Na Sua Estante escrita por MarianaSKilljoy


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

É... oi?
Eu tive a ideia de criar essa one a algum tempo, mas hoje a preguiça foi embora e me deixou escrever [:
Espero que gostem ...



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Era para ser só mais um sábado monótono, como todos os outros. Eu estava em meu quarto lendo um livro qualquer. Para mim só mais um conjunto de folhas com palavras insignificantes. Mas era o único passatempo. O silencio dominava o cômodo, até que escuto o toque do meu celular. Uma mensagem.


“Encontre-me no meu apartamento”



Era uma mensagem de Sam, meu melhor amigo. Nós nos conhecemos desde quando éramos crianças. Ambos sempre juntos, inseparáveis. Sempre que ele precisa, ali estou eu, consolando-o. E talvez essa seja a hora.



Levantei-me da cama. Fui em direção ao grande espelho qe uficava em frente a mesma. Vesti um moletom cinza e largo, assim como eu gosto. Prendi o meu cabelo em um coque alto, deixando a nunca de fora. Olhei novamente no espelho. Estava faltando algo. Peguei o batom vermelho sangue que estava na minha bolsa laranja e o passei. Sempre preferi cores mais chamativas nos lábios, pois dava contraste ao meu rosto claro, o que me fazia menos “zumbi”.



Peguei a chave do carro e a do apartamento e desci as escadas correndo. Liguei o carro e dirigi até a região norte da cidade.




 

Ao chegar no local marcado cumprimentei o porteiro. Era um senhor muito educado. Tinha cabelos grisalhos e vários rugas em seu rosto moreno.


Entrei no elevador, onde tocava uma música extremamente irritante, mas contagiante. Finalmente o elevador parou, abrindo a porta no oitavo andar.



Bati no apartamento 801. Nada. Bati de novo e vi que a porta estava levemente encostada. Ao entrar no apartamento me deparei com Sam sentado no sofá, com a cabeça entre as mãos. Depois vi cacos de vidro espalhados pelo carpete preto.



– O que aconteceu aqui? – me aproximei mais de Sam. Ele me olhou, parecia com raiva.



– Não deu certo.



– Não deu certo? Como assim? O que não deu certo? – coloquei uma de minhas mãos em seu ombro direito. Ele se levantou, indo em direção a grande janela.



– Você foi burra, Katy, muito burra! – deu uma risada. Ao meu ponto de vista, aquela risada era um tanto assustadora – Ela não caiu, entendeu?



– Burra? Mas o que aconteceu? – eu realmente não estava entendo aquilo. Na verdade, sempre foi quase impossível entender o que se passava na cabecinha dele. Sempre foi meio incompreensível.



– A Lauren, Katy! Eu disse que queria ela, e o que você fez? Estragou tudo! – o tom de voz dele se alterou – Você sempre estraga tudo! Eu amo a Lauren, sempre a amei!



E mais uma vez Sam estava perdido em seus sonhos. Aquilo sempre me deu medo, mas amigos são para isso, certo? Ele sempre teve uma queda por ela. Chegava a ser doentio. E o pior de tudo é que ele sempre vivia num mundo onde não dava para entrar, ao menos para dizer que eu existia.



Em alguns meses Sam me pedira para que conhecesse melhor Lauren. Ele sempre foi a única pessoa que me restava, e assim fazia tudo o que ele queria. Ele dissera que era amor o que sentia por ela, mas depois de algum tempo percebi que aquilo não se passava de uma obsessão, ou mais um de seus sonhos impossíveis. Talvez fosse um pouco de egoísmo, mas ele poderia ser feliz com ela assim como poderia ser comigo, assim como todos esses anos que fomos amigos. Não queria magoar ela, nem a ele. Então simplesmente desfiz o que havia conquistado para ele, para o nosso próprio bem.



Seus olhos castanhos e vazios me fitavam esperando uma resposta, mas nada saia da minha boca. Apenas fiquei ali, paralisada, olhando o homem que eu amo com uma “raiva” inútil de mim. Era como se eu fosse desabar. Não era a primeira vez que aquilo acontecia, mas eu sempre fui forte. Sempre vesti a minha armadura... Até que deixei uma lágrima escapar.



– Ah Katy, me poupe desse silencio! – se aproximou de mim, deixando nossos corpos a menos de cinquenta centímetros de distancia – Se eu quisesse esse silencio todo eu falaria com uma boneca. – apertou minha rosto – E você Katy, com essa carinha de boneca de porcelana... Poderia botar você na minha estante e eu talvez fosse poupado de todos esses seus erros.



