Eram três horas da manhã, quando TaeYeon se revirou na cama, logo após uma pontada forte em sua cabeça. Apertou seus olhos pensando poder afastar aquela dor que começara a aumentar. Praguejou aquilo que estava sentindo e por ser algo tão comum, sabia o que viria a seguir. Respirou fundo, esperando a náusea chegar. Não demorou muito para se sentir tonta, e pela terceira vez em menos de 24h, se tornar inconsciente.

TaeYeon abriu os olhos assim que seu despertador a acordou. Sentou-se na cama, sentindo-se exausta e com um frio que não existia. Fechou seu casaco por inteiro, esfregou os olhos e abaixou seu cabelo, ainda um pouco tonta. Ela puxou seu celular, desligando o despertador e percebeu Yuri na porta, observando cada movimento seu.

– E-ei... Bom dia – TaeYeon bocejou, seus olhos estavam pesados – Acordei tarde demais?

Yuri veio em sua direção, fazendo-a deitar novamente na cama.

– Nem devia ter acordado - TaeYeon tentou lutar, mas logo desistiu por Yuri estar sendo persistente - Fica ai, danshin! Você ainda não se recuperou totalmente! Eu peço pra Sica ou a Fany anotar as coisas da aula pra você!

– Eu não sou danshin – Ela resmungou, fazendo um bico involuntário como resposta. Yuri sorriu com sua atitude e TaeYeon percebeu o que tinha acabado de fazer – Ah... Eu estou me sentindo melhor, Yuri-ssi - Yuri mandou-lhe mais uma vez um olhar desagradável, fazendo a menor desviar seus olhos - digo, Yuri-ah.

– Já disse, vai ficar aí e descansar! Ou eu vou falar com a HyoYeon para te dar aquela sopa por uma semana inteira!

TaeYeon engoliu a seco, se ajeitando embaixo das cobertas.

– O-okay.

Yuri se virou para sair. TaeYeon puxou ar e com ele um pouco de coragem.

– Gomawo, Yuri – A mais alta se virou, com um olhar confuso e interrogador, deixando TaeYeon completar seu agradecimento – É que... Nos conhecemos há horas e você me trata como se eu fosse sua amiga há tempos...

Yuri sorriu graciosamente, achando graça do nervosismo de TaeYeon.

– Sabe por que estou fazendo isso? – Ela esperou um pouco antes de continuar - Só adiantando as coisas para daqui uns anos ouvir você dizer: “parece que foi ontem que nos conhecemos”.

Elas trocaram sorrisos e Yuri se virou, saindo do quarto, deixando mais uma vez TaeYeon sozinha com seus pensamentos.

TaeYeon se ajeitou na cama, se encolhendo embaixo das cobertas, sentindo o frio a ninar. Sentindo-se cansada, permitiu fechar os olhos e se lembrou do que Yuri havia dito, bufando em seguida.

“Tiffany... Duvido que ela vá anotar algo pra mim... Alguém que ela não quer ver nem pintada de ouro... Aish, preto? Nunca sei esses ditados, não importa... Ela não gosta mais de mim, ela sequer me ama mais... E eu aqui continuo pensando nela e a amando do mesmo jeito, aliás, até mais que antes... E se eu tivesse mudado o jeito das coisas no passado? Ela ainda estaria comigo? Me amando? Aish, pare de pensar tanto nela, Taeyeon... Daqui a pouco você tá chorando que nem um bebezinho”

Tiffany’s PDV

Despedi-me de Michelle assim que desci do carro, indo para a entrada da faculdade. Caminhando em direção a minha sala, encontrei Yuri em um dos bancos do campus e fui até ela, sentando-me ao seu lado.

Eu quase não dormi direito na noite anterior por culpa das malditas lembranças que eu já havia esquecido. Ou me acostumado com elas, quem sabe? Eu sonhei com aquela tarde infernal.

– Olá, Yul.

Ela me olhou, sorrindo, logo após fechar seu livro.

– Bom dia, Fany!

Yuri me deu um abraço apertado e confortável, eu poderia dormir em seus braços, mesmo! Estou com tanto sono.

– Dormiu bem? – Ela me perguntou.

– Não muito, acho que é ansiedade por causa da faculdade.

