Meu coração ainda estava pesado com a morte e Tsunade.

Papeis e paredes são fáceis de reconstruir se comparados com o vazio que as pessoas que se foram nos deixaram. É claro que como ninja, eu não deveria pensar em termos de felicidade, sonhos e esperança. Mas isso não significava eu era imune a tristeza. Quando em certas manhãs e acordava correndo e abobalhada, sem sequer me lembrar da saudade e da tristeza que dominava meu peito, nessas manhãs eu agradecia.

Bom, pelo menos até eu chegar no prédio do Hokage.

Konoha tinha essa aura de prosperidade e alegria, mas ao que parece só eu sabia o quanto tudo estava uma bagunça! E se dependesse do novato, acredite, eu deveria pedir um aumento. Eu sinceramente pensei que seria logo esquecida ou dispensada após o enterro de Tsunade e a partida de Sakura, pois elas eram minha única família. Mas, me surpreendendo com seu sorriso aberto e sua confiança infinitas, o novo Hokage assimilou minha presença como se trabalhássemos a anos juntos, como se ele sempre estivesse ali, naquela cadeira.

Trabalhar com Naruto era ao mesmo tempo muito fácil e muito difícil. Fácil porque além de suas reações serem sempre as mais hilárias possíveis, sua preocupação com a vila era encantadora. Era impossível não se contagiar com seu espírito de fogo. E é claro que a parte difícil era que ele não sabia absolutamente nada. E ainda mais difícil para um a pessoa impaciente e imperativa ficar o dia todo sentado no escritório. Se numa situação normal ele já teria muitas dificuldades em assumir a parte burocrática, agora era o pior cenário possível.

Muitos documentos importantes foram destruídos e havia uma infinidade de pergaminhos a serem despachados: certidões de óbito, laudos, relatórios e balanços entre outros. Havia também uma forte pressão do conselho sobre tudo que acontecia, uma vez que não haviam aceitado totalmente a nomeação de Naruto, mesmo ele sendo a melhor escolha no momento (pra não dizer a única).

Vários jounins, anbus, até alguns chunnins e gennis havia perdido a vida, e mesmo que os reflexos da aliança shinobi ainda pairassem verbalmente como um acordo de cavalheiros, a questão da segurança era prioridade máxima.O sentimento de medo, como se um ataque fosse acontecer a qualquer momento assombrariam a todos por um bom tempo.

Mas o que mais Naruto sentia falta eram dos amigos. Sasuke tinha sido exilado temporariamente em Suna e Sakura foi com ele como parte do acordo. Kakashi era um dos homens de confiança dele e por isso estava sempre em missões. Era bem difícil, mas ele não reclamava... Muito.

Por sorte (e somente por isso eu não pedi aumento), Hinata ficava praticamente o tempo todo ajudando Naruto e eu a arrumar a papelada. É claro que Hiashi não facilitou muito as coisas com o casamento, mas eles tinham um acordo silencioso. Era como se Hiashi fosse durão só na frente dos outros (leia-se Hinata).

Apesar de tudo, as coisas parecia bem principalmente com a chegada de Ino Yamanaka trazendo notícias sobre a chegada em uma semana do casal Uchiha. Naruto estava tão radiante com a notícia e foi espera-los junto com Hinata na entrada da vila.

Tudo mudou no momento em que Naruto pousou os olhos em Sakura... Na verdade ouvidos, pois seus gritos eram ouvidos a quilômetros e demorou para o novo Hokage entender a condição de sua amiga.

Sakura estava em trabalho de parto.

Eu não sabia que Sakura seria uma gestante tão escandalosa! Quando finalmente chegamos ao prédio do Hokage (o hospital estava parcialmente destruído e lotado), fiz uma leitura com chakra e pude compreender a causa do sofrimento.

Não acompanhar a gravidez de Sakura foi uma tristeza para a mim. Mas eu entendia que ela não poderia estar em outro lugar que não ao lado do pai do seu filho. Após arrumar a sala as pressas tive que enxotar um Naruto chocado e estranhamente silencioso (as coisas nunca estavam boas quando ele não estava aos berros), e um Sasuke louco e aos berros (sim, era o fim dos tempos) que gritava uma ordem a cada contração da Sakura. Ele não estava acostumado quando seu precioso sharingan não era a solução de todos os problemas. Kami abençoe Hinata por estar do meu lado e só ele sabe onde ela arrumou lençóis limpos tão rápido.

–Por Kami Sakura! Nem parece que você tem força sobre humana! Anda!

–Não quero que meu filho morra esmagado baka!

–Você não quer matar todos os Uchihas de uma vez não é? Então pare de escândalo e faça força!

Depois de minutos intermináveis de gritos e suor, foi simplesmente magico como tudo aconteceu. Era como se todo o sofrimento, toda a dor fizesse sentido. Estávamos em um universo paralelo de êxtase quando a primeira gêmea nasceu e ouvimos seu choro contido quando eu lhe dei um tapinha na bunda. A segunda gemea já nasceu berrando e eu sabia que ela tinha puxado a mãe.

Era engraçado como todos que sabiam da gravidez de Sakura logo associaram a ideia de que um menino que daria inicio ao novo clã Uchiha. Bom, acredito que esse tenha sido um ótimo começo.

Quando Hinata abriu a porta, três homens abobados quase caíram ao tentarem passar pela porta ao mesmo tempo. Não pudemos deixar de rir.

Depois de tantas reviravoltas que vi nessa vila e seus habitantes viverem, nunca pensei que as coisas terminariam como terminaram. Não que fosse o fim ali, para o clã o Uchiha era apenas o começo. Eu pude ser testemunhar de uma das maiores transformações de caráter de um homem quando vi Uchiha Sasuke olhando pela primeira vez para suas lindas filhas. Naquele breve segundo tive a certeza de ele as protegeria com sua vida e só sendo testemunha desse fato, para acreditar que um dia o homem que queria aniquilar todos os cidadãos de Konoha, agora daria tudo por aquelas duas folhinhas.

E percebi que luta de Naruto para trazer o amigo de volta fazia todo o sentido e ele sempre soube disso.