O som do vento e o da chuva eram os únicos sons audíveis naquela fria e escura noite de dezembro. Em uma cidade qualquer (que não apresenta relevância alguma nesta estória) no estado do Texas, uma garota de cabelos tão negros quanto a noite e os olhos de um azul gélido se encontravam deitada na cama extremamente desarrumada do seu quarto (o qual não apresentava nenhum indício de arrumação. Roupas espalhadas, pôsteres de banda rock underground colados na parede e uma caixa de pizza não totalmente comida jogada em um canto qualquer ).

Avery Saint Rolstroy. Esse era seu nome.

A jovem em seus plenos dezessete anos era considerada estranha por muitos, enquanto por outros era simplesmente ignorada. Avery não se importava com esse fato; ser invisível costumava ser até bom. Bem, costumava. Isso até ela se apaixonar por Tyson Falcone, um belo rapaz da equipe de futebol.

Misterioso, bonito, popular. Essa era a definição exata de Tyson. Avery não sabia explicar bem como aquele sentimento fora aflorar dentro dela; até porque “a garota excluída apaixonar-se pelo popular da escola” era o mais clássicos dos clichês. Mas tinha algo naqueles orbes da cor de ônix, algo que a fazia se perder na profundidade negra quando eventualmente seus olhares se encontravam.

Saiu de seus devaneios quando uma gota d’água acertou em cheio sua testa, logo seguida de outra, e mais outra.

–Droga. – murmurou levantando desorientada, uma goteira bem em encima de sua cama, tudo o que precisava. Bufando impaciente pegou seu cobertor e foi em direção a sala deitando-se no velho sofá, talvez ali conseguisse finalmente dormir.

–Avery? Por que dormiu no sofá? – a voz meio rouca de sua avó ( que mal conseguia se estabilizar em pé) a despertou. Os orbes azuis se abriram e avistaram a idosa de cabelos tão brancos que podiam se confundir com a neve. Molly Rolstroy, uma bondosa senhora que passara a cuidar de Avery desde a morte trágica dos pais da menina em um acidente de carro enquanto ambos voltavam de uma conferência de trabalho, na época a jovem Rolstroy tinha apenas onze anos e desde então ficara sob os cuidados da avó.

–Uma goteira bem encima da minha cama. – informou jogando o cobertor para o lado sentando-se no sofá.

–Outra minha filha? – suspirou- Vou chamar Drake para consertar. Ele é um bom rapaz.- Avery passou a mão pelos curtos cabelos negros.

–Certo vó, faça isso. - disse enquanto subia as escadas rapidamente antes que avó começasse tentar a convencer do quanto Drake era um bom rapaz, trabalhador, que seria um bom marido... Drake era bonito, isso Avery não podia negar, mas não era nada além disso “bonito”.

....oooo....oooo....

–Tá cega sua idiota? Não olha por anda não? – a voz aveludada encobriu o som da conversa dos outros alunos que estavam por perto, imediatamente todos passaram a observar a cena curiosos. Avery estancou onde estava, levantou a cabeça e encarou as orbes negras que pareciam levá-la para uma imensidão sem fim,seu coração deu um solavanco. O jovem de cabelos negros que quase batiam nos ombros a encarava irritado e com algo que ela conseguiu identificar como desprezo. Avery tentava balbuciar algo, porém as palavras simplesmente não saiam.

Continua...