Inventei uma causa aleatória antes que ela perguntasse algo. Ela concordou e se levantou. Fiquei de pé e caminhamos lentamente, lado a lado.

– Então... TaeYeon está melhor? – Deixei as palavras escorregarem por meus lábios. Eu estava curiosa e preocupada, acreditem ou não.

– Hm... Eu acho que sim. Ela ainda estava com um pouco de febre essa manhã, mas acho que ela melhora logo – Yuri ajeitou sua mochila e sorriu, parecendo pensar algo divertido. – E eu acho melhor isso acontecer depressa, porque senão HyoYeon matará a danshin com aquelas sopas estranhas... Tadinha!

Ignorei seu último comentário. HyoYeon parecia estar gostando muito de ficar perto de TaeYeon. Não que eu esteja com ciúmes, mas elas mal se conhecem, aish!

– Não é melhor levá-la ao hospital? – Perguntei.

– Eu queria, mas ela foi muito insistente dizendo que não queria. Me fez até prometer que não a levaria quando a encontrei na praça. Por isso não comentei com ela sobre isso hoje de manhã. – Yuri revirou os olhos – Acredita que ela estava querendo vir pra cá? Que teimosa! Foi um trabalho para ficar deitada.

– Eu sei bem – Sussurrei e Yuri me encarou, pedindo para repetir. Sorri sem graça e neguei com a cabeça.

– Ah... Falando nisso, você pode anotar as coisas da aula para ela? Nem vou pedir para Jessica, ela deve estar dormindo na sala uma hora dessas.

Eu sei que Yuri disse alguma coisa depois disso, mas eu não me lembro. Eu estava imersa em meus pensamentos. TaeYeon nunca teve medo de hospitais antes, isso é realmente estranho.

– Tiffany? – Senti Yuri me cutucar.

– Ah… Sim?

– Você pode?

– Ok, ok. Eu copio sim, Yuri-ah.

– Obrigada

~2 semanas depois~

Estavam todas as cinco sentadas no refeitório, durante o intervalo. Conversavam e riam desesperadamente. TaeYeon e Tiffany apenas trocavam poucas e pequenas palavras, cumprindo com tal ‘decisão interior’: ignorar. Não foi fácil para nenhuma das duas, mas elas conseguiram conviver com isso durante esses quinze dias.

Quanto mais as cinco iam se conhecendo, mais amigas ficavam. Na maioria das vezes se reuniam no apartamento de Yuri nos fins de semana para estudar. Na verdade, elas faziam de tudo, menos abrir os livros.

– Meninas, essa é minha saengie shikshin – HyoYeon apresentou sua prima, abraçando-a de lado, deixando a mais nova deitar-lhe a cabeça no topo da sua, por ser mais alta – Ela já estava matriculada aqui, mas faltou duas semanas inteiras simplesmente porque quis!

HyoYeon deu-lhe um cascudo, fazendo esta formar um bico fofo com os lábios.

– Unnie.... Dói...!

HyoYeon revirou os olhos enquanto as outras riram da atitude fofa de sua prima mais nova.

– Hey! Eu sou Im Yoona, mas vocês podem me chamar de Yoong ou Yoona, unnies~!

Yoona sorriu lindamente, tirando um sorriso de cada uma delas. Ficaram fascinadas por seu encanto natural e com tamanha facilidade de mudar o humor. Yuri principalmente.

– Nossa, onde você escondeu essa prima linda, Hyo? – Yuri levantou, já puxando Yoona para um abraço – Ta namorando, Yoong? Me chamo Kwon Yuri, mas você pode me chamar do que quiser.

Yoona sorriu para Yuri, tímida, respondendo sua pergunta com um aceno negativo de cabeça.

– Ok, pode ficando longe dela, player! – HyoYeon puxou Yoona para trás de si e cruzou os braços para Yuri, que rindo, sentou-se em seu lugar.

– Você não vai estar com ela em todos os lugares, Hyo.

TaeYeon’s PDV

Deus Pai, tanto aegyo, pra quê?! Mas convenhamos, Yoona tem um sorriso lindo. De que parte da família de HyoYeon ela veio?

