Cursed To Death escrita por anearlywitch


Capítulo 6
Choque




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sometimes I get the feeling she's watching over me

and other times I feel like I should go






"Pra baixo, pra cima. Pronto" ele coloca a pequena lanterna na mesa do lado da minha cama e levanta rapidamente. Eu não conseguia enxergar direito, esfregando meus olhos com os dedos, esperando não estar ficando cego. "Tudo pronto. Espero que o almoço seja bom hoje, você precisa se animar" o médico, Dr. Morgan, diz com um sorriso nos lábios enquanto coloca as mãos dentro dos bolsos de seu jaleco branco.

"É difícil se animar em um lugar desses" eu digo e me sento, sentindo uma dor forte nas costelas.

"Pega leve," ele aponta para onde eu pressionava com uma das mãos, tentando conter a dor.

"Como se eu pudesse pegar pesado"

***

"Não!" eu grito indignado, no acostamento. Eu olhava para o barranco, o carro despedaçado. Eu conseguia ver o sangue.

Eu olho enquanto tentam o reanimar. Ele estava coberto de sangue, os olhos fechados. Sua jaqueta – rasgada, vermelha e imunda – estava aberta com mãos pressionando. Eu não conseguia entender muito bem meus sentimentos - se é que eu tinha algum - naquele momento. Era doloroso, mas eu estava com muita raiva. Aquilo não deveria ter acontecido.

Eu chego mais perto. Havia dois homens discutindo, um deles pressionando as mãos no peito do Ryan. É tudo a sua culpa, um deles, que está de pé, diz, você é um idiota! A ambulância não vai chegar a tempo, ele grita, vão nos colocar na cadeia.

O maior, que tentava fazer uma reanimação, para e olha para o outro, os olhos preocupados. Nós temos que ir. Que Deus me perdoe pela alma dessa criança, o que estava acocado diz. Eles levantam e correm de volta para o caminhão, os pneus gritando enquanto eles saem com pressa.

"Ryan" eu coloco a mão na sua testa, apesar de não senti-la. "Droga, não era pra ter sido assim! Ryan!" eu grito, o corpo imóvel na minha frente.

Eu me aproximo e pressiono meus lábios na sua testa, esperando alguma reação mágica daqueles filmes da Disney acontecer. Dentro, bem dentro de mim, eu sentia esperança.

Ele ainda não estava respirando.

***

A mulher despeja um purê em cima do meu prato. O prato era de plástico, já que ninguém quer alguém se cortando com vidro. Nós só podíamos usar colheres, era mais seguro. A comida era picada cuidadosamente, sem nenhum pedaço muito grande. Nada que possa perfurar, cortar, machucar ou sequer ameaçar a saúde dessas 'preciosas pessoas', claro.

Eu pego minha bandeja-com-objetos-amigáveis e me sento em uma mesa isolada, no canto do refeitório. Eu sempre tentava ignorar todos na minha volta, mas na St. Andrews isso era impossível. Hoje, Jack, um baixinho, reclamava de ter algum alien o observando. Ele não ia comer a sopa; eles a tinham envenenado. Ele literalmente gritava e tentava se esconder de baixo da mesa, causando um caos no refeitório.

Semana passada foi a Linda que, impressionantemente, atacou uma enfermeira com uma colher.

Veja também: Molly, incêndio.

Carlos, ataque armado.

Maria, unicórnios.

Unicórnios.

E eu sentado, observando todos na minha volta, a cabeça baixa. Isso é injusto, eu sei, mas não tem nenhuma solução. Tudo o que eu posso fazer é sentar e comer esse delicioso purê. Esse é o ponto alto do dia, quando eu posso comer sozinho e em paz. Pseudo-paz. Enfim, posso me isolar sem criar nenhum problema.

Eu olho para frente e vejo os enfermeiros levando o Jack, que gritava sobre o alien atacar todos no refeitório, o rosto vermelho e os olhos arregalados.

"Eles vão atacar! Se escondam antes que seja tarde!" ele grita até sua voz ser abafada pela porta do refeitório.

Eu suspiro e volto a olhar para meu prato; aquilo não me abalava mais. Eu sinto uma pessoa se aproximando, e eu não preciso olhar para saber quem é.

"Você acredita em aliens?" ela diz.

"Você acha que eles querem nos destruir?"

"Tinha uma coisa estranha no meu purê"

"Você precisa se barbear".

