─ Yaaaaawn ─ Me espreguicei em uma manhã de domingo, ao acordar, e me surpreendi ao olhar para o relógio ─ Como assim eu acordei às 8 horas num domingo de férias? E agora eu não vou conseguir dormir de novo... ─ Cocei a cabeça e suspirei. Sem escolha, me levantei e desci até a sala. Dei uma rápida olhada no Fênix, para checar sua situação, e fui até a cozinha, comer alguma coisa.

Olhei pela janela e vi o sol que penetrava. Estava um dia bonito, e o céu quase não tinha nuvens. "Acho que vou passear com o Fênix mais tarde..."

Enchi um copo de café com leite e fui até o quintal dos fundos, onde dava para relaxar tomando um sol enquanto sentado com os pés dentro da piscina.

─ Quanto tempo faz que não dou um mergulho? ─ Perguntei para mim mesmo, e olhei novamente para o céu. Estava calor, que mal faria nadar um pouco?

Tirei minha camiseta, ficando apenas com a bermuda, e mergulhei de uma vez dentro da água. Fiquei lá por um tempo, algo em torno de 47 minutos, e depois saí. Peguei uma toalha que estava no varal e me sequei com a mesma, deixando-a sobre os ombros depois.

Voltei para tomar um copo d'água, e ambos meu pai e Sarah já estavam acordados.

─ Qual o problema de vocês? Acordando cedo mesmo sem precisar assim... ─ Resmunguei.

─ Ué, quem foi que acordou mais cedo que nós e ainda entrou na piscina? ─ Meu pai rebateu, sentando-se no sofá para ler seu jornal de domingo.

─ Touchée ─ Admiti, ligando o video-game e a televisão, para jogar um pouco. Coloquei um game de corrida, peguei o controle e me sentei no chão mesmo. Por algum motivo, eu achava que sentando no chão ao jogar meu desempenho era melhor, principalmente em corridas. Sarah ficou sentada, mexendo no seu laptop, mas me observando também.

─ Ah é, filho. Esqueci de te falar. ─ Meu pai disse, desviando a atenção da leitura, e eu pausei o jogo para ouví-lo.

─ O que foi? ─ Perguntei, impaciente.

─ Sabe a Isabel? ─ Ele perguntou, e levei um tempo para responder, tentando me lembrar de quem se tratava.

─ Ah é! ─ Bati uma mão na outra, ao me recordar. ─ É aquela garota chata, filha do seu amigo, né?

─ Não se refira a ela como "aquela garota chata" ─ Ele bufou, irritado. ─ Enfim, ela vai passar uns dias aqui.

─ QUÊ?! ─ Gritei, em espanto, e deixei o controle cair no chão. ─ SEM CHANCE!

─ O que tem essa garota? ─ Sarah perguntou, completamente confusa.

─ Ela é simplesmente a pirralha mais chata do universo! ─ Puxei meus cabelos, me contorcendo.

─ Meu amigo vai viajar, e pediu para eu ficar com a Isabel. David, seja educado com ela. Não quero saber de brigas, ok? ─ Meu pai deixou as últimas palavras explícitas, e voltou sua atenção ao jornal.

─ M-Mas ela não tem onde ficar! ─ Protestei, tentando me livrar daquilo à todo custo.

─ Ela vai ficar no quarto da Sarah, e eu vou por um colchão no seu quarto para que Sarah possa dormir lá.

─ N-NÃO! Q-quero dizer... Eu não posso dormir com ela no mesmo quarto! ─ Desesperei-me totalmente. Estava num beco sem saída.

─ Ou você prefere que a Isabel durma no seu quarto? ─ Ele sugeriu, com uma cara má. "Maldito! Aposto que planejou isso também!"

─ NEM PENSAR! ─ Respondi imediatamente, horrorizado com a ideia.

─ Ótimo. Então está decidido. Algo contra, Sarah? ─ Ele olhou para a garota.

─ Não tenho nada contra. ─ Ela sorriu, e ele encerrou a conversa. Eu havia cavado meu próprio túmulo, e não tinha como escapar. "Velho maldito, um dia eu ainda me vingo..." Coloquei a cabeça entre os joelhos, derrotado.

─ Vou dar mais um mergulho. ─ Desliguei o console, e fui para o quintal dos fundos novamente. Sem pensar duas vezes, taquei a toalha em outro lugar e me atirei na água gelada.

─ Ei, o que está fazendo? ─ Sarah perguntou, observando-me flutuar de bruços na água, com o rosto submerso.

─ Me auto-afogando. ─ Falei, mergulhando a cabeça e depois voltando à superfície.

─ Qual é, ela não pode ser tão ruim assim. ─ Ela se sentou em uma cadeira lá perto.

─ Pode sim. ─ Fiz uma expressão de nojo e desgosto, e chacoalhei a cabeça, para tirar a água do ouvido. Sarah riu, e se levantou.

─ Vou voltar pra dento, tá? ─ Ela avisou e saiu, deixando-me sozinho.

Fiquei apenas flutuando(dessa vez com a barriga pra cima), observando as poucas nuvens no céu azul. Foi por pouco que eu acabei não dormindo lá mesmo, só saí porque meu pai me chamou, alertando-me disso.

Subi as escadas, e ele estava varrendo o chão de seu quarto, então aproveitei para perguntar:

─ Quando que ela vai vir? ─ Eu terminava de secar meu cabelo com a toalha, e ele, sem olhar, respondeu.

─ Amanhã. ─ E voltou a sua limpeza apressada, parecia querer a terminar o mais rápido possível.

─ Ah nããããão ─ Choraminguei e me joguei em minha cama. "Mas se você pensa que vou recebê-la, eu não vou." Decidi comigo mesmo, e liguei a música no volume máximo.

─ Abaixa isso! ─ Meu pai reclamou, mas eu fechei a porta para que ele ouvisse mais baixo e eu não precisasse diminuir o volume.

Passei o resto do tempo no computador e lendo mangás, não tendo mais o que fazer. Fênix acabou ficando lá também, por conta da limpeza. Eu dera para ele uma garrafa vazia, e me divertia observando como ele ficava feliz com algo tão bobo. Provavelmente gostava do barulho que fazia, e ficava mordendo até ficar completamente destruído.

Fiquei pensando se esse fato tinha algo a ver com a sociedade humana, também. E até que tinha. As pessoas gostam de fazer confusão, porque querem fazer "barulho"(chamar a atenção) e depois deixam tudo destruído com sua ambição. Talvez os assuntos relacionados às coisas em nossa volta estejam mais próximos do nosso dia-a-dia do que imaginávamos, afinal.