Durante três dias, nada demais aconteceu. Mystogan, como sempre, conseguiu novas informações, porém eram todas inúteis e não conseguiram formular um plano. Hibiya não foi visto e nem sentido por ninguém, nem pelos sentidos aguçados do Dragon Slayer e pela grande magia ilusória de Mystogan. Não conseguiam bolar um plano de ataque, mas também não brigavam e tentavam ser profissionais. As três noites que se seguiram foram igualmente calmas e entediantes¹, sem nada que merecesse nota. Nesse meio tempo, tudo o que eles fizeram foi conversar, se reunir inutilmente e, no caso da nova dupla de amigos, competir por besteiras, treinar juntos e passar grandes intervalos de tempo conversando, coisa esta última que nunca antes alguém os havia visto fazer, visto que não eram bons com conversas e preferiam outras atividades.

Hibiya também não fez grandes progressos em nada. Não que isso o incomodasse, já que ele não tinha um objetivo. Um sorriso macabro surgiu em seu rosto, os dentes brilhando de forma bruxuleante tanto quanto seus olhos; pelo menos não ainda. Mas eleodiavase entediar. Seu único objetivo, portanto, era sair do tédio. E ele tinha um bom plano para isso.

Várias outras noites se passaram², e a nova rotina da missão continuava estabelecida.

Os quatro se separavam todos os dias para procurarem por informações e se uniam à noite para compartilha-las e tentar bolar um plano de ataque, que era sempre cuidadosamente planejado por Mystogan e Erza, mas no fim nunca estava bom ou tinha grandes chances.

Laxus suspirava, cansado daquilo.

Uma vez, ele tentou se manifestar, coisa que dificilmente fazia, já que não tinha paciência para estratégias:

 - Oras, desistam do maldito plano! O cara é bom, ele é forte, não encontramos nada em quatro dias, não acho que encontraremos agora. Vamos simplesmente parar de coletar informações e procurá-lo logo, e então acabarmos com ele!

Mirajane concordou, balançando a cabeça.

 - Laxus está certo. Essa missão está entediante. Precisamos fazer algo logo antes que esse cara ataque mais alguém. Eu sinto algo estranho no ar. Vamos atrás dele!

Laxus reprimiu um sorriso. Nesse tempo que passaram juntos, como uma equipe, ele tinha conversado muito mais com Mira e começado a perceber que eles eram parecidos em muitos pontos. Eram impacientes. Não entendiam muito bem as outras pessoas. Não entendiam seus próprios sentimentos, e tinham medo. O que levava ambos a se esconderem por trás de indiferença. Mas Laxus percebera com aquelas desculpas que Mira no fundo se importava com seus nakamas e queria seu bem, apesar de não demonstrar, e Mira descobrira que Laxus simplesmente queria mostrar às pessoas do que era capaz e que não queria ser dependente, o que ela achava admirável. Ele era um cara que lutava por seus objetivos, bem como ela, o que era atraente a ambos. Os dois também eram muito mais impulsivos que a dupla que os acompanhava, e gostavam de adrenalina. Eram praticamente iguais, e apesar denunca,jamais, sob nenhuma hipótese, pretenderem admitir, haviam se tornado grandes amigos.

Mas Mystogan rejeitou seus argumentos quase que imediatamente.

 - Vocês subestimam demais o inimigo. Não podemos enfrentar um mago desse porte sem uma estratégia de porte equivalente³. Como vocês mesmos disseram, não conseguimos nada, o que quer dizer que o cara é inteligente e sabe o que faz. Não podemos dar um passo em falso, e para não fazermos isso, temos que conhecê-lo melhor. Por favor, sejam mais pacientes.

Os dois, ao mesmo tempo, suspiraram profundamente, fechando os olhos, irritados, em expressões faciais praticamente idênticas, o que divertiu Erza e Mystogan. Ambos reprimiram um pequeno sorriso; haviam percebido que os dois começaram a se dar muito  bem de repente e que realmente tinha tudo para que isso acontecesse, e ficavam felizes de ver a nova intimidade* entre seus nakamas.

Depois disso, não houve mais manifestações da impaciência do casal que começava a se formar. Eles apenas aceitaram com uma passividade que não lhes era típica o plano informado de Mystogan e Erza. Mas também não ajudaram a formá-lo, pois não tinham praticamente nenhuma habilidade nisso.

Hibiya, por outro lado, em sua própria sala escura e cheia de instrumentos que a maior parte dos homens preferia desconhecer, tinha seus próprios planos para arquitetar.

Como aquela guilda de idiotas ousava ir atrás dele? Achavam que iam pegá-lo?

