Era mais um dia comum na Seireitei, Nanao despertava e se preparava mentalmente para mais um dia de trabalho com seu capitão abusivo.

Ela não o entendia, afinal para que brincar com os sentimentos dela? por que a chamar de linda, adorável e fofa quando ela ainda estava longe de ser qualquer uma dessas coisas?

O pensamento a fez suspirar em aborrecimento, ela se posicionou em frente ao espelho e manejou habilmente a presilha em suas mãos, colocou os óculos e examinou sua própria imagem, e a verdade foi que ela não gostou nem um pouco do que viu; um rosto magro e sem nada em especial, cabelos negros comuns, sem destaque, sem um bom corte ou até mesmo um penteado bonito, ela logo desviou o olhar não querendo mais encarar a si mesma.

Ela tomou o café da manhã o mais rápido possível e se dirigiu ao escritório, mas ela tivera uma surpresa, quando estava próximo a porta ouviu alguém arfar, ela disfarçou sua energia espiritual e chegou a soleira e sentiu uma dor aguda no peito com a imagem que viu.

Seu capitão estava aos beijos com outra, Nanao reconhecia a mulher de um bar ao redor da Seirietei e sentiu uma fúria iminente, seus olhos brilharam ameaçando derramar lágrimas, pois apesar de tudo ela sentia algo por seu capitão e ela tinha esperança que no fundo ele realmente sentisse o mesmo e que não fosse desistir dela e que um dia os dois estariam aos beijos na sombra de uma árvore no meio de um campo se beijando e fazendo juras bregas de amor. Agora todas as esperanças haviam ido por água abaixo e justamente no momentos mais oportuno algo estalou em sua mente e ela se lembrou: era seu dia de folga!

Ela saiu silenciosamente evitando qualquer mínimo ruído e se moveu em passos longos e rápidos de volta a seu quarto.

Ela adentrou e bateu a porta com força, retirou os óculos e novamente se olhou no espelho, examinou sua forma física e uma lembrança remota veio: Matsumoto tinha um segredo para sua forma física, especialmente para a frontal, assim apesar de se gabar tanto Nanao conseguira arrancar esse segredo dela, eram cremes que pareciam surtir resultado quase instantâneo, em cerca de um ou dois meses ela já estaria... mas espere... afinal o que ela estava querendo?

E pela terceira vez no mesmo dia ela soube por uma declaração óbvia que emergiu de repente do fundo de sua mente, ela queria ser valorizada, não por ele, mas por ela mesma; queria fazer tudo de que sempre teve vontade e ela tinha uma lista enorme a ser seguida, um desses desejos era lutar em uma tradicional luta mano-a-mano ou com sua zanpakutou, coisa que nunca pudera fazer graças a seu capitão mas que agora estava disposta a praticar mesmo que sozinha e a verdade é que ela tinha grande experiência em combates e já pretendia batalhar com alguém tudo o que faltava era o oponente.

Nanao resolveu deixar lutas para depois, agora ela iria se concentrar em sua aparência, já estava cansada de fugir dos espelhos ou das brincadeiras de Matsumoto a respeito de sua aparência e estilo. A gora era sua hora de inovar.

Ela foi a loja "secreta" de cosméticos, maquiagem e todo o tipo de produtos de beleza imagináveis fazendo algo que surpreendeu a vendedora imensamente, comprou uma quantidade absurda de produtos e no mesmo dia foi ao SPA e obteve uma série de tratamentos que iam de manicure e pedicure a limpeza de pele e massagens relaxantes, em seguida foi ao salão e pela primeira vez na vida fez uma hidratação, no final de tudo isso Nanao se sentia relaxada, leve e pronta para o que viesse pela frente.

Assim que chegou em casa aplicou os produtos "milagrosos" na parte superior de seu tronco, massageou por alguns minutos como dizia no rótulo e logo fechou suas vestes.

Agora ela sentia necessidade de se mover, de ter adrenalina e um bom combate, como não tinha um oponente no momento usou seu shunpo para chegar a uma floresta um pouco distante da Seireitei, lá ela treinou seus kidos e shikai ficando extremamente satisfeita que ambos pareciam perfeitos como sempre, ela estava prestes a usar sua zanpakutou contra mais árvores quando uma figura exageradamente grande surgiu por entre as árvores, o homem possuía músculos admiráveis e cabelos espetados assim como um tapa-olho e ela logo o reconheceu com o capitão da décima primeira divisão, Zaraki Kenpachi.

– Arvores não são adversários a altura, não concorda?

