Sozinha em casa? De pijamas eu percorria pela cozinha, ainda sonolenta.

Droga. Mamãe e papai estavam no quarto, ainda dormindo, podia agora, ouvir seus roncos baixos e tranquilos. O que de certa forma, me despertava um instinto suicida. Já que, ainda estava sozinha se fosse contar por consciência.

Não me lembrava do o que havia acontecido na noite anterior, no Baile. Sei que eu não tinha lutado pelo título de Rainha, desperdício, eu poderia ganhar facilmente.

Talvez meu narcisismo que não me permitira participar de tal evento ridículo, por saber que eu ganharia. Não valia a pena. Seria mais em conta me fingir de humilde.

Sempre assim. Sou a pior por isso me faço de melhor.

Sentei-me sobre a mesa com o enorme bolo de chocolate confeitado que mamãe fizera. Minha intenção era devorar tudo apenas de uma vez, eu iria vomitar aquilo depois mesmo.

Sorri miúdo enquanto colocava a primeira garfada na boca, a calda de chocolate derretendo sobre o canto da mesma. Eu estiquei a língua pensativa enquanto tentava limpar o resíduo que ali permanecia. Lembrava-me de nossa conversa ontem, no Baile, antes deu me entregar ao champanhe, naquela sensação de esquecer o passado.

Eu era conhecida como Homewrecker (Destruidora de Lares), aquela que se divertia com o coração alheio. Mas com ele fora diferente, ódio.

Hoje, eu o mando lembranças do inferno

Por todas as vezes que ele mentiu, me usou e esnobou... E me trocou por uma baixinha de voz irritante, daquelas que reclamam do cabelo e fazem dietas desnecessárias a fim de ganhar algum elogio como lucro.

Por isso que eu nunca, jamais, serei amiga de outras garotas, todas apenas falam mal de mim para esconder suas inseguranças.

Lamentável.

Agora eu já me balançava em cima da cadeira.

Para frente e para trás, para frente e para trás.

Mais uma vez o instinto suicida me chamando, dilatando minhas pupilas lentamente.

Se você soubesse meu querido, como eu vivi minha vida com medo.

Se você soubesse meu querido, como sei que meu tempo está próximo.

Eu faria de tudo para ser sempre a número um, como uma Primeira Dama, mesmo que vivendo apenas em meus sonhos, tentando lutar contra a realidade, na qual eu não sou um robô.

Quase cai da cadeira quando me dei conta que, Oh Deus! Eu vou morrer sozinha?

Um fleche passava pela minha cabeça. Gostaria que eu não tivesse sido tão ociosa durante minha vida, queimando bíblias aos dezesseis anos e... Mas esse não era o preço da opressão? E se por acaso algum dia eu explodisse? Aí eu morreria lentamente.

Você gostaria de estar com alguém como eu?

Dei a última grande garfada no bolo, vomitando tudo ali mesmo, em cima de meu colo. Soltei uma risada, histérica. Tão hipócrita... Cínica demais.

Por debaixo de todo o pano, o que eu era? Nada?

Nada. Vazio.

Apenas uma loira oxigenada que se gaba, fazendo de tudo para possuir a coroa, alimentando seu ego com admiração alheia de pessoas mais vazias que si mesma.

Levantei-me rapidamente assim que encontrei os olhos de minha mãe presenciando a cena que eu interpretava sozinha na cozinha, toda suja e um tanto insana.

Foi como um tiro. Senti-me ser descoberta, agora minha loucura era compartilhada. Ma para que eu teria medo? Agora, o tempo, a hora era essa, estava aqui, eu só precisava aceitar.

Não me importo se você acha que sou burra, não me importo com nada. Eu ainda sou a garota por quem todos mereciam morrer. Eu os mastigava e os cuspia como chiclete, e sempre foi assim e sempre será, mesmo que apenas em minha imaginação, mesmo que tudo seja da minha imaginação.

Lá eu seria a Primeira Dama, sempre vívida, e com o coração batendo radioativo.