Talking To A Moon escrita por Rach Heck


Capítulo 15
I Gotta A Feeling


Notas iniciais do capítulo

Sinceramente, vocês são umas fofas. Sério. Quero dedicar esse capítulo à Danika, a primeira recomendação de TTAM foi ela quem fez, aaawn que linda *-* Ah sim, eu me matei para fazer a junção de nomes, e o melhor que consegui foi Miall. Alguém tem uma ideia melhor?



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Todos os dias eu titubeava, pegava o guardanapo, mas desistia. Ele jamais iria gostar de mim. Era suicídio emocional pensar que sim.

Ele havia me ajudado com meus sonhos, tentado me dar um pouco de esperança, sem saber que ele era o meu sonho. Mas tudo não passara de pena.

Fiquei um pouco incomodada quando Gabi me sentou na cama e me forçou a contar tudo o que estava sentindo, e todo o porquê de não ter ligado ou entrado em contato com ele. Algumas lágrimas escaparam. Odeio chorar na frente das pessoas.

Mas ali estava eu, abrindo o berreiro com a minha companheira de todas as noites.
– Você me permitiu conhece-lo... – Solucei. – Mas não consigo pensar nisso. Tenho medo de enlouquecer. Então me obrigo a não pensar. – Ela me fitava lá do alto, em meio ao céu obscuro de setembro. – Acho que de tanto negar que possa ser possível, tudo me pareceu um sonho. Uma mera ilusão como todas as outras... Eu o conheci, percebi que é impossível que ele se apaixone por mim, então por que é tão difícil esquece-lo? Esquecer essa sensação de desespero que arde aqui dentro? – E como todas as outras vezes, a lua me censurara, expondo-me em todo o seu silencio ensurdecedor. Mas ainda assim não conseguia pensar.

– POTATOES! – Gritei quando Gabi se aproximou com a porção de batatas fritas de todas as manhãs.
– Vai fazer questão de passar vergonha todo o recreio? – Ela sorriu. Desde a minha conversa com a lua, noite passada, se tornara mais fácil fazer piadas sobre ele, como sempre fizera.
– Então, diga-me o que tens de tão importante e misterioso que me fez esperar até essa hora sagrada para contar? – Roubei uma batata enquanto ela ainda se sentava. Levei um tapa na mão que quase a amputou.
– Lembra-se que desde que nos conhecemos, o que parece ser desde sempre, sonhamos em ir à Disney? – Assenti. Ocupada demais com a boca lotada de batatas para falar. – Bom, meu pai disse que esse fim de semana ele tem um voo para Orlando e que adoraria nos levar.
– O que? – Ignorei a boca cheia, dei um salto que derrubou a cadeira e provavelmente cuspi em todas as pessoas que estavam por perto. – Meu Deus Gabriela, nós sempre pedimos e ele... – Gritei após engolir o que restara. Em geral não sou nojenta assim, mas pense bem, é a Disney!
– Pois é, eu sei. Mas ele disse algo sobre estarmos maduras agora, e todo aquele blábláblá do seu Sergio.
– Minha mãe não vai deixar. – Me joguei na cadeira após coloca-la de pé novamente.
– Por que não?
– Lembra o que ela disse sobre viagens? Além do mais, daqui a pouco vou reprovar por falta.
– Ela disse nada de Londres. Nós vamos para os Estados Unidos, não Inglaterra. E você não faltou demais. As duas vezes que foi, era feriado, e uma semana e meia de faltas não é motivo para reprovar. Ok, se contarmos a viagem dessa semana, hum, três semanas de faltas... Ah vamos lá, é o nosso sonho!
– O problema não sou eu, é convencer a dona Fernanda.
– Então faça as suas malas porque nós decolamos na sexta. – O sorriso largo da morena ao meu lado foi a ultima coisa que lembro, antes de entrar no mundo dos sonhos.

