“Você já está pronta? Só falta você… Rich x”

Eu realmente gostaria de ter o poder de explodir aquela maldita mensagem de texto. Eu estou cansada e precisando de férias mais do que alguém jamais irá precisar. Claro, eu amo fotografar. É a minha paixão. Mas isso cansa! Na verdade, tudo nessa vida cansa. Quero tirar férias desse mundo. Pegar o primeiro foguete destinado ao infinito e além.

O meu despertador insistia em tocar. Estava cansada demais para esticar o braço para poder apertar aquele maldito botão. Que seja, não me importo.

Mentira. Eu já estava para jogá-lo da janela do meu apartamento, só para escutá-lo despedaçando-se.

– Caramba, você me tira a paciência!

Reuni um pouco de força, estiquei meu braço e dei-lhe um tapa, e logo este ficou calado. Em nenhum momento eu abri os olhos, já que é preciso ter muito ânimo para esse tipo de atividade. Voltei a encostar o rosto no meu travesseiro, já me preparando para dormir novamente.

"You, with your words like knives and swords and weapons that you use against me, you, have knocked me off my feet again, got me feeling like I'm nothing." - desta vez foi o meu celular.

– Mas que inferno! Eu não posso nem mais dormir como uma pessoa normal?! - gritei tão alto que tive medo de algum vizinho ter escutado.

Tive que abrir os olhos para procurar o bendito celular. Esfreguei os olhos com certa dificuldade e pisquei inúmeras vezes. Novamente eu me esqueci de fechar as cortinas e acordei recepcionado por belos raios de sol deixando-me com a visão branca. Depois que o foco dos meus olhos voltou a funcionar, pude ver a bagunça que ainda me restava para arrumar. Mas eu sinto muito, ficará para depois, por dois bons motivos: se eu atrasar mais ainda terei a cabeça decepada e, não estou com a mínima coragem.

– Que é? - falei irritada ao celular.

– Nossa, bom dia para você também, Anne - era Lilly.

– Você acabou de me acordar, sabia? - Continuava irritada.

– Desculpe-me, querida. - ela riu. - Não me mate por isso.

– Não irei.

– Você está se lembrando do nosso voo de hoje, não está?

– Óbvio.

–Então…Antes de tudo, não me mate, foi o Rich que me pediu para te ligar.

– Desenvolve logo, Lilly…

– O nosso voo foi adiantado… você tem vinte minutos.

– MAS O QUÊ? – desliguei na cara dela.

Estou ferrada…

Chutei algumas peças de roupas para o meu armário do canto e joguei alguns sapatos em direção ao meu closet. Essa é uma das vantagens de morar sozinha. Quem olha para mim até pode pensar que sou uma mocinha organizada, mas não. É nesse ponto onde muitos se enganam. As aparências enganam muito, eu diria. Ok… eu também não sou assim tão fora de controle a ponto de conviver com baratas e fungos sobre pedaços antigos de pizza debaixo da minha cama ainda dentro da caixa de papelão. Porém não sou tão limpezalover assim como a minha mãe é e sempre quis que eu fosse. Talvez essa seja uma das maiores decepções dela.

Levei minhas malas e pertences em direção à sala e notei que a tevê estava ligada. Passava algum noticiário sobre o Kids Choice Awards. Justamente para onde estou indo. Só gostaria que alguém tivesse a capacidade de mostrar onde eu estava com a cabeça ao aceitar isso. É muita loucura da minha parte. Vejamos por que: Eu nunca saí nem mesmo do Reino Unido. Vivo a minha vidinha pacata tirando fotos para revistas relativamente e somente isso. Ah, tenho duas amigas insuportáveis, mas não sei se isso conta.

Mas a loucura já estava pré-determinada e não havia mais escolha alguma. Então, sendo assim, corri para debaixo do chuveiro, sendo este o banho mais rápido de toda a minha vida.

Ao sair, liguei o rádio.

" E atualmente quem vem fazendo muito sucesso é a boyband One Direction."

Enquanto eu calçava os meus lindos sapatos vermelhos que eu amo tanto, essa tal banda começou a tocar uma música, cuja letra não dei a mínima atenção. Eu estava atrasada demais para isso.

"Esses garotos estão conquistando os corações de todas as garotas. Cuidado, você será a próxima!"

– Essa eu quero ver - ri debochadamente.

Liguei para um táxi, porém não sei se o pobre motorista conseguiu entender o que eu dizia. Meus cabelos há uns dois dias que não têm um contato descente com o pente. É, eu realmente preciso ser mais organizada. Não dá mais.

Saí do apartamento em direção ao taxista que já me aguardava. Eu segurava uma escova de cabelos com a boca, em uma mão, uma mala, e na outra, mais uma mala. E ainda assim sobrava um espaço inacreditável entre dois dedos para segurar o meu smartphone. Sou uma artista, por favor.

– Apressada, senhorita? – o senhor com seus cinquenta e poucos anos abriu o porta-malas e pôs nele as minhas pequenas bagagens.

Dei uma olhada rápida do meu relógio de pulso para o homem de aparência cansada a minha frente. Pensei comigo mesma “Com o senhor dirigindo terei mais um motivo para estar com pressa”.

– Tenho que estar no aeroporto em… cinco… cin… CINCO MINUTOS! Ah meu Deus!

Eu já posso entrar em pânico?

– Não se preocupe. Entre logo!

Ao contrário do que eu havia julgado, mal fechei a porta do passageiro quando senti aquele automóvel estilo antigo movimentar-se extremamente rápido. O senhor ao meu lado ligou o rádio onde tocava gangnam style e, no volume máximo. Ele desviava dos carros a sua frente como se estivesse andando de moto e sozinho. Senti-me vivenciando uma cena de Velozes e Furiosos. Então tirei uma bela conclusão desse começo de dia: as aparências enganam.

Em incríveis quatro minutos e vinte e sete segundos cheguei na estação de embarque, onde pude ver de longe Angelina e Lilly próximas ao portão.

– Anne! Finalmente! – Rich com a cara mais lisa do mundo veio me cumprimentar.

– Finalmente uma ova! Dê graças a Deus eu ter poderes incríveis e raros em uma mulher para poder conseguir me arrumar e chegar aqui em quinze minutos.

– Calma, Anne. Bem… eu meio que menti um pouco…

– Não… você não está querendo me diz..

– Sim… O nosso voo só sai daqui a uma hora.

– Rich eu te odeio!

Saí dali bufando de raiva carregando as minhas malas e o que estivesse pela minha frente. Fui até onde as meninas estavam e me larguei em um banco.

– Ele também te enganou, não foi? – Angelina fala.

– Não se preocupem… haverá troco. – Lilly segura o passaporte e vai em direção ao portão.

– Vamos lá... - Angelina me arrasta.

– O que eu fiz para merecer tanto?...