Lendas Do Acampamento: O Sacrifício escrita por V i n e


Capítulo 1
Meu verão começa de uma forma bombástica




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Meu nome é William Davis, tenho dezesseis anos, se sobrevivi até hoje foi por que lutei com muito afinco para fazer meu coração continuar batendo. No verão passado eu havia impedido o mundo de ser destruído por um Titã e seu filho. Pessoas muito especiais morreram para completar esse objetivo. Urano quase se reergueu e esmagou o mundo, quase.

Sei que isso pode ser chocante para vocês, mas tenho que prosseguir. Todas as histórias que você conhece sobre mitologia grega são reais. Tudo. Zeus, Poseidon, Hades, Atena, Apolo. Todos existem no mundo moderno. Assim como os monstros. Esses monstros vivem entre nós, sim, eles podem estar ao seu lado enquanto você lê isso. Você não pode identificá-los por causa de um feitiço antigo e poderoso que chamamos de “Névoa”. Essa névoa encobre a visão humana distorcendo os fatos estranhos e criando uma teoria plausível para o fraco conhecimento humano. Como sei de tudo isso? Meu pai é o deus mais poderoso – em minha opinião -, ele é conhecido como Poseidon, Senhor dos Mares, Soberano dos cavalos, Imperador das tempestades e etc. Tenho um recado para vocês meio-sangues.

A Revolução é eminente, cabe a vocês decidirem de que lado querem ficar. Revolucionários? Ou Deuses?

A voz do Sr. Blof era apenas um sussurro secundário. Ele tentava explicar as fases da matéria e as transformações químicas e físicas, mas minha mente estava em outro lugar. Ela estava entre as árvores, eu estava sentado na beira do lago de canoagem, Sophie estava do meu lado, ela ria, riamos felizes. As ninfas do bosque saracoteavam ao nosso redor, elas pulavam e riam, zombando dos sátiros que corriam atrás delas. Os outros campistas praticavam suas atividades e continuavam alheios a nossa presença. Sophie sorriu e se inclinou...   

O sinal urrava anunciando o fim da aula. Joguei meus livros dentro da mochila e a jogue nos ombros.

O mar de corpos atropelavam uns aos outros em busca do corredor. Era o último dia letivo. O verão praticamente batia a nossa porta, trinta e dois adolescentes se espremeram por uma porta para sair. Sr. Blof nosso professor de biologia tentava conter a onda de alunos, andei pacientemente e me espremi por entre os corpos. Meu armário ficava ao lado da sala dos troféus no corredor B. Era uma sala dedicada as lideres de torcida e os jogadores de futebol americano. Peguei tudo de dentro do armário e joguei dentro da mochila louco para rever Sophie, estudamos na mesma escola, mas só tínhamos aula de Educação Física juntos, a saudade apertava o peito. Desci as escadas que me levariam até o pátio principal. O bolinho se espatifou com força na minha camiseta, chocolate esparramou manchando o tecido claro.

- Que droga Max! – berrei. Max Vicentin ria com seus colegas, Victor e Julius. Eram os valentões que pegavam as aprendizes de Hera. As lideres de torcida. Ele pegava no meu pé desde que eu me matriculara, ele era um filho de Ares que frequentava o acampamento. – Você não tem nada melhor para fazer Cérebro de Porco?!

- Calado Cara de Bacalhau! – sibilou ele – Quer fazer bonito pra namoradinha é? Cara de Coruja estúpida! – seus amigos riram mesmo não entendendo nada.

Foi sem dúvida o fim da picada. Meu punho cerrado bateu com uma força surpreendente em seu olho esquerdo. O som do impacto mais o som dos berros dele se esparramando no chão com a mão na cara foram satisfatórios. Ele se contorcia no chão gritando e rolando.

- Ele arrancou meu olho! – gritou ele.

- Você é um bom ator Max, mas não vai rolar. – vociferei. Ele me encarou, o hematoma começava a inchar e arroxear. Um sorriso presunçoso projetou-se em seus lábios.

- Peguem ele! – ordenou ele.

Julius e Victor se posicionaram como lutadores.

- Não pode me enfrentar sozinho Maxwell? – provoquei.

Ele ergueu o queixo de forma arrogante. Empurrou Julius, Victor e avançou em minha direção.

Esquivei-me do primeiro soco, mas o segundo me acertou a boca do estômago. O ar fugiu completamente dos meus pulmões. Pontos negros cobriram minha visão deixando-me tonto.

- É Cara de Bacalhau, você  não pode comigo – riu Max.

Max preparou mais um soco dessa vez meu nariz foi à vítima. O som do osso se quebrando no contato fez Julius rir.

Max ergueu o punho mais uma vez, a única coisa que impediu que ele quebrasse meu maxilar foi à mão firme de Sophie segurando o golpe.

