The Rest Of The Sun Belongs To Me escrita por Thaiana Snape


Capítulo 1
A time for love




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Hermione estava enfim cursando seu sétimo ano. Em condições normais, ela teria finalizado a escola meses antes, mas a guerra e suas consequências a retiraram do castelo que – estando ali ou não – sempre haveria de ser seu lar. Com a morte de Ron, e Harry e Ginny compensando o tempo que passaram longe um do outro, ela sentia a necessidade de ocupar a mente com algo produtivo. Sozinha.

Hogwarts, após alguns meses de trabalho de reconstrução exaustiva, estava novinha em folha. Ou quase. Parte dos jardins e terrenos a natureza ainda não se encarregara de recompor completamente, mas era questão de tempo.

A gryffindor esgueirava-se através da frondosa vegetação da Floresta Proibida. Estava realizando tarefas em favor de Slughorn para obtenção de créditos extras, sem contar que o professor já não estava em seus tempos mais áureos e juvenis para coletar materiais por ali e para horas tão exaustivas de caminhada.

Com pergaminho e pena em mãos ela riscava os ingredientes que obtinha para logo guardá-los em frasquinhos que, com um feitiço redutor, mantinha com cuidado nos bolsos. Faltavam apenas alguns tipos específicos de fungos, cogumelos raros a serem obtidos especificamente perto do espaço que Ararogue dominara em companhia da enorme quantidade de aranhas que no passado ameaçava qualquer estranho que arriscasse uma aproximação.

Com o final da guerra, no entanto, aquela região da escola tornara-se mais tranquila. Mesmo as criaturas mágicas mais ariscas viviam tempos de trégua com bruxos. Até unicórnios poderiam ser vistos com facilidade por ali.

Ela dispensara inclusive a gentileza da presença de Hagrid, que se dispusera a acompanhá-la. Respondeu-lhe educadamente que com um feitiço de localização não teria maiores problemas em guiar-se de volta ao Castelo caso houvesse imprevistos.

Durante o dia, caminhar por ali era quase... inofensivo.

Lembrou-se, irremediavelmente, de seu segundo ano e da aventura dos garotos no Ford Anglia do senhor Weasley, para escapar do perigo. Um sorriso triste traduziu-lhe a sensação de melancolia após as tantas situações enfrentadas pelo Trio de Ouro durante a guerra.

O sol ainda dava o ar de sua graça, mas os contornos alaranjados que o céu adotava e o colorido mais ameno sobre a copa das árvores indicavam-lhe que não demoraria muito mais a anoitecer.

Só mais esse ingrediente e retornaria, anotou mentalmente.

Venceu alguns rochedos que representavam a toca de Aragogue no passado e avistou os fungos ‘parasitas’ que procurava a crescer contra troncos envelhecidos de árvores.

Não somente aquilo atraiu sua atenção, contudo. Estreitando os olhos, observou que – pela reentrância de uma gruta perto dali – uma luz cintilante e prateada subjugava a escuridão por entre as pedras. Parecia muito com resquícios de um enorme patrono sem forma corpórea, mas era impossível que fosse um, ainda mais daquele tamanho. Há quanto tempo aquele espaço não era visitado por bruxos? Desde o dia da grande batalha, para ser mais exato.

Com a varinha em punho, seguiu adiante. Se realmente se tratasse de um patrono, bruxos puramente das trevas não seriam capazes de conjurá-los; então, em tese estaria a salvo. Seu ex-professor de Poções, Severus Snape, era uma exceção, certamente por algo mais forte em si domar as trevas em que estava imerso. Outro sorriso triste lhe veio à tona com a lembrança do slytherin.

Folhas secas eram trituradas pelas solas de seus sapatos no trajeto até a abertura em pedra, seus ouvidos seguiam alerta.

“Homenum Revelio!” – bradou. Aliviada, confirmou que estava sozinha. Por a floresta ser um local aberto, a efetividade do feitiço não era completa, mas, de qualquer modo, era um bom sinal ele nada ter denunciado.

Abaixou-se ligeiramente e, quando ultrapassou a passagem íngreme da gruta, sentiu um incômodo imediato nos olhos pela intensidade do amontoado luminoso que ela – por não encontrar melhor palavra – tomaria como incandescente e, ao que tudo indicava, inócuo.

Sentiu-se tola por isso, mas chegou mais perto. Lançou alguns feitiços em busca de rastros de Artes das Trevas, sem detectar nada outra vez.

Não contendo a curiosidade, esticou uma mão trêmula e hesitante na direção de seu centro. Mal a ponta do seu dedo indicador encontrou a massa de luz, ela sentiu-se imediatamente sugada em direção ao nada, sem qualquer possibilidade de reação.

