Minha cabeça doía. Não havia nada que ninguém poderia fazer, também, e era isso o que mais me deixava com raiva. Normalmente eu pensaria que aquilo seria bom, e eu poderia ficar sozinho novamente mas, por algum motivo, aquilo me perturbava. Eu... Não queria que a Sarah fosse embora?

Fui para casa frustrado naquele dia. Minha mente estava confusa, eu não estava pensando direito. Eu estava fazendo EXATAMENTE o que prometi a mim mesmo nunca mais o fazer... Me envolver com qualquer pessoa com certeza não estava em meus planos. E agora estava tendo o resultado que eu já esperava.

Dei um suspiro pesado, enquanto sentado em uma mureta que ficava em frente à minha casa. Eu destroçava uma pobre folha enquanto tentava não pensar em nada. Eu tinha que passear com o Fênix hoje, por ordens do meu pai. Para não ficar com preguiça depois, coloquei a coleira no animal, peguei algumas sacolas e saí, sem demorar muito.

A força que ele tinha era bem maior do que eu poderia imaginar. Eu retiro o que disse sobre eu levar o cachorro para passear. Era o cachorro que estava me levando para um passeio.

Percebi alguém me seguindo.

─ Sarah, e você? ─ Olhei para trás, mas não era ela. ─ O que faz aqui?

─ Como me descobriu?! ─ Mike saía de trás de uma árvore que não estava escondendo ninguém.

Revirei os olhos e continuei meu caminho.

─ Pode parar de me seguir. ─ Avisei.

─ Não, valeu. ─ Ele respondeu, com naturalidade. Aquele cara tinha a habilidade de me deixar com os nervos à flor da pele.

─ Como quiser. ─ Falei, sem dar importância. Mas continuava irritado.

─ O que tá acontecendo com a Sarah é um bosta, né? ─ Ele comentou, e eu gelei no exato momento. "Como ele sabe disso?!"

─ O-O que você sabe?! ─ Olhei de súbito para trás e, Fênix, ao perceber meu nervosismo, ficou nervoso também e começou a rosnar.

─ Ô, calma aí. ─ Ele levantou as mãos.

─ Quem te falou disso?! ─ Virei para ele e o fitei com um olhar metralhador.

─ Ninguém me falou nada. Eu ouvi a sua conversa escondido. ─ Ele falou com um sorriso mal feito.

─ QUÊ?! ─ "Maldito!"

Me aproximei dele. ─ Não ouse contar isso pra absolutamente ninguém! Ouviu bem?

─ Claro que não vou contar. ─ Ele falou, aparentemente ofendido com a desconfiança.

─ Pera aí... ─ Parei por um momento ─ Por quê estava me espionando?

Ele apenas assoviou como quem não sabia de nada e foi embora, sem falar uma palavra sequer. "Tanto faz..."

Continuei o passeio normalmente, apesar de não conseguir desviar meu pensamento do fato de que Mike sabia do que estava acontecendo. Ele não poderia contar para ninguém, se não, estaríamos ferrados. Suspirei pesado. Tudo o que poderia fazer é confiar em sua palavra.

Bom, fiz tudo o que poderia fazer naquele momento, para aliviar minhas tensões: Dormir. Dormir é sempre o melhor remédio.

Mas eu não estava com sono, então fiquei apenas deitado na cama e ouvindo algumas músicas.

No dia seguinte, acabei acordando mais cedo ainda do que o normal. Não conseguindo cair no sono novamente, me levantei e saí antes da hora mesmo.

A escola se encontrava bem vazia, não tinha quase ninguém. Apoiei-me em meu armário, e jogando um dos jogos que eu tinha no meu celular.

Sarah chegou um pouco mais tarde, com uma cara de más notícias. E de poucos amigos também.

─ O que aconteceu dessa vez? ─ Eu perguntei, mas ela não respondeu. Apenas abriu seu armário, pegou as coisas que necessitava para a aula e foi embora. Apenas fiquei lá, parado. Alguma coisa estava MUITO errada. Normalmente ela me receberia com um sorriso, falando um "Oi!" alegre e com aquela sua personalidade única. Não importava, eu tinha que ir para a minha aula. Preciso mesmo dizer que o dia foi normal e chato como sempre? Bom, acho que acabei de falar...

Na aula de geografia ela agiu exatamente da mesma maneira. Já estava começando a me preocupar. Tubo bem que eu conhecia ela à não mais que 4 meses mas era mais que suficiente para saber que ela não agiria assim. Isso estava me deixando louco!

─ Sr. Bekner, por quê está arrancando os próprios cabelos? ─ O professor me olhava estranho, enquanto eu estava tendo um ataque de nervosismo.

─ Me desculpe... ─ Voltei ao normal, e ajeitei a minha pose.

Em poucos minutos o sinal soara. Sarah ia se levantar, mas eu segurei seu braço, fazendo-a ficar.

─ O que está acontecendo? ─ Perguntei mais uma vez, na esperança de conseguir uma resposta dessa vez.

─ Não é nada. ─ Ela puxou seu braço com força. ─ Me deixa. ─ Olhei nos seus olhos, e pude ver que estava à ponto de chorar. Ela se levantou e ia indo embora, mas a parei mais uma vez.

─ Não não não. Com certeza é alguma coisa. Sarah, ─ A fitei, sério. ─ O que aconteceu?

─ Eu vou para a casa da minha mãe! ─ Pude ver lágrimas escorrendo do seu olho, mas ela virou o rosto. ─ Vou me atrasar pra próxima aula.

─ Foda-se a aula. ─ A parei com o braço. ─ Me explica isso melhor.

Ela suspirou ─ Na saída, ok?

─ Tá. ─ Respondi, pegando minha mala e indo embora, logo atrás dela.

Como prometido, ao soar do último sinal do período da manhã, nos encontramos em frente à nosso armários.

─ Você fez eu me tornar uma pessoa curiosa... ─ Comentei.

─ Verdade... ─ Ela concordou.

─ Agora fale. ─ Fitei-a com atenção.

─ Tá, tá... ─ Ela olhou para a direção oposta. ─ Parece que algum idiota denunciou o meu pai e agora a polícia descobriu tudo. Quase que com certeza ele vai ser preso e não vou poder fazer nada a não ser ir morar com a minha mãe. ─ Ela falou e ficamos em silêncio por algum tempo. Eu ainda estava processando tudo.

Me afastei dela. ─ Eu sabia que ia terminar assim... ─ Murmurei, olhando para o chão. ─ MERDA! ─ Puxei meus cabelos, e me apoiei na parede. ─ Não tem nada que você possa fazer? Eu quero dizer... Você disse que gostou daqui, e agora vai ser obrigada a ir embora...

─ Não tenho escolha. ─ Lágrimas escorriam em sua face novamente. Não dava pra fazer realmente nada?