A Canção De Amor Do Samurai escrita por Reira chan


Capítulo 1
Capítulo 1 - the sword lovesong


Notas iniciais do capítulo

Tava com essa ideia há bastante tempo, mas só espantei a preguiça de postar agora...
OBS: brisa total, parece que eu fumei crack



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Os passos lentos e calmos quase não produziam eco ao tocar o tatame de bambu. Não apenas os passos, mas tudo referente ao homem de certa idade e esbelto era silencioso e suave, movendo-se com certa graça.

Vestia um kimono preto, simples e longo, com o desenho de um galho de cerejeira em flor branco como único detalhe adornando o tronco. Seus cabelos pretos e curtos, sem franja, pendiam silenciosamente na cabeça, às vezes movendo-se como efeito dos movimentos de seu corpo, porém com suavidade,

Entrava calmo no dojô também calmo e vazio, apenas ele, as paredes de papel e o solo de bambu, e um pequeno templo para orações com desenhos de cerejeiras e a palavra “zen” escrita em japonês.

E, claro, o amor de sua vida.

O samurai sorriu ao vê-la, como sempre apoiada em seu estandarte em silêncio. Linda, leve, graciosa e mortal, com corpo magro e alongado. A única que o conhecia e a única que ele conhecia completamente.

Seus olhos brilharam. Era só uma semana, mas ele mal aguentava se afastar de sua espada.

Ele a segurou, sentindo a extrema leveza e perfeição desta em seu braço. Mas ainda não a via totalmente; sua lâmina permanecia coberta por uma capa tão preta quanto o kimono do samurai, porém sem adornos.

Agarrou sua capa e, com um simples e rápido movimento, despiu-a desta, observando as facetas que se formavam na lâmina brilhante e devidamente afiada quando a luz que penetrava pelas paredes a tocou. Passou sua mão pela ponta, com cuidado e confiança de que não seria ferido. Apalpou toda a lâmina delicada e lentamente, até por fim chegar ao cabo. Este era dourado e mantinha o desenho de um galho branco de cerejeira em flor como adorno exclusivo. O sorriso do samurai se alargou. Linda...

Ele a segurou, corretamente desta vez, mantendo a espada como uma continuação de seu braço. Reteve outro sorriso; ela o completava. Segurou-a entre as duas mãos como se as unisse, formando o oposto de uma bifurcação com estas. Ela também o unia.

Já a tendo admirado, foi ao objetivo de seu encontro. Seus pés se moveram à frente e ele cortou o ar com a espada, que sibilou aquele som gracioso que lhe era como música. Ao fim desse primeiro movimento, largou sua mão esquerda desta e imediatamente deu um corte lateral, mantendo o braço livre dobrado sobre a cabeça, com a mão espalmada. Girou, dando um chute à esquerda enquanto o fazia, sem perder o equilíbrio perfeito por um segundo sequer.

Tudo isso durou menos de um minuto, e foi feito em silêncio total, à exceção do canto da espada acompanhado de um grito curto do samurai, que dava mais força aos movimentos.

Ele relaxou, deixando a espada ainda em sua mão, porém postando-se ereto como a própria lâmina, sem larga-la.

Voltou a observá-la. Ela o completava, nunca o abandonava. O ajudava; sem ela o samurai não era nada. Ela era linda e graciosa, autossuficiente. Inalcançável.

Por quantas vezes fora àquele dojô e vira seu amor crescer na medida em que não fora correspondido? Seu coração acelerava ao tocá-la e então já não havia nenhuma sensação além disso; era assim repetidamente.

Quão grande era a paz que ela lhe proporcionava?

Ele sorriu involuntariamente, deliciando seus olhos com a visão da espada brilhante que o tirava de si.

O samurai respirava; sua mente estava vazia e seus movimentos eram nulos. Apenas respirava. Permaneceu naquela situação por um tempo, até que sua mente voltou a ele, e este balançou a cabeça.

Paz...

Ela o tirava de si. Não se contendo, ele sentou-se e se pôs a olhá-la.

Nunca poderia retribuir-lhe...

Apontou-a à frente, observando apenas seu lado mais fino, prateado. Uma jóia mortífera.

Que nunca poderia retribuí-lo.

Girou-a, observando-a de lado, cada mão espalmada abaixo de uma de suas pontas, de forma que não marcasse a lâmina. A forma lisa e suave desta dominava seus pensamentos.

Como ele alcançaria seu coração?

Girou-a, com a ponta em sua direção. Ele observava apenas esta, admirado com o poder que tinha. Mortal. Pequena. Singela. E linda...

Como ela alcançara seu coração?

Deslizou a mão a partir da ponta, seguindo pelo caminho afiado que ali se formava, por vezes cortando o dedo.

Se eles pudessem unir-se...

Enfim sua mão chegou ao cabo e envolveu-o, segurando este.

...ele não chegaria ao seu coração?

Desceu a lâmina para mais perto do tórax.

E, em outro daqueles movimentos ágeis e graciosos, empurrou-a na direção de seu próprio peito esquerdo, perfurando-o. Pelas suas costas, era possível ver a bela lâmina deslizando para fora de seu corpo, agora com um novo e belo adorno: vívido, brilhante, claro. Sangue em movimento, que também deslizava belamente em queda livre para o chão.

Antes de parar, o coração já partido do samurai conheceu um novo sofrimento.

A dor da lâmina amada.

E eu lhe pergunto, quem de nós nunca sentiu?


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Notas finais do capítulo

Juro que não fumei Johnsohn's Baby e-e
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