Tricks of Fate escrita por Sali


Capítulo 43
"E se... A gente se casasse?"


Notas iniciais do capítulo

Heey moças.
Bom, eu estou realmente triste, mas vou deixar as despedidas para as notas finais.
Enjoy it ^^



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– Mamãe! Mamãe! – Ainda de olhos fechados, ouvi aquela vozinha infantil junto ao som surdo dos passinhos no carpete.

Segundos depois senti o impacto na cama de casal.

– Bom dia, meu amor! – Madison exclamou, sentando-se na cama.

Eu fiz o mesmo, e assim consegui ver a garotinha de quase cinco anos ajoelhada na cama, com um sorriso infantil de dentinhos quadrados e covinhas e os enormes olhos cinzentos – apenas um pouco mais claros que os de Madison – brilhando.

– Bom dia, princesinha! – Sorri. – O que aconteceu? São oito horas agora! – Chequei o relógio na mesinha de cabeceira.

– A neve, mamãe! A neve chegou! – Ela exclamou com o seu fofo sotaque britânico, pulando na cama sobre os joelhos e jogando uma mecha do cabelo castanho e ondulado para trás.  

Olhei para a janela enquanto Madison abria as cortinas, mostrando os pequenos flocos brancos tocando o vidro com delicadeza.

– A gente vai ao parque, não vai? Vocês prometeram! – Ela falou, olhando ansiosamente do meu rosto para o de Maddy.

– Prometemos? – Franzi o cenho, fingindo desentendimento e vendo-a olhar para Maddy com tanto desespero como se eu houvesse dito que o Papai Noel não existe.

– É claro que prometemos, Rosie! – Maddy sorriu, sentando-se novamente na cama. – Sua mãe está só brincando com você. – Me lançou um olhar feio. – E sabe o que podemos fazer com ela?

– Não. O que? – Rosie olhou para ela, que se abaixou e encostou os lábios em sua orelha, sussurrando algo que eu não pude ouvir e piscando logo depois.

De repente, as duas tinham sorrisos enigmáticos no rosto.

– Atacar! – Maddy gritou e as duas pularam em cima de mim, fazendo cócegas sem parar.

Logo eu estava sem fôlego, implorando para parar entre risos desesperados.

– A gente vai parar. Quando você disser que vamos ao parque hoje! – Rosie exclamou.

– Ok... ok... a gente.... vai... ao parque... hoje. – Arquejei e as duas pararam, comemorando e batendo palmas.

– Nós vamos agora? – A pequena perguntou.

Não resisti e soltei uma risada.

– Claro que sim, Rosie. Nós vamos só arrumar a cama e trocar de roupa, ok?  – Maddy respondeu, acariciando o rosto da pequena.

Rosie assentiu, desviando os enormes olhos cinzentos para mim.

– A mamãe Vick pode escolher a minha roupa hoje? – Ela pediu e eu sorri.  

– Posso sim, pequena. Vamos lá. – Respondi e me levantei da cama.

Rosie ia fazer o mesmo, mas eu levantei-a do chão, colocando-a sobre meu ombro. Diante disso ela deu um gritinho agudo e começou a bater com os punhos pequenos nas minhas costas, dando gargalhadas em meio a gritos de "mamãe!". Não resisti e comecei a rir, andando em direção à porta do quarto. Mas Madison interrompeu a brincadeira.

– Victoria! – Ela exclamou. – Para com essas brincadeiras e coloca a Rosie no chão. Ela não é brinquedo.

Revirei os olhos e desci a pequena para o meu colo, dando-lhe um beijo na bochecha antes de descê-la de volta ao chão.

– Ah, mamãe. Eu quero ir lá em cima de novo!

Sorri e me ajoelhei diante dela.

– Depois a gente brinca, princesa. Agora a gente tem que ir trocar de roupa. Não é você que quer ir ao parque? – Arrumei rapidamente o seu cabelo.

Ela sorriu e assentiu.

– Então vai lá pro seu quarto e vai decidindo a roupa que você quer, ok? Eu vou só falar com a Maddy e te sigo.

Ela assentiu novamente e foi correndo para fora do quarto.

