Lendas Do Acampamento: O Sacrifício escrita por V i n e


Capítulo 2
Pego o táxi da desgraça


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora. Aí está. Enjoy.



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Annie olhava minhas fotos, o painel pintado a mão por minha mãe, pendia na parede em cima da cômoda. Um sorriso iluminava seu rosto, seus olhos analisavam meu rostinho gorducho de criança.

– Will você era lindo demais! – disse ela se virando para mim. Seu sorriso se fechou quando olhou para minha decadência. Eu estava sentado no chão, os joelhos colados ao peito. Eu a olhava, mas eu mal a via. Ela se sentou ao meu lado e passou a mão em minha testa, afastando minha franja.

– Hei. Baby Sardinha! Não fica assim! - ela passou o braço pelo meu ombro – Vamos achar a Srta. Wikipédia. E vocês vão poder rodar num campo de rosas até cair!

Senti um sorriso amarelo se projetar em meu rosto.

– Obrigado pela força, Annie. – uma lágrima ameaçou transbordar, mas Annie a secou com o dedo. – Mesmo.

– Disponha.

Ficamos ali sentados, o relógio em cima do criado, marcava 14h15. Levantei-me e puxei Annie comigo.

Ouvi minha mãe entrando na sala de estar.

– Will! Cheguei. – gritou minha mãe.

– Estou no quarto! – tentei fazer minha voz parecer normal, mas ela saiu como um grito estrangulado.

Ouvi os passos da minha mãe no corredor, ela abriu a porta e avaliou a cena.

– Annie, o que faz aqui? – minha mãe não escondeu o desgosto ao olhar para Annie.

– Ela esta me ajudando com... Uns assuntos.

– Que assuntos? – ela exigiu saber.

– Mãe, Sophie foi... Foi... – não consegui terminar a frase.

– Raptada. – concluiu Annie.

Minha mãe deu um pulo, ela entrou no quarto e me abraçou com força, ela olhou para mim e depois para Annie.

– Vocês... – uma de suas sobrancelhas se ergueu.

– Não! – Annie e eu gritamos em uníssono.

Annie explicou tudo para minha mãe, eu ouvia e afundava ainda mais dentro do buraco em meu peito.

– Esse Bruius...

– Brius! – corrigi.

– Esse Brius. Você deve encontrá-lo! – minha mãe suspirou – Acho que você tem que ir.

– Eu já disse. Vamos salvá-la! – murmurou Annie.

– Isso mesmo. Logo agora que ele arrumou uma namorada com a cabeça no lugar! – minha mãe é boa em lançar indiretas bem diretas.

– A acho muito certinha. – discordou Annie.

– Humpf. – minha mãe se virou e jogou o cabelo castanho na cara de Annie. Ela se virou para mim e seus olhos eram solidários.

– Você vai achá-la meu filho. Tenho certeza! E o que houve com esse nariz?

– Um idiota na escola. Acho que está quebrado. – murmurei.

– Troque essa camiseta. Esta manchada de sangue – disse minha mãe. – Vou pegar os kit de primeiros socorros.

Arranquei a camiseta e a joguei no canto do quarto. Sentei na cama e toquei, com o indicador, meu nariz. Estava latejando, mas não estava torto o que já era bom.

– Posso concertar pra você se quiser – disse Annie, ela não olhava para mim olhava para o chão, como se ele fosse realmente interessante.

– Por favor.

Ela se virou, suas bochechas levemente coradas.

– Quer que eu... – apontei para a camisa no chão, erguendo uma sobrancelha.

Ela me ignorou, sentou-se ao meu lado e colocou o indicador na ponte do meu nariz. Sua voz, baixa e urgente, recitou um encantamento em grego antigo. Senti uma fisgada e depois um leve aquecimento no lugar onde ela havia tocado.

– Aqui... – minha mãe estava parada na porta, ela encarava Annie. – Acho que Annie já arrumou seu nariz.

– É – disse Annie corando e se afastando de mim. Minha mãe pegou uma camiseta dentro do armário e depois a jogou na minha cabeça.

– Vai pegar um resfriado! – algo em seu tom de voz me disse que o resfriado não era o que minha mãe temia que eu pegasse.



Minha mãe disse que iria preparar uns cupcakes para que pudéssemos ir para o acampamento, bem alimentados.

– Will. Temos que ir. – Annie olhou no relógio. Ela pegou minha mão e me levantou. Peguei minhas malas e nos dirigimos para a saída. Minha mãe embrulhou os bolinhos e entregou para mim. Ela me abraçou e me desejou um bom verão e sorte com o resgate de Sophie. Annie e eu pegamos um táxi para o Central Park.

As pessoas passavam como borrões na calçada, quando o carro avançava pela avenida. Ele nos deixou no acostamento e cobrou vinte dólares pela corrida.



