lá durante a década de quarenta.

Um rascunho mental bagunçado do que ela escreveria para o professor Dumbledore se formou em sua cabeça, mas não foi terminado antes que ela, mais uma vez, perdesse a consciência.

***

Ao abrir os olhos novamente, não foi o teto que ela viu, mas sim a parede branca e o armário com frascos e instrumentos que estava encostado contra esta. A dor em seu corpo havia desaparecido e agora o que ela sentia era mais como uma sensação dolorida suave ao invés da dor excruciante de antes. A tontura também havia ido embora, fazendo com que ela pudesse prestar mais atenção nas coisas a sua volta e em seus pensamentos. Esticando os braços sobre a sua cabeça, Hermione bocejou e virou-se na cama, olhando para o quarto. Agora a menina podia ver que havia outra cama ao seu lado esquerdo e mais duas do outro lado do quarto, mas toda estavam vazias e arrumadas. Ela também notou que a porta por onde ambos Martha e Alexei haviam entrado dava, na verdade, para outra parte da pequena enfermaria como ela, agora, podia ver, já que esta estava aberta, dando-lhe a visão do outro cômodo, que também tinha as mesmas paredes brancas e, pelo que ela conseguia enxergar, havia o que parecia ser uma maca contra a parede.

“Então, se, vamos dizer, eu aplicar pressão sobre qualquer um desses pontos, eu sentirei dor, certo?” Uma voz masculina veio do outro quarto. Ela era suave e interessada, e, com certeza, não pertencia ao homem que ela conhecera antes... Essa era a voz de alguém mais novo e com um sotaque diferente do presente na voz de Alexei; essa tinha um sotaque londrino.

“Sim. Pense sobre quando você bate o seu cotovelo... Quando isso acontece, você pressiona o nervo ulnar. Por isso você sente aquela sensação de choque.” Agora, essa era a voz de Alexei.

“Hm, e... Em uma situação hipotética onde, digamos, todos os nervos do corpo estão sob um tipo de pressão, o que aconteceria?”

“Isso é impossível. Digo, não há uma força capaz de pressionar todos os nervos ao mesmo tempo e com a mesta quantidade de pressão...”

“Eu sei.” A voz do mais novo o interrompeu, soando levemente irritada agora. “Como eu disse: é uma situação hipotética.”

“Bom, então... A pessoa sentiria dor, muita dor, devo dizer.” A voz do homem estava baixa e apreensiva quando ele respondeu. “O corpo tem uma enorme rede de nervos o atravessando de cima abaixo. Quase tudo é inervado, logo, caso você machuque eles ao mesmo tempo, a pessoa sentiria uma dor terrível em todas as partes do corpo.” Hermione estremeceu. Caso ela não soubesse que era um trouxa falando, ela poderia jurar que Alexei estava descrevendo o efeito da maldição Cruciatus pela decrição dessa ‘situação hipotética’.

“Essa... pressão, o que ela faria? Quero dizer, como ela faz a dor aparecer?”

“Ela estimula os nervos. Nervos são longos filamentos de neurônios, entende? A informação viaja por eles como uma corrente elétrica. Caso eu o belisque na mão agora, eu estou estimulando os seus nervos e criando uma corrente elétrica que irá até o seu cérebro... Assim você poderá sentir o estímulo.”

“Entendo.” Ela ouviu o barulho de papéis, como se um deles estivesse virando páginas de um livro. “Existem muitos deles.”

“Sim.”

“Você conhece todos pelos nomes?”

“A maioria, sim.” Uma risada baixinha veio de Alexei. “Mas um ou outro sempre me escapa da memória. Quer ficar com ele?”

“Hm?”

“O livro. Eu tenho outra cópia aqui. Você pode ficar com este caso queira.”

“Seria interessante, doutor.”

“Então leve-o.” Hermione ouviu um dos dois se levantando e, logo, Alexei apareceu no batente da porta que levava ao seu quarto. “Oh, você acordou.” Ele virou-se novamente para falar com o homem mais novo. “Teremos que deixar a nossa conversa para depois, caso não se importe...”

“Não se preocupe, doutor.”

Alexei sorriu e entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.

“Como está se sentindo?”

“Melhor,” disse Hermione, sentando-se na cama.

“Uma boa coisa de se ouvir.” Ele sorriu para ela, puxando uma cadeira e se sentando ao lado da cama. “Srta. Elston, preciso perguntar-lhe uma coisa...” A menina concordou com a cabeça, um pouco preocupada com o tipo de pergunta que viria. “O que houve com você?”

“Eu... Eu não me lembro.” Ela mentiu e sentiu-se mal por tê-lo feito.

“Não consegue se lembrar de nada?” o médico franziu a testa, encarando-a.

“Não.”

“Hermione.” O homem suspirou. “Você é judia?”

“Não. Por quê?”

“Porque... Bom, Deus sabe o quão loucas estão as pessoas hoje em dia, com Hitler instigando o ódio contra os judeus. Eu não ficaria surpreso de encontrar um desses loucos nazistas a solta por Londres.” O homem sacudiu a cabeça. “Eu pensei que... Pensei que você fosse. Judia, digo, por causa... Por causa do que fizeram no seu braço esquerdo. É o tipo de coisa que eu vejo esses malucos fazendo.”