Soltei-me de seus braços e procurei um dos cantos da sala. Ali me agachei, segurando os meus joelhos contra o meu rosto. Estava arrasada. Magoada demais para falar algo. Eu não esperava nada como isso vindo dele. Continuei ali, na mesma posição, tentando me recuperar. Sequei minhas lágrimas e olhei para onde Sam estava.



Ele encontrava-se sentado no sofá, olhando para o chão. Assim que percebeu que eu o fitava, olhou bem no fundo de meus olhos. Pude perceber que seu olhar pedia desculpas, mas sua mente não. Ele e seu mundinho assustador.



– Eu estou sozinho Katy. Era ela que deveria estar aqui, não você – suas palavras saíram como um sussurro.



– Ei, você não está sozinho – forcei um sorriso e levantei, aproximando-me dele. Agachei a fim de encontrar seus olhos, que continuavam com a mesma expressão vazia – Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu. Você não precisa dela ou de outras, você tem a mim – corei.



Encostei o meu nariz no dele e acariciei sua bochecha. Ali estavam os olhos castanhos contra os azuis. Fechei meus olhos. Queria sentir cada respiração dele, mas logo ele se levantou. Deu a mesma risada doentia de sempre.



– Você só pode estar louca! – tocou em meu queixo – Ah Katy – pude perceber que continuava rindo, mesmo percebendo que eu não estava bem – sabia que você fica tão bonitinha quando está corada? – zombou de mim



Aquilo foi a gota d’agua. Depois de anos guardei algo dentro de mim e quando finalmente revelo o que eu sinto, recebo isso em troca? Sequei brutamente as lágrimas que teimavam em escorrer e sai porta afora. Entrei no elevador que, para o meu azar, descia lentamente.



Minhas pernas estavam fracas, como se obrigassem a não ficar em pé. Sentei no chão gelado do elevador. Os segundos passavam lentamente para mim. E para o meu azar, tava tocando uma música lenta.



Finalmente o elevador chegou ao térreo. Fiquei encarando por longos segundos o velhinho na portaria, que me fitava preocupado. Talvez todo o ocorrido tenha servido de lição para mim. Me levantei e ergui meu queixo. Sai daquele elevador com as lágrimas ainda escorrendo, mas “forte”. O porteiro tentou me parar, mas só lhe disse algumas palavras:



– Não adianta nem me procurar.




 

Ali estava eu, sentada na ponta de um penhasco. Nos piores e nos melhores momentos da minha vida foi aqui que eu estive. Talvez porque seja o único lugar onde eu possa refletir. Ou talvez sonhar. Sonhar acordada e não ser impedida por ninguém.


Já estava no meu terceiro maço de cigarros desde a tarde anterior. Era como uma armadura para mim. Eu ainda não tinha voltado para casa e descartava isso da minha “lista de afazeres”. Eu não podia dizer que fui fraca, ou até mesmo burra, pois duvido que alguém fraco o suficiente conseguiria suportar por anos tudo o que suportei. Eu apenas cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam.



A brisa soou, balançando o meus cabelos longos e inundando o meu nariz com o cheiro da nicotina. Senti o meu celular vibrar, era ele. Não atendi. Continuei encarando o céu, que estava azulado e sem nuvens.



– Cigarros não vão te fazer melhorar, sabia? – apenas olhei para o lado, sem me movimentar. Sam estava sentado ao meu lado, encarando o céu também.



Meu coração acelerou, mas continuei intacta. Tarde demais, eu já estava morta por dentro. Pude ver que ele pegou um dos meus cigarros, acendendo-o.



– Desculpa



– Você já falou isso outras vezes – respondi friamente.



Tentou tocar em minhas mãos. Afastei-as.



– Errar não é pecado, exceto quando faz uma pessoa sangrar – as palavras saiam automaticamente da minha boca. Encarei o que havia embaixo do penhasco.



– Não era isso que eu queria que acontecesse, mas talvez...



– E essa abstinência uma hora vai passar – o interrompi.



Em um movimento rápido, soltei o peso do meu corpo pra frente, dando impulso. Só senti meu corpo leve, como se eu tivesse flutuando. Pude ver o rosto de Sam, que mantinha seus olhos apavorados fixados em mim. Dei um sorriso, talvez o meu último. Eu não sentiria mais dor.




 


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Notas finais do capítulo

Enfim, o que acharam?
Okay okay, ficou uma merda [:
Mereço reviews?



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