Em questão de segundos, e numa ‘viagem’ uma dúzia de vezes mais incômoda e nauseante que a aparatação, Hermione voltou a sentir terra firme.

Era como se não houvesse saído do lugar, mas a queda em terra firme e os joelhos ralados acusavam que ela realmente havia sido atingida ou engolida por algo. Mais calma, e após recompor-se, viu-se no mesmo lugar de antes, mas o lado de fora denunciava que era dia, com o sol em seu ápice.

Não era final de tarde?

Olhando para trás, percebeu que o conteúdo disforme que tocara há pouco desaparecera como se por milagre.

Levantou-se, ajeitou a saia e, com um muxoxo, começou a fazer o caminho de volta até a escola, franzindo o cenho por nem tudo se encaixar no tremendo quebra-cabeça que seus pensamentos arquitetavam.

Procurou os frascos nos bolsos e eles ainda estavam lá. Ajeitando a mochila nas costas e respirando fundo, deu de ombros e continuou sua caminhada visando o castelo, curiosamente sem ver-se em apuros.

A Floresta Proibida é enorme, e decorar todas as suas veredas e detalhes era quase missão impossível, mas boa parte do que notava em seu percurso era um tanto diferente do que contemplara minutos antes.

Mas isso poderia ser somente impressão e neura sua, não poderia? Torcia, em seu íntimo, para que o fosse.

Surgindo à orla da floresta, avistou de longe os portões de carvalho com uma das bandas aberta. Decerto, alunos estiveram do lado de fora há pouco. Levantou os olhos para o céu outra vez e, pela localização do astro-rei, deduziu que era por volta do meio-dia.

“Santo Deus, onde é que eu vim parar?”

Resposta simples: em Hogwarts.

Resposta meramente incompleta, entretanto; afinal, apenas semblantes e silhuetas irreconhecíveis a cercavam ao cruzar a entrada.

Pelo calor que sentia e pelas quatro grandes mesas dispostas no salão principal, concluiu que realmente era a hora do almoço. Ao menos acertara algo! Sentiu seu estômago reclamar e concluiu que de barriga cheia poderia pensar melhor.

Sentou-se ao lado dos ‘colegas’ de Casa e, embora vários rostos desconhecidos se virassem em sua direção, ela disfarçou bem o fato de ser uma intrusa por ali.

O que lhes diria?

Oi, eu sou Hermione Granger e surgi do nada por um portal na Floresta Proibida. Como vão vocês?” – riu nervosamente do pensamento.

Almoçou do modo mais natural que pôde e estranhou que a compaixão gryffindor não tenha compelido os integrantes da Casa a se dirigirem a ela, mesmo que fosse para perguntar o seu nome ou as circunstâncias que a trouxeram a Hogwarts.

Agradeceu interiormente por todos estarem mais concentrados em seus pratos de comida do que nela, embora ouvisse cochichos e houvesse olhares na sua direção com alguma frequência. Ninguém parecia saber de onde viera.

Seu consolo era estar com a mochila enquanto vagava pela floresta em busca dos ingredientes, não ficaria tão deslocada quanto ao conteúdo escolar. Confiava que a escola seguisse as tradições quanto à indicação de livros por todos aqueles anos.

Foi uma das primeiras a deixar o salão principal e, serpenteando pelas passagens, sentiu-se sob o escrutínio de alguém. Oh, sim, ela facilmente percebia quando era observada.

Com a postura tensa, virou-se bruscamente. Sua primeira visão foi a de duas obsidianas anotando cada uma de suas ações. Não pôde evitar deixar-se prender por elas, como se possuíssem poder magnético.

“Quem é você?” – o estranho quebrou o silêncio, vendo com desgosto as cores vermelho e dourado tingirem as vestes dela.

“Desculpe, mas eu...” – tentou se esquivar dele, dando um passo à direita, mas o garoto obstruiu as passadas seguintes.

“Como pode explicar o fato de eu nunca tê-la visto por aqui?”

“Que dia é hoje?” – ela fingiu não ter ouvido a questão que ele lhe fizera, e sua réplica foi com outra.

Ele pareceu estranhar a pergunta, afinal aquele era, por conhecimento geral, o segundo dia de aula, mas respondeu.

“Dois de Setembro.”

“De que ano?”

“Você está ficando louca?!” – ele já começava a se impacientar.

“Apenas responda!” – desafiou-o, sem bem saber de onde tirara tanta ousadia.

“Com quem pensa que está f...?”

“Por favor.” – implorou não só com a voz, com o olhar também.

Ele bufou.

“Estamos em 1977. Mas o que voc...?”

