O Irmão Gêmeo escrita por VeronicaFerCard


Capítulo 4
Capítulo 4




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O funeral de Uther ainda estava fresco na memória de Arthur. Ele não queria ver outra pessoa por quem ele se importava em um caixão. Era cedo demais. Graças a Deus Fred estava lá, do contrário ele nem tinha certeza se poderia assistir a cerimônia. Não só por ser difícil, mas por que Balinor – o pai de Cathal – pensou que Arthur fosse um dos amigos drogados de Cathal. E foi preciso que Fred explicasse tudo para que Arthur pudesse dar um último adeus a seu amigo.

Balinor Emrys era um homem frio. Se ele tivesse conhecido Uther eles provavelmente se dariam bem. Ou se matariam. Arthur não tinha certeza qual. De qualquer forma, frieza era algo com que Arthur podia lidar e isso o ajudou a passar pela cerimônia sem ceder aos impulsos de jogar na cara de Balinor tudo o que estava preso em sua garganta.

Como um pai poderia parecer tão distante no funeral de seu próprio filho? Não. Distância não era a palavra certa. Aquilo era indiferença. Como se ele não conhecesse a pessoa que estava no caixão a sua frente. Ele olhava para o pacífico semblante de Cathal como se ele fosse um estranho. Como se eles nunca tivessem se conhecido.

Não havia muitas pessoas, portanto, todo o serviço não durou mais que uma hora. E então só ficaram os três. Fred, Arthur e Balinor – este último Arthur tinha certeza, só estava lá ainda porque não era educado sair enquanto ainda havia gente velando seu filho – olhando para o túmulo de Cathal.

“Eu acho.” Fred começou a falar, e então parou como se estivesse procurando pela palavra certa. “Eu acho que ele de alguma forma me ajudou a encontrar meu caminho de volta para casa.”

Balinor fez um som de escárnio. “Pensei que você tinha dito que morava no seu carro.”

“Morava.” Ele deu um passo para frente e colocou dois dedos na lápide do túmulo de Cathal. “Obrigado, meu amigo.”

Fred se virou e foi embora.

Arthur estava preste a fazer o mesmo quando se lembrou de algo. Ele se virou para olhar para Balinor.

“Onde está Merlin?”

“Você o conhece?” Ele parecia desconfortável ao ouvir o nome.

“Cathal me contou sobre ele. Que ele mora em Londres.”

“Então você sabe onde ele esta.” Com isso ele se virou e saiu pelo mesmo caminho que Fred.

Arthur estava errado. Seu pai era frio, sim. Mas aquele homem, Balinor Emrys tinha um iceberg no lugar do coração.

oOo


“Arthur!”

Arthur já estava a dois quarteirões do cemitério. Ele parou e se virou para ver Fred acenando para ele.

“Pensei que você já tivesse ido.”

“Eu fui, mas então me lembre, tem um coisa...” Fred começou a checar os bolsos de seu casaco, procurando alguma coisa. Enquanto ele procurava Arthur se lembrou da constrangedora conversa com Balinor.

“Fred?”

Fred parou de checar seus bolsos e olhou para Arthur por cima da armação de seus óculos.

“Sim?”

“Quando o pai do Cathal perguntou se você morava em seu carro. Você disse ‘morava’. No passado. O que aconteceu?”

“Oh. Você não tem lido os jornais? Eles publicaram uma nota sobre minha situação. Peter me ajudou. Ele conseguiu uma entrevista. Deu certo.”

Ele sorriu. E Arthur também. Ao menos havia uma boa notícia, no meio de toda aquela bagunça.

“Parabéns Fred, fico muito feliz por você.”

E então, de repente, Arthur deu um passo à frente e abraçou Fred. Simplesmente porque parecia a coisa certa a se fazer naquele momento. Fred o abraçou de volta. Eles sorriram constrangedoramente quando se separaram então, Fred colocou a mão no bolso esquerdo do casaco.

“Oh. Aqui está!” Ele tirou dois envelopes brancos do bolso. Os envelopes estavam dobrados ao meio por serem maiores que o bolso do casaco. Fred desdobrou-os e os entregou para Arthur.

“O que é isso?” Era uma pergunta completamente retórica. Ambos os envelopes tinham nomes escritos na parte de trás. O primeiro tinha Arthur escrito com caneta azul. E o segundo...

Arthur mostrou o nome do segundo envelope para Fred; “O que eu deveria fazer com isso?”

“Eu acho que você já sabe a resposta. Mas deve haver alguma instrução na sua carta.”

Arthur olhou para o nome mais uma vez como se pudesse ter mudado. Ele gostaria que tivesse.

Merlin.

“Ele confiava em você.” Arthur se assustou. Eles estavam em silêncio por tanto tempo que ele achou que Fred já tivesse ido embora.

“Eu não vou decepcioná-lo de novo.”

Fred apenas meneou a cabeça.


oOo


Quando Arthur finalmente chegou em casa ele se sentia tão esgotado que ele se jogou no sofá e adormeceu assim que fechou os olhos.

Ele sonhou com Cathal. Exceto que não era Cathal. O homem em seus sonhos, embora parecesse com seu amigo, era uma pessoa completamente diferente. Ele possuía frios olhos azuis, havia uma carta em suas mãos. Mas ao invés de segurar como se fosse uma memória preciosa, ele olhou Arthur nos olhos e rasgou-a em dois pedaços, jogando-os no chão.

Arthur acordou suado e mais cansado do que quando havia deitado.

Era estranho. Ele nem o conhecia ainda, mas parecia não fazer diferença. Ele olhou para as cartas na mesa de centro. Não, não importava que eles não se conhecessem. Ele conheceu Cathal, era impossível não gostar dele. Como alguém poderia virar as costas para ele? Como alguém poderia virar as costas para o próprio irmão? Arthur nem conhecia o cara ainda, mas havia algo sobre ele.

Arthur estava começando a odiar Merlin Emrys.



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