Lets Think! escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 1
Brittany Começa a Pensar.




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Brittany sempre pensou que tudo o que fizera de sua vida fosse certo e que resultaria em coisas certas, mas isso até os dezoito anos, quando terminou os seus estudos McKinley High. Até isso, sempre imaginou que as escolhas que fizera e os caminhos pelos quais optara por percorrer fossem todos corretos. E talvez não estivesse tão enganada.

O problema era que, depois de adulta, e isso depois de muitos anos de ter terminado seus estudos no McKinley High, ela tinha mudado de mentalidade. Não era mais a mesma Brittany de outrora, aquela que sempre fora motivo de chacota primeiro entre as Cheerios e depois no Glee Club e que nunca sequer compreendeu o que elas significavam. Quer dizer, uma vez entendeu quando Finn fora capaz de proferir que ela era uma burra ou algo do tipo – depois de tantos anos, não conseguia se lembrar mais das palavras com tanta certeza -, mas, fora isso, não se lembrava de muitas outras coisas.

Fato era que Brittany, depois de tanto tempo, começou a perceber que sua jornada até aquele momento fora recheada de escolhas e pensamentos errados – embora também houvesse os corretos. Muitos deles nem mesmo eram culpa sua, mas alguns ela não tinha como negar que partiram de preceitos seus.

Por exemplo, quem fora mesmo o responsável por dizer a ela que bebês vêm das cegonhas? Naturalmente que fora algum de seus pais, que, na época, se sentiam envergonhados demais para contar a verdade oficial, a de que é preciso muito mais do que uma cegonha para que uma criança venha à vida. Aliás, não fora por causa disso que ela passara a maior vergonha de sua vida, em frente a todo o Glee Club, dizendo que achava que estava grávida? Até hoje ela conseguia se lembrar da expressão espantosa que Will Schuester utilizou no momento, além, é claro, da que ele usou assim que ela disse que não era tola e que sabia que quando uma cegonha montava seu ninho numa janela, como estava acontecendo ultimamente na do seu quarto, era sinal de que um bebê estava a caminho. Tinha tanta certeza disso que não teve medo algum de compartilhar a ideia com os colegas.

E qual fora a reação geral, mesmo? Sim, eles agiram como se o que ela tivesse dito era verdade e, em nenhum momento, foram capazes ou corajosos o bastante para contrariá-la e dizê-la a verdade. Era quase como se quisessem protegê-la daquilo que já era de conhecimento de todos, como se a informação, para ela, fosse como estacas que perfurariam a sua mente, causando danos irreparáveis. Mas essa não era a verdade.

A verdade é que, para a época, era bem provável que eu estivesse grávida mesmo..., Brittany pensou e sorriu. Ela sempre soube, e não tinha vergonha nenhuma disso, que era uma garota desejável e sexy. Isso quer dizer que não havia qualquer garoto em toda a escola que não quisesse olhar por debaixo de sua blusa e descobrir qual era o segredinho que o volume embaixo do top do seu uniforme das Cheerios escondia. Por causa disso e de um fogo do qual ela não sabia a procedência – na época, sabia que tinha algo a ver com hormônios, mas não sabia o que era isso –, tinha saído com mais garotos do que qualquer outra menina da sua idade jamais arranjaria durante toda a vida. Fizera sexo com eles, o que era um perigo. Ainda se surpreendia com o fato de não ter realmente ficado grávida de nenhum deles...

Em alguns casos, havia até garotas que se interessavam por ela. E professores. Brittany se lembrava de ter pensado, naquela idade, que havia três sexos distintos na McKinley High: os garotos, as meninas e os professores. Para ela, professores eram um único ser, não importava se homem ou mulher.

Tornou a rir ao se lembrar disso.

Talvez se tivessem me contado que o que eu fazia como se fosse uma brincadeira simples, mas prazerosa, poderia resultar numa gravidez, eu não tivesse saído com tantos homens de uma vez...

Franziu o beiço e refletiu mais um pouco sobre o caso. Riu às gargalhadas ao imaginar como teria sido sua vida se tivesse feito o contrário e vivido como uma Rachel Berry, aquela aprendiza de [insira aqui o nome de qualquer diva da Broadway do século passado] que não sabia nem o que era sexo, mesmo que já tivesse dezessete ou dezoito anos nas costas. Aliás, ela acreditava que a petulância de Rachel e todo aquele jeito crítico de ver as coisas eram ocasionados pela falta de sensualidade e sexualidade que ela tinha.

Certa vez, inclusive, chegou a pensar que ela se interessava por Quinn, pelo modo como a encobria quando a líder de torcida fazia algo tolo ou por como a defendia em certos casos. Naquela vez em que tentou fazer Finn se separar de Quinn, então, Brittany pensou que as duas se beijariam assim que o rapaz de aproximadamente três metros de altura deixasse o mesmo ambiente que elas. Contudo, Rachel queria o rapaz, na verdade, e, ainda assim, segundo suas fontes confidenciais, eles demoraram muito para irem para a cama juntos pela primeira vez.

Se eu fosse homem, eu jamais me interessaria por ela..., Brittany pensou e mordeu o lábio.