– Você não cresce, não é, Vick? – Maddy perguntou com um sorriso, logo que Rosie desapareceu na curva do corredor.

– E para quê crescer? – Perguntei, sorrindo e abraçando-a pela cintura.

Ela deu uma risada baixa e balançou a cabeça, pressionando os lábios nos meus. Beijei-a demoradamente, acariciando suas costas e os cabelos, que agora, aos trinta e um anos,  possuíam um corte chanel, na altura do pescoço.

Logo que nos separamos, me desvencilhei do abraço.

– Bom, é melhor eu ir lá arrumar as roupas da pequena, se não daqui a pouco ela volta aqui e me arrasta.

Maddy riu.

– Tudo bem. Vai lá.

Roubei-lhe um selinho rápido e saí do quarto, seguindo o caminho do quarto de Rosie.

Havia se passado doze anos desde que eu, Madison, Tom e Yuri saíramos de  Fort Lauderdale para estudar em Oxford, e uma grande quantidade de coisas acontecera desde então.

Eu e Maddy nos mudamos para Londres, e ela, aos vinte e cinco anos,  havia se tornado uma das melhores astrônomas da Universidade de Londres – e provavelmente a mais famosa, por ser tão jovem e do sexo feminino.

Eu me especializara em Assistência Social, como eram meus planos iniciais, e comecei a trabalhar em uma casa de auxílio a crianças que haviam perdido os pais, assim como eu, mas que não tinham outros parentes próximos. Inicialmente eu apenas fazia as vezes de assistente da dona dali, até o dia em que uma criança se interessou pelo skate que eu trazia na mochila. E assim eu comecei a ensinar crianças a andar de skate, e quando a gerente do local teve de se mudar de cidade, eu assumi aquele cargo.

– Mamãe, você deixa eu vestir esse casaco? – A voz de Rosie me despertou, indicando um casaco xadrez de vermelho e azul escuro com capuz pendurado em seu armário. – Ele é igual ao seu, e eu acho seu casaco tão bonito!

Sorri e baguncei seus cabelos, o que a fez fazer uma careta engraçada.

– Claro, pequena.  E o que você quer vestir com ele? – Perguntei, enquanto tirava o casaco do cabide.

Rosie cruzou os braços, com uma cara pensativa.

– Hm... Não sei. – Disse, por fim.

Dei uma risada e abri a outra porta do seu armário, tirando dali uma camiseta branca com um coração vermelho na frente e jeans.

– Que tal? – Perguntei à pequena, que me deu um sorriso de satisfação.

– Igual a você, mamãe.

Sorri.

– Sim, princesa. Igual a mim. – Concordei e ajudei-lhe a se vestir com as roupas escolhidas, acrescentando camisas de manga comprida por baixo e um pequeno cachecol, toucas e luvas.

Depois de vestida, comecei a pentear seus cabelos castanhos e brilhantes, lembrando-me de quando ela nascera.

Eu e Maddy havíamos levado muito tempo para tomar aquela decisão. Ela queria engravidar, e eu também gostaria de ter filhos, mas nós sabíamos que não era algo tão simples. Decidimo-nos então quando Maddy tinha acabado de completar vinte e sete anos. Na universidade, seu trabalho estava estável, e eu tinha acabado de contratar novos empregados para a casa de crianças. E então procuramos uma clínica de inseminação artificial. Rosie foi concebida com óvulos meus e cresceu no ventre de Madison, o que a tornava nossa filha também geneticamente.

– A princesa está pronta? – Maddy apareceu na porta do quarto, sorrindo. Ela estava vestida com jeans, um suéter branco de mangas compridas e listras pretas, uma jaqueta verde-acinzentada e botas. No pescoço se enrolava um cachecol cinza, e luvas pendiam do bolso do casaco.

Fiquei por alguns instantes distraída com a beleza da minha namorada, até que Rosie saltou do banco onde estava sentada e correu até ela, me despertando.

– Você está linda, meu amor. – Maddy sorriu, fazendo a pequena girar. – Quem escolheu a sua roupa?

– Fui eu! – Ela sorriu. – Na verdade, eu escolhi esse casaco, e a mamãe Vick escolheu o resto.