Eu finalmente olho nos seus olhos azuis. Seu cabelo preto escorria sobre seus ombros, as bochechas repletas por manchinhas. Ela pisca e continua olhando para meu queixo. "Sua barba tá grande"

"Eu não posso usar objetos cortantes, Ana"

"Eles podem te ajudar!" ela diz e sorri. "Oh, vou pegar minha sobremesa. Quase hora da palestra!" ela bate pequenas palmas e levanta da minha mesa.

O refeitório tinha esvaziado depois da saída do Jack, e eu só conseguia ver a Ana saindo. Eu suspiro e coloco minha bandeja em cima de uma mesa.

Eu não queria assistir uma palestra. Eu não queria comer aquela comida. Eu não queria fazer nada daquilo. Eu queria minha casa, meu cachorro e a minha solidão.

No corredor, pessoas caminhavam - ou corriam, ou saltitavam, ou rastejavam - até o grande salão, que não era tão grande assim.

No meio do caminho, eu vejo uma mulher idosa conversando com um homem baixinho. Ele usava um jeans vermelho e seu cabelo era preto. Talvez eu estivesse mesmo louco, mas eu precisava olhar mais de perto.

"Olha, Marte é um lugar adorável, eu posso lhe afirmar. Garanto que os marcianos não iriam querer matar ninguém da terra" ele diz, e a mulher suspira de alívio. "Acho bom você ir, a palestra é sobre a internet"

Ela sorri e agradece, indo lentamente na direção em que todos estavam indo.

Eu me aproximo, tendo o cuidado de não parecer um maníaco - o que se encaixava perfeitamente, por sinal. Ele se vira e demora um tempo para finalmente sorrir para mim. "Ryan?"

"Desde a última vez que eu chequei" eu digo e o abraço. "O que você está fazendo aqui, Pete?"

"Longa história" ele diz e olha para ambos os lados do corredor. "Vamos sair daqui. Garanto que você não quer ver a palestra"

"Por favor, não" eu sorrio e começo a segui-lo.

***

O sol batia no meu rosto, fazendo que fosse necessário espremer meus olhos para enxergar o pequeno homem sentado do meu lado. O jardim da St. Andrews era bem bonito, com um pequeno caminho no meio. Havia bancos de madeira, casas para pássaros, espaços para leitura e principalmente muitas plantas.

Eu passo o meu pé pela grama, sentindo-a levemente por baixo do meu sapato. Eu limpo minha garganta. Pete suspira e começa. "Eu precisava fazer trabalho comunitário, de novo"

"O que você fez?" eu indago, uma sobrancelha erguida.

"Não importa," ele se vira no banco para olhar diretamente para mim, "o que você está fazendo aqui?"

Eu engulo saliva e olho para as tatuagens nos meus pulsos. "Eu sofri um acidente de carro há um mês"

"Eu sei"

"Bem," eu digo, tentando achar um modo de falar o que tinha acontecido, "no hospital eles acharam que eu tinha batido a cabeça muito forte e eu deveria ficar lá por um tempo"

"Mas você está aqui" ele diz, "dá pra falar logo o que aconteceu?"

"O que aconteceu foi... É que, eu... Eu vi o fantasma do Brendon, Pete"

Ele me fita, procurando algum traço de comédia, mas não encontra. Ele só olha para a grama no chão. "Ryan, não brinca com essas coisas"

"Você acha que eu brincaria com uma coisa dessas?" eu digo, começando a ficar irritado. "Ele também era meu amigo, e acho que muito mais do que seu"

Ele me olha, confuso, e depois permanece em silêncio, analisando as flores que estavam em um vaso na nossa frente. "Como?"

Eu conto para ele. A história da lareira, da cafeteira, da tábua ouija, do CD, do acidente. Eu conto como no hospital eles achavam que eu estava bem até eu começar a parecer desconfiado pelos corredores, e ouviram quando eu estava conversando com o Spencer, quando eu escutava a voz dele. Como eu não tinha nenhum familiar por perto, eles me resolveram trazer para cá, e estavam tentando me curar com uma terapia de choque. O problema, eu digo, é que eu não vejo o Brendon, eu sinto ele por perto. E é um pouco irritante, ninguém acreditar em você.

"Você tem certeza que tudo isso não foi uma grande coincidência?" ele pergunta.

"Você também?" eu digo, cruzando os braços.

"Não, eu acredito em você, Ryan. Eu só... Não acredito no fantasma em si"

Eu suspiro. "Eu não esperava que você acreditasse" eu olho para baixo. Eu não conseguia o olhar nos olhos; eu sentia, de alguma forma, envergonhado. Idiota.

