Lendas Do Acampamento: O Sacrifício escrita por V i n e


Capítulo 6
O Jogo




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Abri os olhos com dificuldade, à luz intensa irritava minha visão. Pisquei varias vezes para me acostumar com a luz. Cada detalhe do quarto era absorvido com cautela por minha visão. Meu cérebro parecia ter derretido, tentei me apoiar no cotovelo, mas três pares de mãos impediram meu movimento.

- Não se mexa! – disse Emma.

- John disse que você pode ter sequelas! – explicou Jake.

- Calma, Will – disse Annie e meu coração disparou. Em parte por causa do sonho, e também pelo fato de sua voz sair estrangulada. – Esta tudo bem.

- O que eu estou fazendo aqui? – perguntei. Todas as lembranças voltando dolorosamente. – Kimberly, aquela aprendiz de Hera! Ela esta aqui!

- Não, Will. Nós a vimos ir embora. Ela te colocou para dormir, pensamos que você estava em coma de novo – Emma se sentou na beira da cama e me entregou um copo com canudo. Suguei o liquido sem saber o que era, e quase gemi de alívio quando o néctar desceu gelado pela minha garganta. O gosto de toddynho era a única coisa que apaziguava a dor atordoante em minha cabeça.

- Vai com calma! Vai acabar pegando fogo! – alertou Emma. Entreguei o copo a Emma e me apoiei no cotovelo, agora forte o suficiente para olhar ao redor.

A enfermaria estava deserta. Apenas alguns campistas e sátiros ocupavam macas, e alguns filhos de Apolo cuidavam de seus ferimentos.

- Onde estão todos? – perguntei.

- Tendo treino de esgrima com Hércules – resmungou Emma. – Sob os comandos dele, os campistas não se machucam! Bah!

- Hã?

- Ele disse que não iria precisar de filhos de Apolo na enfermaria. Por que ninguém se machuca nas aulas dele. Cretino! – sibilou Emma.

- Eu estou perdendo as instruções? – uma coisa queimou em mim, inveja. Eu não havia gostado de ficar para trás.

- Sim, mas não tem importância. O Sr. Músculos vai ter aulas particulares conosco – disse Annie.

- Mas se há uma guerra todos devem treinar de forma igual!

- Quíron teme que tenhamos que resgatar Sophie, por isso ele pediu que Hércules nos treinasse separadamente. Assim ele pode aumentar nossas forças e diminuir as fraquezas. – disse Jake. – Mas... Cá entre nós. Eu não confio nele.

- Nem eu – admiti.

- Ele me parece um espião. Quem garante que ele não esta passando informações a Brius?

- Quem garante que Sísifo não esteja envolvido também? – perguntou Emma.

- Acho que Sísifo é gente boa. Mas Hércules não – disse Jake semicerrando os olhos. –, além de ser um filho de Zeus. Burro por natureza.

Um trovão retumbou no céu e toda a colina tremeu.

- Desculpe! – gritou Jake para o céu. 

- Emma, já discutiu as estratégias para a captura da bandeira? – perguntei.

- Você não vai participar.

- Por que não? – indaguei sentando rapidamente, e sentindo os efeitos do ato. Uma vertigem.

- Não pode nem se aguentar em pé! – exclamou ela.

- Vou dar meu jeito! Mas por favor, me inclua no seu grupo! – pedi.

- Se você estiver melhor até o fim do dia eu penso no seu caso – disse ela, seu tom encerrou o assunto.

A o céu tinha tons delicados de roxo e laranja quando Quíron chamou todos para começar o jogo.