– E agora eu escolherei a minha roupa, se me permitem. – Me levantei e deixei a escova de cabelos que estava na minha mão sobre a penteadeira. – As duas estão lindas, eu também preciso ficar.

– Mas você já é linda, mamãe. – Rosie, que estava no colo de Maddy, disse.

– Verdade. A mais linda do mundo. – Maddy concordou, acariciando os cabelos da pequena.

Eu sorri e andei até elas, dando um beijo na testa de Rosie e outro nos lábios de Maddy.

– Mas não é legal sair de pijama na rua, então eu vou me trocar.

– E nós vamos arrumar o café da manhã! – Maddy exclamou e eu ri, enquanto caminhava em direção ao nosso quarto.

Depois de vestida, segui até a cozinha e me sentei com Maddy e Rosie, tomando o café da manhã que as duas arrumaram.

– Rosie, Yuri me ligou ontem. Ele disse que os gatinhos estão quase desmamando, e logo você poderá pegar o seu.

–  Fumaça! – A pequena exclamou, batendo palmas e nos fazendo rir.

Yuri e Tom não voltaram para a Flórida depois de se formarem, e fixaram residência em uma casa em Londres, do outro lado da cidade. Tom abrira sua clínica veterinária e Yuri trabalhava como botânico, e a casa onde o casal morava era uma confusão de plantas e cachorros, gatos, pássaros e outros animais de estimação. Um desses gatos havia acabado de ter filhotes, e o "Tio Tom" de Rosie havia prometido que lhe daria um dos gatinhos cinzentos, que ela já chamara Fumaça.

– Tem certeza que está quente, Rosie? Eu não quero que você fique doente. – Maddy ajoelhara-se na frente da nossa filha, depois que termináramos de comer.

A pequena revirou os olhos, em um ato tão meu que até me fez rir.

– Sim, mamãe. Eu não estou com frio e não vou ficar doente.

Maddy sorriu.

– Tudo bem. Então vamos?

Rosie sorriu e assentiu quase freneticamente, enquanto saíamos do apartamento.

Outras coisas que haviam mudado muito ao longo dos anos eram a vida de Robert e o meu pai, Jordan. Robert se casara com Miranda pouco depois que entramos em Oxford, e desde então os dois viviam viajando pelo mundo – graças ao trabalho dele – e conhecendo outras culturas e pessoas, sem nunca fixar residência.

Jordan agora possuía os cabelos acinzentados – quase brancos  – e, desde que uma pneumonia mal-curada o havia deixado internado por um longo tempo, seu vigor não era mais o mesmo. Ele também deixara de ser o CEO da sua empresa, vendendo sessenta por cento das ações dela para outra pessoa e, virando assim, um sócio minoritário, que apenas participava das reuniões e ajudava a tomar decisões importantes.

 A vantagem disso era que a mulher que comprara as ações fora Cecília Björn, uma sueca de cinquenta e seis anos que mais parecia ter vinte e três, tamanho seu vigor e a ousadia, e ela havia também tomado o coração de Jordan. E, desde então, os dois namoravam. E todo o ânimo, a agitação e a positividade de Cecília haviam tornado o meu pai uma pessoa muito melhor, e tornado também mais intrínsecas minhas relações com ele, e também, as relações de Rosie com o avô.

– Chegamos! – Maddy exclamou, no momento em que chegamos ao enorme parque quase no centro de Londres, que tinha uma incrível paisagem invernal.

As enormes árvores pareciam adormecidas, tendo como cobertor a neve macia que se aninhava nos galhos mais grossos e em sua raiz. Alguns dos troncos castanhos – assim como os prédios ao redor – eram enfeitados por luzinhas coloridas, que se acenderiam durante a noite para celebrar o natal que viria. Todo o chão, que em outras épocas do ano era coberto de grama verde e fresca, recortada por alguns caminhos de concreto para se caminhar, agora estava também coberto pelo frio e alvo manto da neve, onde a sola das nossas botas se enterrava e os milhares de bonecos de neve feitos pelas crianças repousavam.

– Eu quero fazer um boneco de neve! – Rosie exclamou, correndo em direção à neve fofa e recém-caída.

