Fade Out escrita por Venus Noir


Capítulo 1
death may come invisible


Notas iniciais do capítulo

Pra escutar enquanto se lê: http://www.youtube.com/watch?v=INrNOWneE8s
Essa seria a música que o Kyuhyun toca pro Donghae, mas sem os acompanhamentos que eu acho que tem? Gente, sei lá, meu ouvido é muito ruim. Se não houver nenhum, tanto melhor, desconsiderem.
Nunca pensei que escreveria uma KyuHae, mas ): Espero que não decepcione tanto. Enfim. ♥ Boa leitura~



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O ruído dos pássaros alçando voo no céu chocava-se com o silêncio nauseabundo que farfalhava entre as folhas das árvores cujas copas frondosas foram cobertas pelo manto níveo da neve. O branco era a cor mais presente ali, aliás. E não apenas na natureza; no céu e no barulho que surgia de todas as fontes. Seus tons haviam se espalhado também pela face de seu hyung. Os lábios pálidos se curvaram num sorriso desidioso. Ele já sabia, e Kyuhyun não tinha como lutar contra o inevitável.

Havia o arrastado por intermináveis milhas e, entrando naquele descampado, o colocara sobre as costas e seguira com ele sobre seu dorso curvado. O fizera carregar a bolsa de pano que continha apenas um cantil d’água e o haegeum¹. Ao saírem de casa, o plano era tocar em um casamento que aconteceria numa vila vizinha. Aí vieram os guardas. Os rebeldes. Eles tinham armas de fogo e não pouparam ninguém, nem mesmo os inocentes. Donghae fora atingido em algum lugar de seu abdômen. Kyuhyun não tinha coragem suficiente para procurar o ferimento e checar o quão feio ele era – apenas deu ao mais velho um pano puído que encontrara por acaso na bolsa. Com ele, Donghae estancava o sangue que se alastrava lenta, mas diligentemente.

Ele estava marcado. Um espectro funesto espreitava entre os dois; Kyuhyun desconfiava que, se não estivesse junto ao tocador de haegeum, ele já teria sido levado. A morte sempre é mais cautelosa quando há alguém por perto. Kyuhyun estava ciente desse fato. E era por isso que jamais deixaria Donghae.

Seu hanbok estava sujo e rasgado e sua magoja² manchada de escarlate. A caminhada fora longa e o sangue vertido abundante. Somado a isso, seu rosto então era riscado por lágrimas grossas e incolores. Donghae, por sua vez, permanecia mudo acima de si. Kyuhyun era capaz de ouvir o suave arfar de seu hyung, porém nada além disso. Até mesmo morrendo ele era silencioso. Uma risada baixa e estrangulada irrompeu do mais novo. Era irônico.

Donghae passara a vida inteira tocando seu haegeum, era a sua forma mais forte e constante de se comunicar. Através do som retirado das cordas tensas e do arco em punho, ele pronunciava as sentenças mais lindas que Kyuhyun já ouvira. Nem sua voz etérea era comparável ao som do instrumento de seu hyung.

Se jamais escutasse as canções tocadas por ele, tampouco iria proferir palavra. Pelo resto de sua vida, permaneceria quieto. Fazia essa jura ao desmontar Donghae de suas costas e aconchegá-lo em seu regaço.

Sacou o haegeum de Donghae da bolsa de pano e, desajeitadamente, tentou posicioná-lo como sempre observara seu hyung fazer. Kyuhyun podia pressentir que logo a neve tornaria a cair – ainda assim, ele não se importou. Executaria um réquiem a Donghae nem que isso lhe custasse uma tuberculose nos dois pulmões. Em nome de dar ao outro uma morte tranquila e digna, ele arriscaria a sua própria vida.

Examinou o objeto em mãos atentamente. Nunca aprendera a tocá-lo. Quando criança tomara algumas aulas com o pai de Donghae, que também era um exímio tocador. No entanto, se impacientara rápido. Sua habilidade maior era para cantar, justificou aos pais que receberam a notícia de sua desistência um tanto frustrados. A verdade era que assistira Donghae em suas primeiras aulas e tivera vergonha de continuar. Ele era muito mais talentoso que si. Era um ultraje ficar riscando desastradamente o arco, enquanto Donghae dentro de um mês ou dois já estaria apto a ferir uma canção inteira.

Kyuhyun preferia cantar. Era a única coisa em que ele era bom. Mas ele era só bom. Donghae era maravilhoso em sua arte. O mundo entraria em colapso e desvaneceria sem a música de Donghae. Kyuhyun gostaria de perder a audição, assim fingiria que o problema estava só consigo.

Entretanto, duvidava de que pudesse manter aquela farsa pelo resto de seus dias.

Lá no alto, mais aves voejavam pela abóbada clara. Os olhos de Donghae estavam tão claros quanto. A brisa gélida carregava para longe alguns flocos de neve perdidos por ali. Kyuhyun extraiu a primeira nota das cordas tensionadas. E a segunda. A terceira. Por fim, uma peça inteira. Era a primeira vez que tocava a sério e quase o fazia como Donghae. Ainda chorava, insistentemente. Ao terminar, deixou um beijo confuso entre os lívidos lábios alheios.

Donghae ensaiou um sorriso; suas mãos estenderam-se e, alcançando a face de seu dongsaeng, acarinhou a mesma com uma ternura fraternal, que secretamente guardava nuances de sentimentos que podiam emergir. Se ao menos lhe restasse mais tempo...

“Por favor, não...”, o dedo em riste foi deixado sobre a boca ainda aberta do mais novo.

Kyuhyun franziu o cenho e as sobrancelhas. Era uma ordem que, de tão tácita, o constrangeu.

E o véu caiu sobre seus corpos.


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Notas finais do capítulo

¹ haegeum: http://en.wikipedia.org/wiki/Haegeum
² magoja: http://en.wikipedia.org/wiki/Magoja
sdds de matar alguém. O objetivo da fic era só esse mesmo, obg por lerem. Me deem amor e, se houver algum interessado que me incentive, talvez um dia eu até volte a escrever mais KyuHae? kk
Tomara que cês gostem ♥