– Já pegou tudo, Victoria? – Era Jordan que me perguntava, enquanto carregava minhas duas malas para dentro de um taxi.

– Sim. – Respondi, enfiando os braços nas alças da mochila.

Um turbilhão de sentimentos passava por mim naquele momento, mas nenhum deles valia a pena ser descrito. Ou talvez valesse, e eu apenas não conseguia determiná-los o bastante para tornar isso algo palpável.

De qualquer forma, poderia haver raiva, angústia ou tristeza ali. Mas tudo parecia estar entorpecido, como se houvesse um véu cobrindo, deixando tudo meio atenuado. Ou se não eu estava com preguiça de sentir aquilo, então deixei em segundo plano enquanto observava a paisagem de Fort Lauderdale pela janela do Camaro.

Jordan definitivamente desistira de tentar conversar comigo. E a escolha dele era totalmente sensata, levando em conta as circunstâncias do momento.

O caminho até o aeroporto foi inteiramente silencioso. Minha mente me torturava, exibindo imagens de tudo pelo que eu passara até então.

Logo chegamos ao local e, para a minha surpresa, estavam todos lá, junto a Robert. Eles me explicaram que havia sido uma ideia de Madison, mas meu tio a colocara em prática.

Eu não consegui chorar ao abraçar cada uma das sete pessoas que realmente importavam para mim. A dor esmagadora que tomava conta do meu peito não deixou as lágrimas saírem, mas eu não me importei muito.

Era melhor assim, demonstrava confiança. Que foi exatamente o que eu quis demonstrar ao secar os olhos cinzentos de Madison. Olhos que, naquele momento, pareciam pequenos pedaços de uma tempestade abrasadora.

Depois de um abraço realmente apertado, ouvimos o chamado para o meu voo. Depois de me despedir novamente de cada um ali, segui Jordan até o local do embarque.

No avião, eu me recusei a sentar ao lado dele. Acabei ficando na poltrona da janela, ao lado de uma mulher de meia idade.

Logo o avião decolou, e enquanto eu me perdia nos meus pensamentos, minha mente resolveu me pregar algumas peças.

Cada sorriso de Madison, cada beijo, abraço e palavra de carinho apareciam na minha mente.

Sem conseguir mais segurar, deixei que uma lágrima silenciosa escorresse pela minha bochecha. E outra, e outra, de forma que alguns minutos depois, eu já chorava em torrentes.

Sequei os olhos com as costas das mãos, mas as lágrimas não paravam de cair. Logo o silêncio foi tomado pelos meus soluços. Eu apenas olhava para baixo, me concentrando nas minhas pernas.

Eu precisava mais do que nunca de um abraço naquele momento. E ali não havia ninguém que me pudesse cedê-lo.

– Está tudo bem, minha querida? – A mulher ao meu lado perguntou.

Sequei novamente o rosto e olhei de esguelha para ela.

– S-sim. – Respondi, minha voz totalmente embargada e falha.

– Tem certeza? Você não parece muito bem. Qual é seu nome mesmo, querida? – Ela perguntou.

– É Victoria. E sim, eu estou bem. – Dei um sorriso de canto.

– Bom, se você diz, não sou eu que vou insistir. – Ela sorriu. – E prazer, Madison.

Arregalei os olhos, segurando inutilmente uma lágrima inoportuna. Sequei-a rapidamente com o dedo.

– Belo nome... – Hesitei. – É o nome de alguém que eu amo muito. – Dei de ombros.

– Imagino que é a pessoa por quem você estava chorando. Ela ficou? – A mulher perguntou em um tom cauteloso.

Assenti.

– Que mal lhe pergunte... quem é ela?

Respirei fundo. Eu não estava com muita vontade de criar uma polêmica em uma viagem de avião.

– Uma garota... – Dei de ombros, deixando aquele assunto em aberto.

– Compreendo. – Ela sorriu. Talvez em sua cabeça estivesse alguma irmã ou melhor amiga. Era melhor assim, de qualquer forma.

Pelo menos o assunto não foi mais comentado.

