(Ariel Pov’s)
Passei praticamente a semana toda trancada no quarto. Denis veio me visitar quase todos os dias. Quando perguntei sobre a escola,e se ainda comentavam sobre mim,Denis se enrolou com as palavras e desviou do assunto. Às vezes,enquanto conversava com Denis,ou enquanto minha mãe vinha me perguntar se tudo estava bem,eu ouvia a voz.A voz,cada dia mais irritante,mais medonha,mais controladora,mais... parte de mim. Não,eu não estava me acostumando,mas a voz estava começando a fazer parte do meu ser.E cada vez mais eu estava acreditando no que ela dizia.
Sábado de manhã. Bom,pelo menos pra mim era de manhã. Até que ouço alguém socar,literalmente socar,a porta do meu quarto. Levanto-me da cama com muito esforço e destranco a porta,dando de cara com Matt. Ele tinha um sorriso enorme nos rosto. Usava uma bermuda,camiseta do Guns N’ Roses,chinelos e com seus típicos óculos ray-ban.

– Não acredito,ainda ta de pijama?!
Ele exclamou entrando no meu quarto e olhando em volta.

– Hoje é sábado.
Falei desanimada e voltando me deitar na cama.

– Exatamente,hoje é dia de churrasco americano na piscina.
Matt disse puxando minhas cobertas.

– O QUE?! VAI SE FERRAR MATT,ME DEIXA DORMIR!

– Não. Você vai levantar,tomar um banho,vestir uma roupa e descer para festejar com as pessoas que você mais ama nesse mundo.

– Pera ai... A formação original do Guns N’ Roses ta lá embaixo?! É isso mesmo?
Matt me olhou de cara feia e me pegou no colo.

– Tem certeza que era isso que você queria dizer?
Ele perguntou me carregando em direção ao banheiro.

– NÃO! Não Matt,por favor,eu tava brincando!

– Então diz que Avenged Sevenfold é a melhor banda no mundo todo!

– Nem fodendo!

– Então ta.
Ele abriu o box e ligou o chuveiro.

– TA BOM,TA BOM! AVENGED SEVENFOLD É A MELHOR BANDA NO MUNDO TODO!

– E...?

– E O VOCALISTA DO A7X TEM A MELHOR VOZ QUE EU JÁ OUVI.

– E...?

– COMO ASSIM “E”? JÁ CHEGA NÉ!

– Ta faltando um elogio a minha beleza ai,mas vou dar um desconto.

– Ótimo,então me coloca no chão.

– Ta.
Matt me colocou no chão,MAS NO CHÃO EM BAIXO DA AGUA FRIA QUE CAIA DO CHUVEIRO.

– SEU FILHO DE UMA PUTA!
Gritei enquanto Matt ria e corria pra fora do quarto. Bufei e coloquei o chuveiro no quente.
Assim que terminei meu banho,vesti uma camiseta preta de manga comprida pra poder esconder alguns cortes,uma saia xadrez preta e vermelha não muito curta,coturnos e alguns acessórios.
Arrumei meu cabelo e o prendi em um rabo de cavalo,deixando minha franja cair um pouco no meu olho. Não passei muita maquiagem,só uma base pra disfarçar a cara de morta.

– Olha só,quem é viva sempre aparece!
Synyster disse passando o braço pelos meus ombros assim que cheguei à área da piscina.

– E quem disse que eu to viva Synyster.
Falei tirando o braço dele de mim.

– Eita,ta de mau humor hoje Ariel?
Johnny me perguntou.

– Por que não pergunta isso para o Matt,hein Johnny?
Cruzei os braços e andei até uma espreguiçadeira em frente á piscina e me sentando nela. Percebi uma movimentação na espreguiçadeira ao meu lado,mas continuei imóvel,observando a água.

– Você não ficou brava mesmo,ficou?
Matt perguntou,continuei fitando a água.

– Não. Eu só não estou muito afim de socializar hoje,e esse dia ensolarado – olhei para o céu – está me irritando profundamente.
Matt respirou pesadamente.