– Rosie, cuidado, não corre. – Maddy tentou avisar, mas a pequena já estava muito à frente, e o que nos restou foi correr atrás dela.

Logo, nos colocamos a construir o boneco de neve, mas pouco tempo depois outras três crianças chegaram e acompanharam Rosie, nos substituindo.

Eu e Maddy nos levantamos do chão e limpamos a neve das roupas, indo sentar em um banco próximo, de onde era possível assistir Rosie, que brincava e conversava com as outras crianças, sempre com seu sorriso típico nos lábios.

Abracei Madison de lado e ela sorriu enquanto me abraçava mais forte, tentando conter assim o frio que vinha. Rosie corria com as crianças, em busca de pequenos gravetos para fazer os braços do boneco. Os cabelos que caíam da touca eram soprados pelo vento, e o frio fazia seu rosto ficar rosado. O vento e o frio faziam o mesmo com Maddy, ao meu lado, e eu podia afirmar que elas eram muito parecidas. A mulher que, mesmo depois de dezesseis anos, eu ainda amava como aos quatorze e a filha que ela havia gerado.

– Eu amo tanto, tanto vocês. – As palavras saíram da minha boca antes que eu permitisse, fazendo Maddy sorrir.

– Eu também te amo, Vick. Você e a nossa pequena.

Sorri e acariciei-lhe o rosto.

– Maddy...

– Sim? – Ela me olhou.

– E se... A gente se casasse?


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Notas finais do capítulo

Então... É isso.
C'est fini. It's over. Terminó. È conclusa. Acabou.
Sim, amores. Depois de um ano, dois meses e dezesseis dias, Tricks of Fate, oficialmente, chegou ao seu fim.
Ai mds, eu tô triste demais, gente. Vocês não estão entendendo. Eu não achei que seria tão ruim, mas foi.
Vocês já devem ter lido isso em outras notas finais de últimos capítulos, mas eu vou sentir muita falta disso aqui. Muita mesmo.
Saibam que eu vou sentir falta de ver lá nas minhas Atualizações o aviso que "Fulano de Tal deixou um comentário em Tricks of Fate", vou sentir falta de escrever sobre a Victoria e a Madison, sentir falta de compartilhar os dramas dela e ver, pelos reviews, que todas as leitoras também sentiam o mesmo.
Tricks of Fate (que começou como "Perfect Life") foi a primeira long-fic yuri que eu escrevi, e foi uma experiência muito legal, que me fez me apaixonar por esse gênero. Essa fic também me proporcionou muitas coisas boas, como por exemplo as amigas fodas que ainda continuam falando comigo e que são realmente amigas, mesmo que nós apenas nos conheçamos pela internet sim Bia, Baunilha e Dark, é de vocês mesmas que eu tô falando , além de todas as outras moças que não são oficialmente amigas, mas que também estão no meu coração, e que eu espero ter pelo menos algumas de vocês nas minhas outras e futuras fics.
Enfim. Sem mais delongas ou enrolações, vamos aqui, postar, pela última vez, a listinha de pessoas que comentaram o último capítulo.
» Hachimenroppi
» Baunilha
» marinabs18
» Bia
» Samyni
» Minit0ddy
» Baka Senpai
» kikisampaio (essa moça comentou em TODOS os capítulos. Uma viva pra ela o/ o/)
» Emsvf (a HeeyEmily, que voltou de nick novo)
» Nataly Agron.
Muito obrigada, meninas, a todas vocês. E muito obrigada também a todas as outras que deixaram reviews em outros capítulos, mas que não estão mais aqui. Obrigada também às lindas que recomendaram, e às perfeitas que favoritaram. E até às leitoras e leitores fantasmas que nunca apareceram (eu sei que vocês estão por aí, rum), mas que leram. Bom, fico feliz por terem reservado um pouquinho do tempo de vocês para ler as doideiras que saíram da minha cabeça.
E ok. Vou parar de falar, porque já deu. Eu não estou morrendo (mas uma parte de mim está Drama Queen feelings, oi?), e eu tenho que ficar feliz, porque foi um trabalho e bota trabalho nisso, foram quarenta e três capítulos que chegou ao fim, e um ótimo fim, e que se foda a modéstia.
E é isso.
Até mais ^^