"Feet don't fail me now

Take me to the finish line

All my heart it breaks every step that I take

But I hope that the gates

They'll tell me that you're mine" (Born to Die, Lana Del Rey)

"Que meus pés não me falhem agora

Levem-me até o fim

O meu coração se parte inteiro a cada passo

Mas espero que na chegada

Vão me dizer que você é meu."(Nascidos para morrer,Lana del Rey)

Rhaenys via que o céu começava a clarear e tentou levantar-se, mas o braço de Viserys ainda estava sobre sua cintura. Por um momento ela hesitou. Mas ela sabia que se um dos criados a visse ali iria direto aos ouvidos de Sor Willem, o que geraria uma conversa no mínimo desconfortável. E por isso ela afastou delicadamente seu braço e desceu da cama, vestindo seu robe.

Antes de ir, parou para olhar para Viserys mais uma vez e se ajoelhou ao seu lado, acariciando seus cabelos como sempre fazia desde que Dany nascera. Aquela noite, há nove anos, não fora a primeira vez que ele dormira a seu lado ou lhe pedira histórias, mas fora a primeira vez em que os dois precisavam de conforto.

Viserys abriu os intensos olhos lilases e sorriu, levando a mão a seu rosto, delicadamente dessa vez. Ela lembrava da agressividade de seus beijos na noite anterior, a voracidade em seus lábios. E ali, entre os lençóis, estava a mancha vermelha que  era a prova de seu crime.

_Temos de nos livrar disso. Ou subornar uma das criadas. - Rhaenys sentiu o rosto esquentar.

_Por quê? Iríamos nos casar um dia de qualquer forma.

Ela sorriu. Sabia disso desde que nascera. Viserys sempre fora seu melhor amigo na Fortaleza Vermelha. Quando a tempestade chegou, ele se tornara tudo que ela tinha. Mas com toda a confusão que se instalara... Ela mesma tinha dito que o dragão tinha três cabeças...

_Daenerys...

_Quando chegar a hora, arranjarei-lhe um bom casamento, que beneficie a todos.

O coração de Rhaenys pulou dentro do peito. E os dois pularam de susto quando alguém bateu na porta.

_Um momento, ordenou Viserys, enquanto colocava o robe e tentava esconder o sangue. Rhaenys já desaparcera dentro de um armário.

Por uma fresta, ela pode ver o que acontecia. A camponesa que um dia fora ama-de-leite de Daenerys e que agora era uma das criadas de Sor Willem tinha batido na porta para avisar que o café da manhã estava pronto. Viserys avisou que não precisava acordar sua sobrinha, ele mesmo o faria quando estivesse pronto. Quando ela saiu, esperaram em silêncio por alguns minutos. Quando não havia mais ninguém no corredor, Rhaenys esgueitou-se de volta até seu quarto, na ponta dos pés.

Quando já estava vestida, trançou ela mesma seu cabelo e ficou encarando a si mesma no espelho, procurando por defeitos. Sempre os encontrava aos montes, mas naquele dia somente refez a trança e foi tomar seu café da manhã.

Sor Willem Darry já era velho quando chegaram ali, e a cada ano seus cabelos ficavam mais brancos e sua pele mais enrugada. O bravo cavaleiro que um dia arrancara suspiros das moças agora estava ali, cuidando de três filhotes frágeis de dragão, ele próprio já velho e doente. Rhaenys sabia que devia a ele sua vida, sua saúde. Sabia que muitos outros os jogariam na rua, ou pior, os entregariam ao Usurpador em troca de ouro. Por isso seu coração se apertava ao ver que ele tinha piorado.

Havia um tempo as refeições eram feitas em silêncio. Rhaenys não sabia ao certo se era uma doença ou simplesmente a idade que estava guiando Sor Willem aos portões da Morte, mas era certo que ele tinha pouco tempo de vida. Os criados da casa tinham começado a lançar olhares de abutre pela casa, pelos móveis, pela prataria. E até mesmo algumas das poucas joias de Rhaenys tinham sumido.

Terminado aquele tenso café da manhã, Denerys a seguiu.

_Enys... Pode falar-me sobre os Sete Reinos?

Rhaenys sorriu contente e a levou para a biblioteca. Buscou as árvores genealógicas das casas mais importantes, até mesmo a dos Stark, embora ainda se retorcesse de ódio ao ver o nome daquela maldita loba. Lyanna. Lyanna Stark.

_Ela é a culpada. Por causa dela estamos aqui, e não na Fortaleza Vermelha, onde pertencemos.

_Mas por quê, Enys?

_Longa história. Vamos para os Targaryen, certo?

Rhaenys era uma excelente narradora de histórias dos Targaryen, mas dessa vez  teve de realçar os dragões, pois viu que Dany gostava deled. Viserys preferia os reis e rainhas que os montavam.

Para o deleite de Daenerys, Rhaenys desenhouna borda do livro um pequeno dragão. Pequeno, mas detalhado, com olhos ariscos, predadores. Ao seu lado, escreveu caprichosamente "Daenerys Targaryen".

_Ele é pequeno como você. E assim como você, ele vai cresce um dia e se tornar um dragão forte e poderoso.

Dany observou o dragão com curiosidade.

_Ele parece zangado.

_É claro que está zangado. Os outros animais se voltaram contra ele. Veados, leões, lobos, todos tentando destruí-lo. Mas ainda estamos aqui. E os dragões sempre vencem.

Ela curvou-se e desenhou duas cabeças de dragões. Ao lado de uma, escreveu seu nome. Ao lado da outra, o nome de Viserys.

_Três dragões construíram o Trono de Ferro. Três dragões vão consegui-lo de volta.

Sor Willem Darry as observava a algum tempo. Aquelas duas meninas de cabelos prateados que se tornaram para ele suas próprias filhas. Principalmente Daenerys, que chegara ali quase recém-nascida e a quem ele vira crescer, e a cada ano se tornar mais bonita. "Sim," pensou ele, "a beleza dos Targaryen sempre foi lendária." Ele se lembrava de Aerys e Rhaella, de Rhaegar e Elia. E mesmo Aegon, tão jovem, ainda no seio de sua mãe. Aerys podia ter sido louco, mas o destino de sua família foi mais louco ainda.

E Rhaenys... ela o assustava mais que Viserys. Viserys podia ser imperioso e um pouco mimado, mas era Rhaenys a mais perigosa dos três. Sua frieza era tanta que ás vezes ele duvidava de seu sangue Targaryen e Martell, mas então ele via o brilho em seus olhos. Ela não era fria ou indiferente, era esperta, e sabia que ter paciência muitas vezes é a melhor solução. E a pior parte, era que ela não reconhecia seu valor. Sua devoção a conduzir o tio ao Trono de Ferro era maior que a do próprio Viserys. Se um dia ela visse a si mesma, se percebesse sua força, seu poder... Os Sete Reinos cairiam a seus pés sem a menor resistência.

Uma tosse assaltou-o, arranhando seus pulmões. Percebeu, com certo pesar, que não viveria para ver a volta dos dragões a Westeros.