Alguns dias foram passando e o cartão que Nikole havia me entregado estava rolando pela casa. Sim, eu havia voltado para o apartamento, mas era temporário, eu sabia que mais cedo ou mais tarde, Claire e Hugo apareceriam por aquela porta e eu não queria estar lá.

Esse dia chegou antes do que eu imaginava, estava eu sentada na sala tomando a minha maravilhosa taça de sangue quentinho enquanto assistia TV, quando a porta abriu.

- Hugo Campanaro Narrando-         

Eu e Claire voltamos para Londres, assim que entramos no apartamento, Lumar estava sentada no sofá de camisola e tomando sangue. Ela se virou e gelou, assim como eu.

_ Lumar... – Claire disse e ela se levantou em um pulo

_ o que vocês estão fazendo aqui?

_ essa casa é nossa também – eu respondi tentando controlar a ironia na voz, o que eu falhei completamente.  Ela me encarou com a sobrancelha arqueada e assentiu.

_ hum, verdade! Bem vindos de volta então – ela forçou um sorriso e saiu andando para o quarto.

_ é ela ainda está puta. – eu comentei

_ não me diga Hugo, eu nem notei – Claire respondeu transbordando ironia. E depois foi para o quarto.

Rolei os olhos e fui pra cozinha pegar um pouco de sangue, lá em cima, ouvi Lumar falar no celular. Não, eu não estava prestando atenção na conversa dela, claro que não.

Se você acreditou nisso, é mais ingênuo do que o recomendado.

- Lumar Lefreve narrando-

Eu andei de um lado para o outro no meu quarto com o celular na mão e o cartão de Nikole e decidi ligar. Eu já tava na merda mesmo, que diferença faria.

_ eu sabia que você ligaria. – a voz de Nikole ecoou do outro lado

_ oi Nikole, estou bem e você? Obrigada por perguntar. – ela deu uma risadinha sarcástica antes de responder

_ não precisamos de cumprimentos tolos Lumar, sabemos o motivo de sua ligação, pensou em minha proposta?

_ sim... E ainda estou um pouco confusa devido aos recentes acontecimentos, mas estou quase certa que me mudarei para L.A definitivamente.

_ ótimo, ótimo e se me permite perguntar, que acontecimentos?

_ eles voltaram – eu comentei fraca. O silencio que Nikole fez, estava se tornando constrangedor.

_ ah sim, bom, pense mais um pouco, sei que não se arrependerá Lefreve, nos falamos em breve?

_ claro.

_ Até lá - ela desligou e eu fechei os olhos com força respirando fundo, não sei se minhas decisões serão as mais certas, mas eu acho que são as melhores no momento. Meu momento de reflexão foi interrompido por um furacão chamado Hugo Campanaro que abriu a porta do meu quarto com tanta força que eu quase não consegui acompanha-lo.

_ VOCE VAI FAZER O QUE?

_ você estava escutando?

_ claro que eu estava escutando Lumar, por que ligou pra Nikole?

_ Nikole me chamou para viver com eles lá em Los Angeles. – disse na lata, sem dó e nem piedade.

_ como é que é?

_ é isso mesmo Hugo, no ano novo eu encontrei Nikole aqui em Londres, ela me convidou e disse que eu esperaria o tempo que fosse preciso para eu tomar minha decisão e que quando fosse a hora, que eu ligasse para ela.

_ você não vai.

_ quem te disse que eu quero permissão?

_ não disse que quer, eu estou dizendo que você não vai.

_ eu não estava certa se ia ou não Campanaro, você ouviu a conversa, sabe disso, mas agora... Eu estou mais que certa e pronta para ir morar em Los Angeles.

_ por quê?  - eu ri sarcástica

_ não vou responder essa sua pergunta idiota, eu vou e acabou, agora, por favor, saia do meu quarto.

_ eu não vou sair até você me dizer que não vai.

_ bom quem vai ficar que nem um dois de paus aí é você e não eu. – me afastei um pouco e peguei o celular para ligar para Nikole novamente. Hugo em um surto momentâneo tirou o celular da minha mão e jogou longe.

_ você só vai por cima do meu cadáver

_ bom isso não é problema, porque tecnicamente, você está morto – dei meu sorriso mais nojento possível.

_ você vai ter que me empalar pra ir pra LA

_ vem cá, o seu brinquedinho sexual humano não veio não? Vai encher o saco dela e me deixa em paz! – ele alongou as presas e me atacou, mas eu fui mais rápida e desviei contra atacando.

Era a mesma coisa de sempre, chutes, arranhões, socos, xingamentos, ate um dos dois cansar.

_ não vou ceder dessa vez – ele respondeu como se lesse minha mente.

_ nem eu baby.

_ cheia de ironia – ele riu e me deu um soco, fazendo com que eu encostasse com força na parede e rachasse só um pouquinho. Eu me recuperei e o chutei fazendo com o que ele fosse parar no corredor, alguns socos depois ele desistiu e segurou meu pulso. – já chega!