- Heróis! Hoje teremos uma pequena mudança no jogo – Quíron sorriu de forma maliciosa, Sísifo resmungou atrás dele e Hércules sorriu. – Sísifo será o capitão do time azul e Hércules do time vermelho! – uma horda de exclamações, xingamentos, suspiros e palavrões se manifestaram pelos campistas. – Sei que já programaram suas estratégias e que estão todos prontos! Mas numa guerra há imprevistos, então terão de improvisar! O time azul é composto pelos chalés de Atena, Poseidon, Apolo e Hades. E o time vermelho é composto pelos chalés de Ares, Hermes, Éolo, Hécate e Hefesto. Sem retalhar, matar ou causar ferimentos graves! Que os jogos comecem! E que a sorte esteja com vocês! 

Todos corremos para o posicionamento. Sísifo ditava ordens toscas do tipo:

- Limpe essa armadura! Pegue essa pedra e coloque ali!

Deuses, o que faríamos com uma pedra?

O velho correu (lê-se engatinhou) até uma pedra próxima e se escondeu lá atrás.

- Rebecca! Pegue o chalé de Apolo e vá até a base deles, faça deles prisioneiros. Annie, você e Grayson podem ficar aqui e cuidar da bandeira – Emma ditava ordens e arrumava a armadura dos novatos.

- Emma eu quero ficar com o Will – disse Annie.

- O quê?

- Vai ser uma prova, veremos se ele aprendeu a manejar um arco – explicou ela.

- Tudo bem. Grayson você leva o chalé de Atena para o confronto para a esquerda, e os distraia naquele ponto. Jake, você e eu vamos atrás da bandeira.

- Ok.

Foi então que ouvimos o som da trompa de caça. Isso anunciava o inicio do jogo.

- Chréo̱si̱! – “Atacar” em grego. Annie e eu escalamos o punho de Zeus, encaramos o bosque e ouvimos com paciência. Alguns CLANG e STHING das espadas. Gritos e palavrões. Um vento gelado e cortante correu por toda a colina, varrendo semideuses cujo elmo tinha um penacho azul. Todo o time azul foi levado pelo vento monstruoso, filhos de Ares surgiram como baratas, e Annie começou seu show. Ela começou a atirar e filhos de Ares caíram com a flecha de gás sonífero.

- Will! Ajude-me! – gritou Annie.

- São muitos! Vou ter que partir para a espada! – respondi.

Saltei do punho de Zeus e rolei cortando a panturrilha de um filho de Ares. Girei sobre um pé e passei uma rasteira em outro. Max se lançou sobre mim e cortou-me a bochecha. O vento piorara e era difícil eu me manter em pé, Annie havia se ajustado a uma pedra que impedia que ela voasse. Girei 360º e cortei o ar acima do cabeção de Max, e me chutou e caí de costas no chão duro, todo meu ar de esvaiu e fiquei inconsciente.

 Quando acordei Annie, Emma e Jake lutavam contra os filhos de Ares, Annie no topo do punho de Zeus, Emma e Jake lutavam em baixo. Minha espada não estava à vista e eu estava amarrado a um tronco, as cordas eram feitas de cipó mágico, obra dos filhos de Hécate. Havia apenas dois filhos de Ares lutando, um filho de Éolo e uma filha de Hécate que estava caída com uma flecha de gás sonífero nas mãos. O filho de Éolo estava tentando acordá-la e Annie estava sem flechas. A batalha esta igual.

Concentrei-me no cipó, era um cipó comum, apenas magicamente controlado. Usei meus poderes para extrair toda a água deles. O cipó secou e se arrebentou sob a pressão de meus braços. Corri até Max para acertar-lhe com um belo chute, mas ele foi mais rápido bateu com o punho da espada no elmo de Emma, e ela caiu no chão. E sem nem ao menos olhar para mim ele me deu um soco na cara.

- Emma! – gritou Jake se virando para ela. Vickie, filha de Ares, empurrou Jake e o segurou pelo pescoço.

- Olá, Jake. Adeus, Jake! – ela enfiou a espada no estômago de Jake. Meu amigo caiu, sobre uma poça do próprio sangue. – Foco na batalha. Fica a dica.