 - Nee, acho que eles pensavam - murmurou entediado, girando uma lâmina afiada até demais em suas mãos como se fosse um simples bastão, até que de repente parou e sorriu de forma doce, e em um único e rápido movimento, penetrou a faca sobre a mesa, formando ali uma nova rachadura - pensavam - murmurou levantando-se e indo em direção a outro instrumento.

XXX

Mais um mês se passara e nada demais acontecera, até aquela briga.

Mesmo do ponto mais longe possível da floresta, era possível ouvir os gritos exaltados que o rapaz de cabelos loiros e a garota de cabelos brancos soltavam sem pudor um contra o outro.

 - IDIOTA! PARE COM ISSO!

 - EU ESTOU CANSADO, MIRAJANE! JÁ FAZ MAIS DE UM MÊS, E NADA! NADA! EU ESTOU CANSADO DISSO! EU QUERO IR LOGO! QUERO FAZER ALGO! NÃO AGUENTO MAIS FICAR AQUI PARADO; ESSE BABACA ESTÁ FAZENDO PIADA DA GENTE!

Eles rosnavam um contra o outro, e raios mortíferos saíam dos olhos de ambos muito embora a maga não usasse nenhum tipo de magia referente a eles.

Erza e Mystogan os observavam sem falar nada. Sabiam que sua interferência só pioraria as coisas, e que a única pessoa que poderia convencer Laxus, se é que ela existia, era Mirajane. Além disso, suas palavras seriam capazes de definir o que pensavam melhor do que as deles; aquele era o único caso em que seu modo de falar os superava.

 - CALE ESSA BOCA E PARE DE SER IDIOTA! O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA, SAIR SOZINHO POR AÍ E DECIDIR PEGAR UM ASSASSINO. O QUE, ACHA QUE TEM CAPACIDADE PRA FAZER ISO SOZINHO? PARE COM ISSO DREYAR, DIMINUA UM POUCO ESSE EGO TÃO GRANDE QUANTO A SUA BUNDA E ACEITE QUE VAI TER QUE ESPERAR MAIS UM POUCO! – ela gritava, o corpo imóvel porém não rígido, como o de uma cobra que prepara dar um bote, como se a qualquer momento ela fosse pular sobre ele e imobilizá-lo, muito embora ela não o percebesse.

O loiro mais rosnou do que respondeu:

 - MEU EGO, É? EU ESTOU CANSADO, CANSADO! QUERO IR LOGO, SERÁ QUE SÓ EU PERCEBO QUE ISSO NÃO ESTÁ AJUDANDO EM NADA?

 - NÃO! MAS SOMOS UMA MERDA DE UMA EQUIPE! PARE DE QUERER TOMAR DECISÕES SOZINHO!!!!!!!!!!!! 

Na verdade, ela simplesmente não queria que ele corresse tamanho risco, mas não ia admitir; havia uma série inesgotável de desculpas antes que fosse necessário se rebaixar a esse ponto. De qualquer forma, ela não o faria.

 - NÃO ESTOU OBRIGANDO NINGUÉM A SEGUIR MINHAS DECISÕES. SIMPLESMENTE... CHEGA!!!!!!!!!

E o bote aguardado chegou. Mira o empurrou com força, perdendo já a sua limitada paciência, de tal forma que ele cambaleou para trás, mas não caiu. Muito embora a albina quisesse fazer algo mais que isso, optou por permanecer encarando-o de forma feroz.

 - ENTÃO VAI! VAMOS VER SE VOCÊ CONSEGUE, SENHOR BADASS INDEPENDENTE!

Ele deu risada, e virou de costas para ela, acenando teimoso.

 - Sim, vamos ver.

Nessa lembrança, a dor em sua cicatriz se intensificou, e ele suspirou. O quão idiota ele era?

Saiu daquela porcaria de lugar bem no meio da noite, sem dar a mínima para qualquer problema que pudesse ter, como o típico irresponsável que era. Andou a esmo pelas ruas estreitas e calmas da cidade, que era consideravelmente quieta à noite.

Mas é claro que ele percebeu algo mais. Estava muito quieta. Apesar de tudo, ainda era uma cidade grande, onde estavam as pessoas?

Obviamente, ele tinha ido parar em algum lugar perigoso.

Mas não se importou, apenas continuou andando sem sentir nada de estranho, com seus sentidos de dragão muito atentos a tudo que merecesse nota, qualquer sensação esquisita, qualquer coisa inesperada.

Até que, por fim, ele teve sua primeira sensação estranha.

A de que desmaiava.