- Precisa de ajuda para me enfrentar Davis? – gargalhou Maxwell.

- Cale a boca! Você não tem nada melhor para fazer? – rosnou Sophie. – Vai brincar de boneca, que você ganha mais!

O ponto auge de minha fúria explodiu em uma onda de poder. O bebedouro inflou como se fosse um balão de gás, a estrutura de ferro se rasgou como uma folha de papel, jorrando água em cima de Max e seus mascotes. O cabelo encaracolado ruivo de Max ficou grudado em sua testa, suas roupas estavam coladas no corpo.

- Você me paga Will! – gritou Max.

- Mas, Max como esse magrelo conseguiu explodir o bebedouro? – indagou Victor.

- Esquece idiota! – rosnou Max.

Ele abriu caminho entre os amigos, a cotoveladas. Sophie ajudou-me a levantar e beijou minha bochecha.

- Você esta bem? – perguntou ela.

- Eu apanho de um brutamontes e só ganho um beijinho na bochecha? – perguntei, lançando a ela um sorriso malicioso.

- Bobo. – Disse ela de forma carinhosa. – Vamos? Tenho que fazer as malas.

Andamos de mãos dadas por uma rua próxima à quinta avenida, a casa de Sophie ficava num quarteirão próximo ao Empire State. Sua casa era grande e de certa forma era luxuosa, sua tia morava em Manhattan ela era classe média muito alta, seu marido, tio de Sophie, era um advogado bem sucedido, ele sempre encobria a sobrinha quando ela era expulsa de uma escola. Algo comum para um meio-sangue. Ela parou no portão de ferro, Sophie olhou para mim e soltou minha mão, pressionou os lábios levemente sobre os meus, demorando se para se afastar.

- Minha tia deve estar comprando sapatos. Vou ficar sozinha aqui, gostaria de me ajudar com as malas? – perguntou ela.

- Estou com preguiça de fazer até as minhas – respondi sorrindo.

Ela sorriu depois se virou entrando e fechando o portão atrás de mim.

Continuei andando rapidamente. O Acampamento Meio-Sangue era um lugar para semideuses, onde poderíamos ser nós mesmos.

Eu virava a esquina quando um grito de dor retumbou em meus ouvidos. O grito vinha de trás de mim. Corri, obrigando meus pés a se mover sem enroscarem um no outro. Chutei o portão da casa de Sophie, joguei minha mochila no chão e entrei arrombando a porta.

Tudo estava silencioso, o relógio antigo tiquetaqueava deixando o lugar com um ruído de filmes de terror. Um som muito característico ressoou na cozinha, o som de uma lâmina raspando a proteção de uma bainha. Meu anel dissolveu-se em névoa e envolveu-se me minha mão direita, seu comprimento alongou-se criando uma espada de bronze celestial. Ergui a arma letal e posicionei-a em frente ao corpo armando a guarda.

Atravessei corredor adentro e parei para ouvir. Passos, um xingamento, respiração ofegante.

Entrei bruscamente na cozinha, ergui a espada e apontei para o garoto que segurava Sophie pela garganta. Sua pele escura e reluzente, seu cabelo ralo e em estilo militar raspado nas laterais, o lado esquerdo de seu corpo estava enrugado e levemente seco, uma queimadura havia feito um estrago tamanho no corpo do garoto, seus olhos tinham o mesmo brilho assassino que o de meses atrás. Brius. Um meio-sangue, filho de um titã, Atlas, e uma humana. Ele era maligno e frio, ele tinha matado duas amigas minhas, e eu nunca o perdoaria por isso. Ao ver ele segurando Sophie pelo pescoço, minha visão se tingiu de vermelho. Sophie pendia inconsciente. Eu tinha que manter a calma. Não iria conseguir pensar direito se deixasse à raiva dominar meus atos

- O que faz aqui? – sibilei engasgado.

- Ora, vim fazer uma visita! Ou melhor, viemos. Kimberly? – chamou Brius.

Uma garota de parar o trânsito entrou em meu campo de visão, ela estava sentada de pernas cruzadas em cima da mesa de mogno.

- Oi, Will. – acenou ela. – Eu mesma esmagaria a Cara de Coruja, mas Brius quis que você sentisse a dor que ele sentiu quando o queimou vivo... – ela deu de ombros como se isso fosse comum.

- Cadê os tios dela? – pergunte.

- Ah, aqueles intrometidos? – sugeriu Kim. – Não se preocupe, quando chegamos, eles ainda estavam aqui. Então dei um jeitinho.

- O que você fez? – lembrei de alguns meses atrás, Kimberly com apenas umas palavras, havia me posto em coma.

- Nada demais. Só apaguei a memória dos tiozinhos. A titia deu mais trabalho, ela pode ver através da Névoa, soube de cara quem éramos. – ela sacudia as pernas de modo provocante. – Eles não vão se lembrar da sobrinha querida.