– Ainda está chateada por causa da sua mãe?
Olhei para o lado e fitei minha mãe conversando animadamente com Lacey.

– Não faz diferença.
Dei de ombros.Matt bufou.

– Depois a gente conversa. Você ta um porre hoje.
Ele se levantou e saiu andando em direção ao Gates. Já estava quase dormindo encostada na espreguiçadeira quando ouço a campainha tocar.

– Eu atendo.
Exclamei me levantando rápido. Abri a porta dando de cara com Denis.

– Hey! Tenho uma novidade que você vai ado... Espera ai,você tirou o pijama?
Ele arregalou os olhos observando minha roupa. Torci os lábios e olhei para fora onde Matt conversava animadamente com Gates e Johnny.

– Longa historia.
Bufei.

– Ta,tanto faz. O que importa é que... DAQUI DOIS MESES O ROGER VAI VOLTAR PARA A CALIFORNIA!
Arregalei os olhos.

– C-como? O pai dele o deixou voltar?
Tentei esconder um pouco da minha animação,apesar de já estar sorrindo igual uma idiota e olhando para o nada.

– Isso ai gatinha.
Denis disse eufórico. Sorri mais ainda e soltei um grito de comemoração começando a pular freneticamente,Denis ficava rindo da minha reação e acho que todos do lado de fora ficaram me olhando como se eu estivesse louca. Mas eu não estava nem ai.

– Isso é muito foda!

– Pois é! Agora só falta você parar de bobeira e voltar a ir para a escola.
Torci os lábios mais uma vez.

– Vem comigo.
Puxei Denis até meu quarto,e assim que entramos,fechei a porta e me encostei a ela.

– Eu... Eu não consigo. Voltar lá,enfrentar aquilo,aposto que ainda estou comentando sobre aquilo.
Denis me encarou parecendo com raiva.

– Quem diabos é você?! O que aconteceu com a Ariel que eu conheço desde os sete anos,desde quando minha mãe trabalhava naquele orfanato? – me calei – HEIN,CADE AQUELA ARIEL QUE TAVA POUCO SE FODENDO PARA O QUE OS OUTROS PENSAM DELA?!

– Fala baixo! Tem gente lá embaixo!

– OTIMO,EU QUERO MAIS É QUE TODO MUNDO SAIBA QUE ESSA QUE ESTÁ NA MINHA FRENTE NÃO É A ARIEL. É UMA IMPOSTORA!

– JÁ CHEGA! SE VOCÊ ESTIVESSE NO MEU LUGAR,IA SABER A DOR QUE EU ESTOU SENTINDO!

– EU SEI MUITO BEM A DOR QUE ESTÁ SENTINDO. EU NÃO SEI SE VOCÊ SE LEMBRA,MAS EU SOU O ÚNICO GAY DE TODA A ESCOLA,E MESMO ASSIM EU NÃO ME TRANCO EM UM QUARTO E DESISTO DA VIDA! – Me sentei no chão e abaixei a cabeça. – Ari,eu sei que o que você está passando,não é fácil. Mas você já se olhou no espelho? Sua pele está mais branca que o normal,você está com olheiras que nem maquiagem consegue disfarçar. Você precisa encarar o mundo lá fora,e se não for por mim ou pela sua mãe,que seja pelo seu pai.

Claro,por que tudo que ela mais precisa no mundo,é fazer as coisas por uma mãe vadia e um pai suicida.

– Ah não!
Encolhi-me encostada a porta e coloquei a mão sobre os ouvidos,Denis me olhou confuso.

– Ari eu...

Por que você ainda conversa com esse cara mesmo? Fala serio,você é mais estranha que eu pensava. Quase não tem amigos,e os que tem,ou são esquisito feito você ou são gays.

– Cala a boca!
Denis me olhou assustado.

– Como é?
Ele perguntou confuso.

– Não,eu não estava falando com você Denis. Olha,acho melhor você ir embora.
Falei abrindo a porta e empurrando Denis para fora sem deixa-lo dizer uma palavra.

Isso mesmo,agora estamos sozinhos. Só eu e você.

A voz metálica riu monstruosamente. Eu estava cada vez mais louca.