'Esse lugar... Essa casa... Agora tudo isso... Era meu mundo.'

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– 3 anos depois -

A carruagem andava em constante linha reta, enquanto eu olhava as árvores que beiravam a estrada pela janela.
Esmagava um papel em minhas mãos, um papel qualquer. Talvez algum folheto de algum ateliê que eu rececebra na rua, ou alguma propaganda de alguma bombonier. O conteúdo do papel já não importava, já que em alguns segundo ele virara confete entre meus dedos.
O veículo para de súbito, e assim que volto meu olhar para a janela, vejo Jeremy abrindo a porta e logo estendendo-me a mão.
– Retornamos à mansão, Madame.
– S-Sim... - Falo ainda meio atônita. Seguro na mão de Jeremy e o mesmo me ajuda a sair da carruagem.
Subo a grande escadaria à minha frente a passos calmos. A grande porta do hall da mansão se abre, permitindo minha entrada.
– Bem-vinda de volta, Allana-sama. - Violett me recebia.
– Ah, sim... - Continuava a caminhar calmamente até a escadaria de acesso ao segundo andar, logo sendo seguida por Violett.
– Como foi a consulta da Senhora?
Parei nos primeiros degraus da escada e fiquei em silêncio por alguns instantes.
– Eu estou cansada, Violett. Irei me deitar um pouco. Por favor não me perturbe até a hora do jantar. - Respondi sem me virar e logo voltei a subir as escadas, escutando um 'Entendido, Allana-sama' um tanto preocupado ficar para trás.
Continuei o caminho até meu quarto, entrando e fechando a porta atrás de mim. Suspirei.
Retirei minhas luvas e toquei-as sobre a penteadeira, assim como meus brincos, me colar, e a presilha que pendia meus cabelos.
Parei um pouco na frente do espelho do móvel, fitando minha imagem refletida.
Quando se fala em aparência, 3 anos certamente fazem diferença. Eu estava realmente mudada. Os cabelos mais longos, a pele mais branca e macia, os lábios um tanto mais carnudos, os seios um pouco mais volumosos, a cintura mais fina, os quadris um pouco mais largos. Mesmo que ainda me restassem alguns traços infantis, eu certamente parecia uma mulher completa... Mulher completa huh...
Saí da frente do espelho, tentando afastar pensamentos. Caminhei até a cama e logo me deitei.
Fiquei a fitar o teto, com a mente vazia. Apenas vendo a cor clara acima de mim. Por alguns segundos estiquei um de meus braços para cima, como se tentasse encostar e de algum modo sentir aquela cor.
Recuei meu braço ao sentir minha mão gelar. Esfreguei-a na outra, tentando aquecê-la.
Ah, sim, o inverno estava chegando. Logo acabaria mais um ano. Mais um ano, e nada.
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Senti algo me tocar. Uma mão, acariciando minha cabeça carinhosamente no escuro. Ah, será que eu adormeci?
Abri meus olhos devagar, vendo a figura de um homem se formar à minha frente.
– Boa tarde, my lady. - Sebastian sorria para mim com o seu modo gentil e galante de ser.
– Ah, Sebastian. Já voltou? Tão cedo? - Perguntava enquanto me sentava na cama.
Ele pigarreia uma risada.
– Pelo contrário. Eu até mesmo ia pedir desculpas pelo meu atraso.
Não entendi o que ele dizia por alguns instantes, até virar meu olhar para a janela. Já estava quase anoitecendo.
– P-Perdão. Eu acabei dormindo demais. - Enrubeci, envergonhada.
– Não tem porquê se desculpar. - Ele sorria novamente.
Depois de algumas horas descemos para a sala de jantar. Realizamos a refeição calmamente, enquanto conversávamos.
Após o jantar fomos para a sala de música. Sebastian fazia-me tocar para ele constantemente. Não que eu reclamasse. Adorava tocar piano, e eu ficava muito feliz dele gostar tanto do meu tocar.
Ah, Sebastian... Se você soubesse o quanto você me faz bem...
Depois de algum tempo subimos para nosso quarto. Nos lavamos e já nos preparávamos para nos deitar.
Estava sentada na cama, recostada na cabeceira, desembaraçando algumas mechas de meus cabelos. Sebastian estava em frente à cama, de costas, colocando seus trajes de dormir.
– Allana. - Chamou-me ele ainda de costas, terminando de se vestir.
– Sim? - Perguntei indiferente, ainda escovando meus cabelos.
– ... Como foi a consulta hoje?
Parei na mesma hora. Minha mão apertou o cabo da escova com força, mas logo largou-a encima da cômoda, ao lado da cama.
Sebastian virou-se de frente para mim.
– Allana?
Encolhi minhas pernas, trazendo meus joelhos de encontro ao meu peito. Eu não conseguia olhar nos olhos dele.
Sebastian aproximou-se e sentou ao meu lado, encostando sua mão na minha.
– Allana, por favor me responda.
Engoli em seco.
– Eu... Não sei... Qual é meu problema. - Falei pausadamente.
Sebastian ficou quieto, deixando que eu continuasse.
– A médica disse que eu não tenho nada de errado, que está tudo em ordem no meu corpo. E o médico disse que também não há nada de errada com você, Sebastian... - Minha voz saía falha.
Ele continuou calado.
– Então por que... - Tentava controlar minhas lágrimas - ... Por que eu não consigo gerar um filho?!
Abaixei a cabeça, deixando as lágrimas escorrerem por minha face, soluçando.
Sebastian segurou meu rosto com as duas mãos e virou-o para si, mas minha cabeça continuava baixa.
– Allana. - Ele me chamou.
Levantei meu rosto enfim, e poucos milésimos de segundos depois seus lábios estavam colados aos meus, beijando-me terna e apaixonadamente. Ah, esses beijos que me desconectam do mundo. Voltei à realidade quando nossos lábios se separaram.
– Por favor me escute, Allana. - Seus olhos estavam fixos nos meus. - Eu não quero mais ver você desse jeito por causa desse assunto.
– Mas...
– Eu não me importo se não pode gerar um herdeiro. Eu não preciso de um filho para ser feliz. Eu já tenho você, meu amor.
Permaneci calada. Sebastian deitou-se na cama trazendo-me consigo, secando minhas lágrimas e depositando um beijo em minha testa.
– Durma bem, minha doce dama. - Ele sussura em meu ouvido, aconchegando-me em seus braços.
Não interessa o quanto eu tentasse, eu não dormiria bem naquela noite. Pois uma única palavra ressoava incansavelmente em minha cabeça:

'Mentiroso'