Outra questão interrompida e que ficava sem resposta, afinal Hermione partia em disparada na direção contrária, com os pensamentos a mil.

“Onde pensa que está indo?” – ele bradou, mas ela já dobrava o corredor. Pensou em segui-la, mas prezava muito por sua reputação escolar, ainda mais porque dois tempos de Defesa Contra as Artes das Trevas o aguardavam. E não perderia tempo atrás de uma estranha mais do que o necessário, perderia?

Garota esquisita.

Após observar por alguns instantes a dobra do corredor por que ela sumira, ele deu meia-volta e fez seu caminho.

“Acalme-se, Hermione. Acalme-se.” – ela murmurava para si mesma enquanto seguia a passos rápidos no segundo andar. – “Você deve estar pirando. Aquele não era Severus Snape, não pode ser ele.” – definitivamente precisava encontrar Dumbledore, o único que parecia ter as soluções para qualquer problema. – “Por Deus, ele disse mesmo 1977?” – a informação martelou em sua mente. Mais um detalhe para aumentar seu desespero.

Ofegante, chegou à gárgula que guardava o escritório do diretor. Praguejando, percebeu que não sabia a senha.

Rezando para que naquela época o diretor mantivesse a tradição de usar doces como palavras-chave até sua sala, Hermione chutou o nome de todo tipo de doce bruxo possível e imaginável, dando graças aos Céus por ninguém notá-la por ali. Os alunos deveriam estar em sala agora, mantendo seus professores bem ocupados, por conseguinte. Sorte dela.

Já sentindo a garganta secar a as mãos formigarem em nervosismo, optou por aumentar o leque de opções, citando também doces trouxas.

“Pé-de-moleque.” – nada. – “Maria-mole.” – outra vez nada. – “Algodão doce.” – quando já ponderava em busca de outra opção, sobressaltou-se com o movimento da estátua de pedra.

Já não era sem tempo.

Enquanto os degraus moviam-se lentamente, levando-a escada acima, ela remoía sua ansiedade.

E agora: o que diria? Dumbledore acreditaria nela? Mordendo o lábio inferior, e aproveitando-se da porta entreaberta, espiou pela fresta e viu que o diretor aparentava tranquilidade ao acariciar as plumas da fênix, que – em toda sua glória – ostentava a penugem da cor de brasas e chamas alaranjadas.

“Parece que temos visita, Fawkes.” – a voz tranquila enunciou-se.

Encabulada, ela entrou na sala.

“Professor Dumbledore.” – murmurou e, numa breve reverência, curvou a cabeça.

“Oh, vejo que estou em desvantagem.” – sorriu baixinho, de modo acolhedor e simpático. – “A senhorita conhece meu nome, mas eu não sei quem a senhorita é.”

“Sou Hermione Jean Granger, senhor.”

“Uma aluna de Gryffindor, presumo eu pelas suas vestes; embora não me lembre de tê-la visto pelo castelo. Minerva tampouco me informou de transferências em sua Casa.”

“Diretor, eu...” – por mais estranho que isso soe, ela estava sem palavras. – “O que vou contar-lhe pode parecer absurdo, mas tenho a esperança de que confie em mim e não me ache demente.”

Ele novamente pareceu se divertir, rindo placidamente.

“A senhorita não me deu motivos para tal.” – apontou para uma poltrona e sentou-se em outra. – “Balas de limão?” – ofereceu.

“Não, senhor, obrigada.” – respirou fundo, ganhando tempo para organizar seus pensamentos.

“E então?”

Hermione foi direto ao ponto.

“Eu vim do futuro.” – a postura do ancião não pareceu se alterar, mas ela pôde ver um ar de surpresa nos olhos azuis sempre tão pacíficos do homem. – “De 1998, para ser mais exata.”

“Interessante...” – alisou a barba grisalha. – “Inusitado, mas interessante. Descobriram no futuro algum vira-tempo capaz de longas viagens temporais?”

“Na verdade não, senhor. O que me trouxe aqui, de fato, foi um acidente.”

“Um acidente.” – repetiu, retoricamente, ajustando os óculos em formato de meia-lua ao seu nariz torto.

“Sim, diretor, um mero acidente.”

“Pode explicar-me como tudo aconteceu, senhorita Granger?”

Ela assentiu e, mergulhando no olhar novamente plácido do diretor, contou como havia chegado à floresta e do inusitado ‘portal’ que a fizera retroceder tantos anos no tempo. Os detalhes pareceram convencê-lo.

“O que eu não compreendo, professor, é o porquê de ele me trazer exatamente para esta época. Não estou aqui por acaso, tenho certeza disso. Quem quer que o tenha posto ali tinha a plena intenção de retroceder até 1977; eu sinto.”

