76th Hunger Games escrita por Liz Ambrose


Capítulo 1
E Que a Maldita Sorte Esteja Sempre ao Seu Lado




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/222667/chapter/1

Acordo com o barulho de alguma coisa caindo. Provavelmente é uma daquelas panelas de barro velhas. Olho para o lado e encontro a cama da minha irmã Lynia vazia. Olho ao redor do quarto, e vejo que meu irmão Hugo e minha mãe ainda dormem profundamente.

Levanto-me, sentindo minhas roupas suadas. O calor realmente estava me matando de madrugada. No distrito 4 não temos ventilação nas casas, mas bem que podíamos ter algumas coisas para diminuir o calor. Vários idosos morrem por isso constantemente. Ando até a cozinha, meus passos fazem um barulho irritante no piso de madeira. Para na porta ao ver minha irmã juntando os cacos de uma panela quebrada. O cabelo castanho pendendo sobre o rosto pequeno. Ela só tem nove anos, mas já trabalha na peixaria da nossa família. E é completamente dependente de si, de uma maneira que chega a ser assustadora.

— Quer ajuda? – Pergunto. Vou até ela pegando os pedaços da panela de suas mãos.

— Desculpa, eu não queria te acordar.

Sua voz tinha um tom desapontado. Aqueles olhinhos verdes suplicando por algum tipo de punição pelo que tinha feito. Algo que nem cogito.

Lynia tem sérios problemas quanto a isso. Desde que ela viu um dos colegas de classe sendo massacrado pelos outros da sala, ela acha agora que tudo deve ter uma punição. Minha mãe me disse uma vez, que antes da guerra, tudo era bem assim. Punições eram constantes em todos os distritos. Assim como a fome.

— Não tem problema, eu já estava acordando para ir caçar. – Digo dando um sorriso. Termino de ajuda-la a limpar a bagunça que fez, e falo para ir voltar a dormir. Ela pequena e obediente me da um beijo no rosto e vai para o quarto.

Vou até o armário onde minha mãe guarda os trajes para caçar e pescar. Pego minha bolsa de caça, escondendo algumas facas e folhas comestíveis. Com aquele calor, seria um milagre eu conseguir algum animal pelas florestas do 4.

Saio da minha casa, que fica nas periferias da cidade. Um lugar meio abandonado com o tempo, ali só vivia os pescadores e os pobres. Minha casa parecia ser a única inteira por ali, outras estavam caindo aos pedaços ou completamente destruídas e abandonadas. Meu pai uma vez falou que isso são as cicatrizes da guerra.Pai… Já faz uns três anos desde que ele desapareceu em alto mar. Sinto falta dele. Todos os dias, quando saio de casa, olho para o mar que fica praticamente a minha porta. Imaginando se o barco dele não está retornando.

Caminho pelas ruas pouco movimentadas. Atravessando praticamente a cidade toda, até chegar à aldeia dos vitoriosos. As únicas pessoas que moram ali agora são as pessoas muito ricas da cidade, e o meu melhor amigo Jev Odair. Filho da vitoriosa e maluca Annie, e de Finnick. Que a quinze anos atrás foi morto na guerra. Jev nunca conheceu o pai, mas mesmo assim tem muito orgulho dele.

Eu o encontro encostado em uma palmeira, os olhos fixos em mim com um sorriso metido no rosto. Seu cabelo negro está despenteado, e os olhos verdes da cor das algas marinhas me fixando enquanto chego perto.

— Demorou demais, pensei que a mare tinha levado você. – Disse rindo da própria piada. Ele tem a tendência de ser piadista e humorista nessas horas.

— Minha irmã quebrou uma panela em casa, tive que ajudar a limpar a bagunça.

Caminhamos lado a lado até a cerca que divide o 4. Ultimamente ela tem ficado aberta, já que a caça foi legalizada há alguns anos atrás. Só que poucos se arriscam nessa floresta traiçoeira.

— Então hoje é o dia… – Fala em ele, em tom cansado.

