Eu odeio acordar atrasada. Aliás, quem não odeia? Principalmente para mim, estudante do quarto ano de Medicina. Medicina porque gosto de cuidar de pessoas desde criança, não apenas de seus machucados físicos e também seus emocionais. Aliás, não é de hoje que eu acho que a maioria das doenças originam-se da alma. Quem sou eu? Haruno Sakura, 24 anos, cabeça de 8 anos. Gosto de ler, sair com meus poucos amigos verdadeiros e fazer boxe durante a semana para desestressar. Ás vezes, eu corro também. Eu já era bem forçudinha quando era criança, mas treinando e praticando, minha força finalmente está sendo bem utilizando, principalmente para uma pessoa que quer ser cirurgiã. As únicas coisas exóticas em mim são minhas madeixas rosas (que provavelmente será meu projeto para a matéria de evolução/mutação na faculdade) e meu dom. Na verdade, eu não chamo isso de dom. Minha madrinha e professora Tsunade Senju e minha melhor amiga Ino Yamanaka chamam. Eu não. Eu "ganhei" esse dom no primeiro ano de faculdade.

Eu sempre fui para a faculdade de bicicleta, porque é o meio mais saudável, ecônomico e ecológico. Um certo dia, um motorista me atingiu em cheio, na exato instante em que eu chegava na faculdade. Meus próprios professores, liderados por Tsunade, cuidaram de mim. Fiquei bastante machucada e, apesar de meus professores não falarem, sei que fiquei entre a vida e a morte. Minha bicicleta porém, saiu ilesa. Um mês se passou até que eu me recuperasse totalmente desse acidente. Mas desde o acidente, eu comecei a ver coisas bastante estranhas nesses três anos (como da vez que previ que o gato de Ino ia morrer, ou da vez que previ que tia Suki iria ter quadrigêmeos ao invés de gêmeos como os médicos previram). Mas nada, nada se compararia a situação em que eu iria vivenciar.

Estava voltando de uma aula séria sobre mutação/evolução e indo buscar minha bicicleta no estacionamento do campus. Muitos alunos ofereciam carona para mim, mas eu não aceitava. Não gostava e não queria deixar minha bicicleta sozinha. Além do mais não era perigoso, mas eu já ouvira falar sobre assaltos ocasionais no campus, por isso carregava um spray de pimenta na bolsa. Ainda mais por ser distraída.

Eu pensava na aula de DNA e como era interessante as mutações (e aquilo seria interessantíssimo no trabalho), quando vi dois vultos vindo na minha direção. Decidi, é claro, apertar o passo e quando estava quase virando na direção contrária, via como aqueles dois pareciam perdidos e deslocados. Ambos estavam de terno e gravata de marca (que deveriam ser mais caros que minha bicicleta juntos). Eles então me viram e vieram na minha direção. Esperei, já que não dava mais fugir, olhando para ver se via o guarda do campus mas nada. Minha mão foi rapidamente para minha bolsa, mais especificamente, para meu spray de pimenta.

Quando chegaram bem perto, eu meio que ofeguei. O que aqueles dois modelos estavam fazendo perdidos neste campus? Ambos eram lindos. Eles realmente não estavam no lugar em que pertenciam. Aqueles dois estavam muito bem vestidos para me assaltarem, mas bandidos agora se apresentam bem vestidos então minha mão continuou bem forte no spray.

– Boa noite - falei, rouca e nervosa. Eu deveria estar corando, é claro, mas pelo menos podia culpar o frio.

– Boa noite - respondeu o loiro, com uma voz grave. Ele tinha cabelos espetados e olhos azuis. Parecia másculo só de olhar. Rawwr, pensou minha Inner. Calada.

– Estão perdido, posso ajudá-los? - perguntei, prestativa até demais. O outro, de longos cabelos negros presos num rabo baixo e olhos negros profundos. Esse tinha uma beleza marcante. Marcante até demais.

– Na verdade, sim precisamos de sua ajuda - respondeu o loiro e o moreno açenou. Cruzei os braços, esperando.

– De que tipo de ajuda?

– Precisamos que a senhorita resolva um triângulo amoroso - respondeu o moreno e sua voz me arrepiou.

O que exatamente aqueles dois queriam?Será que pensavam que eu era algo do tipo conselheira matrimonial? Arranja relacionamentos? Ali não era o campus de Psicologia. Eu já não entendia mais nada.

– E porque eu faria isso? - desafiei, agora mais corajosa, encarando aqueles dois belíssimos pares de olhos - Porque me digam? Vocês parecem ter dinheiro o bastante para comprar a melhor de todo o Japão! Já sei - berrei, antes que qualquer um dos dois bonitões pudesse abrir a boca - Vocês dois são dois milionário excêntricos que acham que podem contratar qualquer um e...

– Dá para senhorita esperar? - perguntou o loiro, calmo e provavelmente achando graça da minha cara. Isso Sakura, deixa os dois caras mais bonitos que você já viu na vida te zuarem. Sua vida amorosa já não tá boa e você vê esses dois caras pedindo ajuda e vai tirar com a cara deles? Sua rosada psicótica, berrou a Inner.

– Precisamos da sua ajuda senhorita - pediu o moreno, me fitando com os olhos negros. Tremi e é claro, corei denovo. Arrgh.

– Porque eu deveria ajudar vocês? - repeti, mais calma. Eu tinha que assumir o controle da situação. Aqueles dois pareciam apenas homens de negócios. Vai ver eles oferecem um bom dinheiro pra dormir contigo, pensa a Inner. SSSShhh, quietinha.

– Porque nós - começou o loiro, mas o moreno deu-lhe um significativo olhar - Com licença.

Eles se entenderam numa olhada e viraram de costas pra mim. Ok, agora isso me estressou. Não gostei. Eu tentava ouvir os seus sussurros naquela pequena reunião íntima. Arrgh.

– Devemos confiar nela? - cochichou o moreno.

– E porque não? Ela consegue nos ver e...

– Mas ela é tão... irritante.

– Eu sei mas ela é a única que consegue nos ver e que conseguirá nos ajudar - respondeu o loiro, ambos olhando para minha cara nada satisfeita.

– Tudo bem, mas me deixe falar para ela.

O loiro aceitou, meio contrariado, mas o moreno deu um passo a frente. Dei um passo para trás, de imediato. Ah Deus, ele era tão lindo!

– E então? Vão continuar me enrolando ou vão contar?

– Ah sim, iremos. Não podemos fazer porque... porque estamos mortos, senhorita.

Mas...o quê?