Acordei, mais um dia quer seria difícil pra mim. Foi uma dificuldade pra sair da cama. Evitei olhar o mural com fotos nossas, isso tornaria mais difícil continuar para mim. 

Desci as escadas e vi que a senhora Iero não estava em casa, isso é bom, menos gente me vigiando pra que eu não fizesse nenhuma besteira. Eles não me diziam, mas eu sabia que estavam me vigiando, eles tinham medo que a tristeza subisse em minha cabeça e eu fizesse alguma besteira.

Sai da casa dele deixando todas nossas memórias lá, como era difícil olhar para aquela porta e vê que ele não estava mais ali me dando tchau, pedindo pra eu me cuidar. Uma lágrima solitária saiu do meu olho. Olhei para cima e só consegui sussurrar "Por quê Deus? Por quê?". Desabei no choro de novo.

Enxuguei meu rosto com a mão. Sai andando até o bar novamente, comprei outra bebida. Minha vida agora funcionava a base disso, bebida. Pensei em ir ao parque, mas achei melhor não, não quero ir em qualquer lugar que me trouxesse lembranças do Frank.

Fui andando até o final da cidade, caminhada longa. Cheguei lá e a bebida já tinha acabado. Avistei outro bar e comprei outra. Me sentei na calçada de uma rua vazia. Abandonada. Meus olhos vermelhos e o rosto inchado e a minha roupa toda amassada chamava um pouco da atenção de quem cortava o caminho por ali.

Tentei não lembrar do baixinho. Do seu jeito. Do seu beijo. Mas de qualquer maneira, era inevitável. Aquilo só fazia a minha vontade de chorar aumentar, até que eu mais uma vez eu chorei.

Anoiteceu, eu sabia que não podia voltar pra casa. Não daquele estado, bêbado, ou parecendo um, com a roupa amassada. Com o corpo todo acabado. Procurei algum hotel barato de beira de rua. Achei um com sorte, me deitei lá do jeito que estava mesmo, sem banho, sem nada. Dormi ali, mas um dia de pesadelo se passava.

Acordei de madrugada, me sentei na cama. Suspirei, pela primeira vez me senti um nada. Senti aquele vazio dentro de mim, só que agora maior. Não senti vontade de chorar, nem de gritar, nem de nada. Eu sabia o que era isso. Eu estava começando a me suicidar, e como dizer, o suicídio começa pro dentro.

Me deitei de novo. Sabia que não ia consegui dormir. Fiquei enrolando e enrolando, até que cai no sono, de novo.