Anti-social escrita por UnknownName


Capítulo 49
A dor de pai e filha


Notas iniciais do capítulo

yo o/



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─ ... Preso? ─ "Mas assim, tão de repente?" ─ Quem o denunciou?

─ Eu não sei... Ele está na delegacia, requisitando minha presença. ─ Ela explicou, esfregando a manga da blusa nos olhos marejados. "Mesmo tendo feito aquelas coisas, ele ainda é o pai dela e a Sarah ainda o ama... Ela é um caso raro."

─ Eu... Bem... Sinto muito. ─ Eu realmente não sabia o que falar. ─ Você vai agora? Eu posso pedir pro meu pai te levar. Devemos ir junto?

─ P-Pode ser... Preciso mesmo falar com ele o quanto antes. ─ A garota se levantou, e abriu seu armário. Entendi que eu deveria descer e avisar meu pai, enquanto ela trocava de roupa.

Cheguei na sala e o homem ainda estava assistindo televisão. Ele olhou para trás, e uma expressão séria tomou conta de seu rosto.

─ O que aconteceu? ─ Perguntou.

─ Como sabe que algo aconteceu? 

─ Pela sua expressão. ─ Ele explicou. ─ Agora me diga.

─ A Sarah recebeu uma ligação dizendo que o pai dela foi preso. ─ Falei, curto e rápido. ─ A presença dela foi requisitada.

─ Hm. Entendi. ─ Não sei, acho que naquelas situações nossa família havia puxado a calma. Ambos nós dois estávamos quietos. ─ Vou pegar o casaco e vamos até lá. Qual é a delegacia?

─ Não sei, isso quem sabe é a Sarah. ─ Coloquei as mãos nos bolsos. ─ Ela já vai descer.

Fênix me observava, sem saber o que ocorria. Via todos se arrumarem para sair tão tarde, e não conseguia entender. Agachei e fiz carinho em seus pelos. Eu não havia notado antes, mas ele havia crescido. Não muito, ainda continuava um cão-anão, mas um pouco, tinha.

Depois de mais ou menos 5 minutos, quando todos já haviam feito o que deviam,  fomos para o carro e seguimos o caminho em silêncio, apenas com Sarah indicando as direções para o meu pai. 

Não demorou muito para chegarmos. Não era um lugar muito grande, era uma delegacia normal. Um policial gordo estava sentado ao lado da recepção.

─ Com licença. ─ Meu pai chamou a recepcionista, e começou a pedir informações para a mesma. Sarah estava quieta, parecia pensativa. Me aproximei, e me apoiei na parede, ao seu lado.

─ Ele vai chamar Evan (Evan era o nome do pai da garota ao meu lado), então temos que esperar o guarda voltar e nos levar até a área de visitas. ─ Meu pai falou, e então fomos até um lugar com assentos ao lado. Estava tarde, o sono começava a chegar. Mas por quê, ainda pro cima, eles tinham que colocar uma música calma e bonitinha da sala de espera?!

Uma trabalhadora do local se aproximou de nós e fez um sinal para que a seguíssemos. O pai da Sarah nos esperava.

[...]

─ O QUÊ?! ─ Nós três gritamos em uníssono.

─ Pois é... ─ O homem à nossa frente coçava a nuca. Estávamos em uma sala fechada e com câmera, eu, meu pai e Sarah de um lado da mesa e o Sr. Evans do outro. Um guarda nos vigiava.

─ Mas por quê você mesmo se denunciou, pai?! ─ Sarah estava brava. Muito brava.

─ Eu pensei que isso fosse o certo, não?! ─ Acho que ele esperava uma reação diferente à raiva que a garota sentia.

─ Mas e agora, o que pretende fazer? ─ Meu pai falou, cruzando os braços.

─ Bom, eu vou ficar uns bons anos aqui, mas como o seu filho me disse que você se ofereceu para tomar a guarda da minha Sarah, pensei em assinar os papéis necessários. Eu sei que ela estará em boas mãos. ─ Ele olhou para a garota ─ E como o nível do meu crime permite, desde que sejam revisadas, poderemos trocar cartas. Não é legal?

Ela não respondeu. Olhou na direção oposta, com uma expressão não muito boa. Não exibia raiva nem ódio, apenas... Tristeza.

─ Por quê você não está levando isso a sério? Não é apenas uma multa, nem nada pequeno. Pai, você está preso, mas está tratando como se não fosse nada. Você de repente decide se entregar para a polícia e eu recebo uma notícia de que vou ficar anos tendo que conviver com o fato de que meu pai está "morando" na prisão! Isso é algo pequeno pra você?! ─ Lágrimas começavam a sair de seus olhos. A única coisa que pude fazer naquele momento foi colocar a mão em suas costas e tentar acalmá-la.

─ Eu sei que isso não é brincadeira. ─ Ele tomou um olhar sério. ─ E é por isso que quis o fazer o quanto antes! Não quero ser um procurado! E eu também aposto que você não quer que eu seja. Me desculpe pelo susto, querida, mas não dava pra fazer outra coisa.

Comecei a refletir comigo mesmo. Por quê eu mal havia ficado triste quando minha mãe foi presa? Por quê quase não derramei lágrimas em seu enterro? Será que eu tinha essa minha personalidade bem antes de tudo aquilo acontecer, então? Mas eu a amava. Eu a amava muito. O que ela me fez foi horrível, e suficiente para que eu criasse desgosto pela minha própria mãe. Mas se o pai da Sarah tinha abusado dela e mesmo assim ela ainda gostava dele, o que tinha de errado comigo? 

"Talvez seja porque... O carinho dos dois seja mútuo.". Uma criança carente, uh? Talvez, quem sabe até seja isso. Ah, droga... Eu tinha prometido a mim mesmo não voltar ao assunto, mas eu sempre acabava fazendo isso. "Mas por quê eu sempre evito lembrar disso?". Hm. Deve ser porque eu fico triste, afinal? Mesmo que eu me mantenha um coração de pedra por fora, acho que eu ainda gosto da minha mãe por dentro. 

Acho que é assim, não é? Quando a gente gosta de alguém, não dá pra voltar atrás. Não importa o que aconteça, sempre sobra um pouco, mesmo que seja bem lá no fundo. De certa forma, fico aliviado ao saber disso.

─ [...] Acho melhor vocês apenas irem para casa agora. O tempo de visita já está acabando. Discutimos o resto depois. ─ Fiquei tão absorto em meus pensamentos, que não fazia ideia do que havia sido discutido ali. "Bom, acho que não era nada importante."

─ É verdade. Já está bem tarde. Bom, de qualquer forma, parabéns pela coragem. ─ Meu pai sorriu, e estendeu a mão para o outro homem, que a apertou. Sarah já havia parado de chorar, e agora apenas abraçava seu velho.

─ Se cuida, tá? ─ Ela falou para o mesmo.

─ Normalmente é isso o que o pai diz para a filha. ─ Ele riu, e separaram o abraço. Apenas demos um breve aperto de mão, o que acabou simbolizando algo como um grande respeito.

Saímos de lá logo depois, meu pai trataria dos documentos no dia seguinte. Era em torno de uma e meia da manhã, e, ao entrarmos no carro, Sarah apoiou a cabeça sobre meu ombro.

─ Quanto tempo ele vai ficar lá? ─ Perguntei.

─ 7 anos. ─ A garota respondeu, pensativa. Bom, não tinha mesmo muito o que fazer, "agora é apenas seguir em frente".


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