— APPA?! — MinHo exclamou.

De todos os garotos do SHINee, MinHo era o mais “frio”, digamos assim. Não é que ele fosse má pessoa, na verdade o fato de estar ali naquela hora da noite, quando seu corpo e sua mente imploravam por descanso era a prova de que por um amigo ele simplesmente passava por cima de suas vontades.

Mas em todo caso ele era o mais introvertido, sempre perdido em seu mundo. Um homem de poucas palavras, que quase nunca demonstrava o que sentia e pensava. Ele era tímido, segundo Taemin, mas Onew sabia que a coisa era mais embaixo. E por essa razão o líder sabia que estava mesmo ferrado quando os olhos do amigo quase saltaram para fora.

Ele estava verdadeiramente surpreso.

— Como isso aconteceu?! — Voltou a falar depois do silêncio devastador. Ele deu uma curta risada. — Pergunta idiota. Mas... Hyung, como... Como pode ser tão descuidado?

Onew, pela segunda vez naquele dia, riu alto e vivaz, confundindo Choi MinHo. O assunto era muito sério, mas apesar de tudo era engraçado ver como seu dongsaeng estava quase tão aturdido quanto ele havia ficado, e o melhor, estava confundindo tudo.

— Acho que não há proteção contra isso. — Respondeu Jinki, rindo-se um pouco mais. — Você está entendendo tudo errado.

— Errado? Hyung, claro que há proteção! Você sabe... Isso... Isso... Caramba!

Esquecendo-se de toda a sua aflição, Onew recostou-se sobre o sofá e pôs sua mão sobre o ombro de seu amigo. É. Compartilhar isso era realmente o que tinha que fazer. Com um suspiro ele começou a esclarecer.

— Fiquei louco quando li os primeiros parágrafos da carta. Primeiro achei que haviam errado que era para outro Onew. Depois, que alguém queria me dar um belo golpe, não sei como, quer dizer... Eu sou cuidadoso em relação a isso.

MinHo lhe lançou um olhar  entre assustado e surpreso.

— Qual é, sou carismático, não santo. — Objetou de imediato. — O ponto é: essa criança não é minha de verdade.  É uma história longa.

MinHo passou os dedos sobre os cabelos e tentou formar um sorriso, mas tinha quase certeza que saíra assustadoramente desorientado. Com a voz um tanto instável ele disse:

— Hyung você já me deixou curioso e em um estado meio deplorável, acho que não consigo dormir e muito menos permitir que você vá dormir sem isso ser esclarecido, então...

Onew balançou a cabeça, em concordância.

— Lee Won estudava comigo desde a sexta grade. — Murmurou.

— Como?

— Lee Won estudava comigo desde a sexta grade. — Repetiu o menino após um suspiro, e continuou mecanicamente a falar. — Ela se tornou a minha melhor, melhor amiga com o tempo. Na verdade ela se fazia tão presente a cada minuto que eu de repente me vi sentado em qualquer canto da escola falando sobre meus medos e micos sem receios ou vergonha, e sendo consolado quando mais ninguém notava minha tristeza.

Ela era meu anjo da guarda, ou quase isso. Magicamente sempre estava por perto quando eu me machucava. As meninas não costumavam a falar muito com ela, apesar de terem um bom relacionamento, e uma vez Lee Won me revelou estar completamente satisfeita com isso. Alguns meninos gostavam de zombar de seus óculos, mas era ai que eu sempre procurava ser realmente seu melhor amigo, até porque eu estava tão próximo dela que só a menção de seu nome já fazia meu sangue começar a ferver, e se fosse de uma forma desrespeitosa ou sarcástica a pessoa acabava com um olho roxo na melhor das hipóteses.

Mesmo depois que os nossos estudos tiveram fim, depois que cada um correu atrás dos seus sonhos, mantínhamos certo contato. Menos do que gostaríamos, mas o suficiente para não morremos de saudades um do outro, até que então ela me ligou na madrugada, e cara, eu realmente achei que algo tinha acontecido. Os dez minutos mais agonizantes da minha vida, acho. Aquela maluca esperou eu atender ao telefone e ficou gritando! Mas eu acabei por perdoar ao saber que ela iria se casar, e eu era a primeira pessoa a ficar sabendo disso.

Lee Won sempre sonhou com seu casamento, como a maioria das meninas faz. Ela poderia ficar tagarelando sobre isso horas a fio se eu não colasse aquela bendita fita isolante em sua boca. É sério, não ria MinHo, ela era muito tagarela. Sonhava demais, com quase tudo, mas principalmente com seu casamento e, logicamente, sua futura família.

Ela casou e não tardou a ter filhos, muito bonitos e parecidos mais com ela do que com o Appa. Eu sou padrinho da mais velha, Sooyun, que está morando com os avós agora, e tem a mais nova, deve ter no máximo dois anos.

MinHo estava calado escutando atentamente tudo, esperando para ver onde toda essa história se encaixaria com o anuncio de paternidade. Mas Onew emudeceu de repente, baixando a cabeça novamente de forma que outro não pudesse ver as raríssimas lágrimas que se formavam em seus olhos.