Emma, Jake e Thiago estavam parados na esquina, Jake estava encostado em um poste de luz, ele abraçava Emma pelas costas, e Thiago devia estar um pouco desconfortável por que quando nos viu acenou freneticamente para nós. Tive que segurar o bile que subiu pela minha garganta. Eu abraçava Sophie daquela mesma forma, quando passávamos horas no parque, rindo e nos amando.

– Will você esta bem? Parece que vai vomitar... – resmungou Annie.

– É eu também acho.

Atravessamos a rua até o ponto onde se encontravam. Meu olhar se fixou nas mãos de Jake, que estavam na cintura de Emma. Senti o nó voltar a subir por meu pescoço, meus olhos perfuravam as mãos dele, querendo ao máximo expulsar a enxurrada de lembranças.

– Will tem certeza que não quer um médico? Você esta verde! – questionou Annie, seus olhos seguiram os meus. – Ah, Jake acho que...

Jake pareceu perceber, ele retirou suas mãos dali e se preocupou em arrumar a franja, colocando-a sobre os olhos. Emma também percebeu, por que corou e começou a engasgar.

– D-desculpe – gaguejou ela. – Prontos?

Todos concordamos. Emma retirou um dracma do bolso e o ergueu de forma cerimonial.

– Stêthi. Ô hárma diabolês! – gritou Emma em grego. Pare, Carruagem da Danação. Ou algo do gênero. Ela jogou o dracma no asfalto e ele foi absorvido pelo chão. Uma poça borbulhante de liquido suspeito e vermelho, formou-se no asfalto sólido. Um táxi cinza-escuro brotou do chão, seu motor roncou levemente. O táxi parecia ser feito de uma névoa muito densa. Três senhoras estavam sentadas no banco da frente, as três vestiam uma túnica negra esfarrapada os fios de cabelos eram engordurados e escassos. O lugar onde deveria estar o único olho que tinha, havia uma cavidade. Apenas uma tinha um olho.

– Olá senhoras. Passagem para quatro. – pediu Emma.

– Entrem! – gritou a do volante, sua voz era rouca e áspera. – São quatro dracmas.

Entramos e nos esprememos no banco de trás do táxi. Jake ficou para fora. Ele fechou a porta e enfiou a cabeça para dentro.

– Vejo vocês lá.

– Você não vem com a gente? – perguntou Annie.

– Não rola. Eu simplesmente tenho horror à mulher no volante. – seu sorriso dizia. Uma piada para descontrair.

– Ridículo! – disse Emma.

– Garanto que são melhores que você no volante – provoquei, que bom que me restara um pouco de humor para responder a altura do Sem Cébero.

– Não te perguntei nada. – contra-atacou ele.

– Para burro, informação é de graça. – rebati.

As bruxas da frente seguravam risinhos com suas bocas murchas e enrugadas.

– Como é o nome delas mesmo? – perguntei para Emma.

– Tempestade, Ira e Vespa. – sussurrou ela de volta.

– Para onde querem ir? – coaxou a do meio.

– Long Island. Para o Acampamento Meio-Sangue. – disse Thiago. Jake se afastou rapidamente e lançou o sorriso mais malicioso da Terra.

Falo por experiência própria quando digo que meu estômago fora parar na coluna. Sim, uma triste experiência. As bruxas avançaram o sinal vermelho, quase atropelaram uma velhinha e destruíram um hidrante. Tudo de uma vez. Jacob deveria saber que elas eram ruins de volante, isso explicaria o sorriso dele.

– Cuidado com aquele gato! – urrou a da direita.

– Me de o olho, Tempestade! – gritou a que estava no volante.

– Não! É minha vez! – berrou a da direita, deduzi que era Tempestade.

– Ira se concentre no trânsito! – gritou a do meio. Vespa, se não me engano.

– Pegue o olho Vespa! Pegue e me passe! – gritou Ira.

– Se tentar encostar no olho, mordo seus dedos Vespa! – esgoelou Tempestade.

– Senhoras, por favor, entrem num acordo? – sugeriu Thiago.

Ira deu puxou o volante para a esquerda para não matar o sorveteiro. Fomos jogados para direita.

– Posso saber como você enxerga sem o olho? – perguntou Thiago, ele estava um pouco verde... – E quem foi o maluco que te deu uma habilitação?

– Percorremos essas ruas a éons. Conheço essas ruas como a palma de minhas mãos! E não te interessa quem me deu uma habilitação! Moleque enxerido! – gritou Ira. – A propósito Tempestade, me passe o olho!

– É Tempestade passe o olho. – grasnou Vespa.

Ira passou por mais dois sinais vermelhos, um motorista socou tanto a buzina que achei que ele estava nervoso.

– Estamos chegando, Ira. – disse Tempestade triunfante.

– Não graças a você! – berrou Ira, ela largou o volante e empurrou a cabeça de Vespa para baixo, acertando um soco na cara de Tempestade. O olho voou e caiu no colo de Annie.

– Alguém tira essa coisa abominável daqui! – berrou ela.