Ela engoliu em seco antes de formular uma resposta apropriada

– Hum... olá capitão... sim, mas eu não tenho outra forma de treinar

– Qual é seu nome mesmo?

– Ise Nanao senhor

– Eu nunca te vi antes por aqui

– É a primeira vez que venho aqui, mas se estiver incomodado eu posso sair e...

– Não. É bom ter companhia, você tem experiência em luta?

– Faz algum tempo que não luto

– Treine comigo, deve ser divertido te ensinar a lutar... melhor - o capitão já estava interessado na experiência, podia ser divertido ver a única tenente que ele nunca vira pegar em uma espada lutar e podia ser ainda mais divertido ser seu professor, afinal era uma atividade para espantar o tédio e quem sabe com o tempo ela não se tornasse uma adversária a altura?

– Venha aqui todos os dias ao pôr do sol. Combinado?

–Uh... sim senhor

– Pois bem, agora me explique por que está aqui?

– Eu... faz tempo que não luto e por mais que seja especialista em kidou admito que uma briga de espadas parece bem mais divertido que tentar acertar seus oponetes com magia...

– Vamos começar

– A gora?

– Sim, tente me atacar em qualquer parte do corpo - ele anunciou antes de sorrir em diversão - mas você vai precisar de sua zanpakutou

Nanao puxou algo da manga de suas vestes, era uma espada negra e longa, afiada a ponto de parecer capaz de corta uma alma, ela usou o shunpo para ganhar velocidade e com a espada na mão se preparou para atacar, mas não houve efeito, a pele dele não se rompeu, ela olhou em choque preparada para ser cortada por sua lâmina mas ele simplesmente a empurou para longe

– Tente novamente

E logo eles estavam no meio de um combate, espada contra espada e Zaraki parecia se divertir bancando o professor e ensinando técnicas de desvio e ataque por mais que estivesse pegando leve, Nanao aprendia rápido e executava cada movimento com melhora aparente, ele a encurralou contra uma árvore colocando pressão sobre sua espada

– Livre se de mim e ressurja por trás - instruiu ele

Ela tentou o que ele disse mas no momento ele se inclinou para o lado, ela se abaixou e usou a zanpakutou para protegê-la de seu ataque, e já atras dele tentou cortá-lo para ser impedida pela força de sua espada

Ele começou a pegar mais pesado, dando investidas fortes e defesas difíceis de penetrar e ela se mostrou uma aluna dedicada, em um desvio sua zanpakutou foi empurrada e a de Kenpachi cortou seus óculos ao meio, não era a intenção dele mas ele não podia negar que tinha gostado, ela ficava muito melhor sem óculos, então ele resolveu provocá-la e tentar tornar tudo ainda mais estimulante

– Você sabe... ficou bem melhor sem eles. De qualquer forma estou gostando da visão, quem sabe não fica ainda melhor sem a presilha?

Os olhos de Nanao brilharam e ela atacou com tudo, usou sua arma com habilidade e controle até que ele usou a mão livre para segurar seu braço e a girou, soltando-a ligeiramente e retirando a presilha de seus cabelos deixando uma tenente pra lá de chocada, eles continuaram por vários minutos de forma que já era noite, mas certamente não era tarde, logo começou a chuva e tenente Ise se arrependeu solenemente por não ter um prendedor de cabelo melhor ou por não ter um reserva, a chuva deixou seus cabelos, assim como vestes completamente encharcados de forma que a roupa grudava em seu corpo exibindo a silhueta e fazendo o cabelo pesar.

Ela e Zaraki se "despediram" brevemente em baixo de uma arvora repleta de galhos que parecia manter a chuva afastada

– Esteja aqui amanhã ao por do sol - ele disse de uma forma que não soou autoritária, muito menos como ordem, parecia apenas uma solicitação - Você vem... não vem?

– Sim senhor

Um sorriso discreto se arrastou pelo rosto misterioso, enquanto ele se virava a tenente Ise tinha problemas com suas roupas, a chuva acumulara muita água tanto em seu cabelo com em suas vestes e as fez caírem e serem arrastados enquanto ela andava, ele tropeçou, mas os reflexos do capitão o auxiliaram e ele segurou-a pela cintura por trás dela enquanto ela percebia que não estava no chão, ele virou-a para que ela ficasse de frente para ele,e ainda inclinado, chegou mais perto e mais perto até que seu rosto tocou sua bochecha, ele sussurrou brevemente

– Te vejo amanhã - disse antes de arrastar seus braços até os ombros dela e encostá-la em uma árvore e desaparecer completamente.