- Se-bas-chaaaaaaaaaaan! - A voz ecoou por alguns instantes na noite escura. Era facilmente identificável: ninguém no mundo possuía o mesmo  timbre agudo, reverberante e malicioso. Ninguém gritava com tanto entusiasmo, nem perseguia o mordomo negro, além de Grell Sutcliff.

O próximo som ouvido foi o do mesmo caindo de cara no chão.

 - Oh, Sebastian, tão cruel! Por que insiste em ignorar e conter o nosso amor ardente? - provocou, sibilando e abraçando a si mesmo com o mesmo sorriso malicioso que dele nunca se desprendia.

O mordomo não respondeu, apenas continuou andando friamente, seu torno negro se misturando aos tons da própria noite, frio e impassível, enquanto o shinigami vermelho suspirava, desistindo. O sorriso sumira tão facilmente quanto surgira; dane-se, ele também não dava a mínima para Sebastian.

Sobre eles, outra criatura negra, fria e calada apenas observava do alto de um telhado, os olhos frios cintilando verdes em reflexo a uma luz inexistente.

Algo como ódio, desprezo, raiva, impregnava-os completamente.

Isso porque William T. Spears, naquele momento, estava morrendo de ciumes.

Grell não o vira, apenas soltara aquele audível e costumeiro suspiro e fora embora lentamente, deixando seu superior sozinho na calada noite, irritado.

Aqueles olhos frios, no momento cintilavam como nunca vira, emoções puramente claras à mostra, da raiva à tristeza. 

William não era tão frio quanto pensavam. Não quando não havia testemunhas.

Era verdade inegável que ele era profundamente viciado em trabalho, mas de uns tempos para lá, ele apenas trabalhava para se distrair.

Era a única coisa que fazia sua mente se distanciar daquela criatura vermelha, que o perseguia em si mesmo, dominando seus pensamentos.

Se alguém algum dia disesse que Will iria se apaixonar por ele, o mesmo teria apenas dirigido um olhar carregado de escárnio. Agora, no entanto, ele apenas suspirava, lançando frieza falsa no ar.

Aquela armadura de indiferença, tão desconfortável, que ele levara tanto tempo para confeccionar, era a única proteção que tinha. Sabia que o ruivo nunca entenderia ou retribuiria, então apenas protegia-se dos seus olhos que o revelavam como uma chave revela o que há por trás da porta, friamente.

E aquela escolha se mostrara certa, porque algum tempo depis, para Will, nada poderia ser mais óbvio e doloroso do que o amor de Grell por Sebastian.

A única concepção errada de sua vida.

Era verdade que o shinigami perseguia o pobre demônio, mas apenas por ter perdido as esperanças. Para ele, aquele mordomo, tão sério, tão frio, em seu terno negro, era como uma cópia de Will. A única diferença entre eles, além do fato de que para Sebby Grell conseguia se "declarar", eram os olhos. Enquanto os de Will eram uma mescla de verde com amarelo, frios e com mil coisas por trás, os de Sebastian eram sarcásticos e de um vermelho intenso.

Aquela era a única ocasião em que a cor vermelha perdia para alguma outra na concepção do shinigami; quando comparava os olhos.

Grell olhava para aqueles olhos penetrantes e frios que pareciam querer repeli-lo, e via neles a alma de Wiru, tão quente e aconchegante... Mas que ele nunca conseguia ver ou sentir por inteiro. às vezes falava de Sebby e via se encontrava lá algum resquício de ciumes, inveja ou raiva, seu grande objetivo, que na verdade estavam lá, mas nunca à mostra; ele apenas via ali desprezo e indiferença.

Não, Will nunca o amaria. Ele tinha certeza disso.

Uma das várias concepções erradas de sua vida.

William suspirou, e Frell o imitou sem saber, caminhando pelas ruas escuras e gélidas de Londres que tanto o lembravam dele.

 - Sutcliff, seu incompetente...

 - Ah, Wiru...

 - Aishiteru.