— Infelizmente.

Ambos sabíamos. A declaração da presidente da capital mexeu com muitos dos distritos. Os jogos vorazes iriam voltar, e hoje seria o dia da colheita. Os nomes de todas as crianças iriam estar na urna. Isso incluía o meu e o de Hugo. Todos do distrito estão em silencio, ambos com medo do que esta por vir, outros ainda não acreditando no que vai acontecer. Muitos estão revoltados, mas poucos estão tentando fazer protesto.

— Está com medo? – Perguntou ele quando estávamos próximo a cerca.

Balanço a cabeça.

— Você sabe que sim. – Chuto uma pedra no meu caminho – Eu sou a maior azarada de todo distrito, é bem provável que meu nome seja sorteado.

Jev belisca meu braço suavemente.

— Que nada, vou ser seu amuleto da sorte. Assim você vai a lugar algum, e se você for… – Ele para na minha frente, com o rosto agora serio. – Eu vou com você.

Tenho que rir. Eu sabia que ele não poderia ser sorteado na colheita, seu nome não estaria lá. Era filho de um vitorioso, tinha todo o privilegio de um nome descartado pela urna da morte. Eu e meu irmão a nomeamos assim durante esses dias.

— Okay senhor lutador, vamos logo caçar logo. Ainda temos que pescar.

Jev não disse mais nada, só me acompanhou de bom grado na caça. Entramos na floresta sem medo, encontrando alguns poucos caçadores que se arriscavam por ali. Foi quando me dei conta, tinha esquecido o arco e flecha em casa.

— Você quer que eu vá buscar? – Pergunta Jev.

Balanço a cabeça negativamente. Improviso com as facas que havia levado, entregando uma a ele. Jev era bom com qualquer tipo de arma, sua mãe o treinava desde pequeno. Com lanças, faca, luta corpo a corpo e até um pouco de arco e flecha. Na verdade, eu sou sua professora em arco atualmente. Meu pai me ensinara quando tinha quatro anos. Consigo acertar alguns macacos pequenos nas mais altas arvores. Hoje, ensino Jev. Que particularmente não sabe segurar a flecha na posição certa.

Caçamos até o sol ficar quase a pino. Com meia dúzia de macacos, frutas, ervas e algumas galinhas perdidas, voltamos para minha casa. Deixando a comida com minha mãe que iria fazer um caldo gelado de galinha com as ervas que tinha colhido.

Pego minha lança e vou ajudar Jev a levar o velho barquinho para a praia. Meu pai tinha feito esse barco para mim a muito tempo atrás, por isso que dois nele tudo ficava meio apertado. Já na água, Jev rema até uma certa distancia da praia.

— Água muito gelada? – Pergunta ele. Coloco a mão na água. Sinto as ondar baterem em meu pulso. Não está quente, pelo contrario. Está gelada e gostosa. Era um milagre a água ficar desse jeito.

— Gelada. Boa até.

Jev murmura alguma coisa inaudível e volta a remar. Para quando a praia já está ficando muito longe. Pega a lança e sem mais avisos, se joga no mar.

Fico observando até ele sumir de vista nas profundezas. Com o passar de alguns minutos, sem nada para fazer, já que ele pegou minha lança, me jogo na água. Sentindo o frio tirar o calor do meu corpo. Fico boiando por um longo tempo.

Estou tão relaxada, que nem noto Jev flutuando ao meu lado com um pedaço de alga na boca e a lança com cinco peixes grandes.

— Tem mais alga ai? – Pergunto enquanto nado até o barco e subo nele rapidamente.

Ele joga uma alga na minha boca

— Esqueci de te dizer… – Fala ele subindo no barco.

— O que senhor pescador? – Começo a rir da famosa cara de pescador sexy que ele faz.

— Feliz jogos vorazes… – Ele pisca.

— E que a sorte esteja sempre ao seu lado – Termino com o velho sotaque da capital.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(Mais sobre a fanfic e personagens em: the-hunger-fanfics.tumblr