Ri de Yuri quando esta se aproximou de Yoona-ssi e a deu um abraço totalmente aproveitador, a meu ver. Acho que Yuri desiludiu de Jessica de vez, mesmo. Nos últimos dias ela tem flertado com várias pessoas, independentemente do sexo ou idade. Fiquei até com medo que pudesse sobrar pra mim, com a imensa carência que ela está.

Continuei almoçando quando tive a sensação de que alguém não tirava os olhos de mim. E olhando pra cima, vi Tiffany me observando. Logo que percebeu que eu também a encarava ela me perguntou:

– Você... Comprou o remédio que eu te falei?

– Sim... Muito obrigada, ele realmente me fez melhorar rápido.

Ela sorriu levemente e voltou a atenção para HyoYeon que contava alguma história de infância.

Suspirei.

É óbvio que esses últimos dias foram difíceis. Aliás... Terríveis traduzem bem o que foram essas duas semanas na minha vida. É muito doloroso ter que fingir que não a amo, ter ela tão perto de mim, mas ao mesmo tempo tão distante.

Poucas palavras não vão saciar meu desejo de abraçá-la, de poder sentar ao seu lado e conversar até o sol se pôr. É mesmo tudo muito difícil. Odeio o modo como as coisas aconteceram, tão depressa. Tiffany se foi rápido, mas deixou um vazio em mim que me fez muito mais do que solitária. Me deixou em um estado crítico que nenhum dos psicólogos que frequentei durante esses anos soube resolver. Algumas vezes os remédios que me receitavam me ajudavam a controlar meu nervosismo e ansiedade, mas logo depois vinha um sentimento inútil, deixando meu coração oco e minha cabeça cheia.

Nesses dias anteriores, pude perceber que ela está tentando chegar mais perto de mim. Em passos lentos, mas está. Ou quem sabe é só fantasia minha. Eu passei por todos os outros três tipos de maturidade ditos por Jean Piaget, mas não amadureci na emocional. Não mesmo. Queria eu conseguir controlar emoções dentro de mim. Exteriormente eu sei enganar bem, mas isso não é bom. Quando minto com expressões falsas e supérfluas, ou também com ‘eu estou bem’ e ‘não estou chorando, caiu um cisco no meu olho’, um misto de dores me invade. Dores muito profundas.

Suspirei mais uma vez, comendo a última garfada do meu prato.

– Ei unnie, temos que voltar para aula – Ouvi uma voz não familiar e segui o som com o olhar. Era uma garota alta, magra e com os cabelos longos e pretos, perfeitamente escorridos, com uma faixa discreta a enfeitar sua cabeça. Ela carregava alguns livros em seus braços, junto de uma bolsa de uma alça pendurada em seu ombro.

– Sim, eu estou indo, Hyun.

Yoona se virou para a menina, sorrindo e segurando em sua mão.

– Unnies, esta é Seo JuHyun, uma criatura super inteligente e que me ajuda nos deveres de casa.

– Yoona unnie... Não é assim – A menina abaixou seu olhar, corando levemente.

Sorri. Ela sim tem um aegyo que consigo aguentar.

– Sou SeoHyun, muito prazer.

Ela se curvou respeitosamente e deixou seu olhar continuar ao chão. Quando eu ia responder seu comprimento, senti meu celular vibrar em meu bolso.

Você está recebendo uma chamada de Sunny. Atender?

Sorri automaticamente assim que vi o seu nome na pequena tela. Atendi sem mais delongas, fazendo as outras prestarem atenção em mim.

– Danshin~~! – Eu disse e vi Yuri rir ao meu lado.

– É sério que existe alguém menor do que ela?

Ouvi Yuri dizer e ignorei, ouvindo Sunny do outro lado da linha.

– Taengoo! Adivinha onde eu estou, anã?

– Humph... Provavelmente tentando se esticar para pegar algo no armário, duende.

– Você me magoa assim, TaeYeon-ah! Até me arrependi de – Sunny passou a berrar no meu ouvido – estar aqui nos Estados Unidos, na Califórnia só pra ficar perto de certa anã que é minha melhor amiga e que me fez mudar de faculdade só por ela!!!

– Jinjja?!?!

Me levantei espontaneamente, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. Sunny estava aqui!

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