- Você fez o que? – gritei incrédulo.

- Chegamos cedo demais, os velhinhos estavam tomando chá da tarde. Eles nos viram entrar e ameaçaram chamar a polícia. – Brius contou, ele deitou Sophie no chão, perto dos seus pés. – Manipulei a Névoa e fiz o homem acreditar que éramos encanadores. – Kimberly bufou. – A senhora viu o truque e gritou chamando os vizinhos. Kimberly calou a boca dela. E depois apagou a memória deles. Simples. Mas se tratando de um retardado como você, não me surpreende que não tenha entendido. – Seu comentário tinha a pitada certa de cinismo, a quantidade certa para me fazer avançar em sua direção.

- Parado! – a voz de Kimberly ressoou como uma ordem em meus ouvidos. Sua voz era cheia de comando e firmeza. Minha razão gritava para que eu continuasse, mas o senso de obediência falou mais alto. Como se eu tivesse sido desligado, meus movimentos congelaram e fiquei parado numa posição estranha quase correndo quase pulando.

- Heróis. Pensam que podem nos derrotar. Coitadinhos. – Brius riu com desdém. – Vamos Kim. Acho que acabamos por aqui.

Kimberly desceu da mesa com um salto, enrolou o cabelo com o dedo e prendeu-o com uma coisa que parecia um lápis. Ela sorriu de forma maliciosa e mandou um beijo.

- Hasta la vista, baby! – ela acenou, mas seu olhar era sério. – Foi bom revê-lo Will.

Brius jogou Sophie sobre os ombros e deixou que as sombras os envolvessem, vi Sophie, Kimberly e Brius sumirem diante dos meus olhos.

Meus movimentos voltaram, minha espada caiu e meu corpo desabou. Caí de joelhos, as lágrimas desaguaram de meus olhos. Lágrimas de raiva, raiva por não conseguir salvar Sophie. Enfiei a mão no bolso do jeans, arranquei de lá meu BlackBerry e liguei para Emma.

- Alô.

- Emma venha para casa de Sophie agora! – sibilei com a voz embargada.

Encerrei a ligação e enfiei o BlackBerry no bolso. Para um meio sangue é perigoso usar um celular. Mas quando você é um filho de Poseidon, os monstro é que devem te temer. Olhei para a cozinha impecável, imaginei Sophie ali, andando sorrindo e cantando, uma enorme cratera se abriu em meu peito. O buraco engoliu todas as lembranças, as imagens, a juras de amor, Sophie... O buraco devastava meu peito, ele consumia sem dó, e se eu não o parasse ele iria destruir-me. Ouvi os passos apressados de Emma, ela apareceu na soleira da porta.

- Will? Qual o problema? Sua voz era desesperada no celular! – seus olhos buscaram qualquer coisa fora do comum – Cadê a Sophie?

O buraco ganhou mais alguns centímetros.

- Ah, Will o que ouve? – ela se abaixou ao meu lado e abraçou meus ombros. – Jake! Annie! Thiago! – chamou ela.

Annie apareceu na porta, seus cabelos louro-avermelhados caiam como uma cascata bronzeada, sobre seus ombros. Mechas azuis iam da raiz de seus cabelos, até as pontas. Sua franja cobria os olhos, e seu rosto pálido e perfeito estava com um que de preocupação. Jake, meu melhor amigo, ele estava atrás dela, seus cabelos pretos cobria-lhe os olhos, de certa forma eles eram parecidos. Annie e Jake. Mas a diferença era clara, ela irradiava luz e calor, ele irradiava frio e mistério.

- O que ouve? – perguntou Annie. Ela ficou de coque ao meu lado, soprou a franja para que ela pudesse me encarar.

- Birus e Kimberly, r-raptaram Sophie. – contei a eles toda a história. Thiago filho de Hécate ouvia, porém não comentava nada. Ele era um mago excelente, mas só falava quando necessário.

- Vamos resgatá-la Will. – confirmou Jake.

- E esse Brius vai se ver comigo! Vamos salvá-la Baby Sardinha! – Sorriu Annie, o sorriso de Annie era reconfortante, e... maravilhoso. Demorei a perceber que eu estava corando.

- Temos que falar com Quíron! – sugeriu Thiago.

- Ok. Will e eu vamos para casa dele. Arrumamos as malas e depois encontramos vocês no... Táxi das Irmãs Cinzentas! – disse Annie.

Emma analisou a chances de Annie e eu sairmos vivos dessa.

- Tudo bem. Thiago, você pode ficar aqui e verificar se os tios de Sophie vão ficar bem? Will usou um celular então é provável que um monstro de as caras. Encontramos-nos as 15h30 na entrada do Central Park.


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