Early Sunsets (one-shot) escrita por mengelkep
Notas iniciais do capítulo
Espero que gostem!
− Hey, Gee. − a voz dela veio de algum lugar atrás de mim, bem próximo, mas eu não virei, não podia encará-la agora, ela iria perceber.
Além do mais, como eu ia admitir que estava gostando de uma... garota? Garotas e garotos não se misturam no meu mundo. Afinal, eu só tenho oito anos.
− Hey, Cici. − nem me lembro mais porque nós ficamos amigos pra começo de conversa, ela simplesmente sempre esteve lá. É uma pressão muito grande para um garoto da minha idade.
Ela sentou ao meu lado, como a gente fazia sempre, com os pés descalços na água do rio. Eu queria ficar sozinho, longe dela, mas não podia simplesmente pedir pra ela ir embora. Eu não queria magoá-la. E naquele momento, mais que nunca, ela precisava de mim.
− Você está bem, Cici? − foi uma pergunta besta. Como ela podia estar bem, se os pais dela estavam se separando, o mundo dela estava desmoronando e a única pessoa que ainda prestava alguma atenção nela, que ainda se preocupava e ficava do lado dela, era eu?
− Como eu posso sobreviver sem você, Gee? − ela estava chorando e olhava para os próprios pés, balançando dentro d’água. − Você é a única pessoa que eu tenho no mundo!
Eu me aproximei dela e passei um braço em volta do seu corpo. Eu também não sabia o que faria se não tivesse ela ali comigo.
− Você não tem que viver sem mim, Cecília. − falei no meu tom mais sério. − Eu nunca vou sair do seu lado.
Ela encostou a cabecinha loira no meu ombro, e eu senti o cheiro do cabelo dela. Ficamos olhando o sol se pôr, o céu estava todo laranja e os últimos raios iluminavam o rosto dela, refletindo em seus olhos pretos que brilhavam mais que o normal por causa das lágrimas.
− Eu vou me mudar, Gee. − ela disse muito baixo.
− Não vai, não. Seu lugar é aqui comigo. − eu a apertei, como se não quisesse deixar que ela fosse embora. Mas eu sabia que era inútil.
− Eu e mamãe vamos pra Boston. Eu disse que queria ficar aqui, não me importava de morar com o papai. Ela ficou furiosa.
Não respondi nada, nunca tinha pensado que existia uma dor tão grande no mundo inteiro. Ela era a minha melhor amiga, a menina que eu amava mais que tudo que eu já tinha conhecido em todos os meus oito anos de vida, e agora eu ia ficar sem ela. Mas pior que isso era ver que ela estava sofrendo. Eu ia sobreviver, se soubesse que pelo menos lá com a mãe dela ela ia ser feliz.
− Eu queria ser adulta, Gee. Eu queria que nós dois fôssemos grandes, aí a gente podia fugir junto e casar, e eu não ia ter que ir embora e ficar longe de você nunca. − ela parou e respirou fundo. − Você se casaria comigo?
− Na hora. − respondi sem precisar pensar.
Nós já tínhamos brincado que éramos casados, a boneca dela era nossa filhinha, eu ia pro trabalho e ela também. Ela dava aulas para criancinhas. Eu queria que nossas brincadeiras fossem de verdade, que a gente fosse casado e ninguém pudesse nos separar.
− Se a gente pudesse casar eu ia ser o homem mais feliz do mundo.
− Eu não acredito que é a última vez que eu vou te ver, Gee. − as lágrimas dela aumentaram e ela me abraçou, apoiando a cabeça no meu ombro de novo.
− A gente vai se ver de novo, Cici. − eu a abracei também e fiz a maior força possível pra não chorar. ‘Homens não choram’ foi o que o papai tinha me dito. − Eu vou atrás de você, e a gente vai se casar. − prometi.
− Mas falta tanto! − a voz dela saiu abafada.
− Enquanto isso eu vou escrever pra você todo dia, e a gente vai se ver quando você vier visitar o seu pai.
− Jura que vai escrever todos os dias? Sem esquecer de nenhum?
− Nem unzinho, até a gente ter idade pra casar. − passei a mão no cabelo macio dela. − Promete que vai esperar por mim?
− Pra sempre, se precisar, Gee. − ela se afastou e secou o rosto. O sol continuava a se esconder, e o tom alaranjado do céu ficava mais escuro.
−Cecília. − a mulher chamou. − Tá na hora de ir, querida.
Cici olhou pra mim mais uma última vez e se inclinou, encostando a boca na minha.
− Eu prometo. − disse e sem se despedir levantou e foi para o carro, onde a mãe já tinha terminado de pôr as malas.
Não tivemos uma despedida. Eu sabia que ela não gostava de despedidas, e aquilo não iria ser pra sempre, pelo menos nós não queríamos acreditar nessa possibilidade. Fiquei sentado ali até o laranja virar preto, e ela já estar muito distante. Sequei o rosto para o meu pai não ver o caminho percorrido pelas lágrimas nas minhas bochechas. No mundo dele, meninos não choram.
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