– Adivinha quem veio para o almoço? – Anunciei ao entrar na cozinha, o cheiro da comida me deixando tonta. Estava morrendo de fome, faziam quantas horas que eu não comia? Três horas. Sabe o que são três horas sem comer?
– Ah aquela tal de Gabriela de novo não. Só porque fiz compras ontem, agora não vamos ter mais o que comer!
– Pare de mentira, eu nem como tanto assim. – Gabi entrou na cozinha rindo. – Eu sei que você adora quando eu venho aqui.
– Sim, mas quando é convidada né. – Minha mãe a encarou feio, mas logo gargalhamos.
– Então melhor nem ficar sabendo que tenho a copia da chave...
– Bom, se sumir alguma coisa da geladeira já sei quem foi. – Fernanda levantou a tampa de uma das panelas no fogão, libertando o cheiro inebriante de carne assada.
– Tia, mas além de vir filar a boia, nossa, pareci um pedreiro falando agora. – Gargalhou. Sentamos nos bancos altos do balcão. – Eu também queria te falar uma coisa. Pedir e anunciar. Porque para ser sincera, não vou aceitar um não como resposta, e se for preciso vou sequestra-la.
– Vai me sequestrar pra que? Não vive sem a minha comida, tá vendo isso hein Mariana, alguém me reconhece nessa família.
– Eu sou da família? – A morena sorriu e bateu palmas feito uma criancinha.
– Ah sim, é como uma cachorrinha de estimação.
– Nossa, não precisava acabar com a minha pessoa. – Fechou a cara, forçando para não rir. Eu já estava dobrando em gargalhadas. Essas duas sempre de implicância. – Enfim, não, sequestrar a sua filha. – Ela pausou um segundo, provavelmente esperando por uma resposta que não veio. – Lembra-se que o nosso maior sonho era ir à Disney? Lembra-se que meu pai sempre dava desculpas?
– Sabe que minha resposta inicial é não, não sabe? – Minha mãe virou-se para nos encarar.
– Sei. E estou disposta a mudar isso. – Suspirou, preparando-se para um discurso sem fim. – Vocês vão embora ano que vem, e eu não terei mais a minha melhor amiga. É horrível isso, sabe? E eu estava pensando em fazer um passeio de despedida, sei lá, algo nosso, quando meu pai ligou e disse sobre essa viagem. Eu achei muito coisa do destino. Afinal, quer coisa mais nossa do que ir para o lugar dos nossos sonhos?
– E quando seria essa viagem?
– Iríamos na sexta, aproveitaríamos o conselho de classe, o fim de bimestre e a reunião de pais para emendar mais uma semana, e voltaríamos no domingo que vem.
– Acho que a Mariana não pode ficar faltando dessa maneira, e ela tem que se centrar nos estudos.
– Primeiro que ela sempre viajou em feriados e nas férias. E segundo, quer mais centrada nos estudos do que essa menina está? Quantos adolescentes tiram oito virgula cinco em física? - Minha mãe me olhara feio, como se dissesse: você é impossível Mariana. Mas eu não tinha culpa alguma.

A fila de embarque estava enorme. O pai da menina ao meu lado era o piloto, mas isso não impedia de que enfrentássemos fila, se não ignorássemos o fato de que deveríamos ter chegado duas horas antes. Ambas vibrávamos com o incerto a nossa espera. Três sonhos realizados, e o ano não havia nem acabado. Tudo bem que um deles não completamente, uma vez que o amor da minha vida não havia se apaixonado por mim, assim como eu sonhara.
– Acho bom você dormir durante o voo. Não pretendo perder um segundo, então, descer do avião, ir direto para a Disney e só ir para o hotel à noite.
– Espera. Nós somos muito irresponsáveis. –Exclamei, quase dando um pulo na poltrona. – Não vimos hotel para ficarmos!
– Dá pra parar de gritar? Eu estou do teu lado! Não se preocupe com o hotel, meu pai disse que uns amigos dele devem uns favores e blá blá blá, você sabe que o nível de coisas que eu escuto meu pai falar é zero. Enfim, ele disse que é para encontra-lo no final do dia em frente ao Magic Kingdon.
– E as nossas malas?
– Vão ficar seguras no carro. – Continuei a encará-la por alguns eternos segundos. Só então percebera o quão louca era essa viagem. O que deveria ter percebido antes, afinal, tudo o que vem da Gabi definitivamente não é normal.

Só percebi que havia dormido quando acordei. Aliás, todos já estavam descendo do avião, e uma aeromoça parecia estar se preparando para vir nos acordar. Sorri sem graça para ela, avisando que já estava desperta.