— Algumas semanas atrás eu recebi uma carta da justiça — Reiterou o mais velho em um tom lamuriento, dando a certeza do que MinHo já desconfiava, ele estava chorando. O mais novo permitiu-se afagar contidamente as costas de seu hyung, dividindo da dor do outro mesmo sem saber o motivo. — Ela dizia que como último desejo Lee Won pediu para que Shin Hye fosse entregue a mim, que desejava Shin Hye declarada como minha filha, que só confiava em mim para isso.

O mais velho soluçou. A consolação do outro pararam abruptamente. Ela morreu... Pensava MinHo, abismado, tocado, totalmente expressivo e até mesmo triste. Morreu e deixou a filha mais nova para o Hyung?

— E parece que os pais dela não se opõem a isso de forma alguma. Eu recebi um telefonema deles ontem. — Ele despontou, levantando-se e secando as lágrimas. — Parece que apesar de quererem criar as netas, não há condições, financeiras e até mesmo físicas e mentais para o fazerem. Já são senhores de idade.

— Hyung... — Lamentou o mais novo e com um espanto Onew viu-se sendo abraçado pelo amigo. — Eu sinto muito. Sou um idiota por tocar nesse assunto. Eu sinto muito.

— Eu teria que compartilhar isso com alguém de qualquer forma, e logo.  — Ele murmurou retribuindo o abraço. — Estava ficando maluco.

— Se quiser posso explicar aos outros. Sabe, uma hora eles vão ter que saber, haverá uma criança correndo por esse dormitório. — Ele disse de uma forma mais animada, querendo contagiar Jinki, porém o mesmo pendeu a cabeça para trás e suspirou. — Você... Você vai trazer a garotinha, certo Hyung?

— Eu não sei o que fazer! — Ele exclamou de repente. — Seria muita crueldade introduzir uma criança dessa idade nesse nosso mundo maluco. Eu não tenho tempo para dormir, imagine para fornecer todo o cuidado que uma criança precisa, ou melhor, pra chegar perto dessa criança. Eu não sou bom com crianças!

— Você foi ótimo com Yoogeun. — Apontou MinHo. — Demorou um pouco a se acostumar, mas ainda sim, foi um excelente appa.

— Eu tinha vocês me auxiliando. Na verdade, você e Key fizeram todo o trabalho.

— Nós ainda estamos aqui. Não fale como se tivéssemos morrido ou coisa parecida. Tenho certeza de que ninguém se oporá a trazer a menina, na verdade, Key te daria uns belos socos se soubesse que está ponderando sobre isso. Hyung, acha que vamos recusar ajuda?

— Eu...

— O que eu disse sobre sermos uma família? — Pressionou MinHo, carrancudo. Onew virou o rosto para o menino e sorriu verdadeiramente alegre.

— Obrigada dongsaeng.

— Somos uma família. — Ele repetiu antes de dar um dos seus sorrisos carismáticos. Com um bocejo rompendo os lábios mesmo se pôs de pé. — Agora vamos dormir, amanhã será um dia cheio. — vendo os lábios franzidos de seu líder ele esclareceu. — Vamos anunciar que finalmente SHINee terá uma integrante feminina.

— O —

— Querido Romeu... — Hana murmurou enquanto escrevia. Com uma cara feia a menina amassou o papel e o lançou para a lata de lixo. Correu os dedos e retirou um papel do maço de papéis para carta – um emaranhado de papéis lilases com um cheiro forte de Rue.

A caneta pendia acima da folha sobre sua mão enquanto Hana pensava o que escrever. Espiou o relógio sobre a mesa.

— Ótimo. Meia hora pra escrever essa porcaria e não sei por onde começar! — Sibilou frustrada. Ainda levemente irritada e sobpressão Hana se pôs de pé e caminhou até sua mochila, socando, literalmente, o restante de seu material.

— Juliette... — Murmurou. — Meu nome não é esse. Eu não me chamo Juliette... Pera ai.

Correu até a mesa e deu inicio a escrita apressada, mas ainda sim com uma bela caligrafia.

                   Privet, Pseudo Romeu.

         Para começar essa carta eu decidi escrever “oi” em russo, assim talvez você aprenda de uma vez, não custa tentar. Bem, em segundo lugar: MEU NOME NÃO É JULIETTE!

Hana pôs bastante força na declaração e até mesmo passou um marcador azul-chamativo.

         Bem, dito isso, vamos para o outro tópico. Nossa eu nunca imaginei o quão difícil isso iria ser, mas tenho que admitir, você está certo sobre duas coisas, uma, eu realmente achei que fosse um completo babaca, e tenho que deixar claro: ainda te acho um. E duas, temos que recomeçar isso, pelo que eu sei, nós dois teremos que entregar as cartas aos professores no fim do semestre, então vamos garantir que as próximas cartas sejam menos hostis, certo?

         E pensando nisso eu vou ceder um pouco, então meu email está no rodapé. Se for melhor para você, vamos facilitar. Ah, certo... Desculpa. Sabe, por ter demorado a responder... Enfim, tenho menos de dois minutos para sair de casa e colocar isso nos correios.

Então, annyeong!

Pseudojuliette@hotmail.com Cuidado com o que fará com isso, só um aviso.

Ass: Aquela cujo nome NÃO É JULIETTE!