“Eu estava justamente avaliando as possibilidades, minha jovem.”

Ela assentiu e, mordendo o lábio inferior, se pronunciou.

“O senhor vai poder me ajudar, não vai?” – respirou fundo. – “Eu não posso ficar aqui, este não é o meu tempo!”

“Prometo ver uma solução o mais breve possível. A senhorita ficar aqui por mais de um ciclo solar, equivalente a um ano, seria perigoso além de qualquer limite.” – vendo os olhos dela marejarem em desesperança, mudou de assunto. – “Já tem ideia de como agirá enquanto estiver no castelo neste meio-tempo?”

“Ainda não havia pensado em algo muito convincente. A única coisa que me veio à cabeça foi comentar que eu era ensinada apenas por tutores, por opção dos meus pais, mas que precisaria fazer os NIEMs em Hogwarts.”

“Na verdade, a sua visão é muito perspicaz. Podemos reforçar esta informação com um boato de que o Ministério estaria relutante em permitir que nascidos trouxas que não tenham sido educados em escolas de magia realizem seus exames para formação. O motivo perfeito para que uma nova aluna se juntasse a nós neste instante.”

Hermione sorriu brilhantemente, e Dumbledore trouxe outro tópico à tona.

“E, neste pequeno intervalo, reconheceu alguém de seu convívio?” – ele continuou o diálogo, feliz por a tensão nos ombros dela desaparecer no decorrer da conversa.

“Não, diretor, eu...” – uma pausa. Lembrando-se do esbarrão no garoto pálido, mudou a linha de sua fala. – “Na verdade sim. Eu não tenho certeza se era realmente ele, mas eu suponho que o rapaz que eu vi há pouco era Severus Snape, de Slytherin.”

Albus pareceu repentinamente mais atento ao rumo da discussão dos detalhes, endireitando-se em seu assento.

“Oh, sim, o jovem Snape.” – disse, e ela assentiu. – “E a senhorita se incomoda em dizer como o conheceu em sua época, minha querida?”

“Ele foi meu professor de Poções aqui na escola.”

“E não é mais.” – não era exatamente uma pergunta.

“Não, senhor. O professor Slughorn assumiu o cargo no meu sexto ano.”

“Muito bem, mas e no...?” – encaminhava outra pergunta; contudo, ouviu batidinhas secas na porta, anunciando que aquela conversa teria de ficar para depois. – “Entre.”

Uma Minerva bem mais jovem do que Hermione lembrava-se entrou, célere, no aposento.

“Albus, enfim trouxe a listagem de...” – quando observou que ele estava acompanhado por uma desconhecida, interrompeu sua fala.

“Senhorita Granger, importa-se de conversarmos noutra hora?” – virou o rosto da direção de Hermione para a da vice-diretora. – “Minerva, minha querida, é imperativo que receba a senhorita aqui nas acomodações de Gryffindor por enquanto.”

“Do que está falando, Albus? Eu não me recordo da aluna, e eu mesma envio as cartas a todos eles!”

“A senhorita Granger está aqui a meu pedido.” – esta fala pareceu calar McGonagall. – “E por motivos que competem, no momento, somente a nós dois.”

“Senhor, eu não me importo que a professora McGonagall saiba.” – Hermione interpôs.

“Em momento oportuno ela saberá de tudo então, minha jovem. Por ora, descanse. Receberá ao final da tarde, por coruja, o cronograma de aulas para sua rotina escolar.”

“Obrigada, professor.” – levantou-se e, após uma ligeira mesura, aguardou do lado de fora do escritório durante aproximadamente sete minutos; até que a porta abriu-se outra vez.

“Siga-me, senhorita Granger.” – contrariada, a professora sempre austera fez junto a ela o caminho até a torre de sua Casa. A Mulher Gorda deu-lhes passagem imediata, embora murmurasse algo inteligível ao ver Minerva acompanhada por uma desconhecida.

“Aguarde aqui embaixo enquanto peço aos elfos que preparem um dormitório para a senhorita.”

Hermione apenas acenou com a cabeça, sentando-se na poltrona fofinha perto da lareira. A sala comunal de Gryffindor continuava aconchegante, do mesmo modo que ela recordava. Ou nem tanto, afinal estava sozinha, sem seus amigos.

No que ela se meteu?


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Notas finais do capítulo

- O título 'A Time For Love' (um tempo/uma época para o amor) vem de uma canção do músico britânico Jamie Cullum.

— Essa é uma prévia do que podemos esperar daqui para frente, espero que me acompanhem também na continuação da fanfic.

— No capítulo II ainda haverá um embasamento do plot, mas é questão de tempo para a história começar de verdade, se é que me entendem.