Droga. Tenho certeza que já estou olhando para ela há mais de um minuto e ainda não falei nada. Não consigo falar nada. Ela veio. Santana Lopez está na minha casa. E como eu imaginava, não consigo formular palavras ou até mesmo me mover. Vamos, Rachel, ela vai pensar que você é retardada! Fale alguma coisa! Diga “oi”!

– Oi! – Exclamei tentando disfarçar todas essas emoções que pareciam que iam transbordar a qualquer momento.

– Oi, Berry. Então... Vamos começar? – Berry. É lógico que ela não pensa em mim do jeito em que eu penso nela. Se pensasse, me chamaria de Rachel, não de Berry. Berry é tão... não íntimo. Mas ela tinha me chamado de Rachel antes. Talvez eu só precisasse quebrar o gelo, e quando ficarmos mais confortáveis uma com a outra ela vai me chamar de Rachel de novo.

– Claro – respondi mais confiante – vamos à sala do piano no andar de baixo.

– Tudo bem – ela respondeu ainda sorrindo. Tenho certeza de que aquele sorriso é um bom sinal. Não é um daqueles que ela normalmente leva no rosto, mas sim um sorriso sincero e suave que mostra que todas as intenções dela com essa aula são as melhores. Talvez sejam até de se tornar minha... Amiga?

Ela ainda estava na porta, passei perto pelo lado dela deixando meu braço direito arrastar no dela. Ela desencosta da parede e me segue para a sala de piano. Seus passos delicados seguindo os meus, me fazem arrepiar.

Entrado no cômodo, sento-me ao piano e Santana senta-se ao meu lado. Nossos corpos estão tão pertos um do outro, mas não se tocam. A sensação de ter o amor da minha vida sentado a centímetros de distância de mim faz meu coração bater mais forte do que já bateu em toda minha vida. Agora, mais do que nunca, me pergunto se ela pode ouvir minha pulsação que sobressai o som das notas aleatórias que toco no piano com minha mão esquerda. Tenho que me acalmar. Eu posso me acalmar. Fecho os olhos, respiro fundo e no mesmo instante sinto meu órgão que há poucos segundos trabalhava a todo vapor se acalmar. Isso, Rachel, você está indo bem! Sorrio para mim mesma porque a sensação de ter conseguido vencer meu nervosismo é deliciosa e começo a aula.

–Ok, Santana, eu vou tocar umas notas no piano enquanto as imito com a minha voz, e depois você as repete com a sua, tudo bem?

– Uhum. – Pronto. Esse “uhum” foi o sinal.

Ela também está nervosa, mas não sei por que. Ela está insegura por causa de sua voz? Já está irritada e só não foi para casa ainda porque preza a boa educação? Ou será que ela está nervosa pelos mesmos motivos que eu? Ou pior! Será que ela notou que eu estava nervosa e ficou nervosa com o pensamento das possíveis razões que estão me deixando nervosa? Meu coração começou a acelerar novamente, mas dessa vez não deixei-o tomar conta de mim, novamente respirei fundo e fechei os olhos me acalmando instantaneamente.

Com a ponta dos meus dedos teclo notas crescentes no órgão e as acompanho com a voz. Depois as teclo novamente e fico em silêncio deixando a voz de Santana seguir a melodia. Ela estava mesmo falando sério? Ela achava mesmo que precisava de ajuda com a voz? Tudo bem, então. Continuei tocando notas cada vez mais agudas que Santana reproduzia perfeitamente com sua voz penetrante.

– Nossa! Você foi incrível! Sua voz é perfeita! Mr. Schue estava delirando quando disse que você não conseguiria cantar um solo!

– Obrigada, mas não sou tão boa quanto você – ela disse enquanto suas bochechas se tornavam cor-de-rosa. Ela estava corando e isso era totalmente fofo. Eu sorri um pouco e olhei para meu colo.