O vento fica forte subitamente, meu cabelo cobrindo quase toda a minha visão. Eu tentava, em vão, passar os dedos e finalmente voltar a enxergar, pateticamente. Pete ri do meu lado.

"Eu sinto sua falta, Ross"

Eu o fito, um olhar de reprovação, mas depois de ver seu sorriso eu sorrio de volta. "Eu também, Wentz"

***

Pete teve que sair, mas fiquei sabendo que ele iria voltar na quinta feira que vem, o que era algo muito inesperado na minha vida nesse 'centro psiquiátrico'. A vida aqui era bem organizada e nada podia sair da rotina – acredite, eu tentei, não deu certo.

Aqui estava eu, na minha segunda sessão de eletroconvulsoterapia da semana. Aquilo me dava nos nervos, mas eu tinha que obedecer. Eu não podia me rebelar. Consequências.

O anestesista chega com a seringa na mão, aplicando a anestesia na dobra do meu braço, onde já havia várias marcas anteriores. Eu suspiro e procuro pensar na minha casa, procuro relaxar. Procuro não pensar no desconforto. Ele coloca a lanterna nos meus olhos novamente, e eu já estava grogue. Ele faz o sinal para o médico, que chega rapidamente. Ele coloca os aparelhos nas minhas têmporas, e eu fecho os olhos, esperando o barulho iminente.

***

Minha cama não era uma cama muito confortável, não comparada a minha cama. Mas naquele momento, era tudo o que eu queria: conforto e paz.

Eu troco de lado, e sentia que alguma coisa me incomodava. Eu finalmente abro os olhos e encontro a porta do banheiro aberta, convidativa, a meia luz iluminando pelo menos o caminho. Eu levanto e caminho lentamente, os olhos se acostumando com a luz, até o banheiro. Eu lavo o meu rosto, passando um pouco de água na nuca, tentando relaxar e recuperar o sono.

Eu decido voltar até a cama, ler alguma coisa, talvez. Eu então olho para a porta do meu quarto, que estava entreaberta, e pego um vulto de alguma coisa indo para a esquerda do corredor. Eu pisco uma vez, talvez duas, antes de decidir ir atrás dela e investigar.

O corredor estava deserto e escuro, todas as portas fechadas. Eu via, na esquina da esquerda, o vulto novamente. Eu o sigo, mais rapidamente agora, tentando ignorar o fato de que isso me dava muita dor de cabeça – efeito colateral amigável dos choques. Ao virar, eu encontro alguém sentado em cima do balcão de informações dos dormitórios, mas eu não conseguia enxergar seu rosto por culpa da escuridão. Eu me aproximo, e somente pela silhueta do corpo eu sabia quem era.

"Brendon" eu sussurro, incerto, desconfiado.

A pessoa olha para mim, e eu consigo afirmar que era ele. Ele estava, ainda, com seu moletom lavanda, igual a 2006. Eu sorrio, e a face dele se torna surpresa. "Você consegue me ver? Me ouvir?"

"Meu deus, sim!" eu digo, ainda baixo, para ele e me aproximo.

"Ryan, o que estão fazendo com você?" ele parece preocupado.

"Não importa. Eu tenho tantas perguntas. Brendon, eu quero te falar-"

Ele começa a se assustar novamente, sua boca se abria mas nada saia dela. Eu começo a me aproximar mais, mas enquanto eu o fazia, sua forma ia desaparecendo rapidamente, até eu me deparar com um balcão vazio.

"Brendon? Bren?"

Silêncio.

"Brendon!" eu falo, mais alto, quase gritando.

Eu me ajoelho e permaneço falando seu nome, implorando que voltasse. Eu estava desesperado. Nesse meio tempo, um enfermeiro chega e me puxa por ambos os braços. Ele olha para meu rosto cheio de lágrimas enquanto eu ainda gaguejava.

"Eu te a-amo, Bren, por favor" eu dizia por trás das lágrimas, enquanto o homem me levava para outra ala do prédio.



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Notas finais do capítulo

Enfim, eu ia postar antes mas me envolvi com uma outra fanfic e ah desculpa. E eu acho que vocês não esperavam por essa, não é? HAHA eu adoro esse tipo de coisa macabra(sim eu realmente pesquisei sobre a terapia de choques). Simplesmente adoro. Quero opiniões no que vocês acham que vai acontecer com o Ryan? Será que ele ficou louco? O que os choques fizeram com ele?
O que será do nosso herói?
ps: mudei a capa da fanfic e ficou pior que a outra desculpa mas eu desisto



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