Ergui meu olharem direção à manta azul que se estendia a minha frente, com o Sol se escondendo sob ela. Eu havia me esquecido do quão piegas era o mar com um pôr-do-sol.

- Daniel? – chamei-o, indo até uma rocha próxima à qual ele estava sentado com as asas para trás e um olhar distante. – Pensando na Luce? – perguntei, já que não obtive resposta da primeira vez.

- Quê? – perguntou ele, me olhando.

- Vamos logo. Ou você prefere ficar pensando na Luce a fazer algo para salva-la?

- Cam, você não entende, não é mesmo? Eu a amo...

- Sério? – falei, interrompendo-o – Em todos esses milênios de vida, eu nunca tinha percebido esse grande amor. – o sarcasmo estava tão nítido na minha voz, que pude ver o brilho de Daniel se intensificando de raiva.

Ele simplesmente levantou-se e caminhou em direção à floresta às minhas costas, deixando a praia deserta. Eu me virei e o acompanhei em silêncio.

Seus olhos estavam cinzentos, como uma nuvem em uma noite de tempestade, e a preocupação estava aparente neles. Ele caminhava com a cabeça baixa e as mãos fechadas em punhos. De certa forma, vê-lo assim, chegava a deixar-me mal, afinal, eu querendo ou não, ele era meu, argh, irmão. Suspirei pesadamente e cocei a testa.

- Vai logo. – falei a ele.

- Hum? – perguntou ele, confuso.

- Vai ver se a tua bonequinha de porcelana está bem, na Shoreline. – disse e, por um instante, pude ver um reflexo violeta em seus olhos. – Só volta antes do amanhecer, por que eu não quero ficar perdendo tempo tendo que ir atrás de ti, tenho coisa mais importantes para fazer. Aliás, nós temos coisas mais importantes para fazer.

Ele grunhiu algo que eu não entendi, então abriu as asas brancas, o que me obrigou a dar dois passos para trás por causa do brilho prateado que elas irradiavam, e partiu.

- Eu vou para Tybee. – gritei, tendo certeza que ele havia escutado.

Abri minhas asas, tendo uma ótima sensação de liberdade, e parti em direção ao refúgio para anjos do outro lado do país.

Por que não poderia ter um refugio desses aqui na Califórnia? Mas, de qualquer forma, eu chegaria em apenas algumas horas.

Eu jamais conseguiria entender. Por que o Daniel a amava tanto? É claro, tem a maldição, mas o que há entre eles, o que os unem, não é uma simples maldição. E o Daniel, por mais que tenha passado por tudo que passou, por mais que tenha sofrido horrores, nunca se cansou desse amor. Era como se, em cada morte da Luce, isso só se tornasse mais e mais forte e indestrutível.

Contudo, sinceramente, acho que não vale a pena. Nós estamos lutando pelo amor dos dois. O que é algo totalmente besta. Já que o amor é algo que só trás sofrimento, que carrega muito mais lágrimas do que sorrisos, muito mais tristeza do que alegria. E não acho que algum dia isso irá mudar. Enfim, apaixonar-se e lutar pelo amor, em minha opinião, é total perda de tempo.