Forcei um sorriso, e pareceu que ela acreditou. Depois de ajudar com as compras, subi imediatamente para o meu quarto, para deixar meus animes em dia. Puxei meus headphones, fechei a janela, desliguei a luz e entrei em outro mundo.

Acabei dormindo na própria mesa do computador, e quando percebi estava com o bloco de notas aberto e um texto gigante com letras sortidas, já que estava com meu braço apoiado no teclado.

Olhei para fora, e contemplei a noite. Já era de madrugada, mas como eu já havia dormido, não tinha sono. Fui para o andar de baixo, fiz um copo de chá, e fui até a varanda, onde me deitei na rede e relaxei, aproveitando a ausência de barulho à minha volta.

Um vagalume pousou no meu pé, e achei engraçado. Quando era pequeno, acreditava que os vagalumes eram pequenas bolinhas de luz que ficavam vagando por aí, e saíam das lâmpadas quando elas se apagavam. "Naquela época, eu jamais iria imaginar que era um inseto..."

Comecei a pensar no e-mail que recebera mais cedo. "Estamos com o mesmo problema de novo... Mas dessa vez, não sei se vou poder resolvê-lo. Eu prometi que era apenas temporariamente, mas..."

Suspirei, encarando a pequena "bolinha de luz" ir embora.

─ Está meio frio aqui fora, não? ─ Tomei um susto com a voz grossa do meu pai. Por pouco, o copo não ia parar no chão.

─ Tô sem sono. E você, o que faz acordado? ─ Coloquei os braços na nuca.

─ O mesmo que você. ─ Ele se apoiou na parede, e ficamos em silêncio por um tempo. ─ ...Ei, tem alguma coisa errada, não tem?

─ Maldito, não consigo esconder as coisas de você... ─ Murmurei, pegando meu celular e acessando minha caixa de entrada. ─ Aqui. ─ Entreguei o objeto a ele, e olhei para a direção oposta.

─ É, isso é um problema. ─ Ele fechou os olhos e coçou o queixo por um momento. ─ Não podemos mandar a sua única chance de se casar e eu ter meus netos pra longe.

─ Q-Q-Q-Q-Que está falando?! ─ Fiquei olhando para vários lugares, não sabendo o que fazer. ─ Arg! Eu odeio quando você fala essas coisas! ─ Cobri meu rosto com uma almofada que eu estava deitado em cima.

─ Mas você também não quer que ela vá, certo? ─ Levei um tempo, mas assenti, em silêncio. ─ HÁ! EU SABIA! ─ Ele começou a fazer uma espécie de dança da vitória, mas se controlou. ─ Caham... Bom, já que esse é o caso, quem tem que cuidar disso é você. Só que se você for conversar com o pai dela, deixa que eu o faço, porque não posso garantir que minha sala ficará inteira depois de uma conversa entre vocês dois.

─ Mas eu não posso fazer nada... O direito é dele, ele é o pai, o responsável legal.

─ Hum... Mas ele pode passar a guarda pra mim, não pode? Eu já realmente sinto como se a Sarah fosse um membro da família, como uma sobrinha que veio morar aqui ou algo assim. ─ Ele ficou pensativo novamente, como se tivesse se lembrado de algo. ─ Só que tudo depende da Sarah também. Você nem sequer considerou a possibilidade de ela nãoquerer ficar, certo? ─ Era verdade, e eu havia me esquecido completamente. "E se ela não quiser ficar...?"

Saquei meu celular, e digitei algumas coisas rápidas, logo depois clicando em "enviar".

─ Então acho que esse assunto não é tecnicamente meu, certo? ─ Fiquei balançando o celular na mão.

─ Mas é claro que é! ─ O homem bateu a mão na parede, o que me assustou. ─ A Sarah tem que dizer se quer ir ou não, mas você foi quem a convidou, e você mora nesta casa! Você quem foi que ajudou ela a ficar da última vez, e você quer que isso se repita. Lógico que é assunto seu! Francamente... ─ Soltou um longo suspiro, colocando a mão no rosto. ─ Os assuntos da sua namorada são seus também, certo?

─ GYAAAAAH! ─ Me defendi. ─ NÃO SOMOS NAMORADOS!

─ Mas ela é a pessoa que você gosta, e é isso que importa. ─ Fiquei surpreso. Como que...?

─ C-Como você... Q-Q-Q-Q-Quem te falou? ─ Sussurrei.

─ Eu acertei?! SÉRIO?! ─ Ele comemorou daquele seu jeito específico mais uma vez. Tentei parecer indiferente, apesar de estar estampado o meu nervosismo. ─ Bom, eu vou dormir. Você deveria ir também.

─ Vou ficar mais um pouco. ─ Avisei.

─ Então está bem. Mas não fique demais, não quero ver você gripado. ─ Assenti, e ele foi embora. 

Grilos começaram a cantar, e um som agradável tomou conta do ar. ─ Não tem como você ir embora, não é? ─ Sussurrei para o vento, sorrindo. ─ Mesmo que prefira ir, eu vou fazer você querer ficar. ─ Fiquei feliz e surpreso comigo ao mesmo tempo. "Acho que é verdade quando dizem que as garotas mexem com a cabeça dos homens..."

Acabei dormindo ali mesmo. Benditas sejam as palavras de meu pai, porque...

─ AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAATCHUUU! ─ Esfreguei meu nariz, e acordei sem forças. Deveria ter ouvido aquela pessoa e vindo dormir no meu quarto mais cedo, mas nãããão...  Eu tinha que ser teimoso. Mas isso não vem ao caso. 

Ouvi o barulho de algo tremendo sobre a escrivaninha, e vi uma mensagem de resposta, dizendo apenas um "Ok.". Repeti aquela palavra em voz alta, e tomei coragem para levantar. Pelo menos era sábado.

Desci as escadas ainda com o cobertor enrolado no corpo, o dia estava realmente frio. Sarah estava fazendo chá.

─ Você está horrível. ─ Ela disse, com uma expressão surpresa. Sussurrei um "eu sei, obrigado" e me deitei no sofá. ─ Quer chá de laranja?

─ Sim, por favor... ─ Liguei a TV, e estava passando Bob Esponja. ─ Uhuuuuuu! ─ Minha voz estava rouca.

─ Eu quero ver também! ─ Ela veio, rapidamente, segurando os dois copos nas mãos, e entregou um para mim, logo depois de se sentar ao meu lado.

Vimos o desenho até acabar, e depois rimos de nós mesmos. Não adiantava, iríamos fazê-lo toda vez que estivesse passando.

─ Ei, vamos ver Sempre ao seu lado? ─ Sarah sugeriu, ao vê-lo num dos canais.

─ É, vai ser engraçado ver você chorar. ─ Sorri.

─ Ha ha. Vamos ver quem vai chorar aqui. ─ Fitamo-nos com olhares desafiadores, e fomos assistir o tal filme.

No término do mesmo, Sarah estava chorando, agarrando Fênix em seu colo, e eu, não sei se era porque estava mais sentimental por causa da gripe ou sei lá, também chorava, escondendo-me atrás do cobertor. Nem eu consigo resistir àquele filme.