Estava quente. Muito quente. Me senti no Brasil novamente, tirando o fato das pessoas em maioria serem loiras, naturais devo acrescentar, e falarem em inglês. De resto, o mesmo ar do Brasil, a mesma umidade amena, a mesma temperatura do sol. Olhei para o irmão da minha companheira de todos os dramas, desejando estar em Londres. O que estava acontecendo comigo? Quero dizer, meu sonho era estar aqui, e agora eu quero estar lá novamente? Ai Mariana, você não tem jeito.
– Corre! – Gabi correu e entrou em um carro preto que estava estacionado em frente ao aeroporto, as malas mais pesadas que ela, parecendo que a qualquer curva e a menina iria desmoronar levada por suas bagagens.
– Ahn? – Indaguei atordoada. O que havia dado nela? Quero dizer, não é sempre que alguém sai correndo e entra em um carro desconhecido. A não ser que essa pessoa seja Gabriela Muniz.
– Dá pra você entrar no carro? – Ela gritou, colocando a cabeça para fora da janela.
– Desculpa, não entro em carros estranhos. Você deveria fazer o mesmo. Sai daí Gabriela!
– Eu sei que nunca vim ao exterior, mas não sou louca, ok? É o carro do meu pai sua lerda.
– Seu pai tem carro aqui? – Me aproximei, levara apenas duas malas. Na verdade uma e meia.
– Sabe que ele passa mais tempo aqui do que no Brasil. – Gabriela era assim, nascida em família rica. Mas seus pais eram separados, e ela morava com a mãe. Tinham uma boa vida, mas nada demais. Já seu pai... – E o carro não é dele propriamente dito.
– Ah, você deve ser Gabriela, a filha do Sérgio.
– Oi. Ahn, sim. Sou eu mesma. Essa é a minha amiga Mariana, nós vamos...
– Para a Disney, sim, eu sei. Seu pai me deu o roteiro. – O homem moreno ao lado do carro sorriu. Deveria ter uns trinta e poucos anos, trajava um terno impecável. Minha cabeça deu um nó enquanto eu entrava e me sentava no banco traseiro, ao lado de Gabi.
– Quem é ele? – Perguntei em português, o que provavelmente ele não entenderia.
– O taxi de confiança do meu pai. – Tentou me tranquilizar.
– Gabriela você está maluca? Esse carro nem é um taxi! – Acho que exclamei alto demais, pois o homem, que entrara no carro assim que eu entrei, me encarou estranhamente pelo retrovisor.
– Você sabe que meu pai não anda em taxi, propriamente dito. Não sabe?
– Eu vou saber? Não conheço a vida do seu pai. Eu quase nem ando de taxi!
– Ai Mariana cala a boca ok? Esquece minha família, esquece tudo. Apenas aproveite a viagem. – E foi a ultima coisa que falamos em português, antes de Gabi ingressar em uma conversa sem fim com o homem que nos levava para o nosso paraíso.

Eu me sentia uma completa criança, e o dia já estava se pondo. Os brinquedos, as crianças, as risadas ao longe, tudo, tudo, me fez voltar no tempo, fez com que eu me sentisse novamente com oito anos, como se nada além daquele lugar existisse, como se nada pudesse me atingir. Mas algo ainda faltava. Algo que não me doía quando eu tinha oito anos. Afinal, não se pode sentir falta daquilo que nunca se teve... Mas eu nunca o havia tido.
– Vamos indo? Acho que meu pai já deve estar nos esperando...
– Ah, mas eu pensei que iriamos ver o show de fogos de artificio. Ah poxa! – Me balancei feito uma criança mimada fazendo pirraça.
– Mariana, nós ficaremos uma semana. Veremos tantos fogos que você nunca mais vai querer ver fogos na sua vida, tá bom?
– Promete?
– Prometo. Agora vamos.

All Star Sports. Ainda ria do nome ao entrar no quarto. Quero dizer, eu estava num hotel chamado All Star, usando meus all stars. Sabe como isso é engraçado?
– Pode ir tomando o seu banho, vou aproveitar para ver as novidades dos...
–Não! – Gabriela, que estava entrando no banheiro, deu um salto que me fez parar de abrir a mala em que estava o computador. – Mari, eu quero que você me prometa que não vai entrar no computador. – Sabia que minha expressão era confusa. O que havia dado nela? – Essa é a nossa viagem dos sonhos, e eu não quero que nada, nada mesmo, a estrague. Por favor, prometa.
– Mas por que...
– Prometa.
– Tá, eu prometo. – Revirei os olhos. Na verdade, ela estava certa. Com certeza eu veria algum comentário sobre mim, ou algo sobre eles que me deixaria magoada. – TV eu posso assistir, mamãe?

Encarei a janela ao ouvir o chuveiro. Mas não tive completa coragem de levantar e sussurrar. Sentei na cama ao lado da janela, o céu estrelado me parecia tão solene, tão... Tão diferente do que acontecia em mim. Era como um pressentimento. E eu não gosto de pressentimentos. Algo iria acontecer, eu sabia, mas não tinha a menor ideia se seria algo bom ou...

Era engraçado, duas adolescentes em um quarto de hotel. E duas adolescentes nem um pouco organizadas. Logo aquilo ali viraria uma zona. Mas como o pai de Gabriela conhecia os donos do hotel, que na verdade era um conjunto de hotéis, não teria problema duas garotas bagunceiras. Ou teria?


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