Isso acendeu o pavio. E eu explodi. Levantei-me e bati o pé no chão com força, toda a colina meio-sangue tremeu perante o meu poder. Um terremoto sacudiu tudo e todos, Max e Vickie caíram e se encolheram tentando se proteger. O punho de Zeus sacudiu ameaçadoramente e Annie sem ter onde se agarrar caiu. No percurso sua cabeça se chocou contra uma pedra e depois me joguei em sua direção para impedir que ela chegasse ao chão.

- Annie! – gritei. Ela tinha um corte fundo na testa e sangrava muito. – Annie eu não quis... 

Max e Vickie se levantaram. Se entre olharam e se viraram para mim.

Vickie correu até onde eu estava, passou por mim e começou a escalar o punho de Zeus.

- Se deu mal sua vadia assassina! – gritei.

- Vickie! Não! – gritou Max, tarde demais.

Vickie pisou em uma pedra falsa, colocada ali por Emma e uma de suas brilhantes armadilhas. A pedra rolou e Vickie foi junto, quando ela caiu no chão uma rede trançada com fios de bronze a elevaram e ela ficou suspensa.

- Vickie! – Max correu até ela.

 Ops. Mais uma armadilha. Max estourou um fio de nylon e uma saraiva de flechas soníferas o atingiu fazendo com que ele caísse em sono profundo. 

Jake continuava sangrando, Emma e Annie estavam inconscientes. Sísifo estava escondido em algum buraco, e eu sozinho teria que proteger a bandeira, e sem contar que o time azul estava lutando para pegar a bandeira vermelha e com Hércules como inimigo, não teríamos a menor chance. E por falar em Hércules, ele surgiu do nada, com uma armadura de bronze ele não usava nenhuma arma, apenas os braços ameaçadoramente grandes.

- O que houve? – perguntou ele.

- Max e Vickie. Eles não levam a sério a ordem de não machucar muito os oponentes – expliquei.

- Não estou falando com você! Max! Vickie! Eu ajudo vocês! - gritou ele. Dois filhos de Hécate apareceram em seus flancos. Thiago e Melanie. – Garotos façam um feitiço de aprisionamento. Peguem o filho de Poseidon. Essa bandeira esta no papo.

- Sem ressentimentos, Will. – Disse Thiago.

Thiago e Melanie deram as mãos e começaram a murmurar em grego antigo. Senti uma energia sinistra se mover envolta de mim, pedras se fundiram e se transformaram em aço. Uma ideia maluca piscou em minha mente. Assoviei o mais alto que consegui e gritei.

- Otto! Octtor! Eu os liberto!

Dois cães infernais imensos surgiram e atacaram com suas bocas devastadoras. Otto atacou Hércules que caiu da rocha e foi esmagado pelo peso esmagador do cão. E Octtor lançou Thiago e Melanie conta uma árvore.

- Sem ressentimentos, Thiago – respondi. A jaula se desfez em poeira dourada e coloquei Annie no chão.

- Metamorfo̱tikí̱s! – chamei. Um anel de bronze celestial voou para minha mão e se transformou em uma espada. Hércules deu um soco no focinho de Otto e o cão infernal caiu a metros de distância. – Otto!

Hércules avançou para cima de mim, seu punho acertou meu estômago e caí cerca de dez metros de onde eu estava.

- Sou filho de Zeus! Não pode me derrotar!

- Sou filho de Poseidon, eu posso sim!

Lancei minha espada contra seu pescoço, Metamorfo̱tikí̱s se transformou e um dardo venenoso e se fincou na jugular do herói.

- Maldito! O que é isso? – gritou ele.

- Um remedinho muito conhecido. Boa noite Cinderela – sorri. – Ou melhor: Boa noite Hércules.

O filho de Zeus caiu no chão completamente inconsciente. Vickie se recuperou e começou a gritar por ajuda. Uma trompa soou por todo o vale. Havíamos ganhado, a bandeira azul havia sido protegida e o inimigo derrotado... 