– É normal ela sempre fazem isso. Calma, Thiago. Ai meus deuses ele desmaiou! – gritou Emma.

Peguei o olho, ele era gelatinoso e pesado, o mais estranho foi que ele olhou pra mim e depois ficou branco.

– Di Immortales! Acho que quebrei! – gritei jogando o olho bem na cabeça de Ira.

– Ai! Ah, obrigada garoto! – berrou ela. Ela enfiou o olho na cabeça e piscou algumas vezes. – Chegamos!

Ela freou, meu estômago voltou para o lugar, ou quase isso.

– Isso não vale! É a minha vez! – urrou Tempestade.

– Cale a boca! – ralhou Vespa.

Empurrei Emma e sai cambaleante, minhas pernas pareciam gelatina. Meu coração martelava freneticamente, era até audível.

– Ei! Garoto! – gritou Ira.

– O que foi? – sussurrei.

– Se eu fosse você procuraria na história. – riu ela.

– O quê? – indaguei, mas foi tarde, o táxi monstruoso avançou na contramão.

Senti o ar ficar mais frio, um estalo agudo e Jake estava parado do meu lado.

– Vocês demoraram. – sorriu ele.

– Chegamos antes de você, senhor-tenho-medo-de-mulher-no-volante-por-que-elas-são-melhores-que-eu! – murmurei.

Ele me ignorou, pegou a mão de Emma e a arrastou colina acima, Thiago correu atrás deles.

– Gostei das piadas Baby – riu Annie. Seu sorriso como sempre provocou uma sensação no meu estômago. Como borboletas. -, bem criativas.

– Ele mereceu – concordei.

Annie e eu subimos a Colina Meio-Sangue, o pinheiro de Thalia era a fronteira, o campo de força, que impedia visitas indesejadas. Em um dos galhos do pinheiro, pendia o Velocino de ouro. Um dragão enorme dormia enroscado no pinheiro. Peleu. Estar de volta ali aumentou meu estado de depressão, lembranças antes engolidas pelo buraco, reviveram no instante em que olhei para os campistas. Segurei o braço de Annie e apertei com muita força, ela se virou para mim e me segurou antes que eu desabasse no chão.

– Will! Tudo bem? – sua voz era desesperada.

– Nostálgico. Muito nostálgico – consegui gemer.

Ela me beijou na bochecha, o lugar onde seus lábios tocaram meu rosto, formigou. Senti meu rosto queimar. As borboletas saíram do buraco e fizeram cócegas nos meu estômago.

– Vai passar Baby. Prometo que vamos salvar a Soph – ela me abraçou e me ajudou a andar até a Casa Grande. Quíron estava em sua cadeira de rodas jogando Black Jack com um homem de meia idade, cabelos encaracolados e uma camiseta com estampa de leopardo. Sr. D.

– Willouby Divas. Quanto tempo. – cumprimentou Sr. D com uma aceno.

– Willo... O quê?! – perguntou Annie.

– Srta. Anna é um desprazer revê-los! – murmurou Sr. D.

Quíron gesticulou para que falássemos. Olhei para Annie em busca de apoio, ela começou a contar, eu preenchia as lacunas de sua observação, a barba espessa e castanha de Quíron tinha fios brancos, ele torcia a barra da manta que cobria seu colo.

– Will, temos que esperar. Não podemos agir às cegas! Se Brius sequestrou Sophie, ele tem um plano por trás, um plano que a envolve. Enquanto ela colaborar continuará viva. – disse ele.

– Mas Quíron! Não sabemos se é um plano ou se Kimberly quer vingança! Essa vaca pode querer matar Sophie por ela ter roubado o Baby! – disse Annie.

– Baby? – perguntou Quíron.

– Esquece – murmurei. – O melhor é esperar.

O buraco era frio e sombrio, eu estava lá no fundo. Sem poder sair. O buraco dentro do meu peito era profundo e doentio.


Sentei na grama perto do lago de canoagem, a noite típica do verão, cobria os campos de morango. Todos cantavam e riam envolta da fogueira. Todos singulares a minha dor.

As dríades sorriam e mandavam beijos para mim. Peguei meu BlackBerry, enfiei meus fones de ouvido e liguei a música Astronalt do Simple Plan.

– Música irônica – murmurei. Eu sussurrava a letra da música, comparando-a a minha realidade.

Alguém pode me ouvir? Ou estou falando comigo mesmo? Minha mente se encontra vazia Nessa busca por alguém. Que não olhe diretamente para mim. Tudo está estático na minha cabeça. Alguém pode me dizer por que eu estou sozinho como um satélite?”

Aumentei o volume no máximo, as dríades nadavam e riam. Até que uma delas arregalou os olhos. Ela apontou para alguma coisa atrás de mim. Arranquei os fones e ergui a espada, apontando para as sombras.

Um rosnado retumbou em meus ouvidos, e dois cães infernais do tamanho de tanques de guerra pularam na minha frente com um olhar homicida.


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Notas finais do capítulo

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