Am I Dreaming?

-Demi Narrando-

Depois do jantar, Jeremy, Madison e eu saímos para comprar o sorvete que ele devia a Maddie pela corrida até a mesa.

Não foi difícil encontrar uma sorveteria aberta às nove horas da noite, já que morávamos perto da praia.

Nós dois estávamos satisfeitos com o jantar, por isso não quisemos sorvete também.

Caminhamos até a praia e logo Maddie se afastou de nós, indo brincar em um pequeno playground montado na areia.

- Só não vai muito longe! - Avisei e ela assentiu.

- Você cuida muito bem da sua irmã - Jeremy disse.

- Por que você acha isso?

- Eu vi como você ficou frustrada quando ela disse que não queria comer... A sua preocupação com ela, é realmente interessante!

- A minha família é tudo o que eu tenho... Nós ajudamos uns aos outros dentro de casa. Lamento que Maddie tenha que passar pelos mesmos problemas que eu passo na escola. Ela ainda é pior porque...

- Não tem quem a ajude!

Apenas assenti e fiquei com o olhar longe, observando o mar.

- E sua família? - Perguntei - O dia que fizemos o trabalho não tinha ninguém em casa...

- Minha mãe viaja muito... Ela é aeromoça. Minha irmã mais velha mora com a gente, mas quase não fica em casa, portanto eu fico praticamente o dia inteiro sozinho... - Jeremy disse mas pelo tom de voz dele, aquilo era um esforço para ele me contar.

- E seu... Pai?

Jeremy se sentou em um banco e ficou olhando para o mar, e eu apenas fiz o mesmo.

- Meu pai morreu quando eu tinha doze anos... Foi quando eu, minha mãe e minha irmã nos mudamos para L.A.

- Eu sinto muito...

- Tudo bem... Já faz muito tempo!

- Mas essas coisas machucam...

Por um momento a imagem do meu pai veio a cabeça, e eu me odiei por ter lembrado dele.

- Eu não vi o seu pai hoje - Jeremy pareceu ler minha mente.

- Ele foi viajar... Quero dizer, o meu padrasto. O meu pai eu não o vejo há muitos anos também.

- Por que?

- Porque ele é fraco... Não consegue suportar a responsabilidade de ser pai...

- Eu não entendo...

Um nó se formava em minha garganta, e por mais que eu tentasse dizer algo, aquilo não saia.

Quando enfim consegui dizer a Jeremy o que eu estava querendo dizer, uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

- Não se preocupe com isso... O seu pai é quem mais está perdendo por não conhecer a filha que teria se tivesse ficado sempre ao seu lado.

- A questão é que eu sempre sinto que não faria diferença se ele me conhecesse como um pai conhece a filha... Eu sou uma simples garota... Que orgulho você teria por ter uma filha como eu?

- Eu poderia dar vários motivos, mas olhe pra você. Você cresceu firme e forte, é linda, inteligente, tem um ótimo coração... Não precisaria de mais nada para que ele se orgulhasse da pessoa que você é hoje!

Quando Jeremy disse firme e forte eu desabei completamente.

Aquelas duas palavras me afetavam tanto quanto a palavra pai. As pessoas apostavam, tinham suas expectativas sobre a garota que eu era, quando na verdade eu guardava um grande segredo comigo.

Um segredo que me sufocava e que quanto mais eu tentava guardá-lo, mais apareciam as chances para eu revelar a alguém.

Jeremy se aproximou e limpou as lágrimas do meu rosto.

- Você não tem que se sentir culpada pelo que te aconteceu... Tudo o que acontece tem um motivo, e nem sempre temos o controle da situação. Você é e ainda vai ser o orgulho de tantas pessoas, que quando isso acontecer, você vai lembrar de nós dois conversando aqui hoje! Posso até apostar com você isso!

As palavras dele me faziam sentir melhor, retomar o controle e era como se estivesse me dando mais forças.

Eu queria ser sincera com ele, e contar a verdade... O quão extensa era a minha culpa por diversos motivos, mas eu simplesmente não podia.

Maddie voltou correndo pela areia até nós e eu terminei de limpar as lágrimas que ainda escorriam para que ela não se preocupasse.

- Eu estou com frio! - Ela disse - Podemos ir embora?

- Não sei... O passeio é do Jeremy - Respondi olhando para ele que prestava atenção em cada gesto que Maddie fazia.

- Se você quer ir, nós podemos ir - Ele disse - Mas antes disso, vamos dar um jeito no frio!

Ele tirou a blusa dele e colocou nos ombros de Madison que sorriu para ele em agradecimento.

Voltamos lentamente pelo mesmo caminho que havíamos tomado para ir, e Madison foi a primeira a entrar em casa.

- A gente se vê amanhã na aula - Ele disse me observando.

O olhar dele era preocupado, como se tivesse medo de que eu voltasse a chorar, mas também era curioso, e prestava o Maximo de atenção em mim.

- A gente se vê!

De alguma forma, eu não queria que ele fosse embora. Queria continuar conversando com ele pelo tanto de tempo que fosse preciso. Ele conseguia me tirar da realidade, e me fazer bem mesmo com os problemas que eu tinha, mas eu sabia que quando ele fosse embora, os problemas voltariam a me assombrar.

Abaixei a cabeça para que ele não notasse meu olhar perdido e pensativo, mas o que veio a seguir foi um pouco mais perturbador do que os meus medos.

Suavemente ele levantou meu rosto com sua mão, e nós estávamos tão perto um do outro a ponto de eu sentir sua respiração. E ele provavelmente podia sentir o ritmo acelerado e forte em que batia o meu coração.

Apenas me deixei levar e nossos lábios se encontraram, em um beijo quente e aconchegante.

Após algum tempo nós nos afastamos um do outro, e antes que eu pudesse estragar o momento com as palavras erradas, ele olhou em meus olhos com um meio sorriso de lado, e saiu em direção ao carro dele que estava estacionado na calçada.

Simplesmente observei o carro sumir na rua e fiquei ali, paralisada, forçando meu cérebro a entender o que havia acabado de acontecer.