Comemoramos com uma rodada de pizza, refrigerante e muitos cupcakes. Annie tinha um curativo pequeno na cabeça, Emma tinha um olho roxo, Jake estava meio sentado, meio deitado. O golpe de Vickie não acertara nada vital, na verdade ele só havia desmaiado de susto por ver tanto sangue saindo dele, o corte pegara de raspão. Eu estava com uma costela quebrada, mas nada muito preocupante. Annie pegou uma guitarra e começou a tocar Summer Paradise do Simple Plan. Cantamos juntos, o time azul todo entrou em coro, com a letra que descrevia nosso acampamento. Annie era do tipo pancadinha, louca, uma roqueira maluca. Que por algum motivo mexia comigo. Era uma boa amiga.

Quíron apareceu para botar ordem e para mandar todos para cama, me despedi de meus amigos, Jake teve ajuda de dois filhos de Apolo para acomodá-lo no seu chalé. Arrastei-me até o chalé de Poseidon e me deitei, rezando para não sonhar com Sophie.  Mas como sempre, eu estava errado.

Sophie estava amarrada em uma mesa de pedra. Uma sensação de déjà vu tomou conta de mim, é claro, eu já havia sonhado com isso antes. Mas eu havia esquecido, no lugar do sonho tinha um espaço em branco. Várias velas circundavam as paredes de pedra negra, exibida em um pedestal de mármore estava uma adaga. Seu cabo era envolto em couro prateado e sua lâmina emitia uma aura fria, sombria. As portas da câmara foram violentamente abertas. Brius entrou pesadamente gritando e Kimberly o seguiu tentando argumentar. A pele de Brius estava curada, sem resquício de queimadura.

- Você desobedeceu minhas ordens! – urrou Brius.

- Eu precisava tentar! Ter ele do nosso lado seria um trunfo contra os deuses! – gritou ela.

- Esta deixando sua paixão pelo garoto falar mais alto. Isso vai acabar te matando! – respondeu ele ferozmente. – A partir de hoje você esta proibida de se comunicar com William Davis!

- Não! Você não pode me impedir! – gritou ela.

- Vai se rebelar? A garotinha rebelde acha que se voltar para o precioso acampamento meio-sangue eles vão te receber de braços abertos? Vou lá só pra assistir aquela Emma lhe enfiar uma espada no meio da testa! – disse Brius.

- Cuidado com suas palavras! Não se esqueça que sou a única com o poder necessário pra manter todo o acampamento Júpiter sob seu comando! Sem mim eles já o teriam matado! – rosnou ela.

- Se for para morrer, eu a levo junto!

- Se não tomar mais cuidado com o uso de suas palavras você mesmo enfiara uma lâmina contra o corpo – ordenou ela. Os olhos de Brius ficaram arregalados.

- Você não fez isso! – berrou ele muito revoltado.

- Fiz. E eu mereço respeito! Afinal sou eu quem realmente mando nesse lugar! – sibilou ela.

- Eu te odeio Kimberly, mas isso é que é botar moral em um canalha – murmurou Sophie.

Brius a ignorou e se dirigiu a Kim com um olhar assassino.

- Retire o feitiço! Ou eu juro que te mato! – vociferou ele.

- Me pouparia de muito sofrimento – disse ela.

- Sua cadela! Isso foi uma ordem! – berrou ele. Brius olhou para as mãos, a direita retirou uma adaga de sua cintura e a outra foi estendida.

- Não diga que eu não avisei – sorriu ela.

- Não! – Brius enfiou a adaga na própria mão, o sangue escuro e viscoso escorreu por entre seus dedos. – Sua vaca estúpida! – Brius retirou a adaga e a enfiou na coxa esquerda. – Argh!

- Girl Power! – gritou Sophie se divertindo.

- Calada você também! – gritou Brius em meio a um gemido. – Tire o filho de Poseidon daqui!

Tyler, filho de Netuno, passou pela porta e ergueu o tridente contra mim, com um movimento rápido ele cortou o ar e fui sugado pela fenda.


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