_ me solta – fiz força, mas ele segurou com mais força – me solta agora ou eu grito!

_ você pode gritar, espernear, me xingar, mas eu preciso fazer uma coisa. – e sem me deixar responder, ele me beijou.

- Hugo Campanaro narrando-

Eu não sei o que me deu, quando eu percebi, eu tava agarrando a Lefreve no corredor. Ela cedeu por alguns minutos e depois me afastou. Olhou-me séria, e eu nunca vi tanta escuridão, angustia e magoa em um olhar.

_ Não Hugo! Não vou fazer isso de novo. – ela ia saindo, mas a segurei.

_ não vai! A gente errou muito Lefreve, mas temos a eternidade pra consertar.

_  não, não temos, sabe por que? A carne é fraca, sempre que a gente se acertar e tudo ficar em paz, sempre vai ter um humano entre nós, seja por minha causa ou sua. E eu não quero cometer esse erro pelo resto da vida. – e então ela entrou no quarto batendo a porta.

_ ela ta certa sabia? – eu dei um pulo quando Claire estava da porta dela me olhando.

_ você viu?

_ não, mas ouvi! E acredite que não sei o que é pior, ouvir vocês brigarem ou se pegarem – eu ri.

_ acha que ela vai desistir? – Claire riu sarcástica

_ é claro que não Hugo! Você passou tempo demais com a Shay, precisa a voltar a ser vampiro, não humano. – Claire entrou no quarto de novo e eu desci.

- Lumar Lefreve Narrando-

Eu liguei para Nikole novamente e disse que iria para L.A o mais cedo possível. Resolvemos tudo e arrumei minhas coisas. No dia que eu estava partindo, Hugo nem olhou pra minha cara. Antes de sair, eu passei no quarto de Claire pra me despedir e ele estava lá conversando com ela.

_ Claire, eu vim... – parei assim que o vi – me despedir – completei com a voz baixa.

_  Tchau Lumar – ela me abraçou forte – desculpa por qualquer coisa, e você sempre vai ser bem vinda, ok? Se quiser fugir – eu ri

_ não torna isso mais difícil – eu sorri pra ela

_ tudo bem, desculpa.

_ Hugo? – ele me olhou – não vai falar comigo?

_ tchau – ele disse simplesmente, eu suspirei e sorri de lado.

_ tchau – eu saí do quarto.

- Claire Di Minus narrando-

Vi Lumar fechar a porta e instantaneamente olhei pra Hugo com a sobrancelha arqueada.

_ você não vai falar com ela?

_ já falei, você não viu? – bufei irritada

_ eu to falando sério Hugo. Pode ser a ultima vez que você vai ver a Lumar e tudo o que você tem a dizer pra ela é tchau?

_ ela não quer me escutar Claire. Deixe que vá!

_ não faça uma coisa no qual vá se arrepender pela eternidade – ela continuou me encarando com a sobrancelha arqueada.

- Lumar Lefreve Narrando –

Depois que eu sai do quarto de Claire, parei na sala relembrando tudo o que havia acontecido ali. Quando eu ia sair, Hugo me segurou pelo braço.

_ Lumar! Não faça isso

_ e por que não?

_ você vai se arrepender e...

_ e ele não vive sem você – Claire disse aparecendo no pé da escada. Eu a encarei com os olhos arregalados e Hugo teve a mesma reação que eu. - não me olhem com essa cara, vocês sabem que é verdade.

_ Claire... – eu ia retrucar, mas ela me interrompeu.

_ cala a boca que agora eu vou falar! Vocês vivem brigando, pelo que eu sei desde sempre! Passaram dois séculos discutindo o tempo inteiro e logo depois voltavam a ser o que eram.  O que mudou?  - Hugo abriu a boca pra responder, mas ela o cortou com apenas um olhar – sabe o que mudou? Vocês ao invés de ficarem mais maduros, sábios, experientes, estão regredindo! Pra que esse drama mexicano, Lumar? Se aliar ao inimigo? Não esta fazendo muito diferente daquela menina que eu matei na ultima batalha.

_ meus motivos são diferentes – finalmente consegui falar.

_ Diferentes? – ela riu sarcástica – você não sabe a merda que você esta fazendo deixando essa casa. Você sabe, mais do que ninguém que não vai conseguir esquecer tudo assim tão fácil, nem muito menos esquecer esse idiota aqui.  – ela apontou pra Hugo que a olhou com cara feia – eles podem te matar Lumar, acha que Nikole do nada vai te adorar? Pra sempre? Você ta sendo muito ingênua, esqueceu os bons valores vampíricos, você e ele, estão voltando a ser humanos.

_ é por isso que eu estou indo Claire, eu não sou humana, não quero agir como humana. Estou indo para recuperar quem eu era quando fui transformada.

_ uma besta descontrolada? – Hugo perguntou e eu bufei irritada.

_ não, alguém que não era apaixonada por você. – dizendo isso eu saí do apartamento, indo para o carro que me esperava lá em baixo.