A mulher começou a perguntar a mim coisas banais, como ano escolar, amigos, pai e mãe, sendo que na última pergunta houve uma pequena pausa e um “sinto muito”, que eu agradeci cordialmente. Ela perguntou se eu tinha namorado, e nesse momento eu apenas neguei, fingindo constrangimento.

Continuaríamos conversando se Jordan não houvesse se intrometido, puxando assuntos bastante desagradáveis com Madison.

Encolhi-me um pouco mais. Abaixei os olhos e coloquei o capuz do casaco que eu vestira momentos antes sobre o rosto. Enfiei fones nos ouvidos e comecei a ouvir uma música qualquer, prestando mais atenção em meus pensamentos.

Não quis mais saber se aquela Madison e Jordan ainda estavam conversando, apenas fiquei aguardando que aquele voo chegasse ao fim.

E isso finalmente aconteceu, algum tempo depois.

Saímos do aeroporto e pegamos um táxi. Durante trinta minutos, eu apenas observei o sol, o mar, as palmeiras e as pessoas caminhando pelas ruas. Até que finalmente o táxi parou, em frente a uma casa bem pequena, de paredes amarelo-claro e um pequeno jardim com cercas brancas.

– Bom, Victoria, é aqui que moraremos a partir de agora. – Jordan disse-me e eu assenti enquanto o seguia pelo caminho de cimento que levava á porta da casa. – E aqui estão, chaves da porta da frente, dos fundos e do portão. – Ele disse, tirando do bolso dois molhos de chaves.

Ele me entregou um deles, e usou o outro para abrir a porta de entrada.

Havia uma sala de estar média com dois sofás e uma TV. Uma cozinha separada por um balcão do lado direito, e do esquerdo um corredor, provavelmente levando aos quartos.

Jordan indicou o meu, na segunda porta a direita.

Abri a porta esperando um quarto de hotel parecido com o do duplex, mas o que eu encontrei foi mais um quarto bem simples, como de uma pequena pousada.

Cama, mesa de estudos, armário, uma janela, criados-mudos e nada mais. Como eu disse, bem simples, mas eu não me importava.

Joguei a mochila no chão e fui para a janela, observar o ambiente em que estávamos.

Era um bairro simples e calmo. Mesmo sendo nove horas da noite, o sol havia acabado de se por e por isso ainda haviam algumas pessoas.

Famílias voltando para casa com seus filhos pequenos, uns com bolas nas mãos e outros empurrando bicicletas. Casais de todas as idades – desde jovens até idosos – andando abraçados ou de mãos dadas. Ao que parecia, havia uma praça em algum lugar por ali.

Levantei os olhos e observei as casas. Todas bem parecidas, pequenas e com jardins e cercas brancas, lembrando um bairro de subúrbio ou um condomínio fechado.

Mas na verdade era apenas um bairro de Miami, afastado de todas as praias, lojas e de tudo o que aquela cidade quente e viva oferecia aos turistas.

Um pensamento atravessou minha mente. Por que um homem rico como Jordan havia escolhido logo um lugar daquele para morar? Será possível que ele fizera isso apenas por mim? Para me punir?

Bom, se isso fosse verdade, estava provado que Jordan se importava comigo. Se importava a ponto de deixar de lado o luxo de casas e bairros ricos de Miami pelo simples fato de querer me afastar da minha namorada.

Não. Não era possível. Não tinha cabimento algo assim.

Balancei a cabeça para afastar o pensamento e arranquei meu casaco, já sentindo o calor de Miami. Continuei observando o movimento da rua, as famílias e casais caminhando, e comecei a imaginar algumas situações.

Como Jordan, aquele homem frio, irônico e preconceituoso se encaixaria ali? E como eu me encaixaria ali? Aquilo me incomodou por alguns momentos, antes que eu fechasse a janela e saísse dali de perto.

Depois de um dia daquele, não era surpresa eu estar cansada.

Devo ter dormido com aquela roupa mesmo, e com imagens de Fort Lauderdale na cabeça.