Estava andando em direção ao velho galpão que o meu pai tinha no chalé onde guardava os velhos barcos. Estava decida iria reconstruir o barco de Charlie. segurando uma caixa de ferramentas, um bloco de papel quadriculado e alguns lápis de desenho. Abri a porta do galpão de madeira que ficava bem longe da praia e da cidade, em um local afastado onde só havia plantas e um rio cristalino, estava no meio da tarde e o céu nublado trazia aquele local um ar aterrorizador e ao mesmo tempo reconfortante para mim. Me deparei com o velho e grade galpão de madeiras úmidas e mofadas todo aberto, perto de uma árvore. Fui pisando na ponta dos pés, para que as gramíneas não enroscassem em meus calcanhares nus. Inspirei o ar puro da liberdade e exalei tentando exalar todo a minha dor. Entrei no galpão e passei os olhos e havia apenas um barco, o do meu velho Tio Marshall, estava com alguns apetrechos de pesca e velejaria dentro dele, olhei para pequena janela de madeira verde-água onde embaixo dela havia uma mesinha de centro com algumas revistas sobre montagens de navios e outras coisas. Passei os olhos para o lado esquerdo do galpão iluminado pelas réstias de sol que tentavam atravessar o céu nublado de Rey e vi uma escrivaninha de madeira completamente bagunçada cheia de papeis amarelados espalhados. Subi mais os olhos e vi um pequeno mural com vários desenhos pregados, eram os desenhos de Charlie.

-Gostou ? – escutei a voz conhecida ecoar atrás de mim.

-Sim... você realmente planejou tudo! - eu disse me virando em sua direção e esboçando um sorriso orgulhoso. Ele mexeu as sobrancelhas e logo depois desceu os olhos para a minha caixa de ferramentas.

-Você vai reconstruir o meu barco? – ele indagou doce, e eu sorri.

-Sim...você me ajudaria? – ele sorriu e assentiu afirmamente com a cabeça. Fomos andando lado a lado em direção a carcaça do barco de Charlie que estava no final do lago. Ele carregava a minha caixa de ferramentas, enquanto eu carrega uma caixa de papelão cheia de desenhos e revistas que nós dois selecionamos. É estranho pensar que eu estou conversando com uma miragem, mas Charlie era real...pelo menos para mim!

                                                           [...]

-Por que esta fazendo isso? – ele perguntou enquanto estávamos deitados sobre as pedras que ficavam perto do rio olhando o céu na árdua tarefa de sair do cinza para o preto.

- Eu preciso encher a minha cabeça, Charlie. – eu respondi logo após suspirar pesado.

-Então fez a escolha errada. – ele disse com a voz mansa – encher a cabeça com trabalho nunca funciona. – eu olhei para ele que estava deitado ao meu lado, e encarei seus olhos azuis igual ao oceano, e sorri doce voltei meus olhos para o céu, e fechei os olhos por alguns segundos deixando a imagem de Harry vindo em minha direção invadir a minha mente. Involuntariamente sorri. Quando abri os olhos ainda estava bem escuro, olhei para o lado e Charlie permanecia fitando o céu fixo – você sente falta dela? – ele murmurou me tirando de meus devaneios e me fazendo encarar sua face retilínea .

-Sim...muita. – eu falei em quase um sussurro, respirei fundo e falei – porém, continuamos irmãs...não importa o que aconteça, permaneceremos irmãs não importa se a Terra pegar fogo. Se a água do mar subir. Se o vento soar forte demais...não importa. Eu vou continuar a amando.- eu disse sentindo meus olhos arderem, senti o frio da mão de Charlie sobre a minha:

-Você é tão forte,Tess. – ele disse admirado e eu sorri- eu tenho que ir,Tess...amanhã eu volto! – ele disse se levantando- Boa noite...-ele despediu antes de desaparecer em meio a vegetação.