Point Of View (ponto de vista) da. Julie

Mais um dia de férias, como qualquer outro. Acordar tarde, comer besteiras, blá, blá blá. Não pra mim. Como meu pai tinha viajado a trabalho (ele não descansa nem nas férias!), eu tinha todo o tempo do mundo para ensaiar com a banda.

Abro meus olhos lentamente e olho o despertador. O visor mostra 10:46 em números verdes. Afasto minhas cobertas, sento na cama e esfrego os olhos. Na minha visão periférica, vejo alguma coisa se movendo. Uma coisa não. Três coisas.

- Gente! – falo, com uma mistura estranha de surpresa e irritação na voz. – O que estão fazendo aqui?

- Esperando você acordar. – diz Félix, gentil.

- Você ronca pra caramba! Parece um trator! – brinca Daniel, enquanto Martin e Félix riem.

Respondi-lhe com uma careta.

- E aí, vamos ensaiar? – proponho.

- Agora falou minha língua! – Martin se anima.

De pijama mesmo, levantei e desci as escadas, e direção à edícula. Tropecei algumas vezes, devido à minha sonolência, típica das férias.

- Opa, tá caindo de madura? – Félix ficou me zoando.

Eu ri de mim mesma. Ao chegar à edícula, os meninos pegaram seus instrumentos e eu me posicionei em frente ao microfone. Só então começamos a tocar.

Ainda estava sonolenta, e não dei ouvidos à música.

- Julie? – Daniel me chama.

- Oi! – exclamo, despertando.

- Não vai cantar? – ele sorri de leve.

- Me distraí. Não dormi muito essa noite, daí não estou me sentindo bem disposta.

- Ah, Julie – se decepciona Martin. – A gente precisa muito ensaiar hoje. Seu pai volta de viagem hoje, lembra?

- Ah... – me lembrei. – é.

- Ei, por que o barulho parou? – Pedrinho entra na edícula esfregando os olhos. O barulho possivelmente o acordara, e ele ainda estava de pijama.

- Ah, é que a Julie tá meio cansada e não consegue se concentrar – explica Félix.

Pedrinho assente e me avisa que vai tomar café.

- Melhor você ir comer também, Julie. – diz Daniel, me olhando. – Pra ficar mais enérgica.

- Tá certo. Vou nessa.

E sigo Pedrinho até a cozinha. Abro a geladeira e, tremendo com o vento gelado, escolho algo para beliscar. Pedrinho fuça no armário até achar seu cereal.

Pego a caixa de leite e entrego à ele. Eu não estava muito a fim de tomar café, então simplesmente peguei um energético e fechei a porta da geladeira.

- Tá doida? – Pedrinho me diz, indignado com minha decisão. – Vai tomar energético logo cedo?

- Vou.

- Tá, quando seu intestino tiver uma super reação e seu cérebro sobrecarregar por cansaço, não reclame.

- Não enche, Pedrinho. – eu disse, e posicionei minha mão sobre a latinha. Olhei para o Pedrinho e vi que ele tinha razão. E se me desse um troço? Ficar doente nas férias? Tô fora!

E devolvi a lata à geladeira.

- Melhor assim. – ele assente.

O resto do dia, nem vale à pena narrar, de tão improdutivo. Dormi quase o dia todo, já que não conseguia me concentrar.

Acordei e olhei o relógio de celular, que ficara ao meu lado na cama. Cinco da tarde! Não acredito que dormi tanto! Quem fez almoço pro Pedrinho???

Levantei sobressaltada e corri até o quarto dele, que estava com a porta aberta.

- Pedrinho – chamei.

- Fala Julie – ele responde, sem tirar os olhos de uma de suas experiências malucas.

- Você almoçou hoje?

- Sim.

- Mas como? Eu não tinha cozinhado nada...

- Tinha uns pedaços de pizza congelados no freezer, aí eu descongelei e comi.

- Ah... Tá. – disse, quase sussurrando.

- Julie, eu sei me virar, tenho 10 anos!

Eu ri e fiz carinho em sua cabeça.

- Claro que sabe. Acho que vou pra edícula. Sabe se os meninos saíram?

Sons de guitarra vindos da edícula responderam a pergunta.

- Bom, vou nessa, Pedrinho. Vê se não explode a casa, hein?

- Não prometo nada! – ele diz, sorrindo.

Desço até a edícula e encontro os meninos ensaiando.

- Mas olhem se não é a Bela Adormecida! – Brinca Martin.

- Tá melhor, Julie? – pergunta Daniel.

- Tô sim. – sorri.

Então ouvi um barulho vindo da entrada. Nada menos que a maçaneta rangendo mais alto que o normal para avisar que meu pai se aproximava.