Pensar no McKinley lhe causava nostalgia. Jamais imaginou que deixar a escola que convivera tantos anos seria tão doloroso. Quer dizer, lembrava-se de uns tempos em que odiava por completo a escola e que queria que seus tempos de frequentá-la terminassem de uma vez por todas. Isso aconteceu porque ela não tinha vocação nenhuma para os estudos, pelo menos não para aqueles que eles tentavam tão insistentemente passar naquelas salas de aulas que, no verão, eram quentes demais. História, geografia, matemática, inglês. Ora, ela já sabia falar, porque tinha que ter uma aula específica sobre seu idioma? E espanhol, então? Ela sabia perfeitamente bem que espanhol era uma língua extinta e que o mundo inteiro falava na´vi, segundo informações corretíssimas vindas de seu antigo colega de escola chamado Sam, então porque deveria aprender a falar uma língua tão horrível?

A escola não era para ela. Nunca foi. Brittany não era muito boa com argumentos ou estudos. Sabia se expressar muito bem quando dançava, e fazendo isso ela se sentia próxima daquilo que chamavam de felicidade.

Por isso se especializou na arte. E por isso conseguiu o emprego dos sonhos, como dançarina de um das maiores montagens de O Homem Aranha da Broadway, uma releitura daquilo que fora feito em meados de 2011/12. A releitura era sensacional e ainda mais arriscada do que a montagem original, onde até mesmo o ator principal chegara a ficar perto da morte durante uma acrobacia mal sucedida em uma encenação. A que ela fazia era ainda mais cara e envolvia números de dança e canto de deixar qualquer um de queixo caído. Era tudo tão bem feito que ela sabia que, naquele ano, eles levariam, no Tony Awards, o prêmio de Melhor Revival de Um Musical. Era evidente, não se podia duvidar.

E se sua vida profissional estava excelente, a amorosa estava muito mais!

E foi nesse ponto que entrou a reflexão de Brittany sobre seu passado e suas escolhas.

Brittany amou Santana. E Santana a amava. Juntas, as duas formavam o casal lésbico mais lindo de toda a Lima. Não havia quem não suspirasse quando as visse se beijando em público. Não havia espaço para aqueles que se diziam homofóbicos, porque o amor exalava das duas como algo que fosse contagioso. Era as duas se juntarem num momento de ternura que os suspiros de admiração se faziam ouvir ao redor., porque Santana era simplesmente perfeita.

Porque Santana era linda.

E porque o que Santana sentia era lindo demais.

Mas o que Brittany sentia, não.

Brittany amava Santana de uma maneira incondicional. Contudo, com o tempo e a chegada da vida adulta, percebeu que seu sentimento não era o mesmo de sua parceira. Santana queria um amor para a vida inteira. Brittany só queria saber da curtição de beijar Santana e tê-la ao seu lado para apreciar a excelente que sensação que isso proporcionava. Mas só. Nunca quis casar com Santana. Nunca pensou em ter uma vida longa e plena com ela, a ponto de morrerem juntas e velhinhas.

Brittany amava Santana, mas como uma amiga. Uma enorme amiga.

E Santana queria algo mais. Por isso, preferiu partir e deixar que Brittany seguisse em frente do que impedir uma vida, que não era como a sua, de realizar seus desejos. Fora o maior sacrifício que fizera em toda a sua vida, algo que foi doloroso não só para ela, que passou muitos meses entristecida pela decisão que tomara, como para Brittany, que se importava terrivelmente com o seu bem-estar. Mas o que Santana falara naquela época não era nada que não soubesse. Brittany queria seguir em frente, e se era melhor para Santana que as duas estivessem longe para que isso fosse possível, que assim fosse.

Mas as duas jamais perderam contato, mesmo quando as carícias a mais foram desaparecendo aos poucos.

Agora, Brittany era casada com um empresário que conhecera por acaso em um bar de Nova Iorque. Ela ainda conseguia se lembrar da ocasião, quando seus olhares se cruzaram e ela sorriu, encontrando nele a felicidade que procurava. Estavam juntos há muitos anos e se sentiam bem assim. A relação era tão duradoura que logo eles tiveram uma filha, uma linda e pequena garota de olhos azuis e cabelos louros como os da mãe.

Brittany só parara para pensar nessas coisas porque a observava brincar no parque enquanto tomava um sorvete, sentada em um banco próximo à filha. Na verdade, aquele sorvete devia ser dela, mas como ela não pareceu gostar muito do sabor, Brittany acabou tendo que tomá-lo para não desperdiçar os seus tão preciosos dólares. A reflexão que fizera até ali só começou porque ela imaginou o que seria de sua vida sem sua filha, e que fins ela teria se tivesse feito outras escolhas.

Por isso foi impossível não pensar em Santana. Não foi por causa de uma decisão tomada por ela que Brittany tivera aquela linda filha?

Aliás, foi motivada por isso que Brittany a nomeou de Santana, como forma de homenagear aquela que era sua melhor amiga de todos os tempos. Seu marido não entendeu a homenagem, e jamais entenderia. Mas isso não era importante; a lembrança de Santana estava ali, na sua frente, fazendo-a lembrar-se de todas as coisas boas que fizeram juntas em tempos antigos.

Coisas que deixavam Brittany feliz até hoje.

Se havia algo que ela podia afirmar de boca cheia era que sua felicidade só era possível por causa de Santana.

E que sempre seria assim enquanto as duas tivessem uma à outra para contar.


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Notas finais do capítulo

Esperam que tenha gostado. E que o final tenha sido mais feliz do que o desenvolvimento :)