O silêncio era estranho. Então voltei a encará-la. Ela estava mais perto agora. Seu rosto não estava mais do que cinco centímetros distante do meu. Meus olhos se perderam dos dela e desceram para encontrar seus lábios. Seus lábios grossos, carnudos e macios. São simplesmente lindos. Tão lindos que me levam para um pensamento encantador onde imagino como deve ser beijá-los. O som de algo caindo num lugar distante me mostra o caminho de volta para o momento. Como um reflexo nós duas olhamos para trás para ver o que havia acontecido, mesmo que a porta estivesse fechada e nunca iríamos encontrar nada que desse qualquer evidência. O silêncio é novamente estranho então quebro-o com o som das minhas palavras.

– Acho que você já pode escolher a música para o seu solo!

– É... – Ela respondeu hesitante.

– O que foi? Você é ótima! Com certeza conseguiria cantar um solo.

– Eu sei, mas... Não sei se estou pronta pra cantar sozinha na frente de uma plateia, mesmo que ela seja de dez pessoas... – ela parecia estar sendo sincera, e isso me surpreendia. Uma das garotas mais populares da escola estava com vergonha de cantar na frente de dez geeks insignificantes do clube do coral? Mas não conseguia evitar pensar que isso era um tanto quanto adorável.

– Então vamos fazer um dueto! – exclamei com um sorriso morno no rosto.

– Boa ideia! Você tem alguma música em mente?

– Não, mas nós podíamos pegar alguma na minha pasta de partituras e começar a treinar desde já...

– Tudo bem então! – Ela respondeu com um sorriso grande e olhos brilhantes o que me deixava feliz, pois significava que ela tinha realmente gostado da ideia.

Peguei minha pasta e comecei a folhear. Nenhuma música parecia ser boa o suficiente para o dueto com minha amada, até que... Happy Together – The Turtles. Essa música era perfeita. Eu estaria indiretamente expressando meus sentimentos e ela nem notaria, mostrei para ela a partitura e ela concordou com a cabeça sorrindo, apoiei as folhas no piano e comecei a tocar e cantar.

Imagine me and you, I do

I think about you day and night

It's only right

To think about the girl you love

And hold her tight

So happy together

Olhei para ela com um sorriso incentivador, dando o sinal de que era sua vez. Ela logo entendeu o comando e começou a cantar.

If I should call you up

Invest a dime

And you say you belong to me

And ease my mind

Imagine how the world could be

So very fine

So happy together

De repente minha voz juntou-se a dela para a próxima estrofe.

I can't see me loving nobody but you

For all my life

When you're with me

Baby the skies will be blue

For all my life

Então nossas vozes intercalavam-se de dois em dois versos, continuando uma a frase da outra em perfeita harmonia.

Me and you

And you and me

No matter how they tossed the dice

It had to be

The only one for me is you

And you for me

E novamente unimos nossas vozes como uma.

So happy together

I can't see me loving nobody but you

For all my life

When you're with me

Baby the skies will be blue

For all my life

Assim, finalizamos a música trocando os vocais de verso em verso na última estrofe.

Me and you

And you and me

No matter how they tossed the dice

It had to be

The only one for me is you

And you for me

So happy together

So happy together

How is the weather

So happy together

We're happy together

So happy together

Toquei as últimas notas no piano e então soltamos uma risadinha de satisfação. Eu ainda estava pensando em como nossas vozes soaram bem juntas quando senti dois braços delicados em volta de meu corpo e vi Santana me puxando para um abraço. Empurrei-me para perto dela e respondi o gesto com vontade. Ela me soltou e voltou a postura rapidamente, enquanto eu ainda zonza por causa de todos os efeitos que o abraço causou no meu sistema nervoso me ajeitei no banco devagar.

– Foi muito legal cantar com você, mas já tenho que ir... Nós podíamos ensaiar de novo amanhã... O que você acha?

– Foi muito bom cantar com você também e... Amanhã está ótimo! Namesma hora?

– Na mesma hora! – Ela respondeu e eu concordei com a cabeça – Tchau Rach!

Ela levantou-se, me deu um beijo de despedida na bochecha esquerda e saiu, me deixando sozinha com meus pensamentos. Essa foi a melhor aula de canto EVER! Mas posso esperar para o dueto da Santie e da Rach. Depois desse pensamento não consegui evitar uma gargalhada. Santie e Rach. Santana e Rachel. Lopez e Berry. Pezberry.