“O que eles fizeram no meu...?” a menina sussurrou, olhando para o seu antebraço esquerdo e finalmente notando que este estava envolto por bandagens brancas. O médico a olhou com o que parecia ser pena, antes de levar as suas mãos até o curativo, removendo-o. Hermione ofegou ao ver o resultado do trabalho de Bellatrix. Os cortes ainda estavam bem vermelhos e a pele ao redor deles também estava avermelhada, como ela esperava, mas o que ela não havia previsto era o fato de que os cortes tinham uma forma definida: pequenas letras formando a palavra Sangue-Ruim. A bruxa respirou fundo enquanto olhava os cortes, antes de passar os dedos por cima deles, fazendo uma careta ao sentir a sensação de queimação ao fazê-lo.

“Não faça isso.” O homem afastou a sua mão e envolveu o braço machucado com bandagens outra vez. “Tem certeza de que não se lembra de nada?”

“Sim, t-tenho...”

“Eu acho que irei chamar a Sra. Cole. Acredito que ela queira falar com você.”

Hermione concordou e, assim que Alexei saiu do quarto, voltou a olhar para o seu antebraço machucado, sentindo as lágrimas se acumularem em seus olhos. Mas é claro que Bellatrix Lestrange não ficaria feliz apenas com uma tortura, ela tinha que fazê-la se lembrar da tal tortura para o resto da vida... Agora, todas as vezes que ela olhasse para o próprio corpo, a garota lembraria daquela mulher horrível. Sem mencionar o fato de que ela carregava uma marca do preconceito que o mundo bruxo tinha contra pessoas como ela e seus pais.

A menina fechou os olhos e respirou fundo, tentando fazer com que as lágrimas se dissipassem, apenas os abrindo quando quando ouviu alguém entrando no cômodo.

“Olá, Srta. Elston.”

Uma mulher alta e de aparência séria estava parada no batente da porta agora. Seus cabelos castanhos estavam salpicados com fios brancos e seu rosto parecia envelhecido, cansado. Ela usava um vestido cinza que fazia a sua figura parecer ainda mais apagada, combinando com o lugar.

“Eu sou Margareth Cole, a diretora do lugar,” ela falou, aproximando-se da cama. “Fui informada da sua... situação... E eu não posso fazer nada a não ser permitir que a senhorita permaneça aqui por enquanto. O Dr. Mazarovsky me disse que você não se lembra do que houve. Consegue se lembrar dos seus pais? Onde podemos encontrá-los?

“N-Não...”

“Entendo.” A  mulher concordou com a cabeça. “Algum outro parente?” A Sra. Cole suspirou ao ver a menina negando. “Bom, então o orfanato realmente é o único lugar para você. Por sorte, uma de nossas garotas mais velhas foi embora na semana passada, ou seja, você tem um lugar para ficar e você terá que dividir o quarto com apenas outra menina.” A diretora lançou-lhe um sorrisinho. “Oh, sim... Martha e o Dr. Mazarovsky encontraram alguns pertences seus na noite passada.”

Hermione observou enquanto a senhora colocava a mão no bolso do seu vestido e tirava de lá uma corrente prateada. Seu coração quase pulou de seu peito ao ver o vira-tempo nas mãos da trouxa. A Sra. Cole deve ter notado o seu desespero, pois não hesitou em entregar-lhe o objeto.

“Eu não tenho idéia do que é isso,” disse Margareth, olhando a menina examinar o objeto com cuidado. “Mas eu sei como essas coisinhas conseguem ser importantes para crianças como você. Ah, isso também.” Ela ergueu uma pequena bolsinha de contas roxa. “Eu acho que o fecho deve estar com defeito, pois tentamos abrí-la para ver se tinha algo para identificá-la e... Bom, não conseguimos.”

A Sra. Cole colocou a bolsa ao lado dela e Hermione, colocando o vira-tempo em seu colo, pegou-a nas mãos.

“Muito obrigado.”

“Não há de que, Srta. Elston. Você irá para o seu novo quarto assim que for possível. Assim que ficar boa o suficiente para deixar a enfermaria, avise Alexei e nós a colocaremos em seu novo quarto.”


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Notas finais do capítulo

Eu falei pra mim mesma que iria me conter para não postar os capítulos tão rápido, mas... fuckdapolice.
1- MARTHA E SRTA. COLE: elas aparecem no livro {HBP}, apesar de a Martha ser apenas citada pela Sra. Cole.
2- ALEXEI MAZAROVSKY: quem leu In Noctem já viu ele. O sobrenome dele foi dado pela Srta. AnaStrakovinch e significa, de acordo com ela, "senhores da verdade". O nome Alexei... bom, é porque eu gosto do nome mesmo.
3- HERMIONE ELSTON: Elston vem do príncipe Felix Yusupov, Conde de Sumarokov-Elston (leia-se: um dos caras que mataram o Rasputin). Esperem ouvir falar mais nele, eu sou LE FANGIRL do moço... dotipo que já considerou comprar uma foto dele no Amazon pra deixar no escritório e tals. SHAME ON ME.
3- Eu sei que toda a história do machucado da Mione não está nos livros, mas eu amo aquela cena ok? (x
4- Apreciem a breve aula de transmissão sensorial dada pelo Dr. Mazarovsky. Also, agora vocês já tem a quem culpar quando batem o cotovelo e dá aquela dor from hell: o nervo ulnar.
Aliás... situações hipotéticas. Eu amo elas, e vocês? Muita gente gosta de situações hipotéticas.
Meninas que deixaram reviews, vocês são uns amores *u* muito obrigada, vocês não deixaram os gatinhos chorando... Vamos continuar deixando eles felizes, porque gatinhos felizes são lindos e fofos, então, reviews... dizendo o que acharam, se gostaram, se não gostaram, se querem me matar ou qualquer coisa assim.
Oh well, that's all folks.