Como eu suspeitava, várias pessoas voltaram seus olhares para mim. Tipo, várias pessoas mesmo. Merda. Continuei andando sem olhar pra ninguém. Quem me vê deve me achar totalmente metida ou algo do tipo. Mas não se julga o livro pela capa, não é mesmo?
  Nossa, essa merda é realmente grande. Peguei no meu bolso o pobre papel amassado que dizia onde era minha primeira aula. Primeira aula, biologia. Beleza. Porra, segundo andar. Odeio ter que me esforçar para subir escadas. Preguiça é meu segundo nome. Depois de subir 550 degraus.. Mentira, foram só dois lances de escada, eu estava em frente a sala. Meus pés travaram e eu comecei a tremer. Não mesmo dona Kat, vamos entrando logo porque a recém é seu primeiro ano nessa escola. Obedecendo minha consciência, entrei quase correndo dentro da sala e voando direto para as últimas carteiras, já que assim quase ninguém me olharia. Havia só dois garotos com aparência de nerds, nada de fortões do time de futebol ou garotinhas mimadas. Ufa. Fiquei passando freneticamente a mão no cabelo e mordendo meus snakebites. Droga de nervosismo. E então as pessoas começaram a entrar na sala. Hm, mais nerds, algumas garotas normais, garotos ruborizados de vergonha, e meu deus, o que era aquilo no rosto de um deles? Sério, aquilo não era uma cova, e sim uma cratera! Mas o garoto tinha os olhos suaves.. hm, não parecia nada com os garotos que eu conheci. Enfim,  logo atrás dele entraram mais 3 garotos, todos com os olhos extremamente azuis. Puta que pariu, porque eu não sou inglesa? E todos sentaram... mas o que.. dos meus... lados? Ah não, se eles sentaram aqui pra me incomodar ou zoar com a minha cara... não meço esforços pra quebrar a cara de cada um. To falando sério. Droga, estou muito nervosa. Cala a boca Katherine. Nossa, minha mente corre demais. Sou uma pessoa solitária, então tenho que falar com a minha própria mente. Bizarro.
 Tentei não ligar para aqueles quatro garotos a minha volta, e voltei minha atenção para as pessoas que entravam. Ah não, como era de se esperar, os idiotas do time de futebol, com suas ridículas jaquetas vermelhas do time entraram na sala, todos pomposos. Cara, aquilo era como o maior atrativo para garotas sem cérebro, meu deus. Ao lado deles, praticamente penduradas em seus pescoços, estavam algumas garotas oferecidas e sem amor próprio. Mais pessoas aparentemente normais, garotos com aparência muito jovem e, espera. Acho que bati a cabeça e estou tento alucinações. Mas que merda era aquela?
  Atrás de todas as pessoas que entravam, uma menina loira com olhos azuis –novidade- camisa dos Beatles, calça rasgada e jaqueta de couro acabara de entrar, fazendo meus olhos se perderem nela. Não, eu só podia estar ficando louca. Meu deus, uma garota como... como...eu? Minha vontade era de sair correndo e perguntar se ela realmente era real. Ta, menos Kat.
  A garota misteriosa veio vindo em minha direção. Merda. E ela...sorriu pra mim? Antes de se sentar a minha frente. Mas que droga tá acontecendo? Eu não devia ficar tão emocionada só por ver alguém parecida comigo. Ou essa garota realmente se vestia de acordo com seu estilo, ou é mais uma dessas que “tenta” se vestir assim só pra ser “bacana” como achava. Como tem pessoas idiotas nesse mundo.
 Parando de falar mentalmente comigo, resolvi prestar a atenção a minha volta, mas discretamente, óbvio. Tentei escutar o que aqueles garotos estavam conversando, e ouvi um pequeno trecho do garoto com a cratera, digo, monocova na cara, junto com o garoto de olhos azuis e cabelos cacheados. Uma gracinha. Er, mas o que há comigo? Porra Katherine, se situa.
   -... Eu disse isso pro Dougie, mas esse anão não ouve ninguém! – Dizia o da covinha.
   - Cala a boca seu gordo, você nem disse nada pra mim! – Disse o suposto Dougie do meu lado oposto. Não entendi porque ele chamou o outro de gordo porque, de gordo ele não tinha nada.
   - Calem a boca os dois, o professor chegou. -  Disse o garoto ao lado de Dougie.
   Acho que eles ainda não tinham notado a minha presença, ainda bem.
   - Olá pessoal, meu nome é Alaric e sou seu professor de Biologia. – Disse Alaric sorrindo simpaticamente para a turma. Um professor simpático, é? Está melhorando.
   - Espero que os outros professores sejam mulheres, por favor. – Disse o garoto ao lado de Dougie. Como eu imaginei, garotos são todos iguais. Uma pena, porque eu pensei que ele fosse legal.
  - O seu único problema é ser tarado, Harry. Será que pelo menos, por um dia você consegue não dizer “mulheres”? – Disse o da monocova. Ou ele era gay, ou o tal Harry realmente exagerava na taradisse.
  - Tarado? Quem aqui namora desde os 10 anos a mesma garota, hein  Tom? – Disse Harry. Eu fiquei curiosa e comecei a espiar pelo canto do olho. Ele estava de braços cruzados para Tom. O garoto ficou extremamente vermelho. Achei a pose dele engraçada, e sem querer sacudi os ombros em, uma tentativa sem sucesso de segurar uma pequena gargalhada.
  Para a minha “sorte”, Harry desviou o olhar de Tom para mim. Merda, merda merda. Nervosa, comecei a mexer em todos os papéis em cima de minha classe.
   - Vai me dar a cópia da letra, ou não? – Harry perguntou.
   - Cara, você é muito chato! – Disse Tom procurando algo dentro de sua mochila. Até enfim, tirar uma folha de caderno surrado e lendo em seguida para conferir se era a certa. Para a minha imensa surpresa, ele cutucou meu braço – Ei, você, por gentileza poderia alcançar par ele? – Perguntou apontando para Harry, que estava com uma sobrancelha erguida. Preciso dizer que eu congelei? Má idéia sentar aqui atrás. Má idéia. Respirando fundo muito cautelosamente, peguei o papel de sua mão, e me virei para o outro lado, entregando-o nas mãos do outro garoto. Senti meu rosto muito quente. Cacete.
   - Obrigada, er...? – Harry sorriu para mim. Nossa, ele era lindo. Ok, estou com medo de mim mesma.
   - Kat. – Eu disse rápido demais, acho que ele entendeu.
   - Obrigada, Kat. – Terminou ele dando uma risada no final e fazendo Dougie pigarrear do seu lado.
   - Harry, Harry... – Disse o garoto de cabelos cacheados.
   - Danny, preste a atenção na aula, se é que isso vai adiantar alguma coisa pra essa sua cabeça com ausência de cérebro. – Disse ele e os 3 começaram a rir. Eu como sou idiota, fiquei olhando para os 4, e rapidamente desviei minha atenção para a lousa que já continha alguma matéria de biologia .
   Quando o professor fez a chamada, descobri que o nome da garota misteriosa era Isabella Gregory. Fiquei realmente com vontade de conversar com ela. Mas sei lá, não sou assim. Esse colégio tem algum tipo de magia que está me deixando meio louca, só pode.
   Depois de duas aulas de física, com uma professora velha e louca, chegou a hora do intervalo. Droga, esse campus é muito grande e tem muita gente! Onde eu posso me enfiar e ficar sozinha? Ah, não existe “sozinha” nesse lugar, porque em cada canto imaginável tinha algum ser pra estragar minha pobre vida.
   Fiquei andando em círculos e observando cada centímetro daquele pátio, afim de achar um lugar vazio. Ah, maravilha. Achei uma árvore com uma bela sombra e grama bem verde. Sentei no chão mesmo ué. Tinha muitas pessoas a minha volta, óbvio. Mas ninguém tão perto de mim. Perfeito. Fechei os olhos e fiquei pensando em unicórnios tocando saxofone.
   - Seu nome é Katherine, não é? – Ouvi a voz falando comigo e quase morri de susto. Ah meu deus, era Isabella! Mas como ela me achou? Porque diabos ela está falando comigo?
   - Sim, e o seu é Isabella, não é? – Respondi com outra pergunta. Ah qual é Kat, seja mais amigável com pessoas legais.
  - Pode me chamar de Bella. – Disse ela sorrindo e.. sentando ao meu lado? – Gostei do seu estilo, tem atitude. Muito diferente das pessoas desse campus. – falou olhando ao nosso redor, mascando chiclete encostada na grande árvore.
   - Obrigada. Gosto de ser diferente, coisa que não é muito comum aqui. Gostei do seu estilo também, na verdade, me surpreendi por ter alguém.. Er... parecida comigo. – Soltei uma risada abafada, e ela sorriu.
  - Acho que vamos nos dar bem. – Disse Bella acendendo um cigarro.
  - Talvez. – Eu disse sorrindo para frente.
  - Então, você é daqui? – Perguntei depois de alguns minutos de silêncio. Por um milagre da natureza, eu simpatizei com essa garota.
  - Sou sim, nasci aqui. Não gosto muito. E você, parece ser de outro lugar por causa do seu sotaque...
  - Sou do Brasil, conhece?
  - Ah sim. Ouvi dizer que lá é muito bonito.
   - Bonito? Meu deus o que vocês tem na cabeça? Bonito é aqui. Bonito não, perfeito! Lá é literalmente o inferno, o país errado pra alguém como eu.
   - Nossa, é sério? Sempre ouvi falar bem do Brasil. Mas já que você é a prova viva de que é uma droga, eu acredito – Disse ela gargalhando. 
  - Não queira conhecer o Brasil. Você nasceu no país certo. Nunca saia daqui – Eu disse rindo junto com ela. Mas que droga está acontecendo comigo?
 Ficamos ali, conversando sobre o Brasil e a Inglaterra até o intervalo terminar. Eu estava me divertindo, pela primeira vez em muitos anos. Aquela garota tinha algum poder sobre mim. Ouvi o sinal e já fui me levantando, enquanto Bella já estava de pé, escrevendo algo na árvore.
  - Bem... Que aula você tem agora? – Perguntei, meio indecisa se perguntava ou não. Qual é, eu nunca fui muito amigável. Acho que estou revendo meus conceitos. 
   - Er... – Ela puxou um papel parecido com o meu do bolso de trás da sua calça – inglês – Bella disse com cara de entediada. Pelo jeito ela não gostava de inglês.
   - Ah, eu tenho química. Odeio qualquer coisa relacionada a números e átomos e a tabela periódica, argh – Resmunguei e ela riu.
  - Bom, então a gente se vê por ai Kat. – Sim, ela me chamou pelo meu apelido. – Ah, espera, o que você tem depois de Química?
  - Literatura – Eu respondi lentamente
  - Literatura? Então, até a 6° aula. – Disse ela sorrindo para mim e dando as costas, indo em direção a sua aula.